Capítulo 6

3.7K 409 247
                                    


      A biblioteca do Centro Educativo Armando Nobre Lima, relativamente ampla, ocupava o segundo piso do edifício central, no corredor adjacente ao do auditório.

Quem o via daquela forma, nunca imaginaria que inicialmente tratava-se uma espécie de depósito, onde se guardavam tralhas — sobretudo mesas e cadeiras danificadas — e outros objetos que já não tinham utilidade para eles.

Apenas quando estava à beira de completar seus cinco anos de existência, a instituição ganhou o tão necessário espaço de leitura e estudo, embora pequena e com certa escassez de materiais.

Tudo aquilo graças à segunda diretora, que reconhecia a importância dos hábitos de leitura e da pesquisa em livros, e também zelava para que os alunos tivessem um local sossegado onde pudessem passar o tempo fora das salas de aula, que não fosse o refeitório — que só era tranquilo nos horários de aula — e o espaço apertado sob as arquibancadas.

Quando ia lá pelos seus oito anos de fundação, tendo o Centro recebido um apoio financeiro da prefeitura, a biblioteca foi consideravelmente ampliada, ganhando, assim, mais materiais, bem como frequentadores assíduos.

Yara, no entanto, não tinha conhecimento algum da história por detrás do espaço arejado, de janelas compridas e vítreas, estantes polidas que quase atingiam ao teto, livros organizados em ordem alfabética, corredores assinalados por letras, e tantos outros detalhes magníficos que atraíam os olhares daqueles que tinham um fraquinho por decorações e objetos antigos, bem como pelos livros, como era seu caso.

Um pouco envergonhada por ter permanecido tanto tempo em pé, admirando tudo ao redor — como se nunca antes tivesse estado num espaço do tipo —, enviou um sorrisinho amarelo e assentiu, quando um garoto que lhe perguntou se tinha ido para a reunião do clube de livros.

No momento, mantinha as mãos um tanto inquietas por sobre a mochila — depois de Pedro, o tal garoto, lhe ter indicado onde sentar no círculo que haviam feito com a cadeiras dispostas por ali —, olhando para os seus dedos e apenas ocasionalmente para cima, onde encontrava um olhar e outro sobre si, o que aumentava seu nervosismo.

Entre uma das olhadelas rápidas, conseguiu identificar uma de suas colegas de turma que não lembrava o nome, mas na quarta-feira havia pedido sua ajuda numa questão de Química e, depois de uma leve arregalada de olhos e cinco segundos sem responder nada, voltara a si, explicando o que lhe fora pedido.

Observou a garota se esticar para a cadeira ao lado e falar algo no ouvido de Pedro, que fitou por breves instantes seu relógio de pulso, assentiu e, por fim, pigarreou, chamando a atenção de todos eles.

      — Boa tarde, pessoal! — cumprimentou-lhes, entusiasmado.

Depois de uma resposta em coro animada, continuou, parecendo ainda mais contente pela energia dos presentes.

      — Bom, eu tô notando umas caras novas por aqui. Isso é muito bom! — comentou, perscrutando brevemente o semblante de cada um, à procura e traços que pudessem ser familiares ou não. — Então, primeiramente, sejam muito bem-vindos ao clube de livros! — vários agradecimentos desincronizados se seguiram, até cessarem totalmente.— Para os novatos da escola, em geral, e também desse meio — gesticulou para a roda. — meu nome é Pedro Ismael, e esse ano s...

O garoto, no entanto, não teve a oportunidade de terminar sua apresentação, pois, uma figura alta e esguia se fez presente na espaço. Seu caminhar calmo e silencioso era claramente de alguém que não desejava ser notado, mas infelizmente não aconteceu, pois, os olhares dos outros se fixaram em si, ao perceberem que Pedro interrompera a fala e olhava para uma direção específica; olhos semicerrados e sorriso provocativo na face escura.

No Compasso das Estrelas | ⚢Where stories live. Discover now