Nosso Destino Traçado [Completo]

Capítulo 32

Setembro...

Priscila acordou com a claridade querendo, timidamente, invadir aquele quarto. A mão de Victor repousava em sua cintura e uma paz invadia-a. Virou o rosto e por cima do ombro olhou para ele, parecia um anjo, dormindo com uma expressão no rosto que a deixava risonha e boba. Moveu-se devagar para não acordá-lo, permaneceu alguns minutos fitando-o.

_Está olhando pra mim – sussurrou ainda com os olhos fechados.
_Como sabe?
_Porque sei, oras – aos poucos foi abrindo-os. – Que horas?
_Já são oito da manhã.
_Não quero sair da cama – resmungou.
_Eu sei, mas o dever te chama – tirou a mão dele da sua cintura, saiu da cama. – Levanta seu preguiçoso.

Sorriu e foi ao banheiro, naquele dia uma culpa lhe afligia. Balançou a cabeça, afastando os pensamentos e saiu, passando por perto da cama e percebendo que Victor estava dormindo novamente. Tocou o pé dele. 

_Acorda Victor ou vai se atrasar.
_Hum – resmungou enquanto achava uma posição confortável para dormir.

Entrou na cozinha, dando "bom dia" para a empregada. Estava sem apetite, encarando a xícara na sua frente. Ficou assim por alguns minutos. 

_Pensando na vida ou está sem fome mesmo? – Geane acordou-a do transe.
_Sem fome.
_Isso não é bom.

O rádio estava passando uma música, em um volume quase inaudível. Geane voltou a pia, lhe dando as costas. O que estava acontecendo? Estava feliz com Victor, desde a declaração que fizeram tudo estava bem entre eles. 

_Melhor comer, menina – Geane acordou-a do transe mais uma vez.
_Quem está sem apetite? – Victor entrou na cozinha logo sentando no banco.
_Priscila. Não come nada.
_Exagero da sua parte, Geane. – Priscila repreendeu a empregada.
_Se fosse só hoje, tudo bem, mas venho notando de dois dias pra cá.

A empregada se retirou da cozinha, indo à lavanderia. Sentiu a mão de Victor sobre a sua, fazendo carinho. 

_Está tudo bem?
_Sim.
_E isso o que Geane falou, é verdade?
_Exagero dela, Vi – tentou bebericar ao menos aquele café.
_Está ficando meio abatida mesmo, percebi quando cheguei ontem.
_Até você, Victor? – Olhou para ele com uma expressão séria
_Estou preocupado com você. Imagina se fica doente logo nessa época que viajo sem parar.

Victor olhou para o bolo, estava chamativo. Devorou-o e em seguida comeu outras comidas que tinham ali. Priscila sorriu fraco, queria ter o mesmo apetite que ele. Quando ficava preocupada sua fome logo sumia, deixando-a com aparência doentia. Já não aguentava ficar olhando o marido com tanto apetite e comendo de tudo um pouco. Levantou-se e foi para o quarto, ficou deitada, encarando o teto quando sentiu o outro lado da cama afundar. Olhou para o lado, Victor estava deitado de lado, apoiando todo o peso sobre o cotovelo. Com a mão livre passou pelos cabelos dela, colocando-os para trás e observar o rosto detalhadamente. 

_Me fala, porque está assim? 

Suspirou olhando mais uma vez para o teto. Longe de sua mãe tudo estava ficando difícil, era Sandra quem sempre lhe dava conselhos. 

_Estive observando. Desde que vim morar aqui não fui ao endocrinologista. Meus medicamentos acabaram em julho e sequer percebi.
_Porque não me disse antes, Priscila? Nem me lembrei desse fato, temos que ver isso.
_Estou preocupada e quando fico assim meu apetite some.
_Não quero te ver doente.
_Vou ficar bem, Vi.
_Pra ficar bem tem que se cuidar. Procure um médico hoje. Liga, marca consulta.

Era difícil ter que depender dele financeiramente. Por mais que tivesse um cartão de crédito evitava usá-lo. A consulta seria particular, com que dinheiro iria usar? Jamais iria pedir a ele. 

_Fiz um plano de saúde pra você. Eu já tinha, só te coloquei nele – como se tivesse lido os pensamentos dela, falou. – Vou pedir pra Emma, minha secretária lá do escritório, mandar seu cartão pra cá. Na correria acabei deixando lá na minha sala.
_Não precisa se preocupar, Vi...
_Você é minha esposa... Na saúde e na doença.

Sorriu emocionada. Depois que se declararam um para o outro, Victor assumiu uma posição diferente. Não se declarava direto, mas nas atitudes demonstrava o quanto a amava. Beijou-a rapidamente e levantou-se.