trinta e cinco

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Não consegui dormir

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Não consegui dormir. Sempre que eu tentava fechar os olhos, imagens do rosto da Teri manchado pelas lágrimas e da dor em seus olhos me vinham à cabeça, e eu acabei rolando pela cama a noite toda, perturbado. 

Me parte o coração saber que ela estava no quarto ao lado o tempo todo me odiando. Fiquei me perguntando se ela conseguiu dormir ou se estava rolando pela cama, assim como eu. É estranho não ter a presença do seu corpo aqui comigo, do calor da sua pele, da sua respiração contra o meu peito… Nem mesmo os lençóis têm o cheiro dela como já estou acostumado, e sinto que estou preso em um momento infinito de tortura. 

Sinto-me em uma prisão, pois tenho quase certeza que vejo o sol nascer quadrado. Preciso levantar. Ainda é muito cedo, mas não aguento mais ficar na cama. Sorte a minha que as malas estão arrumadas no outro quarto, caso contrário eu não poderia entrar lá até que Teri saísse. Essa sensação de impotência está me matando. 

Saio do quarto e passo pela porta do outro quarto no corredor. Paro diante da mesma e fico lá, apenas encarando a madeira escura. Eu sei que disse que daria tempo à ela, espaço para pensar… mas estou me corroendo por dentro. Preciso urgentemente saber qual decisão ela tomou sobre nós, se ela decidiu confiar ou não em mim. 

Preciso ocupar minha cabeça. É isso. Meu relógio de pulso indica que tenho um pouco de tempo antes de precisar partir para o aeroporto, então lembro-me que minha roupa velha de ginástica está na área de serviço e depois de me trocar, saio de casa para uma corrida. 

As ruas estão vazias e o céu se dispõe de uma cor totalmente acinzentada. Sinto o ar muito úmido, mas isso não me faz parar nem por um segundo. Minhas pernas continuam se movimentando, se exercitando, mas minha mente permanece pesada. Não importa quanta energia eu gaste ou quanto suor se acumule na minha camisa; a aflição continua criando uma bolha de sofrimento em meu peito. 

Sento-me em um banco, tentando me acalmar. Minha respiração está elevada, e sinto o suor ir secando à medida que a brisa gelada bate em meu rosto. Sinto algo frio no meu pescoço de repente. Levo a mão até o mesmo, mas penso que é apenas chuva, porém, um outro pontinho branco pousa na minha perna. Neve. 

Volto para casa. Não posso mais adiar isso; não tenho opção a não ser entrar no meu quarto, mas bato na porta antes de o fazê-lo. Como não recebo resposta, tomo a liberdade para avançar. Encontro Teri na janela olhando a neve cair, já vestida com calça jeans e jaqueta. Ela se vira lentamente para me olhar, mas mal consegue sustentar o meu olhar por mais de dois segundos. Está visivelmente chateada. 

— Oi — digo baixinho. 

— Oi — seu tom de voz soa secamente; nem parece Teri. 

— Eu… 

— Por favor, agora não — interrompe-me com um gesto de mão. — Você precisa se trocar ou vamos perder o voo. 

Suspiro e mordo o lábio inferior logo depois. Há tantas coisas que eu quero dizer — passei a noite toda pensando nessas palavras — mas pelo visto ela ainda não está disposta a me ouvir. 

— Tudo bem. Vou tomar um banho. 

Ela apenas balança a cabeça e voltar a olhar pela janela. Tomo um banho e quando volto para o quarto, já não a encontro mais aqui e suas malas sumiram. Frustrado, pego uma roupa que eu já tinha deixado separada e me visto. Pego minhas malas e as levo para o primeiro andar, onde a encontro me esperando. 

— Você não quer comer nada antes de ir? — pergunto. 

— Eu compro alguma coisa no aeroporto — diz ela. — Não temos tempo de preparar nada agora. 

Apenas concordo com a cabeça. 

Dividir, mais uma vez, o branco traseiro de um táxi é insuportável. Pela primeira vez que entramos em um táxi preto, Teri estava tão animada que seus olhos brilhavam como a própria luz de uma supernova, mas agora ela permanece olhando pela janela durante toda a viagem e com uma expressão vazia no rosto… Eu daria tudo para viajar no tempo e poder trazer de volta os momentos bons. 

Ela se senta bem longe de mim enquanto esperamos o nosso voo ser anunciado. Isso tudo é patético, já que seremos obrigados a enfrentar horas de viagem ao lado um do outro. Eu nunca pensei que sentiria tanta falta da voz dela quanto sinto agora. 

Teri acaba dormindo durante o voo enquanto finjo estar interessado em ler uma revista sobre os jovens bilionários americanos e tudo o que eles podem fazer com suas fortunas exorbitantes. Eu queria poder fugir dali e me trancar em algum lugar bem distante desse clima ruim, mas estou preso com ela em um lugar que não tem escapatória. 

*** 

Está nevando em Nova York. O vento frio e forte me faz querer se esconder debaixo de uma coberta quente, à medida que meus ombros ficam cheios de neve. É um sacrifício conseguir um táxi do lado de fora do aeroporto, mas quando conseguimos, mais uma vez nos encontramos mergulhados naquele maldito silêncio que parece me sufocar lentamente; mas nunca consigo morrer, obrigado a conviver com a dor e agonia. 

Agradeço aos céus depois de cruzar a porta do apartamento, e mesmo que ainda esteja frio aqui dentro, é mais suportável do que o lado de fora. Vou correndo ligar o aquecedor; é disso que eu preciso: um pouco de calor. 

— Que tempo… 

Olho para Teri, feliz por ela finalmente estar falando comigo, nem que seja para comentar amenidades como o atual clima de Nova York. 

— Pois é… — concordo. — Você não gosta? 

— Meu pai levava eu e a minha irmã para passear de trenó no monte; era legal. Bonecos de neve, guerra de bola de neve, anjos de neve… é a época mais bonita do ano. 

Balanço a cabeça, concordando. 

— A parte ruim é que depois que a neve derrete, tudo vira lama — digo. 

— Não existe beleza sem dor. 

Olho nos olhos dela. 

— Teri. 

— Hum? 

Dou alguns passos em sua direção e paro bem diante dela. Há um momento de silêncio enquanto mantemos contato visual. Vejo mágoa em seus olhos, mas também vejo incerteza… Ela não sabe se deve ou não acreditar em mim, e isso está a corroendo. 

Tomo fôlego e digo, antes de deixá-la:

— Eu não vou desistir de você. 

NOTAS DA AUTORA

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NOTAS DA AUTORA

Ai, gente... esses dois estão me matando. Não vejo a hora de eles se acertarem de uma vez por todas. Mas enquanto isso, vamos curtir o sofrimento. 👀

O que estão achando? Me contem. Bjsss 😚

Amor à segunda vista • COMPLETOOnde as histórias ganham vida. Descobre agora