Trinta e cinco

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Melissa

Passei o caminho todo chorando no ombro de Gael, que pacientemente segurou minha mão, deixando-me colocar para fora - em forma de lágrimas - um pouco daquela mágoa guardada em meu peito.

Subo as escadas com cuidado mesmo desejando correr, mas com a minha sorte, sou bem capaz de levar uma queda feia daquelas, e, não vou colocar minha Feijão em perigo. Encontro Alicia saindo de seu quarto, o sorriso em seu rosto desaparece ao ver meu estado; ela imediatamente vem ao meu encontro e me deixo envolver por seu abraço.

"O que houve, minha irmã?" Pergunta preocupada; murmuro apenas o nome de Gabriel, sendo imediatamente compreendida pela garota mais sensível do mundo. "Vai ficar tudo bem entre os dois; então, acalme-se pelo bem do seu bebêzinho. Ele sente todas as suas emoções."

"A Feijão já vai nascer estressadinha." Desfazemos o abraço e passo as mãos pelo rosto molhado. Só então, reparo na minha irmã muito bem arrumada e até com um pouco de maquiagem. "Vai sair com o Isaac?"

"Ia jantar na casa dos padrinhos; mas vou ficar aqui com você." Prevendo meu protesto, Alicia coloca as mãos na cintura; apontando para a porta do meu quarto completa: "Vai tomar banho, enquanto preparo pipoca para comermos enquanto assistimos um filme meloso."

"Obrigada por existir na minha vida. É a irmã mais maravilhosa que Deus poderia ter me dado." Beijo o rosto que está perdendo os traços infantis; até pouco tempo era só a minha irmãzinha, que corria para meus braços quando ralava o joelho ou sentia medo de algum bichinho indefeso.

"Eu te amo, Mel e sempre estarei ao seu lado mesmo que a vida queira nos separar." Garante antes de abrir a porta do quarto e me empurrar para dentro. "Daqui a pouco eu volto."

Jogo a bolsa de qualquer jeito na poltrona e o miado de Biel é doloroso até para meus ouvidos.

"Desculpe, meu bichano." Pego-o no colo e acaricio atrás de sua orelha, fazendo-o ronronar baixinho esfregando-se em mim. "Foi sem querer."

Deixo meu bichano novamente na poltrona e me arrasto até o banheiro em busca de um longo banho quente para aliviar a tensão dos meus músculos. Engulo o choro ao lembrar de Gabriel, pois já cansei de derramar lágrimas pelos homens que passam por minha vida. Talvez eu não tenha nascido para viver um grande amor como os dos casais da família. Nem todos têm a sorte de encontrar sua alma gêmea neste mundo tão grande. Preciso começar a aceitar isso, focar em meus filhos, pois a felicidade deles será minha prioridade daqui em diante.

Visto um pijama confortável e quando saio do closet encontro Alicia mexendo no controle da Tv, deitada na cama com uma grande bacia de pipoca ao lado. Deito ao seu lado e foco a atenção no filme escolhido, um típico clichê natalino de um jovem CEO muito grosseiro e indiferente as pessoas ao seu redor, inclusive a sua desastrada assistente pessoal, que mantém uma paixão secreta pelo patrão com o gênio do cão.

Não sei em qual momento o sono me pega e nem por quanto tempo durmo, porém, desperto ao sentir cócegas nas bochechas e uma respiração gelada contra meu rosto. Deparo-me com olhinhos escuros mirando-me e retribuo ao sorriso do meu menino.

"Chegou agora?" Ele nega e se afasta, volta logo em seguida com uma sacolinha média de papel e a estende para mim. Quando a abro, tem dez barrinhas do meu chocolate favorito. "Foi o Gabriel que mandou?" Acena com um movimento de cabeça com a atenção voltada para a barra de chocolate que lhe entrego.

Não sei se sinto alívio ou frustração por Gabriel não ter subido para tentar conversar comigo.

Ah, Melissa Salvatore, seja firme em suas decisões e pare de ficar correndo atrás dele! Repito cinco vezes mentalmente procurando me fortalecer.


