Capítulo 20 - Namorado

1 1 0
                                    


Ao chegar à residência de Amanda com Susana, me abstive de dar opinião sobre o que ela deveria fazer. A adolescente, com 16 anos, sabia o que estava fazendo ali e o que deveria dizer. Foi então que minha ex-mulher apareceu ao portão, pouco amistosa, e nos convidou a entrar.

Amanda dirigiu o olhar para Susana, que estava envergonhada, e disse:

— Sente-se.

Minha filha sentou-se no sofá menor da sala, como se fosse um robô, sem olhar para a dona da casa. Então, Amanda me indicou o sofá maior. Nesse instante, tomei a decisão de alterar o rumo dos acontecimentos.

A partir do momento em que pensei que ela deveria se desculpar com a minha ex-mulher, comecei a imaginar que estaria presente naquela conversa. Mas, ali, resolvi me esquivar.

— Mandinha, não vou ficar.

A mulher ficou surpresa ao ouvir e até passou a mão em seus cabelos, agora castanho-escuros, após mudar recentemente. Logo olhei para Susana que estava apavorada, afinal, não imaginou que eu tomaria essa atitude.

— Tem certeza? — indagou Amanda.

— Sim, vai ser melhor que vocês conversem a sós. Darei uma volta e talvez eu vá à casa de seus pais...

— Regi, se você for lá, não volta hoje...

Ri e mirei em Susana, que agora estava realmente apavorada com a ideia de ficar sozinha com Amanda. Ela viu a atitude da mãe de Fabinho no Castelo Inglês e talvez estivesse temendo pela própria sorte.

— Pode deixar, pois, tenho que "resgatar" alguém...

Sorri enquanto observava uma jovem temerosa com o destino. Amanda aproveitou a deixa e insinuou:

— Se houver alguém para "resgatar"...

— Mandinha...

— Vai lá Regi, que dela tomo conta.

A morena mirou na garota e com olhar sério. Ali, mesmo eu, temi por Susana, mas sabia que ela estava em boas mãos...

— Filha, não vou me demorar, mas você já sabe...

— Tá bom.

Desconfiada, a menina olhou para a mesa de centro e fiz um sinal para Amanda, que apenas assentiu com a cabeça. Entrei no Fusca, mas apesar de enxergar o painel e a rua, não reparava nos detalhes, pois, minha cabeça estava naquela sala de estar.

Rumei em direção à casa de dona Letícia. Ao parar meu carro na antiga vaga e sair do veículo, não tive como evitar o sobrado, ainda branco, de frente à minha antiga residência. Toda vez que ia lá, a Roberta mandava seu recado através de minha implacável memória. [Nota do autor: mais informações em O que ela viu em mim? Volume 1]

Após tocar a campainha, Moacir me atendeu. Já beirando os 70 anos, o pai de Amanda não era o mesmo de 2003. Com cabelos grisalhos a tomar-lhe conta da cabeça, barba branca sob a máscara preta com escudo do SFC, o marido de Letícia mostrou-se feliz ao me ver.

— Regi! Quanto tempo, hein? Entra!

— Olá, seu Moacir.

— O que faz por aqui?

— Fui até a casa de Amanda, mas resolvi vir aqui. Minha filha ficou lá.

— E por que não a trouxe?

— Elas precisam conversar...

Dei a entender ser um assunto capcioso e rapidamente o, agora "velho", entendeu.

O que ela viu em mim? - Volume 3Where stories live. Discover now