Yara abriu os olhos a tempo de captar através da janela do carro a movimentação da Praia Dourada naquela tarde de domingo que parecia chamar todos a aliviar o calor e relaxar, a fim de iniciar a semana da melhor forma.Alguns surfavam, outros banhavam-se apenas, diferentes daqueles que preferiam a areia no momento, principalmente as crianças que corriam e pulavam de um lado para o outro, gastando a carga de energia acumulada em seus corpos.
Havia ainda outro grupo que permanecia no quiosque perto da calçada, degustando água de coco e pensando na vida, enquanto observavam as ondas calmas e o sol que quase se punha.
O cheiro gostoso da brisa marítima que a recebia, a beleza do final de tarde e o barulho das pessoas animadas na praia eram elementos relaxantes e faziam com que se sentisse uma boa filha, pois estava voltando para aquela que havia se tornado a sua casa e aprendera a amar como parte de si.
Viu uma criança correr velozmente atrás de outra pela areia, rindo e gritando, e lembrou-se de Maurício, que chorou ao despedir-se dela, pedindo que não demorasse a voltar. Ele com certeza iria gostar de correr e brincar ali até se cansar.
Clarisse também chorou, embora tentasse disfarçar — demorando-se no abraço para poder enxugar as lágrimas sem que ela visse —, deixando claro que as portas estariam sempre abertas para ela a qualquer tempo e hora, e reforçando o conselho dado na noite anterior.
Também não conseguiu evitar que as emoções tomassem conta de si e, agarrada aos dois, garantiu que voltaria a visitá-los em breve.
— Descansou? — a voz de Matias fez-se ouvir ao seu lado, fazendo com que olhasse para ele.
— Uhum. — respondeu num suspiro, passando as mãos pelo rosto.
Ele voltou a prestar total atenção à estrada pouco movimentada, caraterística das tardes de domingo.
No dia anterior, na volta da Double S, revelou que estava na cidade a trabalho e só voltaria a Porto no dia seguinte, pelo que poderia levá-la caso quisesse.
Ela aceitou, não só como uma forma de poupar tempo à tia para que continuasse focada na organização da exposição, mas também de firmar laços com Matias, tendo em conta que andavam trabalhando para reerguer a relação.
Sentia algo de bom se espalhando pelo seu peito ao ver o quanto ele estava se esforçando para que desse certo, sem forçar absolutamente nada. As coisas estavam fluindo naturalmente, não de volta ao que era antes, mas sim rumo a algo novo, com base nas pessoas que haviam se tornado.
Enviou uma mensagem à Lena, avisando que tinham chegado, ao mesmo tempo que o pai parou o carro e desceu, de seguida abrindo a porta de trás para pegar a sua mochila.
Parecia um déjà vu ao descer e vê-lo em pé com a bagagem em mãos, à espera que pegasse. Lembrava-se dos seus tempos de menina, em que a levava à escola e esperava que descesse para lhe entregar a mochila.
Uma nostalgia enorme inundou o seu peito no momento que ele lhe ajudou a colocar nas costas e sorriu. A sua expressão lhe dizia que as lembranças também estavam presentes.
— Muito obrigada pela carona.
— Não tem de quê. — meteu as mãos nos bolsos das calças. — Sempre que precisar.
A preta assentiu e, num ímpeto e sem saber como prosseguir verbalmente, deu um passo para a frente e o abraçou. Quase se arrependeu no segundo seguinte por falta de uma reação da parte dele, mas quando sentiu os seus braços a envolverem, sorriu aliviada.
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No Compasso das Estrelas | ⚢
Teen FictionPara uns, Porto Baixo não passava de uma cidadezinha praiana esquecida num canto qualquer da Costa Este e assolada pelas altas temperaturas. Para outros, deveria ser considerado um dos melhores destinos turísticos do país, devido às suas praias de a...