𝗫. CLUBE DE DEBATE

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𝗖𝗔𝗟𝗜𝗙𝗢𝗥𝗡𝗜𝗔¦1984

― Não acredito ainda que conseguiu me convencer a faltar no treino ― Puxava Johnny pelas ruas movimentadas.

― Até parece que foi muito difícil. Assume Lawrence, faz tudo que eu mando ― Antes que ele pudesse responder com alguma coisa que ofenderia a minha pessoa ou meus descendentes, o empurro para fora da passagem de pedestres ― Achei o filme perfeito para gente, tá? Uma mistura de ação e nerdice, o melhor dos dois mundos.

― Como se isso fosse possível ― Aponto para o poster bem grande no cinema ― Exterminador do Futuro ― Lê em voz alta.

― E... ― Seguro seu pulso, o guiando para perto da bilheteria ― Trouxe seus amigos.

Bobby, Dutch, Jimmy e Tommy, esperavam a gente lá. Chegaram antes por terem vindo de moto, enquanto nós dois andamos direto da escola.

Estou a dias tentando ao máximo que as coisas voltassem ao normal. Me sentia péssima por ter beijado o Johnny, e fugido logo em seguida, sem contar estar saindo com seu melhor amigo. Tudo isso, mais o namoro falso, afetou a nossa dinâmica, fazendo com que tudo fosse estranho ao extremo.

Ele pareceu muito desconfiado, com minha repentina vontade de ser tão legal, mas óbvio que não deixaria de tirar proveito da situação.

Já tinha "assistido" o filme com Tommy, na semana passada, claro, que mais da metade do tempo o loiro só queria enfiar a língua na minha boca, enquanto eu tentava ver o que aconteceria com Sarah Connor. Escolhi os lugares de cada um minuciosamente, para que não se repetisse.

Jimmy se sentaria ao lado do corredor, já que vai ao banheiro toda hora. Bobby do seu lado, e Tommy do dele, e os dois ficariam o tempo todo comentando sobre cada coisa. Eu, para que ele não achasse estranho querer ficar longe, mesmo que fosse isso que desejasse. Dutch e Johnny, precisava de alguém para nos separar, evitando mais situações constrangedoras.

Nenhum deles fez como eu planejei.

Jimmy ficou na cadeira mais longe do corredor, atrapalhando a cada 10 minutos, sério, alguém precisa levar esse garoto em um médico, a bexiga dele é do tamanho de um amendoim.

Fiquei entre Bobby e Tommy, que dividiram a pipoca e o refrigerante, como se fossem um casal. Quando Tommy lembrava que era comigo que ele saia, e tentava me beijar, causava momentos tensos, já que o Lawrence estava bem ao seu lado.

E Dutch reclamava todas as vezes que Jimmy ia ao banheiro, e mastigava tão alto que parecia que comia cascalhos e pedras.

[...]

― Pensei que ia enlouquecer, Daniel. Foi tortura pura ― Contava para o LaRusso sobre o passeio de ontem, enquanto caminhavamos até meu ármario.

― Devia andar com pessoas melhores ― Se divertia com a minha cara ― Tipo, eu e Ali.

― Sim, claro, como nunca pensei nisso ― Bati em minha testa ― Ficar o dia todo com a Mills, sua namorada que me odeia, e é ex do Johnny, realmente um gênio, LaRusso.

― Ela não te odeia.

― Diz isso para ela ― Aponto com a cabeça para a mesma, que vinha em nossa direção enfurecida ― Não é sua culpa ter um gosto terrível, Daniel, os meninos têm esse problema de ver um rostinho bonito e se apaixonarem. Mas isso é coisa antiga, desde-

― Não se contentou com apenas os meus restos? ― Sou interrompida pela loira ― Vai fazer a mesma coisa de novo? Se fazer de amiguinha indefesa, e esperar 4 anos para tomar uma atitude.

― Viu? ― Arrumo minha mochila nas costas ― Tchau LaRusso, e tenha um bom dia Ali ― Sorrio, saindo de perto deles, que começam uma discussão calorosa.

[...]

Segurava toda a vontade que tinha de voar em cima de Frank e o dar um soco tão forte que quebraria seu nariz. Sua capacidade acadêmica era mediana, mas isso entre aqueles imbecis é muita coisa, a estratégia de debate dele era basicamente me rebaixar pelo o que tinha no meio das minhas pernas.

— Ah cala boca — Reviro os olhos, cansada — Vamos ser sinceros, nenhum de vocês aqui escuta o que eu tenho a dizer, se limitam ao seu Clube do Bolinha. Mas saibam de uma coisa, sou muito mais homem que cada um.

— Alguém está naqueles dias — Um deles zomba, gerando uma onda de risadas pelo auditório.

Respirei profundamente, contei até um milhão, e tentei seguir com o debate. Apenas se repetiu a mesma babaquice de sempre, eles fingiam que se importavam, e eu fingia que não assassinaria todos se tivesse a oportunidade.

Tudo que queria era alguém para desabafar, que entendesse minha revolta e a compartilhasse comigo. A primeira pessoa que imaginei foi Tommy, nós passamos boa parte do tempo juntos.

Mas não recebi a reação que desejava, ele apenas me confortou com um "que droga" e sugeriu que saísse do clube de debate, assim poderíamos ficar debaixo da arquibancada.

Minha mãe abre a porta do quarto com força, a escancarando, tendo visão de nós dois sentados na cama assistindo um filme, enquanto ele penteava meu cabelo.

— Porta aberta, ok? — Ela agia de forma estranha quando Tommy me visitava. E até acharia paranoia normal de mãe, mas Annie Jefferson-Higgins não era do tipo super protetora, principalmente em relação a namoro, pelo menos não era com o Johnny.

— Boa noite Sra. Higgins — O loiro a comprimentou e ofereceu o balde de pipoca — Aceita?

— Não, obrigada — Seus olhos checam cada centímetro do meu quarto. Começa a sair em passos lentos, de trás para frente.

Quando já está longe o suficiente para não nos ouvir mais, suspiro.

— Acho que sua mãe não gosta muito de mim, né?!

— Talvez, mas vai se acostumar, já que... Você vai continuar por aqui, não é? — Perguntei, insegura. Sentia que a diferença enorme das nossas personalidades e importância social, nos afastava, e ele desistiria a qualquer momento.

— Sim — Junto nossos lábios em um selinho — Se quiser, posso bater nesse tal de Frank.

Sorrio. Mandou bem, Tommy.

— Adoraria ver isso, mas não quero que se encrenque por minha causa.

— Sou um cara muito desastrado, posso cair em cima dele, e sem querer acertar alguns socos, mas não vai passar de um acidente — Gargalho, e bato em seu ombro de leve.

𝗙𝗔𝗞𝗘 𝗗𝗔𝗧𝗜𝗡𝗚, JOHNNY LAWRENCEOnde histórias criam vida. Descubra agora