Lacerda observou a tia desaparecer pelo corredor — após lançar-lhes um último olhar, avisando que, qualquer coisa, estaria no quarto —, antes de redirecionar a atenção para a morena à sua frente, indicando o sofá atrás dela, para que se tomasse lugar.Alguns segundos de silêncio se seguiram quando que ambas se acomodaram, com Yara remexendo os dedos, inquieta, sem saber se deveria ser ela a dizer alguma coisa, sendo que não abrira a boca desde que batera os olhos na mulher, limitando-se apenas a assentir, quando ela sugeriu que conversassem, e a guiado até os assentos.
Ela, por outro lado, sabia bem o que levara até lá, tanto era que, antes, na sua cabeça tudo parecia muito organizado e simples, porém, ali, de frente para a enteada, a realidade era outra. Tudo soava um tanto estapafúrdio e ridículo para ser exposto.
Soltou uma risada quase inaudível, movida pelo nervosismo, e se remexeu no lugar; posição nenhuma parecendo ser confortável o suficiente, embora estivesse ciente de que o problema não era o assento, e sim o silêncio sepulcral e desagradável e a escassez de palavras de sua parte para iniciar, de uma forma suave, o assunto.
— Então... — começou, hesitante. — Yara, pelos vistos, você já sabe quem eu sou, apesar de não termos sido oficialmente apresentadas. — a adolescente pensou em rebater com uma resposta sarcástica, porém conteve-se, considerando ser cedo demais e esperando para ver que rumo aquela conversa teria. — Lídia, muito prazer.
A solarense olhou do rosto da mulher para sua mão pouco pigmentada estendida na sua direção, esperando que a sua se encaixasse a ela e apertasse.
Devolveu o gesto, tardia, incerta sobre dizer seu nome também, tendo em conta que a morena já sabia, tanto que estava tratando-a por tal.
— Yara. — disse, enfim, quando suas mãos já não mais estavam em contato.
Lídia abriu um sorriso cálido, antes de continuar:
— Então, pra ser sincera, Yara, eu pensei muito sobre vir aqui, sobre ter essa conversa com você. E, mesmo a princípio, eu tava insegura e com certo receio, sem saber como você poderia me receber, tendo em conta... — fez um breve pausa, buscando as palavras certas para não ser tão invasiva. — Enfim, levando em consideração toda a história entre você e o seu pai.
A preta quis retorquir, dizendo que deveria ficar tranquila, pois nada daquilo fora culpa sua e que, aparentemente, também fora enganada, porém preferiu manter-se em silêncio, apenas escutando-a.
— E saiba que eu não tinha ideia de nada disso. Eu nem sabia que o Matias tinha uma outra filha, pra começo de conversa. — riu com amargura, mas aquilo não durou mais do que dois segundos. — Mas, enfim, não foi pra isso que eu vim aqui. — balançou levemente a cabeça, como se aquilo fosse ajudá-la a retomar o foco. — Na verdade, eu...queria, quer dizer...eu gostaria que você conhecesse seus irmãos.
Yara sentiu seu coração acelerar, mas não deixou explícito o que se passava dentro de si, deixando Lídia completamente às cegas sobre a sua posição perante aquela possibilidade.
Sem alternativa, continuou, esperando que, ao longo da sua explicação ou no fim dela, a adolescente resolvesse, finalmente, falar algo.
— Sabe, apesar de tudo, vocês são irmãos, têm um laço e não há nada que possa mudar isso. — suavizou o tom de voz, sorrindo awm mostrar os dentes. — Sem contar que nenhum de vocês tem culpa dos erros do Matias.
Yara quis negar, justificando que eles não partilhavam mais do que o sangue e, infelizmente, o progenitor, e que laço era um coisa a se criar — o que, talvez, ela não estivesse muito disposta a fazer e apenas quisesse distância de tudo o que remetia a Matias Lacerda —, mas o nó que se formou em sua garganta impediu que proferisse coisa alguma, talvez passando à mais velha a impressão de que estava sendo rude ou algo do gênero.
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No Compasso das Estrelas | ⚢
Teen FictionPara uns, Porto Baixo não passava de uma cidadezinha praiana esquecida num canto qualquer da Costa Este e assolada pelas altas temperaturas. Para outros, deveria ser considerado um dos melhores destinos turísticos do país, devido às suas praias de a...