Capitulo 36-Minha querida Elisa

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              A escuridão já havia caído. Andando contra o vento frio Charlie ia para casa,carregava em suas costas uma mochila, contendo suas armas. Com astúcia planejou tudo,nunca haveriam de suspeitar de um garoto doce e gentil igual ele.
      Pegava o caminho habitual de sua casa. Alegria era o único sentimento que vagava em sua alma,sentia-se satisfeito com o que havia feito, e ainda queria mais,muito mais.

      Abre a porta e entra em sua casa. Estava tudo calmo e silencioso, as luzes apagadas e a sala vazia.
       Ambo fecha a porta devagar, segura a alça de sua mochila a pressionando mais contra suas costas. Antes que pudesse subir as escadas ouve sua mãe o chamar:
  
         —Charlie? É você querido? —Seus olhos aflitos vão ao encontro de seu filho que estava prestes a subir a escadaria. —Oh querido, eu pensei que não tivesse sobrevivido ao incêndio! Estou tão aliviada que esteja bem! —Elisa envolve o garoto em um abraço apertado e caloroso, porém, ele não retribui como de costume, continua imóvel ao toque de sua mãe.

      —Eu estou bem, tenho que ir pro meu quarto. —Ele encerra o abraço empurrando sua mãe e já segurando o corrimão.

     —Filho o que houve? Por que está dessa forma comigo?

     —Não é nada! Me deixa em paz.

      —Charlie… meu filho…

      —Então o idiota está vivo?! —De repente a voz de Terry ecoa pelo cômodo. Olhando na direção da voz, Charlie vê seu pai atrás de sua mãe, o olhar de desprezo cortava os dois.—Você deveria ter morrido! Teria feito um grande favor para nós não é querida?

      —Cala a boca Terry! Isso não é verdade filho, eu fiquei muito preocupada com você. E fico muito feliz por saber que está bem!

      —Mas eu não !—Resmunga Terry. Elisa o fita furiosa pela indiferença dele.

      —Não diga merda!Independente de qualquer coisa ele é meu filho…

       —Falou certo, seu filho!
       —Terry por favor para com isso, não quero que ele saiba,—Suplica entre sussurros.

       —O quê eu não devo saber mãe?
       —Não é nada meu filho…
       —Vai Elisa, conta pro seu querido Charlie a verdade, ele tem que saber você não acha? —Terry sorri maldoso para o garoto que não demostra nem uma emoção. —Diga a verdade!

       —Do que ele está falando mãe? Hein? O que é porra?—Indaga já sem paciência gritando com a loura que repentinamente caiu em lágrimas.
        —Vai querida diga à ele!
         —Me perdoe meu filho! Durante esses anos eu tenho mentindo para você!

         —O quê foi que você fez mãe?

         —Charlie … O Terry, e-ele não é o seu pai!
          O garoto pisca frenético. Sério mesmo? Terry não era o seu pai? Esse tempo inteiro ele sofria nas mãos de alguém que nem seu pai era.
      Palavras não saiam de sua boca, sua garganta se fechava. As risadas de Terry se alastraram pela sala enquanto Elisa abaixa a cabeça e deixa mais lágrimas caírem de seus olhos. Durante todo esse tempo o enganaram, todo esses anos ele vivia uma farsa. Isso não era justo, será que a vida não irá dar uma trégua ao seu coração? Será que ele já não sofreu demais?
       Merda! Merda de vida.

    —Você é mais desprezível do que o nojento do seu pai,—Terry afirma roubando a atenção de Charlie. —Vocês dois são uns lixos!
     —Chega Terry, você não acha que ele já ouviu o bastante?!

      —O quê foi? Não quer que ele saiba o lixo que o pai dele é? Não é justo você sofrer sozinha, ele também precisa saber,ele também precisa sentir o que você sente Elisa…
    
      —Nossa que merda!—Protesta entre gritos assustando os dois.—Como se você realmente se importasse comigo,eu sei que a única coisa que tem em mente é ferir o meu filho, e isso eu não vou permitir!
        —Do que ele está falando mãe?
        —Não é nada querido, ignore. Apenas ignore!
        Elisa tenta mudar de assunto mas não deu.Charlie queria,ou melhor, exijia a verdade de sua mãe. Não havia jeito de fugir,ela teria que contar a verdade.
      Coragem, apenas isso que ela tenta arrumar para falar com seu filho,encarar os seus olhos e lhe dizer o que ela sempre tentou lhe dizer, o segredo que sempre escondeu.   
      Compartilhar aquilo que ela sempre gardava apenas para sí mesma. Será que deveria? Talvez isso afete muito ele, mas esconder dele não vai mais dar. De uma forma ou outra se ela não revelar, Terry irá abrir a boca e dizer da forma mais indelicada a verdade sobre sua origem.
   
      —Queria deixar claro a você que em momento algum deixei de te amar por causa do que houve. Eu sempre tive muito carinho por você Charlie, mesmo sentindo uma profunda dor ao ter fitado seu doce rostinho pela primeira vez eu o amo muito.—Amba dá uma breve pausa secando as lágrimas que desciam de seus olhos inchados.—Eu tentei evitar, não queria mais lembrar daquele dia,mas no momento que soube que estava grávida minha vida tomou outro rumo,tive que tomar escolhas difíceis. Ao invés de pensar apenas em mim eu pensei em você, vi que um bebê tão pequeno e frágil não tinha culpa dos erros dos outros. Você não tem culpa de nada, e com esse pensamento eu te trouxe ao mundo e lhe amei intensamente!

