Treze

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Feliz aniversário Bruna Lima. Muitos anos de vida e saúde pra você. 🍰🍰😘

Melissa

Eu sinceramente não compreendo as razões de nascermos se mais ou menos dias iremos morrer e muitas vezes não realizamos a missão a que fomos incumbidos aqui na terra. As pessoas que amamos nunca deveriam morrer, deveriam ser eternas porque quando se vão, deixam um vazio que ninguém nunca poderá preencher.

Sou médica e convivo diariamente com a morte, já presenciei mais do que consigo me lembrar e nunca é algo bonito. Porém, nunca parei para pensar que um dia ela bateria bem na minha porta e levaria uma das pessoas mais especiais da minha vida. A minha vovó Jenna. A mulher mais doce e corajosa que já conheci.

Ela não teve nenhuma chance. Nenhuma. O seu coração simplesmente decidiu que estava cansado e resolveu parar, levando-a de nós.

Não é justo.

Por que com tanta gente ruim no mundo, a morte resolve levar principalmente as boas? E não adianta dizer que os céus precisam de pessoas boas porquê ninguém vai pra lá antes do Juízo Final. Então, qual a pressa de levar quem ainda tem tanto para viver?

Meus olhos ardem como se estivessem cheios de areia, meu peito apertado quase me roubando o ar tamanha a dor que sinto. Eu só queria que tudo não passasse de um terrível pesadelo, que quando eu acordasse, vovó estivesse na cozinha preparando um delicioso bolo de laranja, ou apenas sentada à mesa com sua xícara de chá de camomila.

Mamãe está inconsolável. Meus irmãos estão inconsoláveis. Todos estamos inconsoláveis. Inconsolável é a palavra que melhor nos define neste momento tão triste e não existe nada que vá mudar o nosso estado por um bom tempo.

Passo as mãos pelo meu rosto molhado e suspiro baixinho para não acordar Alicia, que dorme profundamente ao meu lado. Levanto silenciosamente, tomando o máximo de cuidado para não fazer nenhum barulho, mas acabo tropeçando no maldito tapete rosa e por muito pouco não vou parar com a cara no chão. Ouço um resmungo no canto do quarto e só assim lembro que Ravena e Chloe puxaram um colchão para o meu quarto. Elas nunca deixariam Alicia sozinha em um momento tão duro como esse porque são melhores amigas.

Pego uma muda de roupa e vou até o quarto de Alicia tomar um banho. Faço tudo no automático e mais lágrimas caem ao lembrar de vovó fria e pálida dentro daquele caixão feio. Se está doendo tanto em mim, imagina na mamãe, no tio Matt e no Jeremy. Vovó Jenna era o alicerce dos três, aquela que sempre deu tudo de si para cuidar dos filhos e logo depois dos netos. Ela nunca me tratou diferente por não ter seu sangue, eu sempre fui sua primeira netinha, aquela que a enchia de perguntas inconvenientes, que a ajudava a fazer biscoitos de chocolates ou ia dormir em sua cama quando meus pais iam ter suas noites românticas.

Será que um dia essa dor terá fim?

Amarro os cabelos em um rabo de cavalo baixo, calço os chinelos e saio do quarto em busca de um café quentinho para acalmar os meus nervos, mesmo sabendo que a cafeína tem um efeito totalmente contrário. Desço as escadas me arrastando, fazendo uma nota mental de que na minha casa não terá escadas. Será de apenas um andar para não me dar trabalho quando eu estiver velhinha e com os ossos fracos para andar subindo e descendo.

O cheiro de café me atinge antes mesmo que atravesse a porta da cozinha. Encontro papai encostado na pia, os braços cruzados e de cabeça baixa, mas quem me chama a atenção é o Gabriel sentado em uma cadeira mexendo no celular. Ele é o primeiro a perceber minha presença e abrir um sorriso fraco quando passo ao seu lado e aperto seu ombro. Vou até o meu pai e o abraço apertado, seu perfume de sempre me trazendo segurança.

Série Corações Feridos: Não me esqueça (Vol. 4) ✔Where stories live. Discover now