𝗜. CARONA

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𝗖𝗔𝗟𝗜𝗙𝗢𝗥𝗡𝗜𝗔¦1984

Assim que saio de casa me deparo, com a figura loira e alta, sentada em cima de sua moto me esperando.

― Não estava brincando quando disse que ia fazer isso todo dia ― Implico com ele.

― Não é um sacrifício ter que esperar do outro lado da rua ― Dá de ombros e vou até Johnny pegando o capacete ― Além do mais, sou um cavalheiro.

― Se você diz ― Subo no veículo e seguro sua cintura.

Andar de moto não era novidade para mim, já que meu pai é um amante delas. Mas Johnny a guia como um maluco, tenho minhas dúvidas se ele realmente tem habilitação, pois não é plausível que qualquer pessoa em sã consciência permitisse que esse perigo a sociedade andasse por aí.

― É suicida? ― Pergunto descendo da motocicleta na frente do colégio, ele apenas ria da minha indignação ― Sério, Lawrence, cadê seu amor a vida?

Começo a adentrar a escola, com ele na minha cola, como se fosse meu segurança, aparentemente isso seria rotina agora.

― Sabe que não precisa continuar com esse teatro quando a Ali ou o Tommy não estiverem por perto, né!?

― As notícias aqui correm ― Johnny passa seu braço por meu ombro, ainda caminhando pelo corredor.

― Será que é mesmo preciso tudo isso? ― Paro, fazendo com ele fizesse o mesmo ― A carona e você só conversar comigo já é o suficiente ― Tiro seu braço de mim.

― Desculpe, mas qual de nós dois aqui tem experiência? ― Reviro os olhos e bufo.

― Tudo bem ― O Lawrence sorri vitorioso, e chega bem próximo de mim. Quase colou nossos lábios quando virei o rosto, então apenas beijou minha bochecha ― Tenha um bom dia, amorzinho ― Falo irônica, em seguida entro no laboratório.

Me sentei em uma das bancadas ainda vazias, colocando meus materiais.

― Oi, posso me sentar aqui? ― Olho para cima, vendo um garoto moreno e magro, seu rosto está machucado.

― À vontade ― Aponto para o banco, e ele se acomoda.

― Sou Daniel, e você? ― O menino tenta ser simpático. Sentia já o conhecer de algum lugar, talvez só trombei com ele pelo colégio e seu rosto ficou salvo na minha mente.

― Jane Higgins ― Sorrio ― Desculpe, mas a gente faz outra aula juntos? Tenho certeza que te conheço.

― Educação Física, eu acho ― Ah claro! Jane sua burra.

― Você é garoto que foi expulso porque bateu no Bobby ― Gargalho e Daniel ri sem graça, coçando a nuca.

― Em minha defesa, eles estavam me provocando o jogo inteiro.

― Os meninos sabem ser bem difíceis quando querem ― Principalmente se você estiver afim da ex do Johnny Lawrence.

― Eu tenho percebido ― Ironizou devido ao seus hematomas.

Conversamos mais durante a aula, ele não foi uma companhia tão ruim. Mas é meio esquentadinho demais, bem parecido com o Johnny. O resto da manhã foi como de costume, apenas anotações e matérias chatas.

[...]

Passava meus olhos pelas opções de comida, nada que realmente me agradava, quando sinto alguém bater com o ombro em mim. Johnny estava ali, com seu sorriso presunçoso.

― Estou começando a achar que me ama ― Volto a olhar para minha bandeja.

― Com quem vai comer? ― Ignorou minha provocação.

― A melhor companhia de todas, eu mesma ― Pego apenas uma fatia de pizza, caminho até o caixa com o loiro atrás de mim.

― Hoje é seu dia de sorte, vai ficar com uma companhia melhor ainda.

― Você é tão metido.

― Fico lisonjeado que me considere a melhor companhia de todas, mas estava falando do Tommy.

― Agradeço, mas passo ― Entrego o dinheiro para mulher que contava.

― Essa é a oportunidade da sua vida, tem certeza que vai deixar passar? ― O encaro por alguns segundos analisando ― Sério, Jane?! Prefere comer sozinha, do que com os meus amigos? E além do mais, quem vai pensar que temos algo se não ficarmos juntos.

― Eu não entendo, sua lógica de relacionamentos é codependência? Podemos ter algo sem eu ser sua sombra ― Faz uma cara feia pra mim ― Ta! Mas eu quero sentar do lado do Tommy.

― Como quiser, gatinha ― Pisca para mim e sai andando, como se mandasse que eu o siga, e assim faço.

Chegando lá, os outros meninos pareceram surpresos. Dutch e Jimmy estavam sentados em cima da mesa, enquanto conversavam com Bobby e Tommy abaixo deles.

― Não acham nojento comer onde eles colocaram a bunda? ― Johnny empurra meu braço, me repreendendo. Não tenho tanta experiência com interações sociais, então sempre falo o que vem na minha mente, sem qualquer filtro.

― Quem é essa? ― Dutch me olhou com desprezo.

― Jane Higgins, minha vizinha ― O Lawrence me apresenta me olhando sorrindo, retribuo falsa.

― E vocês estão juntos? ― Ele é o que? Investigador? Cuida da sua vida.

― Não ― Respondo um pouco desesperada e percebo o olhar de Johnny sobre mim ― Ainda ― Acho que contornei a situação bem.

Finalmente me sento, mas não ao lado de Tommy e sim no de Johnny. Seria melhor para meu personagem. Mas, para minha surpresa, ele veio até mim.

― Eai Jane? ― Fico com a boca aberta tentando me lembrar de como se forma frases ― Tenho treino amanhã depois da aula, você pode vir junto se quiser. E depois vamos para a biblioteca.

― Pra mim parece ótimo ― Meu sorriso ia de orelha a orelha, mas senti uma mão sobre minha coxa. É Johnny, provavelmente me avisando que estou sendo desesperada ― O Johnny tinha me chamado para ver ele lutando amanhã também ― Mentira, mas ele não precisa saber.

― Biblioteca? Desde quando estuda? ― Jimmy debochou de Tommy que o mostrou o dedo médio.

― Desde que fiquei sabendo que sua mãe gosta de caras inteligentes.

O resto do almoço fiquei conversando com Tommy. O Johnny estava certo, foi preciso apenas um esporro do professor, para que eu tivesse a sua atenção.

[...]

― O que foi aquilo? ― Eu empurrava o Lawrence do balanço de pneu, no meu quintal. Nós costumávamos brincar por muito tempo ali, quando éramos crianças, e ele de repente lembrou disso e saiu entrando na minha casa quando me trouxe depois da aula.

― Aquilo o que? ― Respondo com outra pergunta.

― Quando eu fui te beijar você virou o rosto.

― Eu não quero que me beije ― Me olha incrédulo

― E quem vai acreditar nisso ― Aponta para nós dois ― Se nem nos beijarmos.

― Eu. Não. Quero. Que. Me. Beije ― Digo pausadamente ― Não na boca pelo menos, beija minha bochecha ou minha testa, sei lá.

― Eu sou o que? Seu pai te colocando pra dormir?

― Sem beijo.

― Você é tão teimosa Higgins ― Se levanta, marchando para fora.

― E você é um mimado ― Me manda o dedo do meio, de costas. Que imbecil!

𝗙𝗔𝗞𝗘 𝗗𝗔𝗧𝗜𝗡𝗚, JOHNNY LAWRENCEWhere stories live. Discover now