Capítulo 31

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      Em algum lugar de Porto Baixo, na rua adjacente à Lírio da Paz, perto da Praia Dourada, acontecia a terceira exposição anual promovida pela galeria Sombra do Poente.

Numa posição de destaque, sob flashes e lentes, a artista, Giovanna Barbosa Tana, dava autógrafos e tirava fotografias com os fãs que se achegavam, alguns tímidos e outros declarando abertamente o quanto admiravam o seu trabalho. A loira recebia a todos com simpatia, sentindo-se preenchida com todo o carinho que era dirigido a si. Aquele sempre foi o seu objetivo maior: contemplar e tocar o íntimo dos outros com a sua arte.

O evento ainda estava no seu início, pelo que alguns convidados ainda chegavam e se punham sossegados em alguma roda de conversa ou apenas num canto a observar tudo ao redor.

Entre eles encontrava-se a artesã Lídia Almeida Neves — grande fã da artista cujas obras eram expostas —, que cada vez mais investia no aperfeiçoamento das suas peças, aguardando a oportunidade de ser lançada por uma das melhores galerias da região.

Yara, por outro lado, permanecia com os olhos atentos à sua volta à procura de um rosto específico que, até então, não havia visto entre os outros, apesar da mãe já encontrar-se ali.

O lugar enchia-se a cada minuto, a música baixa misturava-se às vozes das pessoas, mas nem sinal dela ainda.

Sozinha e acomodada num sofazinho ao canto, folheava um catálogo com um resumo da história de Gigi e seu percurso artístico, mas nunca prestava atenção por tempo suficiente para que as palavras fizessem sentido e pudesse compreender a mensagem que queria passar. Só se permitia ser captada por fotografias das suas esculturas, mas era por poucos minutos, pois, ao lembrar-se de quem estava para chegar e do que precisava fazer ainda naquela noite, logo voltava a olhar para a porta.

Vez ou outra, ao perceber que não era quem esperava a entrar, desviava o olhar para um canto na direção oposta à entrada onde um grupo de pessoas mantia uma conversa aparentemente animada que rendia altas gargalhadas.

Por um momento, desejou estar no meio deles, pensando que, assim, poderia aliviar-se um pouco da ansiedade que a consumia desde que havia saído de casa.

Por perto também estava Yumi, que digitava qualquer coisa num tablet.

Tendo em conta que havia sido ela a cuidar da parte dos convidados, talvez soubesse da porto-baixense, se compareceria ao evento ou não. Talvez ela tivesse a resposta capaz de mudar a sua noite.

Deixou o catálogo de lado e, após respirar fundo, levantou-se e caminhou até lá.

      — Yumi? — chamou, fazendo com que ela tirasse os olhos do tablet e olhasse para si.

      — Ah, oi, Yarita! — sorriu. — Tá tudo bem?

      — Sim. A propósito, parabéns! Está tudo muito lindo! — deu uma breve olhada ao redor. — Vocês fizeram um ótimo trabalho!

      — Ah, obrigada, querida! — agradeceu, animada. — Então acho que valeu a pena todo o esforço.

      — Pode ter certeza que sim.

      — Que bom, que bom! — fitou a tela do aparelho. — E você? Tá tudo bem? Precisa de alguma coisa?

      — Sim, tudo. — afirmou, ainda buscando maneira de entrar no assunto que a levara até ali. — Na verdade, eu... — interrompeu-se sob o seu olhar curioso.

      — O quê? — indagou, à espera que não deixasse a frase pela metade. — Pode falar, querida.

      — Você por acaso sabe se a Léia vem? — soltou de vez, fazendo a asiática sorrir de canto e erguer uma sobrancelha. — É que tem um tempo que a mãe dela está aqui e ela ainda não apareceu, então eu só queria saber mesmo.

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