Dezenove

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Capítulo dedicado à claudetessouza. Espero que melhore logo, amiga. ❤❤





Melissa

Preciso lembrar de agradecer a doutora Collins por me trazer para Londres quando mais preciso ocupar minha mente. As palestras e oficinas duram o dia todo e quando chega a noite, estou suficientemente exausta para apenas jantar, tomar um banho e dormir profundamente até a manhã seguinte.

Tenho tentado não pensar muito naquele beijo, pois não quero enlouquecer buscando respostas para o que aconteceu. As perguntas são sempre as mesmas: "Por que Gabriel me beijou? Por que correspondi e não consigo me arrepender por isso?". Meu Deus, mostre-me uma luz antes que meu cérebro dê um pane total e eu enlouqueça. Sou muito nova e bonita para ir parar em um hospital psiquiátrico e muito mais para usar aquelas camisas de força.

Amanhã volto para casa e ainda não sei com que cara olharei para Gabriel. Não nos falamos desde sábado a noite e hoje já é sexta-feira, um verdadeiro recorde se tratando de nós dois. Meus dedos coçam para lhe mandar as fotos que tirei, para dizer um oi, todavia não consigo e nem ele dá sinais de querer conversar. Pela primeira vez na vida não sei o que fazer em relação a Gabriel e essa sensação de impotência me machuca. Não quero perder meu melhor amigo e muito menos que nossa amizade estremeça por causa de um beijo. Dói meu coração só de imaginar algo assim.

"O que a senhora faria se o seu melhor amigo tivesse lhe beijado?" Arrependo-me imediatamente da pergunta quando a doutora Collins, deixa o garfo de lado e pega sua taça para beber um longo gole d'água. "Desculpe-me, doutora. Foi uma pergunta boba."

Olho para as pessoas sentadas nas outras mesas dispostas no restaurante do hotel no qual estamos hospedadas. A grande maioria deles é da área da saúde e veio participar do Congressos ministrado nos auditórios do hotel. Aceno discretamente para um grupo de colegas brasileiros, que conheci durante as oficinas e eles correspondem ao cumprimento com entusiasmo e sorrisos.

"Não vale a pena destruir uma amizade por desejo ou paixão." Volto a atenção para a doutora Collins, que mantém o olhar perdido na grande janela de vidro espelhado, permitindo ver as estrelas e a lua cheia reinando no céu. "Na verdade, não se pode confiar em ninguém, Salvatore, pois no final, seu coração sairá tão destruído que ninguém mais poderá consertá-lo. Não estou falando que o seu melhor amigo é um canalha, mas os homens em geral só querem uma coisa e depois que a conseguem, nem mesmo a consideração resta." Ela se levanta e me deseja boa noite antes de se retirar.

Fico observando-a até o momento em que desaparece do meu campo de visão. Ela teve o coração destruído por um homem e aposto todos as minhas fichas, que o doutor Edward Davis é o grande responsável por toda a amargura que ela carrega no peito. Mas o que ele poderia ter feito de tão ruim para transformá-la na mulher amarga de hoje? Por um momento enxerguei no fundo de seus olhos uma vulnerabilidade e dor que jamais pensei ser possível existir em uma pessoa como ela.

Suspiro inconformada com a crueldade da vida em querer me ferrar quando tudo parece estar caminhando para o caminho certo. Será que a minha sina é viver metida em confusões, com a cabeça afogada em problemas e o pior é que agora não posso nem ligar para Gabriel em busca de uma solução, pois ele é a causa da minha total confusão mental.

Arrasto-me em direção ao meu quarto sem o menor ânimo. Poderia ter saído com um grupo de colegas para aproveitar nossa última noite em Londres, mas não estou com um pingo de ânimo e nem preparada para ir a um lugar cheio de pessoas, não depois do ataque de Murilo. Sei que ele não representa mais nenhum perigo, mesmo assim, ainda sinto certo receio, principalmente, por não conhecer realmente ninguém. Tomo um longo banho quente e após vestir um pijama confortável, deito na cama já ligando para a mamãe.

Série Corações Feridos: Não me esqueça (Vol. 4) ✔Onde as histórias ganham vida. Descobre agora