𝗫𝗜𝗩. TORNOZELO TORCIDO

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𝗖𝗔𝗟𝗜𝗙𝗢𝗥𝗡𝗜𝗔¦1984

O vento fazia os cabelos irem na minha boca. Sentia que a qualquer segundo a corda se soltaria com a brutalidade do impulso.

— VAI DEVAGAR — Um friozinho na barriga, arrepiava todos os pelos do meu corpo.

Johnny achou uma boa ideia depois de terminamos o dever, "brincar" aqui fora, concordei, mas já começava a me arrepender.

— EU VOU VOMITAR, LAWRENCE — Conseguia ver do outro lado da cerca, a casa do vizinho tem um quintal lindo, jardim bem cuidado.

Fecho os olhos com força, ao ouvir o barulho da corda arrebentado. Sou arremessada para frente, e logo após, minhas costas colidem com o chão duro.

A grama fazia cosquinha, e o sol do final da tarde incomodava minha visão. Reclamei com um resmungo.

— A gravidade é uma vadia — Sento, acariciando o machucado que se formou no topo da cabeça.

Johnny se aproximou preocupado.

— Se machucou?

— O que acha, idiota?

— Justo — Estende a mão para me ajudar, a agarro e dou impulso para ficar de pé. O que dura pelo menos 5 segundos até eu cair novamente ao tentar andar.

Soltei um gemido de dor, e pressionei o local tentando diminuir a sensação.

— JOHNNY SEU FILHO DA...

[...]

O Lawrence me carregava em seu colo, de volta para o carro, já que se recusou a buscar uma cadeira de rodas.

Após o pequeno incidente, o obriguei a me trazer até a emergência. E como esperado o médico disse que torci meu tornozelo e precisaria de medicamento, compressas de gelo e repouso.

— Eu consigo andar, sabe disso né?

— Uma tartaruga já te ultrapassa em condições normais, Higgins — Antes de passarmos pela porta do hospital, ele retirou sua jaqueta do Cobra Kai e a colocou sobre nossas cabeças. Entendi o motivo assim que saímos, uma chuva forte caía lá fora — Segura firme — Ordena, e eu faço.

Corremos até o carro da minha mãe, que para minha surpresa não estava lá. Johnny abriu a porta e me jogou lá dentro sem nenhuma delicadeza.

Enquanto ele dava a volta pelo veículo um papel caiu de seu bolso, reconheci a letra agora borrada com a tinta escorrendo devido a água. Era o nosso trabalho.

— Volta lá pegar — Aponto, pulando irritada — Olha ali estragou tudo, mas ainda dá para refazer — Apenas me ignorou, chacoalhando o cabelo e secando o rosto com sua faixa — JOHNNY — Falo incomodada com a falta de atenção dele.

— Esquece isso Jane, não é importante.

— Claro que é, vai afetar nossa média.

— Não, não vai. Era mentira, não tinha nenhum trabalho em dupla.

— Que?!

— Você está me evitando, e eu inventei tudo quando percebi que dormiu a aula inteira — Continuo parada, boquiaberta — Fala alguma coisa!

— O que quer que eu fale? Isso é maluquice!

— Eu fiquei sem opções. VOCÊ É CONFUSA PRA CARALHO, E FOGE SEMPRE QUE COMEÇA A SER VULNERÁVEL — Para, e respira profundamente — Estou tentando dar o seu tempo Jane, mas tem que entender que eu também tenho sentimentos.

— Terminei com o Tommy hoje.

Ficamos os dois em silêncio, apenas ouvindo o barulho das gotas batendo no vidro e as trovoadas vindo de longe.

— Me dá mais duas semanas, ok? — Concorda com a cabeça, apenas — Então... Aquela coisa de gostar de mim desde criança é verdade?

— Por que eu mentiria? Mas você nunca pareceu sentir o mesmo, pensei que fosse por eu ser esquisito, e tentei de tudo para te impressionar.

— Que fofo — Sorrio, tímida — Mas saiba que tinha uma quedinha por aquele garotinho retraído e quieto.

— Claro que tinha, sua nerd — Sorri também — Percebi que não superei 100% enquanto a gente dançava no clube. Sempre foi diferente com você Jane, mesmo depois de mudar, eu não consigo acertar primeiro.

Eu desejava desesperadamente juntar nossos lábios e dar um beijo digno de cinema, falar que queria ser sua namorada, e ficar junto com ele até a velhice.

Mas não podia, não agora. Tinha medo de o machucar mais, e nem havia se passado 24 horas que rompi com o Tommy.

Minha mãe entrou no carro ensopada, carregava uma sacola de remédios em uma mão e um guarda-chuva na outra, que suspeitava que ela esqueceu de usar.

— Que tempestade, não é? — Disse tentando tirar o clima esquisito que ficou.

— Como se sente, querida? — Mamãe acaricia meu rosto, o molhando.

— Bem melhor — Johnny virou a chave, e eu o encaro — O que acha de um filme?

— Posso fazer biscoitos e chocolate quente para vocês — A mais velha ofereceu.

O resto da noite foi tranquila, comemos debaixo das cobertas, assistindo um filme romântico qualquer que Johnny reclamou do início ao fim. Quando chegou ao final decidimos apenas ver um programa da televisão de prêmios, onde mostrei minha habilidade de saber curiosidades da cultura pop, ciências e história.

— Austrália, óbvio — Me viro para o loiro do outro lado do sofá.

Completamente adormecido, até podia ver a baba escorrendo de sua boca. Realmente estava bem tarde, então, me levantei e desliguei o aparelho, sem o incomodar.

Johnny parecia tão calmo e sereno dormindo, por um segundo pude ver o garotinho de anos atrás que tinha acabado de se mudar.

— Boa noite — Beijo sua testa, e o mesmo sorri.

— Se aproveitando de mim? — Reviro os olhos.

— Volte a dormir, era mais agradável.

𝗙𝗔𝗞𝗘 𝗗𝗔𝗧𝗜𝗡𝗚, JOHNNY LAWRENCEOnde histórias criam vida. Descubra agora