𝗫𝗜𝗜𝗜. AZUL

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𝗖𝗔𝗟𝗜𝗙𝗢𝗥𝗡𝗜𝗔¦1984

Cerro meus punhos, tentando controlar o nervosismo. Ofegava, sentindo meu coração descompassado, ele poderia sair pela minha boca a qualquer momento. Coragem, Jane.

Desencosto da parede, caminhando até o armário de Tommy. Que se escorava nele, conversando com uma garota, lhe entregou um bilhete e beijou sua bochecha, como fazia comigo. E assim como eu, ela saiu quase pulando de alegria.

― A gente pode conversar? ― Pressiono meus livros sobre meu peito, nervosa com a resposta.

― Manda ― Responde, encarando o fundo dos meus olhos, e ajeitando seu cabelo.

― Mas, preciso que preste atenção total ― Concorda com a cabeça, continuando a admirar seu reflexo. Fecho meus olhos ― Tommy é sério!

― Já sei o que quer. Vai me dar um pé na bunda, porque gosta do Johnny ― Ele pegou um espelho pequeno de dentro do armário.

― Tá tão na cara assim?

― Foi meio óbvio quando me largou na festa depois de ver ele beijando a Ali ― Suspiro, envergonhada ― Mas notei alguns sinais antes, tipo, você tinha tudo isso ― Aponta para si ― E só falava dele, sem parar.

― Desculpa, acho que fui uma péssima... Seja lá o que éramos.

― Fica de boa ― Acaricia meu ombro ― Vou superar ― Brinca, mostrando a coleção de números de telefone que tinha guardado no caderno.

― Aceita minha amizade? ― Sorrio, oferecendo um aperto de mão. Ele analisa, olhando intensamente.

― Que tal um beijo de despedida?

― Isso não é muito coisa de amigo... Ah não ser, que ― Provoco Tommy, que por sua vez começa a gaguejar tentando se explicar.

Continuamos a conversar pelo caminho para a próxima aula, que compartilhamos. Engraçado, a meses atrás foi aqui que toda essa confusão começou, se tivesse apenas dormido, e ficado de detenção depois, seria bem mais fácil.

Não havia visto Johnny pela escola, então presumi que não tinha vindo. Portanto, sentei no meu lugar de sempre, perfeito para cochilar, longe do professor, mas não o suficiente para que ele ficasse o tempo todo vistoriando, o Lawrence achava o mesmo, então sempre ficava na carteira atrás de mim.

Em menos de 10 minutos de aula, apaguei completamente, só acordando com um toque na minha cabeça, seguido por vários chamados irritados. Levantei a cabeça, ainda tentando voltar para essa realidade.

Esperando que fosse o Sr. McConnor querendo me expulsar da sua sala, mas me surpreendi com o Lawrence, parado, aguardando eu dizer qualquer coisa. Continuei estática, cogitando ainda estar dormindo, não que sonhe com ele o tempo todo, mas nos últimos tempos, tem acontecido bastante.

― É minha dupla ― Estou totalmente desperta. Nos meus sonhos Johnny é mais educado e encantador.

― Que? ― Minha voz se altera, saindo mais alta do que queria.

― Jane Higgins dormiu a aula toda? Quais são as más influências que estão te levando para esse caminho? ― Possuía um sorriso provocador no rosto.

― Ah cala boca ― Levanto da mesa, guardando meu material.

― Trabalho de Literatura, hoje, na sua casa ― Antes que pudesse fazer uma objeção, o loiro saiu me deixando sozinha na sala.

Quanto tempo dormi?

[...]

― PARA DE ENTRAR NA MINHA CASA SEM AVISAR ― Dou soquinhos no peito do Lawrence, que apenas ria ― Tenho histórico de infarto na família ― Ameaço.

Quando fazia um lanche na cozinha, senti duas mãos apertarem minha cintura, me fazendo pular assustada. Havia saido do banho a pouco tempo, e durante esse tempo Johnny chegou, ficou no quintal brincando no balanço e depois entrou como se nada tivesse acontecido.

― Cadê minha mãe? ― Pergunto olhando para os lados.

― Adivinha.

― Também tem que parar de fazer minha mãe de cozinheira ― Pego a faca que usava para cortar o bolo ― Não se sinta tão à vontade, Lawrence, nunca se sabe quem está ao seu lado.

— Era para me assustar? — Pega o objeto — É como se fosse um ursinho carinhoso tentando me matar.

Aparentemente tudo voltou a normalidade. Sem drama ou constrangimentos. Só dois amigos conversando normalmente, se provocando e rindo.

Fomos até o segundo andar, após terminar de comer. Me acomodei na minha mesa de estudos, organizando o bloco de notas, e canetas, pronta para anotar o que fosse preciso.

— Não me disse o que temos que fazer. Como é o trabalho? — Ele abriu a boca estendendo um "Ah". Inacreditável, já esqueceu.

— O trabalho... Tem, que... fazer um... u-um... POEMA!

— Poema? Que tipo?

— As coisas favoritas da sua dupla.

— Tudo bem — Escrevo bem grande no topo da folha — Vamos listar. O que mais gosta no mundo?

Johnny fica em silêncio por alguns segundos, pensando.

— Exceto, eu, é claro — O loiro revira os olhos, com um sorrisinho de lado.

— Meu walkman — Mostra, pendurado em seu pescoço.

Johnny: Walkman

— Mais uma coisa.

— Karatê — Previsível.

Johnny: Walkman, Karatê

— O último agora — Procuro minuciosamente qualquer imperfeição na minha letra, enquanto o espero.

— Rocky III.

Levanto a caneta para escrever, mas ele me interrompe com um "NÃO".

— Indiana Jones — Ok, isso foi estranho.

— Vai ser difícil fazer um poema com essas coisas.

Johnny: Walkman, Karatê e Indiana Jones.

— Precisa falar os seus agora — Pega a caneta, e dá tapinhas na minhas costas para que saísse da cadeira.

— Ei! eu sou a nerd aqui, esqueceu?

— Não agora. Vai, vai! — Acena com as mãos para que desse espaço.

Passeio pelo quarto procurando pelas minhas coisas favoritas. Tinha muitos hobbies, e obsessões passageiras. Resultando em dezenas de livros e filmes nas estantes, pôsteres, instrumentos e discos espalhados por todo o lado.

— Isso é difícil — Três era um número muito pequeno para tudo aquilo, e nada parecia verdadeiramente apropriado para esse pódio.

— Jane, para de enrolação — Delicado.

...

— VAI LOGO!

— Debate, amo debater — Solto o que vem na mente de imediato — Fotos — Aponto para um mural pendurado na parede, recheado de fotografias, a maioria bem antigas — E...

Sento na cama, procurando pelo cômodo o último. Pense Jane. O que mais gosta no mundo?

Meus olhos se encontraram com o de Johnny, que me encarava, aguardando uma resposta.

Azul — Sussuro.

— CHEGUEI, CRIANÇAS — Minha mãe grita do andar de baixo. Dá pra ouvir a porta da frente batendo, e seus passos até a cozinha, provavelmente para deixar as compras. Salva pelo gongo.

𝗙𝗔𝗞𝗘 𝗗𝗔𝗧𝗜𝗡𝗚, JOHNNY LAWRENCEWhere stories live. Discover now