The Attraction Of Imperfection 》 Mark Tuan

1. First Of All

Primeiro, eu não deveria estar nessa situação! Segundo, eu não devia ter aceitado aquele pedido, terceiro, eu tenho que parar de ser tão gentil! Eu estava feliz com a minha invisibilidade, estava feliz sendo do jeitinho que eu costumava ser nos anos anteriores. Até que veio aquele bastardo destruir todos os meus planos para o terceiro ano perfeito.

Maldito seja Mark Tuan. É, ele mesmo. O moreninho que treina na quadra ao lado da minha casa todas as tardes de sexta feira, o garoto que tira minha amiga do sério e a faz ter as piores crises de paixonite perto de mim.

O garoto não é nada demais, só tem uns bons músculos, olhos relativamente atraentes e um sorriso bonito, que na minha opinião é formado por dentinhos de dinossauro, estranho, o nariz dele também é estranho. Mark Tuan é estranho.

Ele é o exemplo de garoto perfeito, na visão das garotas, o Romeu 2.0, Sr. Darcy do século 21. Não diria que todas as garotas são caídas por ele, mas uma boa parte é, não só porque ele entrou nesse ano e carne fresca chama atenção das garotas, mas porque ele é um cavalheiro. Mark Tuan parece um príncipe perdido entre as páginas de algum conto da Disney, quando se fala em tratar uma garota e boas maneiras.

No entanto, para a infelicidade de metade da população feminina que estuda no meu colégio, ele tem namorada! Isso mesmo, podem ir desistindo. Ela não estuda no mesmo colégio que ele, mas já a vi algumas vezes, quando foi encontrá-lo na saída do colégio. Ela tem um carro sport azul e usa óculos espelhados rosas, eu diria que ela é a típica garota de classe média alta.

O casal perfeito nos dá o prazer da sua presença todas as sextas no ginásio de basquete, dia em que Mark e o resto do time treinam para os jogos estaduais. Sei disso porque a minha amiga me forçou a ficar para assistir o treino do seu príncipe três vezes, na quarta vez eu simplesmente me levantei e fui embora, não aguentava mais ela torcendo por ele, até mesmo quando ele estava no banco de reservas!

Mas, apesar de tudo, apesar de Mark Tuan aparentar ser o garoto mais ridículo que você vai conhecer na sua vida, ele não é. Isso não é um clichê, vocês estão acostumadas com bad boys e nerds, não é nada disso, Mark é realmente gentil, e olhem só! A namorada dele não é uma vadia, ela também é extremamente gentil, ela é uma versão dele, loira e sem um pênis.

Entretanto, ninguém é perfeito, e Mark Tuan não a escapou de uma falha naquele corpo perfeito. Quero dizer, não foi uma falha corporal, e sim uma falha mental. Mark tem dislexia, doença que o atrapalha com o aprendizado, descobri esse fato há algumas semanas atrás quando a ficha médica dele veio parar em minhas mãos.

Por culpa de uma lesão que Mark sofrera durante um dos treinos, ele teve de ir às pressas para a enfermaria e o treinador me encarregou de direcionar a ficha médica do pobrezinho para a enfermeira. Aproveitei para dar uma checada no estado de saúde do garoto, curiosidade é um dos meus defeitos, o que posso fazer? Eu me preocupo com os outros...

Pelo que percebi, ninguém além de mim e os professores sabem que Mark possui essa doença, nunca ouvi ninguém comentando sobre isso com ele. Os professores tentam o ajudar da melhor forma, mas Mark tem uma dificuldade extrema em entender as letras e os números.

Reparei nisso pois, ele senta na minha frente na classe, e eu noto as expressões confusas que ele faz durante as provas ou até mesmo quando tem de escrever alguma palavra difícil. É até adorável as vezes, mas eu sinto um pouco de pena, as notas dele são tão baixas, e por mais que os professores tentem o ajudar, o caso dele deve requerer uma ajuda mais específica...

— Jane?

Ouvi meu nome ser chamado e logo me desliguei dos meus pensamentos procurando pela fonte da chamada. Ergui meus olhos vendo o olhar do professor, que segurava o livro e ajeitava os óculos, para mim.

— Você pode resolver essa questão no quadro, por favor?

Assenti e me levantei, caminhei até o quadro passando pela mesa do professor e pegando o pilot. Fui até a lousa e olhei para a classe, em que uma minoria prestava a tenção, o resto mexia em seus celulares escondido ou se distraía com um mosquito que voava pela sala naquele momento.

Suspirei e me virei para o quadro escrevendo os números e os termos da questão antes de resolvê-la. Desviei meus olhos do quadro por uma fração de segundo, olhei de soslaio para Tuan e percebi que ele olhava fixamente para o quadro, como se usasse de todo o seu cérebro para entender o que eu escrevia.

Abaixei meu olhar terminando de escrever, me virei de frente para os alunos e olhei outra vez para o garoto que dessa vez se concentrava em transcrever os números para seu caderno.

Não sei decifrar se foi pena ou apenas um sentimento de caridade naquele momento, mas eu me virei para Mark e comecei a explicar a questão.

Devagar, detalhe por detalhe, fração por fração. Cada conta em bhaskara, que aqueles alunos estavam cansados de tanto reproduzir em seus cadernos. Todos na sala tinham expressões entediadas no rosto, até mesmo os nerds nas primeiras carteiras, que já estavam cansados de ouvir o mesmo discurso.

Entretanto, Mark não, ele encarava o quadro e ouvia minhas explicações com cautela. Eu dava-lhe um tempo para cópia e então voltava às contas. Ele tratava de copiar o mais rápido possível e logo voltava toda sua atenção à lousa.

Levei dez minutos para chegar à resolução, o professor já estava sentado em sua cadeira bebendo sua xícara de café e se distraindo com uma caneta vermelha, quando pigarrei anunciando o término da questão. Ele se levantou ajeitando a gravata e vindo até a lousa.

— Obrigado, Jane, da próxima vez eu espero que seja mais rápida. - O homem tossiu e olhou para o relógio enquanto eu voltava ao meu lugar. — Bom, pelo visto, não temos mais tempo para resolver as outras cinco questões, estas ficarão para casa, tragam-nas prontas amanhã.

O sinal bateu e os alunos começaram a guardar os materiais, quando ouvir meu nome ser chamado mais uma vez, porém, dessa vez por uma voz fina.

— Obrigada por demorar no quadro, eu acho que não aguentaria mais ouvir o sr. Richard resolver mais nenhuma questão hoje. - Victoria disse rindo em seguida enquanto guardava seu material.

Victoria é a minha melhor amiga, mais conhecida como presidenta do fã clube oficial de Mark Tuan. Tudo bem, eu posso estar exagerando, mas no dia dos namorados ela espalhou coraçõezinhos vermelhos de cartolina, com o nome dele, pela escola.

Sorri para ela e juntei meu material me levantando no mesmo momento que ela. Colocamos nossas mochilas nas costas e saímos da sala conversando sobre as provas finais do primeiro semestre que estavam por vir...