Capítulo 23

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      Yara ergueu os olhos a tempo de assistir ao bonito gol de Índia sobre a baliza dos vizinhos do 123, e a comemoração entre ela e Victória.

Ciente de que assim passavam a liderar o placar, estava extremamente orgulhosa delas, tanto por terem provado com classe que os adversários estavam errados ao afirmar que não teriam chances por serem garotas, como por mostrarem ainda mais vontade de vencer após terem passado à frente.

Nem o sol abrasador sobre a pele e a respiração ofegante pelo cansaço eram suficientes para levar à desistência.

O momento de euforia foi eternizado com um clique da sua câmera polaroid amarela  — outro presente das primas que a deixara extremamente feliz, assim como o scrapbook cheio de detalhes fofos que preenchiam o seu coração a cada página.

Sorriu quando teve a fotografia revelada em suas mãos e, logo a seguir, guardou-a numa página do livro que tinha no colo, junto com outra que havia tirado minutos a Mariana e Guilherme brincando alegres nos baloiços.

Desviou os olhos para lá, notando que coloriam com aquarela os desenhos que minutos atrás os ajudava a fazer.

Era uma tarde agradável aquela, em que a brisa suave circulava pela área de lazer do prédio, permitindo uma estadia tranquila a quem quisesse passar um tempo por lá com os seus, ou apenas sossegar e repor as energias para a semana que teria início no dia seguinte.

Quanto a si, encaixava-se nas duas coisas.

Era bonita e gostosa de se ver a interação entre as suas primas e seus irmãos, e começava a pensar que fora uma ótima ideia recebê-los em vez de inventar desculpas que quase sempre vinham primeiro que a coragem.

      — Lacerda, ainda tá aí? — a voz de Léia se fez ouvir do outro lado da linha.

      — Sim, estou. Desculpa, me distraí observando as meninas. — tirou o celular do viva-voz e o encostou ao ouvido. — Pode repetir, por favor?

      — Eu falei que não sabia que tinha margaridas no jardim do teu prédio. — disse, a voz soando ofegante. — Bom, pelo menos até agora.

A preta demorou algum tempo para captar a mensagem subentendida na frase, porém, mal conseguiu, sentiu a voz baixa da porto-baixense perto e sua respiração quente ao pé do ouvido, provocando-lhe um leve sobressalto.

      — Boa tarde, gatinha. — saudou ela, a seguir dando a volta para juntar-se a ela no banco de madeira.

O leve susto fez Yara premir sem querer o botão de captura da câmera e, assim, acabar por fotografar os próprios pés cruzados na grama.

      — Que susto, Léia! — exclamou, pousando a mão sobre o peito, onde podia sentir as fortes batidas do seu coração. — Quer me matar do coração?

      — Longe de mim. — ergueu as mãos em rendição, fazendo-a rir antes de beijá-la com ternura. — Senti a tua falta.

      — Eu também senti a sua. — segredou, acariciando a sua bochecha com o polegar e olhando em seus olhos que muito lhe diziam naquele momento.

      — E aí? Tudo bem?

      — Uhum. — olhou para a fotografia acabada de imprimir. — E com você?

      — Também. — respondeu, observando a imagem capturada ficar cada vez mais nítida. — Nossa, parece uma arte renascentista.

Lacerda fitou a imagem desfocada que, ao contrário do que ela dissera, em nada se comparava a uma obra de arte da Idade Média, e estreitou os olhos.

No Compasso das Estrelas | ⚢Where stories live. Discover now