Capítulo 04

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Priscila...


Meus pés se encaminharam até a recepção daquele hotel. Senti-me definitivamente uma vadia ou uma prostituta indo ao encontro do seu cliente. Após a visita de Victor na minha casa, haviam se passado cinco dias e agora ele estava na cidade, não sozinho.


_Boa tarde. – A recepcionista com um sorriso encantador fez as saudações.
_Por favor, onde fica o quarto 502? – Minha voz saiu trêmula, ela percebeu.
_Desculpe, mas preciso saber seu nome para poder te encaminhar.
_Priscila Mattes.

A mulher na minha frente pegou o telefone, fez um sorriso e voltou a olhar para mim. Claro que achava que eu era uma vadia e estava ali para satisfazer aqueles dois homens naquele quarto. Isso é patético!

_Pode subir. O elevador fica nesse corredor à esquerda.
_Obrigada.

Subi praguejando aquela recepcionista, estava na cara dela que pensou segundas intenções da minha visita ali. Cheguei ao corredor e vi a porta do quarto, batendo de leve, aguardei. Um homem muito charmoso abriu e logo se espantou comigo. Será que Victor não havia dito mais ou menos como eu era? Será que aquela roupa estava legal? Exagerei na maquiagem?...

_Priscila?
_Sou eu.
_Entre.

Em passos pequenos e lentos entrei naquele luxuoso quarto, meus olhos buscavam por Victor e lá estava ele, sentado em um sofá. Assim que me viu levantou-se e me deu um abraço aconchegante, inalei seu perfume e fiquei levemente tonta. Ah, porque tão lindo?

_Pensei que não viria. – Segurou minha mão e me puxou para sentar do seu lado no mesmo sofá que segundos atrás estava sentado.
_Imagina, dei minha palavra.

Juntos olhamos para frente, o homem estava nos olhando com um meio sorriso, estava nos analisando. Victor pigarreou e iniciou as saudações:

_Priscila, esse é o Otávio, meu empresário. Será ser ele que vai nos ajudar em tudo.

Confesso que me senti deslocada quando esse homem sorriu para mim e estendeu sua mão, havia algo pairando no ar que ainda não sabia. Uma conversa entre eles talvez.

_Prazer – apertei sua mão.

Ele sentou na nossa frente.

_Vamos ao que é importante. Para assumir namoro sem desconfiarem de nada é preciso que as pessoas vejam vocês trocando palavras em públicos.
_É só me dizer qual próximo show terá por aqui por perto. Posso ir numa boa e enfim, o resto é como vocês querem. – Estava um pouco mais a vontade e me senti bem ajudando na ideia.

Os dois se olharam e ficaram alguns segundos pensativos. O que diabos aconteceu na minha ausência?

_Não podemos esperar por um próximo show aqui perto. Isso tem que ser rápido – olhou para Victor. – O que sugere?

Victor olhou para mim, depois para ele e enfim se pronunciou:

_Daqui a duas semanas tem o show em São Paulo. Seria ótima oportunidade.

Virei meu rosto bruscamente, de maneira alguma conseguiria ir a esse show.

_Eu não posso! A clínica que trabalho não me libera.
_Pede férias – Victor falou como se fosse algo tão banal quanto "bebe água".
_Eles não dão férias a ninguém nessa época.

Mais uma vez Victor e Otávio se olharam, estava ficando difícil. O empresário levantou-se e andou de um lado para o outro nos olhando.

_Desculpe Priscila, mas acho que você vai ter que ir. Pegue uma folga, você tem duas semanas para isso. Trabalhe em horas extras, assim pode conseguir ao menos uma folga no sábado.

Levantei-me desesperada, eles não sabiam como era minha vida. Tudo, totalmente tudo, estava errado!

_Mas se eu conseguir essa folga como vou dizer as minhas amigas que irei a esse show? Falei para elas que não tinha condições alguma.
_Diz que seu pai te deu de presente a passagem e você arcou com as despesas.

Olhei para Victor, ele estava tão estranho, tão frio. Será que as pessoas mudam diante de outra por perto?

_Mas acontece que elas sabem que meu pai jamais pagaria minha passagem, ou seja lá o que for para ir a um show de vocês. E meu pai... Ele vai me matar quando souber que eu vou viajar pra tão longe... E eu não tenho tanta grana assim para me bancar naquela capital! – Tanta coisa saiu sem ao menos eu respirar, queria desabafar e enfim consegui.

Otávio parou de andar e nos olhou:

_Vamos manter a calma! – Respirou fundo – Desculpa menina, mas esse show é de extrema importância e eu quero que você vá.
_Você não entendeu, Otávio. Não é somente querer, tenho uma vida, tenho um pai, mãe, trabalho. Não sabe o quanto ralo para ter meu dinheiro e ajudar meus pais!

Estava alterada, reconheço, mas parece que quanto mais eu falava, mais eles não entendiam uma palavra sequer saindo da minha boca. Victor levantou-se e com um gesto mudo pediu para que eu o encarasse. Agora ele era o Victor que falava palavras bonitas, que com um olhar me deixava entorpecida, com sua calmaria me acalmava também.

_Priscila, eu nunca iria deixar você arcar com as despesas em São Paulo. Nós vamos nos virar para te ajudar, mas acho que pra isso você também tem que dar o melhor de si. Por favor, me ajude?

Como dizer não para ele? Victor me olhava de um jeito tão terno, carinhoso. Agora afagava meu rosto com suas mãos delicadas. Fechei os olhos e só ali percebi que uma lagrima desceu e ele prontamente enxugou-a, ele me fazia tão bem.

_Ok. Vou dar um jeito nisso. – Me afastei um pouco dele e olhei o relógio em meu pulso. – Tenho que ir, minha hora de almoço já está terminando. O trabalho me chama.

O abracei com vontade e logo saí daquele quarto. A porta se fechou atrás de mim e agora eu tinha a certeza de que estava ferrada! Em menos de um segundo imagens surgiam como borrões em minha mente. Pensei nos meus pais, no emprego, o que diria às fãs que eram minhas amigas? Elas me veriam por lá e qual argumento eu iria usar? Entreguei tudo nas mãos de Deus e saí o mais rápido daquele hotel.

Nosso Destino Traçado [Completo]Where stories live. Discover now