𝗫𝗩. AÇÃO DE GRAÇAS

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𝗖𝗔𝗟𝗜𝗙𝗢𝗥𝗡𝗜𝗔¦1984

Analisei meu reflexo milimetricamente, não podia existir qualquer defeito na minha aparência.

Dia de Ação de Graças.

Todos os meus parentes do país inteiro, viriam para minha casa. Minha mãe achou uma ótima ideia juntar vários Jefferson's em um recinto.

E diferente da minha progenitora, são muito julgadores, rígidos e tinham expectativas muito altas.

Não via mais de 90% deles desde que tinha pelo menos 8 anos. Excluindo apenas os que moravam em Los Angeles e nos visitavam nas datas comemorativas.

Já havia recebido uma ligação do meu pai, que para variar não conseguiria vir a tempo, devido às escalas malucas de voos em feriados.

Usava um vestido preto de manga longa, com pequenas flores bordadas. Meia calça escura por baixo, e um salto delicado também preto.

Coloquei o colar que Tommy me deu, antes de soltar os bobes do cabelo. Os cachos se soltaram ficando perfeitos.

Da minha janela podia ver alguns convidados chegando, a maioria não possuía rostos conhecidos. O quintal estava bem arrumado, coberto por flores artificiais caras, as mesas e cadeiras tinham um modelo vintage, e um buffet com aperitivos caros sendo servidos por garçons e garçonetes.

Minha mãe ao notar minha presença lá em cima, me chamou com a mão, ela conversava com um grupo de pessoas. Reconheci imediatamente, eram seus dois irmãos mais velhos, com suas esposas e filhos.

Nick, o primogênito, neurologista, três filhos, todos com uma arrogância tão grande quanto o pai.

Andrew, filho do meio, cardiologista, um filho, temos a mesma idade.

Vou até eles me preparando para seus insultos passivo-agressivos.

E exatamente como imaginei, criticaram minha aparência, personalidade, intelecto, status amoroso e casa.

[...]

Finalmente consegui despistar Joe e sua intensa conversa sobre as faculdades interessadas nele. Que imbecil. Tomara que engasgue com essa prepotência.

Levantei uma tábua desencaixada da cerca, dando de frente com o lado de fora. Encarei a casa de Johnny, me questionando se o mesmo estava lá.

Geralmente o Lawrence vai ao clube com o padrasto e a mãe, duvido que esse ano seja diferente.

Comecei a caminhar sem rumo, tentando ir o mais longe daquela festa horrorosa.

A alguns anos atrás eu estaria escondida na garagem, junto com o meu pai, devorando uma torta de algum convidado, e falando mal de todos eles.

Bom, mas agora era tudo diferente.

Só notei que havia ido longe demais quando avistei a praia. Que mal faria afundar meus pés na areia, e rezar para que a hora que eu volte não tenha mais ninguém em casa?

Arranquei o salto e a meia calça sem me preocupar, não havia uma alma viva ali mesmo.

Fui até perto de onde a água chegava, molhando minhas canelas. Meu corpo se arrepiou com a baixa temperatura.

Devia ter pegado um casaco.

Senti algo molhar meu rosto, especificamente as bochechas. Olhei para cima, procurando algum sinal de que chovia. Nada.

Mas o líquido continuava a escorrer ainda mais forte.

Eu estou chorando?

Percebo quando um soluço escapou de meus lábios.

Sinto falta do meu pai, da minha família, da minha antiga rotina, da simplicidade.

Queria voltar para casa depois da escola e poder contar do meu dia para os meus pais, jogar xadrez depois do jantar com o meu pai, ir ao cinema todas as quartas, ver eles nos meus debates, feiras de ciências, e competições.

Vai se fuder Ângela. Vai se fuder pai. Vai se fuder presente.

E vai se fuder parentes de merda, que estragaram meu feriado.

Continuei na praia até anoitecer, enquanto me lamentava sozinha. Mas não me restava nada, além de aceitar a vida como ela é.

 Mas não me restava nada, além de aceitar a vida como ela é

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NOTAS:

Esse capítulo tá bem ruinzinho e curto, mas eu sinto que precisava fazer algo mais focado apenas na Jane

Mas não se preocupem, amanhã vou postar mais dois.

𝗙𝗔𝗞𝗘 𝗗𝗔𝗧𝗜𝗡𝗚, JOHNNY LAWRENCEWhere stories live. Discover now