Epílogo

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Melissa

Os últimos sete meses podem ser descritos como os mais felizes da minha vida até agora. Não é nada fácil conciliar a vida pessoal com a profissional, pois os plantões exigem muito de mim e os horários na maioria das vezes me mantém longe de casa por horas. Nos quatro primeiros meses após o parto me mantive afastada do hospital, dedicando-me exclusivamente aos meus filhos. Tanto, que logo no primeiro dia de retorno ao trabalho, ficava ligando de meia em meia hora para minha mãe, querendo saber como Diana estava. Barry, meu príncipezinho não me preocupava tanto, pois quando não estava na escola, estava grudado em Gabriel ou no meu pai na empresa. Seu novo passatempo preferido era agir como um empresário de gravata e tudo mais. A psicóloga que o acompanha desde o acidente, tranquilizou-nos dizendo que nesta idade é natural os meninos desejarem se vestir e agir igualmente ao pai. O que precisamos é ajudá-lo a desenvolver sua própria personalidade, guiando-o a seguir seu próprio caminho mesmo ele ainda sendo tão novo.

Barry é nosso filho exatamente como Diana. Em nenhum momento tentamos tomar o lugar de seus pais biológicos, muito menos apagar da memória de Barry as lembranças daqueles que o amou mais que tudo. As fotos e vídeos que conseguimos resgatar são provas suficientes dos pais maravilhosos que Emily e Clark Smith foram; e tanto Gabriel quanto eu fazemos questão absoluta de que Barry continue a amá-los e a respeitá-los como pais apesar de não estarem mais neste mundo.

Somos seus pais de coração. O amor que fortalece os nossos laços é o suficiente para provar que nenhum laço sanguíneo é o suficiente se não houver amor e companheirismo misturados a fórmula do felicidade verdadeira.

"Desce daí agora, Barry!" Grito antes que o menino tente se pendurar no galho mais baixo e fino da árvore.

Bastam os joelhos ralados da queda de bicicleta que levou três dias atrás. A energia dele é tanta que acabou pegando a bicicleta, escondido, para andar nos jardins. Sem proteção, com a queda, rasgou os joelhos e foi um verdadeiro chororô. Mais pelo susto em ver o sangue do que necessariamente pela dor causada pela queda.

Barry senta ao meu lado sobre a toalha vermelha xadrez e pega sua garrafinha d'água. Ajeito o boné lilás sobre a cabecinha de pouquíssimos fios claríssimos de Diana. Ela bate palminhas gargalhando; o único dentinho branco à mostra; os olhos azuis claros acompanhando as outras crianças barulhentas correndo pelo parque.

"Pegue o seu Monstrengo... e me dê a minha filha." Meu marido está ofegante, gotículas de suor espalhadas pela testa após longos minutos tentando pegar o nosso endiabrado vira-lata.

"Quem o trouxe pra casa foi você." Recordo-o da tarde em que surgiu com o cachorrinho imperativo, branco de pintinhas escuras e olhos esbugalhados, que encontrou no meio da rua.

As crianças são apaixonadas pelo Monstrengo e o sentimento é recíproco. Até o Biel se deu bem com o cachorro, ao ponto de dormir em cima do seu irmão animal.

"Já que estamos aqui, vamos naquela doceria. Aproveitamos para comprar uma daquelas deliciosas tortas e ainda apresentamos a nossa Feijão pra Destiny." Durante todo esse tempo nunca tive a oportunidade de voltar para rever aquela simpática senhora. Sempre um imprevisto surgia para impedir, mas hoje será diferente.

Por conta dos passos curtos de Barry e da energia do imperativo Monstrengo, demoramos um pouco para chegar até o estabelecimento de fachada rosa.

"Vai lá enquanto esperamos vocês aqui fora." Gabriel indica a plaquinha na porta proibindo a entrada de animais, exceto cães guias.

"Você vem querido?" Barry nega já abraçado ao pescoço de Monstrengo. "Não demoro."

Série Corações Feridos: Não me esqueça (Vol. 4) ✔Where stories live. Discover now