Vinte e três

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Melissa

Já tiveram aquele aperto no peito como se algo ruim fosse acontecer e você não pudesse fazer nada para evitar? É o que estou sentindo desde que acordei de um maldito pesadelo esta madrugada. Não lembro muito bem o que acontecia, mas tinha muito sangue sob meus pés, do céu caía uma chuva forte, que machucava minha pele e eu sentia tanto frio e medo. Acordei chorando como se algo apertasse com força o meu coração, deixando-o pesado, roubando o meu sono e tranquilidade.

A primeira coisa que fiz quando o sol nasceu, foi ajoelhar ao pé da cama e rezar para que Deus Pai Todo Poderoso levasse, o que quer que aquilo significasse, para muito longe da minha vida, da minha família e das pessoas que eu amo. Não sou uma pessoa de ir muito na igreja, mas tenho muita fé e agradeço a Deus todos os dias pelo dom da vida, por todas as bênçãos e o seu infinito amor por todos nós.

Não vai acontecer nada. Foi tudo culpa do Simon e de suas malditas histórias de terror sobre fantasmas passeando de madrugada pelos corredores do hospital.

Isso mesmo. Só fiquei impressionada e por isso estou me sentindo estranha.

"Você está parecendo uma zumbi." Enxugo meus cabelos com a toalha, enquanto Samantha amarra os dela em um coque, preparando-se para o início de seu plantão. "A doutora Collins está no modo cão infernal outra vez?"

"Por incrível que pareça, hoje, ela não veio trabalhar. Mas quando o diabo não vem, manda o Brad, como seu secretário." Não é segredo para ninguém neste hospital que Bradley Carl é um serzinho asqueroso, puxa-saco, que não passa um dia sem provocar ou tentar humilhar alguém, simplesmente por ser o sobrinho do diretor do hospital.

"Ainda bem que o imbecil previlegiado só trabalha durante o dia. A noite deve servir de bonequinha para os machões casados." Abafamos as risadas e mudamos de assunto quando algumas colegas entram no vestiário.

Depois de passar um pouco de maquiagem para esconder as olheiras e dar um pouco de cor para as minhas bochechas, penteio os cabelos e os deixo soltos para enxugar. Despeço-me de Samantha e desço até o primeiro andar pelo elevador, já que Gabriel veio me buscar para irmos ao cinema e a uma pizzaria. Encontro-o encostado no seu carro, a brisa gelada do início da noite bagunçando os cabelos claros. Um belíssimo colírio para os olhos de qualquer mulher e até de alguns homens, já que flagro um rapaz quase dando de cara com um poste, pois não parava de olhar para trás.

"Olá, namorado." Essa palavra se tornou a minha preferida há três semanas e não canso de usá-la para a felicidade de Gabriel, que sempre me presenteia com um lindo sorriso e um beijo maravilhoso. "Sentiu minha falta?"

"As últimas 24 horas foram horríveis. Namorar uma médica tem suas desvantagens por causa desses plantões loucos." Fico nas pontas dos pés para roçar nossos lábios suavemente e me afasto antes que aprofunde o beijo, pois estamos na frente do meu local de trabalho e não será de bom tom se me verem trocando carinhos com meu namorado.



☆゜・。。・゜゜・。。・゜★


"Tem certeza que não quer assistir um filme de terror?" Gabriel questiona pela milésima vez tentando me convencer a ir para a sessão de A freira. Sinto um calafrio só de lembrar que todo filme de terror é baseado em algum fato real sinistro, sem falar nas imagens do pesadelo que pipocam em minha cabeça. "Está tudo bem?"

"Vamos assistir o Pé Pequeno." O arrasto até a fila e enquanto ele compra os ingressos, vou atrás de pipocas e refrigerante.

A sessão está cheia de pré-adolescentes e vários adultos, que assim como eu, não perdem a chance de assistir a um bom desenho animado. Os noventa minutos de filme passam em um borrão, deixando-me encantada com o Abominável Homem das Neves. Tão fofinho, que a qualquer hora sou capaz de roubar a Mia para assistirmos juntas. Ela vai amar.

Série Corações Feridos: Não me esqueça (Vol. 4) ✔Where stories live. Discover now