Capítulo 14

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      Lacerda observou a tia desaparecer pelo corredor — após lançar-lhes um último olhar, avisando que, qualquer coisa, estaria no quarto —, antes de redirecionar a atenção para a morena à sua frente, indicando o sofá atrás dela, para que se tomasse lugar.

Alguns segundos de silêncio se seguiram quando que ambas se acomodaram, com Yara remexendo os dedos, inquieta, sem saber se deveria ser ela a dizer alguma coisa, sendo que não abrira a boca desde que batera os olhos na mulher, limitando-se apenas a assentir, quando ela sugeriu que conversassem, e a guiado até os assentos.

Ela, por outro lado, sabia bem o que levara até lá, tanto era que, antes, na sua cabeça tudo parecia muito organizado e simples, porém, ali, de frente para a enteada, a realidade era outra. Tudo soava um tanto estapafúrdio e ridículo para ser exposto.

Soltou uma risada quase inaudível, movida pelo nervosismo, e se remexeu no lugar; posição nenhuma parecendo ser confortável o suficiente, embora estivesse ciente de que o problema não era o assento, e sim o silêncio sepulcral e desagradável e a escassez de palavras de sua parte para iniciar, de uma forma suave, o assunto.

      — Então... — começou, hesitante. — Yara, pelos vistos, você já sabe quem eu sou, apesar de não termos sido oficialmente apresentadas. — a adolescente pensou em rebater com uma resposta sarcástica, porém conteve-se, considerando ser cedo demais e esperando para ver que rumo aquela conversa teria. — Lídia, muito prazer.

A solarense olhou do rosto da mulher para sua mão pouco pigmentada estendida na sua direção, esperando que a sua se encaixasse a ela e apertasse.

Devolveu o gesto, tardia, incerta sobre dizer seu nome também, tendo em conta que a morena já sabia, tanto que estava tratando-a por tal.

      — Yara. — disse, enfim, quando suas mãos já não mais estavam em contato.

Lídia abriu um sorriso cálido, antes de continuar:

      — Então, pra ser sincera, Yara, eu pensei muito sobre vir aqui, sobre ter essa conversa com você. E, mesmo a princípio, eu tava insegura e com certo receio, sem saber como você poderia me receber, tendo em conta... — fez um breve pausa, buscando as palavras certas para não ser tão invasiva. — Enfim, levando em consideração toda a história entre você e o seu pai.

A preta quis retorquir, dizendo que deveria ficar tranquila, pois nada daquilo fora culpa sua e que, aparentemente, também fora enganada, porém preferiu manter-se em silêncio, apenas escutando-a.

      — E saiba que eu não tinha ideia de nada disso. Eu nem sabia que o Matias tinha uma outra filha, pra começo de conversa. — riu com amargura, mas aquilo não durou mais do que dois segundos. — Mas, enfim, não foi pra isso que eu vim aqui. — balançou levemente a cabeça, como se aquilo fosse ajudá-la a retomar o foco. — Na verdade, eu...queria, quer dizer...eu gostaria que você conhecesse seus irmãos.

Yara sentiu seu coração acelerar, mas não deixou explícito o que se passava dentro de si, deixando Lídia completamente às cegas sobre a sua posição perante aquela possibilidade.

Sem alternativa, continuou, esperando que, ao longo da sua explicação ou no fim dela, a adolescente resolvesse, finalmente, falar algo.

      — Sabe, apesar de tudo, vocês são irmãos, têm um laço e não há nada que possa mudar isso. — suavizou o tom de voz, sorrindo awm mostrar os dentes. — Sem contar que nenhum de vocês tem culpa dos erros do Matias.

Yara quis negar, justificando que eles não partilhavam mais do que o sangue e, infelizmente, o progenitor, e que laço era um coisa a se criar — o que, talvez, ela não estivesse muito disposta a fazer e apenas quisesse distância de tudo o que remetia a Matias Lacerda —, mas o nó que se formou em sua garganta impediu que proferisse coisa alguma, talvez passando à mais velha a impressão de que estava sendo rude ou algo do gênero.

No Compasso das Estrelas | ⚢Where stories live. Discover now