𝗫𝗫𝗜𝗜𝗜. PRESENTE ADIANTADO

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𝗖𝗔𝗟𝗜𝗙𝗢𝗥𝗡𝗜𝗔¦1984

Encarei o teto do carro entediada, esperando meus pais voltarem da loja de decoração.

O shopping não é tão divertido nessa época do ano.

Escuto uma batida na janela, e logo em seguida o porta-malas é aberto. Posso ouvir a voz dos meus pais conversando.

Me apoio no banco, tentando enxergar o que faziam.

— Caramba quanta coisa — Falo, enquanto as caixas são guardadas.

— Conhece sua mãe — O mais velho resmunga só para eu ouvir.

— Não me diga que...

— Vamos fazer uma grande festa — Minha mãe me interrompe — É Natal Jane, não seja tão rabugenta.

Suspiro me sentando normalmente.

O porta-malas é fechado, e as portas do carona e do motorista são abertos.

— Seus presentes estão aqui — Entrega algumas sacolas embrulhadas com papel colorido e laço — Mas só pode abrir em casa.

— O Natal chegou mais cedo para os Higgins?

— O bom velhinho acha que foi uma boa menina — Meu pai bagunça meu cabelo.

— Se isso é por causa do Johnny, saibam que eu estou bem.

— Não, claro que não, querida — A mais velha diz de forma doce — É seu último ano como nosso bebê, e tem sido tão forte. Queremos te recompensar por tudo.

Sinto um nó se formar na minha garganta, a vontade de chorar é instantânea.

— Estou orgulhoso de você, JJ. Nunca pensei que conseguiria fazer uma coisa tão perfeita.

— Nós conseguimos — Corrige.

— Obrigada — Sorrio e beijo a bochecha de cada um — Amo vocês.

— O que acha de irmos patinar no gelo, igual quando era pequena? — Meu pai pergunta.

[...]

A tarde foi muito agradável, mas depois de tantas quedas naquele gelo duro, só precisava de um bom banho quente.

Me presenteei com a banheira quentinha, com sais de banho, óleos corporais e pétalas de rosas. Acendi algumas velas aromatizadas e liguei uma música no rádio.

A tempos uma fita estava presa nele, então como sempre ouviria a minha playlist de quando tinha 14 anos.

Ensaboava meus braços, quando aquela droga de música começou.

Super Trouper.

Maldito Johnny Lawrence que não sai da minha cabeça.

"So I'll be there when you arrive

(Então estarei lá quando você chegar)

The sight of you will prove to me I'm still alive

(O seu olhar vai me provar que eu estou viva)

And when you take me in your arms and hold me tight

(E quando você me pegar em seus braços e me abraçar forte)

I know it's gonna mean so much tonight

(Eu sei que isso vai significar muito esta noite)"

Ele está me evitando a semana inteira. Acho que o recado foi bem claro, mas apesar disso eu ainda o amo.

Se Johnny me esqueceu, eu também quero o esquecer. Mas é difícil o tendo como vizinho da frente.

Abaixei na água, ficando com a cabeça submersa. Podia ainda ouvir a canção abafada.

Me enrolei na toalha, e vesti uma roupa quente. Em cima da minha cama todas as sacolas de presente que ainda não abri.

Ouço uma batida na porta, não posso negar que tive esperança que fosse o Lawrence.

— Eu e sua mãe estávamos conversando, e achamos melhor que viesse ficar alguns dias no hotel comigo — Meu pai se senta na ponta do colchão e me chama com a mão — Só até a festa de Natal.

— Tudo bem. Não é nenhum sacrifício ter a sua companhia em um hotel luxuoso — Rio, e ele me acompanha.

O homem parece procurar entre os embrulhos, e puxa um pequeno, com pequenas renas e bonecos de neve.

— Esse é meu, JJ. Abre! — Pego, animada.

Rasgo sem qualquer delicadeza e vejo um papel que de começo não entendo, mas ao ler faz sentido.

É uma passagem aérea, para Alemanha, com data de 26/12/1984

— S-Sério?

— Fique o quanto quiser comigo lá — Não é uma ideia terrível — Garanto que seus colegas vão ficar com inveja quando contar onde passou as férias — Brinca.

— Mas é depois do Natal. E a minha mãe?

— Annie quem deu a ideia.

Fico em silêncio olhando para a passagem.

— Vou te deixar pensar, Jeanette — Reviro os olhos, sorrindo.

— Credo, pai. Não me chame assim!

— É o nome da sua avó — Provoca mais.

Começa ir em direção da porta, mas o chamo antes que saísse.

— Não preciso pensar. Eu vou!

[...]

Coloco minha mochila dentro do porta-malas. Apenas levava o que seria essencial para poucos dias.

Esperava apoiada no carro, quando percebi um objeto estranho entre os arbustos da casa de Johnny. Me aproximei para analisar melhor.

Se trata de uma caixinha preta, ao pegar sinto como se fosse aveludada, igual as que se guardam jóias. Não consegui segurar a curiosidade e a abri.

Um par de alianças, de prata, em formato simples. E mais um anel solitário, também de prata, e com um topázio em cima.

O azul da pedra é tão lindo e claro como os olhos de Johnny.

Eu ia devolver de volta para o seu lugar, mas me assusto com o barulho de motos se aproximando. Imaginando de quem se tratava, coloquei a caixa no bolso da jaqueta e voltei até o carro.

Sentia meu coração acelerado com a adrenalina, poucos segundos depois cinco motos estacionam.

Dois deles carregavam um cooler.

As férias realmente começaram.

𝗙𝗔𝗞𝗘 𝗗𝗔𝗧𝗜𝗡𝗚, JOHNNY LAWRENCEWhere stories live. Discover now