Capítulo 16

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      Quando o domingo chegou, sem cerimónia alguma, Lacerda podia afirmar, com toda a certeza, que aquela havia sido a semana mais rápida de toda a sua vida.

Como chegou a confidenciar para Léia, sentia como se os sete dias após a visita de Lídia tivessem sido reduzidos em apenas dois e, mal piscou, o temido dia chegava arrombando a sua porta sem piedade.

Era assutador que, por mais que tentasse desligar-se ou pensar positivo, não conseguia. Mal havia pregado os olhos durante a noite, a ansiedade fazendo seu coração palpitar em angústia e preocupação.

Apesar do esforço da porto-baixense para ajudá-la a focar em outras coisas, bem como a garantia de que tudo correria bem, simplesmente não conseguia ficar calma e seu pessimismo exacerbado — que, inevitavelmente, fazia com que pensasse em mil formas de tudo aquilo dar errado —, não ajudava muito.

Nem as suas piadas durante o caminho foram capazes de distraí-la, o que só servia para comprovar o quanto o nervosismo estava afastando-a da realidade presente.

Enquanto abrandavam os passos ao chegar ao destino, evitava olhar muito ao redor, tentando, ao máximo, agarrar-se às palavras da garota ao seu lado e, nem que fosse por alguns segundos, crer que as coisas não seriam tão más como seu cérebro projetava.

Precisava apenas entrar ali, abrir um sorriso simpático, cumprimentar os presentes, almoçar com eles, comentar uma coisa ou outra sobre qualquer assunto que surgisse e, no final de tudo, voltar para casa com a sensação de dever cumprido preenchendo seu peito.

No entanto, aquela realidade em sua mente parecia completamente nublada e distante — como se nem sequer devesse ser cogitada
—, sobretudo quando seu pai entrava na equação e fazia tudo desandar e parecer confuso e sem solução.

Seu coração bombeava o sangue com enorme velocidade — contrastando totalmente com a música lenta e agradável que penetrava seus ouvidos, proveniente de alguma casa próxima —, e suas mãos suavam, demonstrando o quanto a ansiedade a consumia.

      — Tudo bem se tu quiser desistir. — virou-se para Léia ao ouvi-la, permitindo que ela segurasse-lhe as mãos entre as suas. — A gente pode voltar, sem problemas.

A ideia era atraente, não podia negar, mas havia vivido o suficiente nos últimos tempos para aprender que não se podia fugir de nada por muito tempo, porque uma hora a vida aparecia para cobrar uma atitude da sua parte e não costumava ser muito piedosa.

Tinha a plena consciência de que, se não fosse aquele dia, mais cedo ou mais tarde, teria que se pôr de frente tudo aquilo, se quisesse ter paz e tirar mais um peso de suas costas. No final das contas, era sobre ela também, era algo que fazia parte da sua vida, então mais valia enfrentar de uma vez e, como Lena lhe dissera, se fosse pra sofrer, chorar, gritar ou — apesar de não levar muita fé — sorrir, então que assim fosse.

Engoliu em seco, a seguir abrindo um sorriso para tranquilizá-la.

      — Não, está tudo sob controle. — mentiu, mesmo tendo a certeza de que não acreditaria. — Não se pode fugir pra sempre, então, que seja o que Deus quiser.

       — OK, tá certo. — sorriu, apenas para fazê-la relaxar um pouco, ainda perscrutando sua expressão vacilante. — Vai dar tudo certo, tá? Já sabe que, qualquer coisa, é só ligar que eu venho correndo te resgatar.

Riu anasalado e assentiu.

      — Eu sei, Léia. Pode deixar.

Permitiu-se ser acolhida em seu abraço, e apertou-a de leve contra si, antes de agradecê-la mais uma vez por lhe ter acompanhado. Deu alguns passos na direção contrária, sem dar as costas para si.

No Compasso das Estrelas | ⚢Where stories live. Discover now