Capítulo 65.

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Ayuli.

Tinha passado três semanas desde quando ele foi preso. As três semanas mais difíceis da minha vida. Tava morrendo de saudade dele, de verdade. A gente conversava toda hora por ligação, mas não era a mesma coisa, né?! Infelizmente eu ainda não pude ir visitar ele porque as visitas só serão liberadas depois do primeiro julgamento, não entendi direito o porquê, mas é o que explicaram pra ele lá dentro.

As vezes ele chora na ligação, ele diz que não, mas eu conheço. A voz rouca e ele fungando logo entrega. Por isso eu achei melhor nem comentar da gravidez, só ia deixar ele mais perturbado lá dentro, eu vou falar quando ele sair, porque eu sei que ele vai e eu sei que vai ser em breve! Se Deus quiser!

Eu não faço a mínima idéia de como deve estar sendo ficar preso lá, ainda mais por algo que ele nem fez. A arma sim, mas do jeito que é a justiça ele iria pagar um dinheiro e saia de boa, o problema foram as drogas mesmo. A advogada mesmo disse, falou também que a primeira audiência vai ser daqui duas semanas. Ela tá que nem louca caçando as provas, graças a Deus conseguiu pegar as imagens da câmera de segurança dum mercado que tinha em frente a onde eles pararam. O mercado tava fechado, mas as cabeças ligadas. Pegou certinho tudo, até o filho da puta jogando o pacote no banco. Logo menos meu amor sai, eu profetizo!

Tirando todo esse stress e eu só chorar metade do tempo, ainda tô passando mal que nem uma filha da puta. Toda hora vomitando, zonza... Bianca até percebeu, tive que contar pra ela, mas ela jurou que não iria contar pra ninguém.

Hoje inclusive a gente veio almoçar na minha vó, ela pediu e eu fiquei com dó de negar. Também achei melhor eu me distrair um pouco, ficar só triste e chorando pelos cantos não vai fazer bem pro meu bebê.

Tava almoçando eu, Bianca, meus avós, minha mãe, tio Léo e meu pai. Quando eu cheguei eles já estavam, minha vó nem pra me falar.

-Mas ele vai sair, se Deus quiser.-Meu tio falou e eu concordei com a cabeça. Nem contei pra eles da câmera, porque eu ainda tô super assim com meu pai, vai que, né?! Não tô confiando mais nem na minha sombra.

-Vai sim... Queria mesmo era que ele nem tivesse entrado.

-Tem coisas que acontecem porque tem que acontecer.-Minha mãe falou e eu já parei de comer na hora, todo mundo já percebeu, ficou um clima super pesado.

-Se fosse assim, tanta gente fazendo coisa pior e solta por aí. Ainda mais por uma coisa que nem era dele, foi colocada lá!-Ela olhou pra mim e só concordou.

-Mas você também não tem certeza se foi colocada ou não.-Meu pai falou e eu já respirei fundo. Coração já até acelerou, fico nervosa demais, cara.

-Ele disse que foi então foi! Não tô entendendo essa desconfiança de vocês, Deus me livre ter um irmão e ser que nem o senhor é. Além de tentar matar, ainda falar apedrejar.

-Eu tive meus motivos, Ayuli!-Ja aumentou a voz comigo e minha vó colocou a mão na cabeça.

-Motivo nenhum justifica o que você ia fazer. Quem devia estar preso lá era você!-Ele bateu na mesa com tudo e eu chega pulei no meu lugar.

-Você não fala isso de novo nunca mais nessa sua vida!

-E você não aumenta a voz pra mim porque nem meu pai eu te considero mais!

-Para, Ayuli. Não fala isso não, você tá falando porque tá nervosa, tá falando sem pensar.-Minha vó falou tentando abafar a situação e eu já bebi um pouco d'água, tava até me tremendo já. Barriga começou a dar umas pontadas e eu passei a mão em cima.

-Eu não acredito que você falou isso pra mim.

-O senhor que me desculpe, mas depois de tudo realmente é esse o sentimento que eu tenho no meu coração. Eu ouvi muita coisa que me magoou, eu vi você quase matar ele, vi você ser grosso e agressivo comigo e relevei tudo em consideração ao pai maravilhoso que você sempre foi, mas ultimamente eu não sei o que aconteceu com você.

-Eu descobri que você tava ficando com seu tio!

-Ele NÃO é meu tio. E isso não justifica em nada tudo o que você fez, eu só espero muito que pelo menos disso você não tenha culpa, se não eu juro que eu perco todo o respeito que ainda me resta pelo senhor.-Bebi mais água e respirei fundo. Minha barriga começou a doer mais forte e eu encostei na cadeira pra ficar mais confortável.

-Eu já te falei que eu não fiz nada, Ayuli! Dessa vez eu não fiz nada!-Gemi de dor e coloquei minha outra mão na barriga. Bianca que tava do meu lado já parou de comer na hora e me olhou.

-Que foi?

-Ta doendo. Ai, me ajuda, Bianca. Tá doendo muito.-Mordi minha boca quando deu outra pontada mais forte e meu olho já lacrimejou. Todo mundo só me olhava sem fazer nada, acho que não estavam entendendo.

-Vem, levanta, eu te ajudo. Quer ir pro hospital, vamos pro hospital.-Bianca segurou no meu braço, me ajudando a levantar e eu já fiquei tonta e me apoiei mais nela.

-Que isso? Você tá sangrando, Ayuli.-Minha mãe falou e eu olhei pra baixo, vendo minha calça azul já sujando de sangue.

Já me desesperei na hora, cresceu um nó na minha garganta e um desespero no meu peito surreal. Eu só pensava no Jhonatan, como eu queria ele ali comigo.

Olhei pra Bianca e ela tava me olhando com o olho arregalado, soltei o choro que tava preso e me apoiei mais nela quando minha perna falhou.

-Ai Bianca, me ajuda. Eu acho que eu tô perdendo meu filho, Bianca. Me ajuda.-Falei chorando e minha vó já levantou da cadeira na hora e correu pra perto de mim. Eu só sabia chorar e abraçar minha barriga. A dor era insuportável, só perdia pro meu coração apertado.-Não filho, por favor, fica comigo. Eu preciso de você, meu amor... fi... fica com a mamãe.

-Você tá grávida?-Minha vó segurou do meu outro lado e eu só sabia chorar. Todo mundo já se tocou e meu pai foi correndo pra fora com a maior cara de sem entender, meu tio e meu avô vinheram me ajudar a ir pra fora e minha mãe ficou de fundo sem saber o que fazer. Eu chorava de um lado e a Bianca do outro.

-Liga pro Jhonatan, Bianca. Pega meu celular e tenta ligar pra ele, é o último número da chamada. Avisa que eu tô perdendo nosso filho.-Foi a última coisa que eu consegui falar, depois desmaiei.

EM SP NÃO EXISTE AMOR.Where stories live. Discover now