Capítulo 27

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Priscila sentiu os olhos arderem por ter retocado a maquiagem e ter exagerado no delineador dos olhos. Não queria que percebessem que havia chorado, mas Victor demonstrara ao sair do quarto e sem entrelaçar sua mão a dela, sair caminhando na frente e apertar o botão do elevador. Agora se sentia tão pequena e infantil por ter o contrariado, queria pedir desculpas, mas seu orgulho não deixava tomar tamanho passo. Permaneceram calados até o elevador parar e ao abrir já estarem no térreo.

Não estava sendo fácil para Victor ter Priscila ali com um vestido curto e colado. Segurou na mão dela para disfarçar, as pessoas não precisavam saber que os dois haviam acabado de discutir. Desejou um "boa noite" frio para quem aparecesse em sua frente, entrou no carro e deixou que ela se virasse em pôr a mão na barra do vestido para ninguém ver sua calcinha enquanto entrava no veículo. Conversou com o motorista para descontrair o ambiente, mas percebia os olhares dela, estava calada, quieta, porém, querendo algo. Ignorou-a o resto do trajeto e ao chegar à casa de eventos foi abordado por algumas fãs que estavam ali em uma área restrita. Sorriu, tirou fotos e deu alguns autógrafos. 

Priscila saiu do veículo quando a situação normalizou, sabia bem como era a vida de uma fã, já foi uma... ainda era. Deu boa noite para aquelas meninas, logo entrelaçando a mão na mais próxima de Victor e sentiu ele lhe puxar bruscamente enquanto se encaminhavam para o camarim. Sabia que o marido estava certo, alguns homens olhavam para seu corpo, soltando algumas cantadas baratas. Ele parou em uma porta, uma mulher que trabalhava na produção do evento lhe indicou para entrarem. Leo já estava ali, não demorou muito para informarem que teriam que ir a outra sala para participarem de uma entrevista. 

_Fica aí, depois voltamos – respondeu com uma expressão séria no rosto. 

Em poucos segundos estava sozinha, sentindo vontade de chorar. Não conseguia entender aqueles surtos repentinos de Victor. Se não gostava dela porque fazia aquilo? Respirou fundo e sentou-se no sofá, deixando uma, no máximo duas, lágrimas caírem em seu rosto, limpando-as logo em seguida. Após a entrevista, Victor permaneceu naquela sala, outros cantores que iriam fazer show ali ficaram em um papo agradável. Acabou esquecendo-se de Priscila e todos os seus problemas pessoais. A hora de subir ao palco chegou, só ali lembrou que sua esposa estava na sala vizinha. 

_Vai na frente Leo. Vou buscar a Priscila. 

Suspirou ao lembrar mais uma vez do seu problema. Ela insistia em querer bater de frente com ele, nunca iria mudar. Abriu a porta e se aproximou. Priscila estava triste, com a cabeça baixa, ainda assim, ele estava com muita raiva e a vontade de rasgar aquele vestido e tocar fogo não lhe faltou. 

_Vamos, o show vai começar. Se quiser pode ficar do lado do palco ou ir para o camarote que terá para algumas pessoas. 

Calada, ela fez um gesto positivo com a cabeça e levantou-se. Mais uma vez Victor segurou forte sua mão e foi em passos largos. Durante o caminho, sentia vontade de esmurrar todos aqueles caras que olhavam para sua esposa como se fosse uma qualquer. Antes de subir na escada, colocou-a na frente, indo atrás poderia ver se algum cara não iria soltar alguma piadinha ou tentar ver algo além da barra do vestido. Priscila o puxou para sussurrar em seu ouvido: 

_Eu vou para o camarote, não quero atrapalhar. 

Ouvir a voz dela só ativou o calor dentro de si e teve que se controlar para não beijar-lhe a boca. Consentiu e pediu para um dos rapazes da produção levá-la para o local. 

O show começou, algumas fãs na frente sorridentes, lançando olhares ousados e ele só tinha olhos para o camarote onde Priscila estava. Achou-a bem na frente, não precisava ter tanta nitidez para saber que ela estava atenta a ele e a tudo o que ele fazia. Seus solos no famoso e velho Godin eram dedicados a ela, Victor sorria como uma criança que sente orgulho em uma apresentação escolar onde tinha seus pais ali, vendo tudo atentamente. Em algumas músicas sentia seu peito oprimir, tragar a saliva e segurar um choro. Tudo poderia ser perfeito naquela noite se não tivessem discutido. Seria mágico, mas a noite era uma criança e estava apenas começando. Lembrou-se da reserva no restaurante, de quantas vezes naqueles dias anteriores ensaiou falas para somente dizer que a amava. Agora tinha dúvidas sobre o seu sentimento. Seria certo contar tudo para ela? 

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