Capítulo 26

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      Yumi imediatamente desviou a atenção dos produtos que organizava nas prateleiras, para a porta, quando esta foi aberta por Yara.

A adolescente parecia levemente desnorteada, tanto era que olhou por uns bons segundos ao redor, até seus olhos encontrarem a japonesa.

      — Oi. Er...a tia Lena está aí?

      — Sim. Pode ir, ela tá no escritório. — informou, pescrutando com atenção seu semblante abatido. — Tá tudo bem, querida? Você me parece meio tristinha.

      — Uhum, tá...tudo bem. — mentiu, sorrindo fraco, o que aumentou ainda mais a certeza da mais velha sobre algo não estar bem. — Eu vou... — apontou para o corredor. — falar com a minha tia. Obrigada.

      — Tá certo, vai lá. — assentiu com um sorriso, obervando-a caminhar até sumir corredor adentro.

A menina Lacerda seguiu então até onde a Madalena se encontrava, abstendo-se de bater a porta antes de entrar.

Mal pôs os pés ali dentro, teve o olhar da mais velha sobre si, que não precisou de muito para saber que algo não estava bem. Assim que viu as lágrimas despontando sobre suas íris acastanhadas, foi ao seu encontro, recebendo-lhe em seus braços.

Permitiu que mergulhasse o rosto em seu peito, pouco se importando se lhe encharcaria a blusa com lágrimas, enquanto afagava suas costas. O choro dela era sentido, seu corpo tremia e os soluços faziam com que de vez em quando se sobressaltasse.

A dado momento, desfez o contato e fê-la sentar na cadeira que se encontrava logo atrás de si.

      — Eu tô cansada, tia! — confessou, soltando um suspiro sôfrego. — Por que é que tem que que ser sempre assim, hein? Por que? Não há uma trégua, um intervalo, ou sei lá? Apenas um momento em que não doa tanto. Nem que seja só um pouquinho.

Lena sentiu seu coração apertar em angústia perante a expressão contrita da sobrinha. Desejava dizer algo que pudesse minimizar o que sentia, mas não sabia o quê. Sequer fazia ideia do que havia acontecido para deixá-la naquele estado.

      — Eu sei que já disse isso antes, mas... — pausou, enxugando as lágrimas do rosto de Yara. — É uma fase ruim, meu amor. Por mais que machuque e pareça que não vai passar, vai sim! Seja forte, minha querida.

      — E quando é que vai ser isso? Me diz, quando?! — indagou. Não pedia necessariamente por uma resposta, apenas estava cansada de esperar por uma melhora que nunca vinha, e queria expressar o que sentia — Vai ser sempre assim? Tendo que ser forte e esperar por algo que aparentemente nunca vai acontecer, enquanto tenho que ver pessoas indo embora por minha própria culpa ou tendo que abrir mão, antes que se cansem e o façam por eles mesmos?

A mais velha segurou firmemente as mãos da sobrinha entre as suas, procurando chamar sua atenção ao que desejava lhe falar.

      — Olha bem pra mim e escuta o que eu vou te dizer. — pediu, buscando o seu olhar vacilante. — Existem coisas na vida que não dependem de nós e que de maneira nenhuma conseguimos evitar. Por exemplo, sobre aqueles tais "amigos" que se afastaram de você quando se assumiu lésbica no ano passado, eles não eram seus amigos de verdade, e não estava nas suas mãos que ficassem. Pessoas que dizem gostar de nós e querer o nosso bem, mas não nos aceitam e sequer respeitam quem somos, não merecem nada que venha de nós. Absolutamente nada. Nem o nosso desprezo porque, sinceramente, não há tempo a perder com esse tipo de gente, quando podemos muito bem usá-lo pra cuidar de nós mesmos. — com um toque suave, enxugou uma lágrima que escapou. — Em relação ao seu pai, eu entendo que seja complicado, porque você era apenas uma criança quando tudo aconteceu. Eu nunca passei por isso, mas sei que mexeu muito com você. Mas friso aqui novamente e, se for preciso, te direi todos os dias, que você não tem culpa nenhuma nisso. Matias era um homem adulto, vacinado, sabia muito bem o que estava fazendo. Ele fez suas próprias escolhas e não era nada sobre você ser uma péssima filha ou algo do gênero, até porque você sempre foi uma menina brilhante. Todos nós sempre tivemos muito orgulho de você. O próprio Matias te disse isso, lembra?

No Compasso das Estrelas | ⚢Where stories live. Discover now