       Procurando entender melhor o que sua mãe lhe dizia ambo já sentia uma pontada no coração. Percebeu que até mesmo antes de nascer ele já machucava pessoas que tanto amava, já fazia merdas que afetaram sua mãe.

      —Por que você pensava isso sobre mim mãe? —Indaga meio melancólico.

      Pela primeira vez seus olhos se cruzam novamente. Havia tanta agonia no olhar de Elisa que podia se perceber que ela realmente não estava bem. Terry permanecia inerte, ao contrário dos outros ele estava eufórico, como retratado nunca gostou de Charlie, e se o assumiu foi apenas pela sua esposa. Um  clima tenso propagou. Elisa movia os lábios mas não conseguia pronunciar nada. Amba apenas respirou fundo, e finalmente, depois de tantos anos falou o que talvez nunca diria ao seu filho:

     —Charlie … você, é —Tentava explicar nervosa.—Querido, você é fruto de… um estupro…

      Choque, foi apenas isso que ele sentiu. Apertando os punhos o garoto derramava amargas lágrimas, não conseguia dizer nada,absolutamente nada saía de sua garganta.
     Terry ria igual à um idiota. Elisa não poderia dizer nada, estava no mesmo estado que seu filho, amba poderia sentir a dor dele,a mesma dor de ódio de sí mesmo e rejeição.
       Por mais que tentasse ela não sabia como consolá-lo.

      —Mãe … —Depois de um longo tempo ele se pronunciou. —Por quê não me abortou?

     —Por quê ela teve pena de você seu trouxa! —Terry se intromete tentando piorar a situação.
     —Chega Terry, já chega por hoje! Filho entenda, eu o amo. Mesmo que isso tenha acontecido eu o amo,do fundo do meu coração.
      —Eu não mereço o seu amor!
       —E você acha que eu mereço o que aconteceu comigo? Você tem que entender que às vezes ganhamos coisas que nem sequer merecemos. Não se culpe.

     Como ela poderia agir tão calma? Como podia permanecer tranquila?
     —Poxa vida, deu uma dó de você agora hein Charlie, a vida foi cruel com você não pequeno?
     —Cala a boca Terry! Eu já estou cansado de você, por que não cala essa maldita boca ou quer eu  costure pra você?!
        Charlie já não tinha o controle de sí mesmo,ofendeu o desgraçado do seu padrasto cuspindo toda raiva que tinha em seu interior. Terry não aceitou e avançou derrubando o jovem no chão, distribuiu socos pela sua face enquanto pronunciava lamúrias e palavrões. Elisa tentou parar seu marido mas foi jogada para longe.
       Charlie conseguiu se desviar de alguns ataques. Por sorte tinha um vaso na mesa de centro que estava próxima. Ele agarrou o vaso e o quebrou na cabeça do oponente que saiu de cima dele.
      Os gritos de Elisa não fazia nenhuma emoção, ódio era a única coisa que pairava entre os dois. O tão esperado acerto de contas iria acontecer. Tantos anos para chegar a isso.
     No momento de distração de Charlie ele não percebeu que Terry havia pegado uma arma que tinham para casos de emergências. Antes que se levantasse sentiu uma pontada da cabeça, o desgraçado de seu padrasto fez questão de chutar o crânio do garoto.
     Caído no chão, com o corpo meio inclinado apoiado sobre os braços, Charlie encarava o revólver apontado em sua direção. Ambo permaneceu inerte. Não demonstrou nenhuma emoção, a frieza era clara em sua face.

     —Finalmente! Depois de tantos anos poderei te matar seu verme imundo. Então, como se sente ao saber que irá morrer?

     —Grato! Não possuo nada que me prenda nesse mundo, não tenho planos para nada. Então se me matar estará apenas me fazendo um favor.—Afirma cuspindo as palavras com desdém. —Apesar de que ser assassinado por um bosta igual à você é ridículo!

      —Seu maldito! Vou te mostrar quem é o bosta aqui depois que te mandar pro mundo dos mortos!

      A fúria toma conta dele. Terry segura o revólver mais firme. Puxa o gatilho. O som do tiro propagou pela casa.
      De repente um silêncio. Ao passar a emoção,ele olha para sua frente, porém o sorriso de seu rosto desapareceu ao ver que quem estava caído no chão ensanguentado não era Charlie, e sim sua esposa.
      O corpo pequeno e frágil estava caído sobre Charlie.O tiro havia acertado em pleno peito.
      —Me desculpe filho …acho que não dei amor suficiente à você não é? —Indaga ofegante com os olhos marejados. —Eu tentei te ajudar mas vejo que não servi para nada.
     —Errado! Você era uma das coisas que me proporcionava alegria, mesmo que temporária, o seu sorriso me consolava.
     Pela última vez eles se olharam.  Naqueles últimos momentos de mãe e filho era como se existissem  somente os dois.
      Depositando um doce beijo na sua testa ele se despediu:
      —Adeus, minha querida Elisa!

    Continua no próximo

   Obs: capítulo um pouco extenso por isso o dividi. E ai sentiram minha falta?(●__●)

Amor psicopataOnde as histórias ganham vida. Descobre agora