Capítulo 17

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      A tensão inundou o cómodo mal Guilherme fechou a boca, levando embora o mínimo resquício de humor e a descontração que pairava no ar.

Enquanto observavam o mais novo deixar a mesa para cumprimentar o pai, Yara e Lídia pareciam ter sustido a respiração, como se temessem que qualquer reação, por mínima que fosse, pudesse fazer tudo ir pelos ares.

A solarense respirou fundo discretamente, enquanto mantinha o rosto enterrado no prato, pensando seriamente se um dia a vida, em vez de lhe dar rasteiras consecutivas, teria a gentileza de estender a mão para que se erguesse e seguisse caminho em paz.

Estava bom demais pra ser verdade até minutos antes, e já deveria ter desconfiado que o Universo aprontaria mais aquela consigo.

A sua atenção foi capturada pelo tilintar do garfo no prato, e olhou de soslaio para Lídia, cuja sobrancelha elevada e os olhos levemente semicerrados mostravam a sua insatisfação pelo aparecimento repentino. A exigência de uma explicação reluzia em suas íris claras.

A preta percebeu, pelo ruído próximo da cadeira, a irmã levantar-se também para saudar o pai, que carregava o filho no colo, permitindo que brincasse com os botões da sua camisa pólo.

      — É...eu... — começou, pigarreando em seguida, em busca das palavras certas a se dizer no momento. — Eu vinha...ahn...pegar o resto das minhas coisas, mas...acho que é melhor eu voltar uma outra hora.

Ao ouvir aquelas palavras e o significado delas lhe veio ao entendimento, a solarense sentiu sentiu um desconforto em seu peito e colocou a mão ali, fechando os olhos quando sentiu o ar faltar.

Não que achasse que fosse ficar tudo bem depois de Lídia descobrir a verdade, mas a constatação de que, mais uma vez, havia contribuído para que algo caíssem por terra, não era a coisa mais agradável a se sentir.

      — Combinamos de você ligar quando decidisse vir. — a morena retorquiu em tom seco, repousando as costas no encosto da cadeira.

      — Eu fiz isso, mas... — interrompeu-se, antes de respirar fundo. — Só dava caixa postal, e eu preciso mesmo do laptop, por isso vim. Mas não tem problema, eu já estou de saída. — anunciou, voltando-se para os pequenos. — Crianças, o pai volta depois, tá bem?

      — Não vai ainda não, pai. — pediu Guilherme, sacudindo de leve o seu ombro. — Fica mais um pouco.

Por mais que soubesse e entendesse que o irmão era apenas uma criança de cinco anos complemente alheia a todos os acontecimentos que os levara até ali, Yara desejava do fundo do âmago que Matias negasse, ainda que uma parte sua pensasse que, se alguém tinha que sair dali naquela situação, era ela.

      — Agora o papai não vai poder, filho. — declinou, recebendo o olhar de soslaio da preta. — Outro dia, sim?

      — Ah, mas você disse a mesma coisa da última vez. — Gui insistiu. — Fica, por favor. Só mais um pouquinho.

Antes que Matias pudesse abrir a boca para responder, foi a vez de Índia interceder pelas vontades do irmão.

      — É, pai, o Gui tem razão. — afastou-se um pouco para fitar melhor seu semblante cansado. — Aproveita e come com a gente. Que tal?

     — Querida, hoje realmente não vai dar. — continuou firme na sua resposta, recebendo murmúrios decepcionados das crianças. — Mas a gente pode sair no próximo fim de semana. O que acham?

Yara escutava tudo atentamente, fitando a comida restante em seu prato como se fosse a coisa mais interessante de todo o Universo, à medida que milhares de sentimentos vinham à superfície.

No Compasso das Estrelas | ⚢Where stories live. Discover now