Capítulo 13

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      — Eu não sei, sinceramente. — desabafou Lacerda, a seguir soltando um suspiro. — Ao mesmo tempo que eu quero colocar tudo em pratos limpos e finalmente ficar em paz com essa história, sei lá, tenho...medo?

      — Medo do quê? — quis saber Leandra.

Ela fitou a morena, sem saber bem como responder a aquilo, milhares de sentires se misturando dentro de si, fazendo tudo virar de cabeça para baixo, e acabar com qualquer que fosse a certeza do que queria. Se é que queria algo em específico.

Era tudo tão confuso, distante e nublado à sua percepção.

Naquela tarde de quarta-feira, chegara ao consultório em frangalhos, sem certeza de coisa alguma, imediatamente despejando tudo sobre o ocorrido no supermercado e um pouco mais da sua história com o pai, praticamente suplicando à psicóloga por um norte.

      — Sei lá. — deu de ombros. — Talvez de sair ainda mais machucada. Sabe, o que quer que ele tenha a dizer, vai estar tocando em feridas do passado que nunca cicatrizaram, e eu não sei se estou preparada pra isso. Não sei lidar com tudo isso, eu... — interrompeu-se, passando as mãos pelo rosto.

      — Yara, como você mesma disse, sentiu como se parte de um peso tivesse saído das suas costas quando falou tudo aquilo para o seu pai. — começou, entrelaçando as mãos sobre a mesa. A preta assentiu, mesmo ciente de que não se tratava de uma pergunta. — Então, talvez a outra parte que ainda está aí seja por causa dessa conversa que ainda não tiveram. Vocês precisam parar, olhar com sinceridade nos olhos um do outro, colocar todas as cartas na mesa e, só assim, ambos vão poder seguir em frente realmente, decidir se querem manter contato ou não. Olha, eu penso que, bem no fundo, você ainda se sente culpada por ele ter ido embora. Então precisa lhe falar isso, expor tudo o que sente, tudo o que sofreu com a sua partida e tem reprimido aí dentro. Acredite quando eu digo que guardar é bem pior. Só vai estar fazendo mal pra si mesma.

      — Foi mais ou menos isso que a tia Lena disse. — comentou, fitando distraidamente um ponto além da morena.

      — Está vendo? — insistiu, em tom amigável. — A incerteza, os e se's por não ter sequer tentado, podem ser bem cruéis, querida. — segurou sua mão por cima da mesa. — Tente, não por ele, mas por você. Dê a si mesma a chance de se livrar dessa mágoa e ser feliz, hum? O que acha?

      — Eu não sei se sou capaz. — confessou, balançando a cabeca em negação.

      — Há uma frase que gosto muito, Yara, que diz que, o primeiro passo para a vitória é o desejo de vencer. — disse, afastando algumas mechas negras que lhe toldavam a visão. — Você mostrou que quer se libertar de tudo isso, quando desde o primeiro dia que entrou aqui, e acredite que isso já é de grande importância. Agora só precisa dar o próximo passo, para que essa conversa aconteça, já que, pelo que me disse, ele também parece ter coisas a dizer. Vai doer? É bem provável, não vou mentir pra você. É mesmo inevitável, acredito, tendo em conta tudo o que aconteceu entre vocês dois. Mas você precisa enxergar a dor como um meio de se reerguer, se reestruturar, juntar seus cacos e refazer sua vida, já livre da culpa e outras marcas dolorosas do passado. Eu só te aconselho a ser sincera e não esconder nada do que sente, independentemente se é negativo ou não. Apenas coloque pra fora o que está aí dentro, sim?

Lacerda assentiu, recordando-se que a tia lhe dera o mesmo conselho, dias atrás.

      — Em vez de pensar que não vai dar certo, acredite ma força que vem daí de dentro e, por isso, é capaz disso e muito mais. — continuou Leandra, apontando para o peito dela. — Isso também é fundamental para que consiga fazer isso, a autoconfiança.

No Compasso das Estrelas | ⚢Where stories live. Discover now