Capítulo 4

4.5K 463 212
                                    

     
      Após cerca de dois meses e meio de recesso, o Centro Educativo Armando Nobre Lima finalmente estava abrindo as suas portas para o início de mais um ano letivo, numa segunda-feira ensolarada de setembro.

Para os alunos mais velhos, aquele simbolizava o princípio do fim, pois, já em maio próximo concluíriam o ensino secundário e finalmente poderiam decidir que rumo dar às suas vidas.

Entretanto, a ansiedade para que o ano chegasse ao fim o mais depressa possível se misturava à apreensão e, por vezes, ao medo ou à determinação, já cientes que aquele ano não seria nada fácil e que, se quisessem ver seus nomes nas listas dos aprovados dali a nove meses, teriam que dar tudo de si e mais um pouco.

Muitos deles — senão todos — invejavam e desejavam a tranquilidade e paz de espírito das crianças do pré-escolar e do primeiro ano, que saltitavam de um lado para o outro, felizes por estarem de volta e poderem fazer novas amizades, bem como dar continuidade às de antes, livres de grandes preocupações.

Os calouros do sétimo ano, por outro lado, pareciam perdidos naquele mar de adolescentes mais velhos trajando uniformes da mesma cor e modelo que os deles, e em simultâneo eufóricos pelo início de uma nova etapa, fazendo planos e mais planos com os camaradas com que caminhavam desde mais novos, para aquela que seria a porta de entrada para as experiências da adolescência, as descobertas acerca dos próprios corpos e coração, e o desejo de provar do gosto do proibido, ainda que apenas superficialmente.

      Por ser sua primeira vez ali e não conhecer absolutamente ninguém por ali, e nem sequer saber para que lado ir depois da tia lhe ter deixado no hall do edifício principal, desejado um boa sorte animado, acompanhado de um beijo em sua testa e sorriso encorajador, e levado as meninas para o prédio onde aconteceriam as aulas delas, Yara estava tão perdida quanto os alunos do sétimo ano, ou talvez até mais.

Sorriu de lado ao lembrar-se da prima mais nova, que fizera questão de acordar todas elas às seis e meia da manhã, animada para ir à escola, pois, um novo universo a aguardava, o primeiro ano.

      — Quero só ver essa alegria toda daqui a uns quatro ou cinco anos. — Victória resmungara em certo momento durante o café da manhã; a cara fechada denunciando o mau humor, passando a manteiga no pão na base do ódio por ter sido acordada tão cedo, sem necessidade alguma, já que a escola não ficava tão longe de casa e poderia muito bem dormir por mais meia hora e ainda assim chegar a tempo.

A menina fizera questão de deixar claro que o início do período letivo não lhe despertava animação alguma, a não ser por finalmente, naquele ano, poder entrar para a equipa júnior de futebol, cujos treinos teriam início na semana posterior e serviriam como uma espécie de consolo e distração.

Lacerda riu pelo nariz ao lembrar-se da caranca e dos braços cruzados da prima do início ao fim da viagem, ao mesmo tempo que sentiu seu corpo ser levemente projetado para frente, quando um outro se chocou com o seu.

    — Ei, olha por onde anda! — disse, elevando um pouco o tom de voz, ao ver que pessoa que esbarrara nela continuou sua caminhada apressada, sem sequer olhar para trás, como se quase não lhe tivesse deslocado o ombro.

Podia estar exagerando um pouco, mas aquilo não vinha ao caso, quando claramente o garoto fora um grande estúpido por não ter pedido desculpas, e ela também não era de ferro.

      — Tá no meio do caminho, quer o quê? — gritou de volta, logo desaparecendo entre os outros alunos que preenchiam o longo corredor de paredes azuis e brancas.

Yara ergueu uma sobrancelha e semicerrou os olhos pela audácia do menino — calouro do secundário —, mas preferiu não insistir naquilo, primeiro porque provavelmente não lhe ouviria e, segundo, porque ele estava certo. Realmente encontrava-se no meio do caminho — no mesmo lugar onde Lena lhe deixara —, barrando boa parte da passagem.

No Compasso das Estrelas | ⚢Where stories live. Discover now