Capítulo 5

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      — Victória! — a exclamação de Lena, sustentando uma mistura de desespero, aflição e susto, preencheu a galeria, sendo seguido por um silêncio sepulcral.

Mariana, que cantarolava baixinho — à medida que coloria um desenho recém-feito —, parou ambas as atividades e olhou ao redor, assustada. Ao seu lado, Yara fez o mesmo, alternando o olhar entre a tia e a mais velha das irmãs, que apertava sua bola de futebol contra o peito, os olhos levemente arregalados, à espera de uma reação da mãe, depois de quasei ter derrubado uma escultura ao tentar um truque com a sua bola.

Lena respirou fundo ao constatar que por pouco a obra de arte permanecera no lugar, sem arranhão algum, posteriormente voltando as atenções para a filha mais velha e respirando fundo, enquanto massageava as têmporas com as pontas dos dedos.

      — Pelo amor de Deus, Victória, vai sentar ali antes que eu perca a paciência e queime essa coisa. — apesar do tom relativamente baixo e suave, a menina não deixou de notar que havia uma ordem implícita ali; reforçada pelo seu olhar cortante.

Pediu desculpas em um tom baixo, ao passo que seguia na direção que ela apontava, indo juntar-se ä irmã, que tinha voltado a dedicar atenção ao seu desenho — ao perceber que não era nada de muito grave a acontecer — e partido para uma outra canção, este que aprendera logo no primeiro dia de aulas.

Yara observou a prima tomar lugar à sua frente, debruçando-se para ver o que a irmã desenhava, e depois puxando um papel que pôs-se a rabiscar coisas aleatórias, soltando suspiros entediados, vez ou outra.

Desejava fazer alguma coisa que a animasse e fizesse a sombra de aborrecimento em seu rosto se dissipar, mas não sabia o quê, então optou por regressar à atividade anterior, tentando buscar a concentração que se fora com o grito da tia.

Após cerca de um minuto, com um suspiro longo e frustrado, fechou o caderno e jogou o lápis dentro do estojo, desistindo de responder àquela questão que nada mais fazia do que dar um nó em seu cérebro, sendo a resposta ainda uma incógnita para si. Portanto, fez uma nota mental para mais tarde pedir ajuda à tia, quando ela estivesse livre.

Transportou os materiais para a mochila e ergueu-se da cadeira, puxando um pouco as calças para cima, bem como a borda da blusa para que cobrisse o cós. Depois conferiu o relógio por cima da entrada, que marcava duas e vinte e cinco da tarde; um aviso silencioso de que já estava na sua hora e, se demorasse mais um pouco, chegaria atrasada à reunião do clube, o que não queria. Por vergonha, já bastava o atraso de segunda-feira.

      — Meninas, já estou indo, tá? — anunciou, apoiando as mãos por cima do encosto da cadeira.

Como se apenas esperasse um sinal, Mariana pescou de dentro do caderno um papel colorido e levemente amarrotado nas pontas, desceu da cadeira num pulo e contornou a mesa para chegar até a mais velha, entregando-lhe o desenho em que trabalhara com tanto empenho no dia anterior.

      — Toma, é pra te dar sorte. — Yara sorriu; o olhar saltitando entre a prima e o desenho que dela recebera, derretida com sua fofura e o sorriso que deixava em evidência a covinha do lado direito do seu rosto. — Aqui sou eu, na outra ponta é a mana, mamãe ao meu lado e, junto com ela, você.

À medida que ia explicando, apontava para os bonequinhos de palito representados na folha, metidos em roupas multicolores e, na sua maioria, cheias de estampinhas fofas que não saberia dizer se eram figuras geométricas que deram errado ou mesmo coisinhas aleatórias que vieram à cabeça e ela transferiu para o papel.

Na parte de cima, um "Boa Sorte!" destacava-se em cores vivas de feltro, com uma caligrafia desajeitada e claramente de alguém que ainda estava nos seus primórdios, fazendo com que seu sorriso se alargasse ainda mais e, consequentemente, contagiasse Mariana.

No Compasso das Estrelas | ⚢Where stories live. Discover now