Capítulo 7

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      Na segunda semana de aulas no Armando Lima, a descontração que antes habitava os alunos já não mais se fazia presente, sendo substituída pela consciência do trabalho árduo que se teria dali pra frente, sem margem para brincadeiras.

O clima que pairava no ar era o lembrete de que teriam que começar a se esforçar de verdade, pois, as coisas começariam a ficar mais sérias nos dias que viriam, e os docentes não aceitariam que dessem menos do que tudo de si, até o último dia.

Apesar de carregar o título de cidade pequena e praticamente esquecida pelos órgãos do poder máximo, Porto Baixo se destacava pela excelente qualidade de ensino — graças ao profundo investimento da prefeitura —, e as duas instituições existentes na cidade lutavam para honrar e manter a posição entre as da região e, futuramente, ir mais além.

Yara era uma das pessoas que começava a sentir os efeitos das exigências do último ano. Notava-os em seu cansaço e em muitos de seus colegas, que andavam murmurando pelos cantos, tendo em conta que os trabalhos vinham um atrás do outro com curto prazo de entrega.

Embora não deixasse transparecer ou comentasse com quem quer que fosse, a preta também carregava sua quota de nervosismo, principalmente pelo mini-teste de Física que teria na sexta.

O fato era que a disciplina nunca fora seu forte, e o fato de estar mais de cinco minutos lendo o mesmo exercício para tentar compreender e não conseguir, comprovava aquilo.

      — Bom dia, Lacerda! — o tom animado de Léia despertou-lhe do transe e, por um momento, esqueceu-se dos exercícios, quando seus olhos recaíram sobre o sorriso iluminado que enfeitava sua face.

Quis perguntar onde se encontrava a parte boa do dia, pois, até então não havia acontecido nada que lhe motivasse a classificar aquela segunda-feira como minimamente razoável, que dissesse boa.

      — Oi, vidente. — saudou, após respirar fundo, enquanto observava atentamente a outra rir e tomar lugar à sua frente na mesa ao canto do refeitório, com seu lanche à frente.

      — Então, como vão as coisas?

      — Bem.

Léia franziu a testa perante seu tom hesitante, analisando seu semblante cansado que contradizia a sua resposta.

      — Tenho a forte impressão de que não tão bem assim. — expôs sua opinião, apoiando a cabeça na palma da mão. — O que tá rolando?

Yara uspirou, cansada.

      — Então...na verdade...está tudo bem...péssimo. — mordeu a borrachinha do lápis e olhou para a garota, indecisa sobre continuar. — Vem cá. Assim, por acaso, você é boa em Física?

Logo que escutou a pergunta, Léia fez uma careta, deixando explícita a sua resposta, sem precisar abrir a boca, o que fez com que a colega de clube suspirasse, apoiando a cabeça numa das mãos.

      — Sinto muito. — lamentou, pesarosa, enquanto furava a abertura na caixinha de sumo, com o canudinho.

      — Não, tudo bem. — abriu um sorriso pequeno, ao passo que fazia uma nota mental para se lembrar de pedir ajuda a Lena, quando estivesse em casa. — Eu vou ver como posso me virar.

      — É porque faz, sei lá, uns dois anos que não estudo isso. — bebeu um pouco do sumo. — Pra falar a verdade, minhas notas no décimo ano sempre ficavam em treze, treze e meio. Nunca passavam.

      — Ah sim, você é da área Humanítica. — comentou.

      — É, eu sou. — confirmou, embora soubesse que não precisava, lançando um olhar breve para as outras mesas do refeitório que iam sendo deixadas a cada minuto que se aproximava do toque da sineta.

No Compasso das Estrelas | ⚢Opowieści tętniące życiem. Odkryj je teraz