Quando adormeci nos braços de Beth, imaginei que as coisas seguiriam um novo curso, mas bom para nós. Seria duro, eu imaginei, mas isso faz parte da vida e atravessar momentos delicados ao lado dela seria mais uma prova de amor.
Contudo, eu não estava preparado para o que viria. Livre da Covid-19, Elizabeth só teria uma longa e dura recuperação pela frente, de modo a logo voltar à normalidade e reassumir a presidência da construtora. Mas, as coisas ficaram estranhas inicialmente...
Já havia escurecido quando abri os olhos e vi as luzes da rua entrarem pela janela. Com a mão direita, virei e busquei por Beth, sentindo inicialmente seu peito e então, ao virar a cabeça, peguei-a olhando fixamente para mim.
Confesso, senti um arrepio diante de seu semblante sem expressão. Frisando o olhar, perguntei:
— Beth, tudo bem?
Mantendo seu olhar em mim, ela não respondeu. Isso me alarmou e imediatamente me ergui, acompanhado por seus olhos verdes.
— Amor, algum problema?
— Não sei...
— Como não sabe?
O silêncio de Elizabeth começou a criar em mim uma tensão, que só aumentava ao passo que ela parecia anormal.
— Elizabeth, o que sente?
Minha esposa virou o rosto na direção oposta, não querendo me encarar. Apreensivo, levantei e dei a volta na cama, ajoelhando-se do outro lado. O olhar perdido de Beth me preocupou ainda mais.
— O que foi? — insisti.
— Eu não lembro...
— De quê?
— De nada...
— Não entendi amor.
Buscando lembrar-se de algo, Elizabeth disse:
— Como cheguei aqui?
— Eu te trouxe no colo, lembra?
— Por quê?
— Amor, você ainda está fraca, né?
— Fraca?
Beth tentou erguer-se, mas não conseguiu, então, ajudei-a a ficar sentada. Puxei seu corpo para junto de dois travesseiros, que coloquei em posição vertical.
— Obrigada.
— Como se sente?
— Como você me disse, fraca...
— Do que tu lembras meu amor?
Contraindo a boca e erguendo as sobrancelhas, Beth balançou a cabeça em negação.
— Nada? Nem do hospital?
Surpresa, perguntou:
— Estive em um?
— Sim, querida, você teve Covid-19.
— Meu Deus...
— Calma, meu amor. Vou ajudá-la no que precisar, viu?
— Tá bom.
Levantei e peguei uma garrafa de água ao lado da cama, enchendo o copo e lhe ofereci. Beth tomou lentamente, ainda sentindo as lesões causadas pelo tubo.
— Obrigada novamente.
— Quer um chá?
— Aceito.
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O que ela viu em mim? - Volume 3
RomanceJá se passaram 17 anos desde que Reginaldo e Elizabeth trocaram olhares no trólebus da Linha 20, em Santos. Punido pela traição, ele aprendeu que mesmo na dor, um amor verdadeiro pode lhe salvar a vida. Ela, que a raiva e o rancor apenas a fizeram p...