☆゜・。。・゜゜・。。・゜★

Duas semanas se passaram desde aquele fatídico desentendimento e desde, então, venho evitando o máximo possível encontrar Gabriel; o máximo de contato que temos é por mensagens e apenas para falar sobre nossos filhos, sempre que ele tenta entrar em outro assunto, deixo-o no vácuo. Estou sendo infantil e covarde, mas foi a única forma que encontrei para conservar o pedacinho intacto que ainda resta do meu coração. Só que hoje não tem como evitá-lo, pois é o grande dia do casamento de Jeremy e Valentina e somos padrinhos dos noivos.

"Vai fazer um furo no chão, Jeremy." Ganho um sorriso ao ajeitar sua gravata pela nova vez. "Não se preocupe que o tio Kai não vai prender sua bailarina na torre de um convento, isso seria mais a cara do tio Damon."

"Sonhei tanto com esse momento; em casar com a mulher que amo." Os olhos castanhos brilham perdidos em lembranças daquela que sempre foi a dona do seu coração. "Obrigado por estar aqui."

"Eu sou a madrinha mais linda que você poderia ter." Passo as mãos pelo tecido rosa clarinho do vestido; o de Alicia é da mesma cor só muda o modelo. Enquanto o meu é de alças finas, rodado de modo a disfarçar um pouco a barriguinha, o da minha irmã é frente única, moldando-se suavemente ao seu corpo. "Eles fazem um belo casal." Aponto para Alicia e Isaac entrando de mãos dadas na igreja.

"Isaac é até um cunhado legal quando não está me lançando olhares tortos." Jeremy parece divertido com isso. "Olha só aqueles três."

Ai, meu Deus! Acho que vou vomitar um arco-íris tamanha fofura em ver Barry, meu pai e Ethan vestidos em ternos da mesma cor e modelo, os cabelos bem penteados e entupidos de gel. Minha mãe é mesmo louca e deve ter ameaçado meu irmão, que parece ter engolido um porco espinho da vergonha.

Vou até eles e meu menino corre, encontrando-me no meio do caminho. Abaixo-me para receber o abraço e o beijo mais gostosos do mundo, seu cheirinho de bebê me faz querer esmagá-lo ainda mais entre os braços.

"Sorria, menino! Parece até que comeu jiló." Mamãe aperta o ombro de Ethan com força, a julgar pela careta de meu irmão. "Vai ficar sentado com o Barry perto do Klaus e da Caroline."

"Mas..." Ethan se cala ao receber o olhar de autoridade de mamãe. " bom, nasci mesmo pra ser um escravo desse sistema opressor." Se joga em um dos bancos de braços cruzados, Barry o segue e puxa sua perna, fazendo Ethan o ajudar a sentar ao lado dele.

"Ele herdou o seu pior lado, Stefan." Papai concorda com um aceno de cabeça apenas para não contrariá-la, mesmo sabendo que a teimosia e o gênio forte são heranças da esposa. "Tenho até pena da mulher que se apaixonar por esse coração de pedra."

"Não exagera, Elena." Papai passa o braço pela cintura de mamãe. "É só a fase da aborrecência."

De repente sinto os pelos dos braços arrepiarem e o coração bater mais forte. Quando olho para frente, vejo-o entrando acompanhado de todos os Mikaelson. Nossos olhares se encontram e sou devorada pela enxurrada de sentimentos borbulhando em meu peito. A saudade compete com o amor para ver qual é o mais forte neste momento, quase obrigando minhas pernas a correrem de modo que me jogue em seus braços para sentir o seu cheiro e o seu calor.

Por Deus! Como posso amar tanto uma pessoa ao ponto de dor tanto assim?



Essa é uma velha história
De uma flor e um beija flor
Que conheceram o amor
Numa noite fria de Outono
E as folhas caídas no chão
Da estação que não tem cor

E a flor conhece o beija-flor
E ele lhe apresenta o amor
E diz que o frio é uma fase ruim
Que ela era a flor mais linda do jardim
E a única que suportou
Merece conhecer o amor
E todo seu calor

Ai que saudade de um beija flor
Que me beijou depois voou
Pra longe demais
Pra longe de nós

Saudade de um beija-flor
Lembranças de um antigo amor
O dia amanheceu tão lindo
Eu durmo e acordo sorrindo

Série Corações Feridos: Não me esqueça (Vol. 4) ✔Onde as histórias ganham vida. Descobre agora