Vinte e quatro

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Melissa


Os dias passam infernalmente lentos, arrastando-se de uma forma a me deixar em um tormento constante, principalmente, quando preciso me afastar para trabalhar. Nunca a profissão de médica pesou tanto em meus ombros como no último mês, mas nem por isso dei menos que 300% de mim aos meus pacientes. A vida é muito rara para não ser cuidada com o máximo de respeito e comprometimento. Eu jurei salvar vidas e farei isso mesmo morrendo um pouquinho a cada dia que se passa e Gabriel não desperta.

Os inúmeros exames não mostraram nenhuma atividade anormal que explique o estado de Gabriel, aparentemente, está tudo bem e não existe nada que os médicos possam fazer para acordá-lo. Tudo depende da boa vontade de Deus; agora e todos os momentos Lhe imploro para que o traga de volta. Sinto tanta falta de ouvir sua voz e seu riso, de sentir seu cheiro, o calor de seu abraço, de ver aqueles olhos indefinidos entre o verde e o azul.

Eu o amo tanto que dói tudo em meu corpo a cada minuto nessa incerteza, que machuca o coração e fere a alma. Sinto-me doente psicologicamente e isso reflete em meu corpo: no cansaço extremo, que causa enjoos e tonturas. Só nas últimas duas horas precisei correr para o banheiro três vezes após sentir o cheiro de algumas medicações. A doutora Collins me olha de forma estranha e não demora muito para que me chame em seu consultório, longe dos olhares curiosos de todos.

"Você está grávida." Se eu não estivesse sentada, com certeza teria caído de susto. Nego imediatamente com um aceno de cabeça. "Sua menstruação está atrasada quantos meses, Salvatore?"

Faço as contas mentalmente. A dura realidade sendo esfregada na minha cara. Levo as mãos até a barriga escondida sob a blusa azul e as lágrimas já escorrem copiosamente, o gosto salgado em minha boca.

Um bebê meu e de Gabriel. Um filho nosso. Se eu não consigo cuidar direito nem de mim mesma, como vou cuidar de um serzinho indefeso e tão dependente?

"Vá até sua avó e peça para fazer uma ultra-sonografia. Será mais rápido e poderá saber exatamente de quantas semanas está." Pego o copo que a doutora me estende e bebo a água fria em longos goles. Preciso me acalmar ou vou acabar passando mal mais uma vez e não posso deixar meu bebê passar tanto nervoso. Vai que ele se sinta rejeitado e isso acabe lhe fazendo mal. "Está liberada por hoje, Salvatore."

"Obrigada, doutora Collins." Jogo o copo descartavel na lixeira, então, em um ato de coragem, dou um abraço na minha mentora, pegando-a de surpresa. "A senhora não é tão má como quer que todos pensem."

Antes que ela tenha a chance de me expulsar, corro para fora em busca de minha avó. Cinco minutos depois estou em frente a mesa de Katlyn - a secretária de vovó - e por sorte não há nenhuma paciente à vista.

"Posso falar com a doutora Salvatore? É um caso de vida ou morte." A simpática Katlyn apenas balança a cabeça indicando a porta do consultório, dando-me permissão para entrar. "Obrigada."

Bato na porta antes de abri-la. Vovó me oferece um doce sorriso, seus olhos fazem uma varredura por todo o meu corpo, a testa franze suavemente antes de seu sorriso se tornar ainda maior. Tenho a sensação de me sentir totalmente exposta, como se ela já soubesse a razão de minha visita.

"Vovó, eu quero..." Respiro fundo e resolvo ser direta. Não adianta esconder nada mesmo, ela sempre dá um jeito de descobrir tudo o que lhe convém. "Eu estou grávida. Tenho certeza disso, mas quero ver como meu bebê está."

"Nunca pensei que viveria para ver meus bisnetos." Vovó está emocionada, seus olhos inundados de um carinho desmedido. Ela vem ao meu encontro e me envolve em seu abraço maternal. Fecho os olhos aproveitando o carinho, que sempre me deu segurança. "Desde que chegou na minha vida, só me trouxe felicidades, minha menina."

Série Corações Feridos: Não me esqueça (Vol. 4) ✔Where stories live. Discover now