Capítulo 62.

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Jhonatan.

Fiquei sentado ali naquela porra com as mãos algemadas que nem um animal. De novo esse caralho, terceira cana... Arrumo mais emprego honesto nem se for de garçom.

O que me deixa neurótico mesmo é que eu nem tava com aquela porra, se fosse só a arma tava suave, pagava um bagulinho ali e já era. O que pegou é o "tráfico de drogas" que colocaram no sistema sendo que eu nem tava com nada. O gambé filho da puta teve coragem de olhar na minha cara, falar pro outro que eu tava traficando, falei que não e ele foi no camburão, pegou o pacote cheio de Skank e jogou no banco do meu carro, ainda olhou pra mim e falou "agora tá". Fala pra mim se não dá ódio de uma porra dessa? Se eu pego esse mano, eu não ia nem ser indiciado por tráfico, ia ser por homicídio. Mais um na conta não faz diferença.

Nunca nem tive atrito com esse mano, nem entendi. Eu tô ciente que ele já trabalhou com um dos policial cuzão daquela vez que a Vitória teve que levar dinheiro, mas só isso também.

Na moral, vai ser cobrado da melhor forma. Ele reza pra mim ficar tempo o bastante pra esquecer da cara dele, porque se eu sair e lembrar, vai ser o primeiro na mira.

-Jhonatan?-Escutei a voz da Vitória e a porta terminou de abrir. Ela já entrou correndo, eu só levantei e abracei ela da forma que dava ali pela mão estar algemada.

-Ou, afasta! Afasta! Não pode ter contato, você vai sair sem falar com ele, em?!-O arrombado que tava me vigiando falou e eu me soltou, mas nem olhou pra cara dele. A gente sentou e eu já me inclinei sobre a mesa pra ficar perto dela.

-Chora não, vida, chora não. Vitória, presta atenção, eu não tava com a droga, Vitória. Eu não tava!-Ela concordou com a cabeça rápido e eu vi na cara dela que ela tava ligada. Me conhece demais... Mesmo se eu não falasse, certeza que ela saberia. Pessoa que mais me conhece no mundo, pô. Sem erro.

-Eu sei, Jhonatan.

-Pergunta pro teu pai, pergunta se foi ele que mandou botar lá. O que botou a droga era parceiro de um dos mano daquele dia que você teve que levar dinheiro, se não foi teu pai, eu já tenho uma idéia por cima de quem pode ter sido.-Eu falando tudo baixinho pro cuzão não escutar e ela atentona a tudo, máxima atividade.

-Ta bom... Jhonatan, o que a gente vai fazer? Me falaram que você vai pra Arara.-Ela já começou a chorar e eu já ia pra pegar no rosto dela, mas lembro que não podia.

-Assim que eu chegar e puder, eu arrumo uma melhor forma de te colocar na linha. Confia em mim, tá?-Ela concordou com a cabeça me olhando toda concentrada, parecia que tava até tentando decorar meu rosto memo.-Eu não sei quando a gente vai poder se ver de novo, mas eu vou dar um jeito.

-Ta bom, eu prometo que eu me cuido daqui de fora, tá? Eu vou ver as coisas na Colômbia, não sei o que eu faço, mas eu vou dar um jeito... Se cuida também, por favor. Por favor, Jhonatan.

-Eu vou, eu vou, prometo pra você. Ó, não entrega a casa não, é nossa casa, deixa como tá, quando eu sair nois vai embora de volta pra lá.-Ela assentiu e já chorou mais ainda. Seloco... Se eu soubesse não tinha saído nunca de Cartagena. Pior merda que eu fiz.

-A gente vai voltar pra lá, Jhonatan. Nem que eu tenha que virar São Paulo de cabeça pra baixo eu vou levar a gente de volta pra casa. Eu juro pra você, eu não vou descansar enquanto a gente não voltar.-Concordei com a cabeça e fiquei em silêncio, só olhando pra ela.-Eu te amo, mais do que tudo. Você foi a melhor coisa que me aconteceu.

-Você foi a melhor coisa que me aconteceu. Eu te amo demais, você é a pessoa mais importante da minha vida, cê sabe, né?-Ela concordou com a cabeça e já soluçou. Olho, nariz, bochecha tudo vermelho...-O dinheiro vai cair normalmente, Vitória. Só você tem a senha, cuida de tudo enquanto eu estiver ausente. Tá tudo na tua mão, só na tua.

-Eu vou cuidar, confia em mim, tá? Eu prometo. Eu preciso te contar uma coisa, vida. Você-

-O tempo acabou, você tem que sair.-Olhei pro filho da puta e ela olhou pra ele e olhou pra mim de novo.

-O que? Fala, Vitória.

-O tempo acabou, levanta, por gentileza.-Ela só olhou pra mim e pra ele de novo e levantou.

-Eu te amo, tá? Eu vou cuidar de tudo, se cuida. Toma cuidado, Jhonatan.-Concordei com a cabeça e fiquei só vendo ele tirar ela da sala.

Não deu tempo de contar pra ele, infelizmente não deu. Meu amor tá separado de mim por uma porta e parece que já tem um vazio enorme no meu coração.

Mas tudo bem, eu vou segurar as pontas, vai ser por ele, pela gente!

Assim que eu saí chorando a beça da sala na recepção já tava até meu pai lá, fui diretamente da direção dele.

-Foi você?-Ele olhou pra mim, assim como todo mundo e eu só levantei meu rosto e encarei ele séria. Até parar de chorar eu tinha.-Responde!

-Vitória.-Minha mãe tentou interferir mas eu neguei com a cabeça e me esquivei dela.

-Não, mãe. Por favor, não!-Virei pra ele novamente.-Foi ou não?

-Cê acha que eu ia forjar ele?-Ele já me olhou como se eu fosse um bixo de sete cabeças e eu neguei com a cabeça, totalmente incrédula.

-Você já tentou matar seu próprio irmão, eu sinceramente não tenho mais certeza do que o senhor seria ou não capaz.-Vi pelo canto do olho minha mãe colocando a mão na boca e minha vó sentando no banco de novo, a sala parece que ficou um clima tenso como nenhum outro, mas eu tava pouco me fudendo. Parece que ninguém tinha tocado no assunto ainda, eles simplesmente iriam agir como se essa situação tivesse sido um delírio coletivo, né?!

-Não fui eu, Vitória! Eu já fiz muita merda, me arrependo de algumas delas, mas eu não iria fazer isso. É baixo demais até pra mim.-Continuei olhando pra cara dele e ele me encarando da mesma forma.

-Tem certeza?

-Eu sou homem pra assumir as fitas que eu faço, se eu tivesse feito, eu falaria!

-Eu espero do fundo do meu coração que o senhor não esteja mentindo, porque eu sinceramente não tenho mais condição de te perdoar por mais alguma coisa que você faça e que vá me magoar, pai!

EM SP NÃO EXISTE AMOR.Where stories live. Discover now