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         — Não vou permitir que ela vá morar com a lunática da minha mãe — escuto minha mãe gritar á plenos pulmões. — Sem chances Jared, a minha filha não irá se mudar para o Alasca de jeito nenhum! — ela reclama aos berros. Suspiro. — A minha mãe não consegue cuidar de si mesma, como espera que ela vá cuidar de uma adolescente cheia de problemas?!
— Emily tem direito de escolher...
— Ela não tem direito a nada — mamãe grita o interrompendo. Encolho os ombros, pois eles estavam conversando sobre a minha vida como se eu não estivesse presente. Ela choraminga, bagunça os cabelos e grita algumas palavras em sua língua materna. Em outros termos, ela xinga. E xinga muito, muito mesmo. Aperto os dentes, e espero por mais palavrões.
— Fale na minha língua Pam — papai suspira esfregando as mãos no rosto. — Eu não a entendo, e se você for continuar agindo como louca, fale na minha língua.
— Eu disse: VÁ SE FERRAR, ELA NÃO VAI PARA O MALDITO ALASCA — mamãe vocifera fazendo com que eu e Joan nos olhássemos pela primeira vez em horas.
Papai se levanta com aquela sua expressão de advogado sério, enfia as mãos nos bolsos e antes de subir as escadas dá uma última olhada para nós e indaga tenaz:
— Ela vai para o Alasca.

         E no final das contas, irei para o Alasca.
Gammy estaria me esperando em duas semanas, o pedido de transferência já havia sido enviado para a direção do St. Augustus e em alguns dias eu estaria voando para longe de Chicago. Em duas semanas eu estaria bem longe da carta, de Joan... De Carter.
Jay não ficou muito feliz com a ideia de ter sua melhor amiga indo para o Alasca, mas ele acabou compreendendo depois da décima quinta explicação que lhe dei. Clarice não me atende há alguns dias, Jay diz mal vê-la no colégio, diz que agora ela senta com as garotas populares na hora do almoço. Não sei o que pensar, para ser sincera não esperava que ela não fosse fisgada por todas as coisas boas que se conquista tendo amigos populares, só não imaginei que ela se afastaria no momento em que mais preciso dos meus amigos. ACHO QUE VOLTAMOS AO SINGULAR DE AMIGOS EMS. Sim Lizzie, acho que voltamos ao singular.
Essa foi outra coisa que eu havia dito a Carter, e foi uma das coisas que deu errado. Disse sobre como esperava que Deus não brincasse comigo e raptasse Clarice, e veja o que aconteceu: ela agora é amiga de Alison e Joan.
Joan não me disse se era verdade, se Clarice estava realmente saindo com ela e suas amigas, mas seu sorrisinho sarcástico foi à única resposta que precisei para confirmar a autenticidade dos fatos. Nada de bom surgiu com a minha breve amizade com Carter Grayson. A PORTA SURGIU, Lizzie relembra mexendo suas maracas. Papai havia devolvido minha porta, ele achou que eu merecia ter privacidade nas minhas últimas duas semanas e com isso a zero porta passou a ser uma porta. O que de algum modo estranho já era um ótimo começo para alguém que estava pronta para se mudar de uma vez por todas. MAS EMILY... E A CARTA? TEM QUE FAZER ALGO A RESPEITO DA CARTA.
           — A carta pode ir para a trituradora — sussurro encarando o teto. — Em duas semanas estarei deixado esse país para trás, e com isso deixarei tudo o que veio de ruim na minha vida desde que vim ao mundo. Não quero mais preocupar com nada por que... — suspiro baixinho, e mesmo que tente soar tenaz soou como uma mentirosa. — Olhe para mim — digo para o teto, e dobro as mangas do meu pijama mostrando as ataduras já emboladas nas pontar. — Veja o que me preocupar demais causou, veja o quanto estávamos afundando dentro de nós...
É verdade? — uma voz rouca e baixinha me faz pular da cama. Agarro o abajur que fica sobre minha cômoda e o seguro contra o corpo. Meus olhos não enxergam, pois todo o quarto está mergulhado em um terrível escuro, mas posso imaginar um louco pulando a minha janela com uma faca. Meu coração palpita contra meus músculos, minha respiração se acelera gradativamente e meu corpo dá um salto quando ele dá um passo para mais perto da minha cama. A minha primeira reação deveria ter sido SOCORRO, TEM UM LOUCO NO MEU QUARTO, SOCORRO, mas ao invés disso agarrei um abajur, que de nada valia, e mantive minha boca fechada. — Você vai embora para o Alasca? — a voz, que agora parece um pouco mais familiar, me pergunta sem fôlego. Acendo a luz do abajur. Meus olhos, que agora podem ver 68% das coisas, se arregalam sem que eu lhes dê a ordem. — Você não pode ir.
— Co-Com-Como — aponto para ele e para a janela, que fica no segundo andar. Carter remove o capuz da cabeça e dá outro passo na direção da minha cama. — Não dê-dê mais nenhum passo ou eu grito — trago a saliva. Os pingos de chuva que escorrem do corpo de Carter vão direto para o meu carpete, o que me faz abaixar os olhos e perder seu próximo movimento. Ele sobe em minha cama com os tênis sujos e agarra o abajur tirando-o das minhas mãos. Corro em direção à porta, ou penso estar correndo. — Eu...
— Você vai gritar — Carter ofega contra minha pele, sua mão se fecha contra meus lábios e ele derruba os nossos corpos sobre a minha cama fazendo-a ranger alto o suficiente para chamar atenção. — Eu ouvi da primeira vez, é por isso que eu vou falar e você vai ficar calada... Com a ajuda da minha mão, mas vai. — o garoto indaga cansado. É ESSA A HORA EM QUE VOCÊ ESPERMEIA, DÁ UMA COTOVELADA NELE, O ACERTA NOS PAÍSES BAIXOS E CORRE PARA O QUARTO DOS SEUS PAIS, Lizzie tagarela sem muita confiança. Eu realmente deveria fazer tudo o que o meu cérebro diz, mas eu nem sempre tento ser “sabichona”. — Eu sinto muito por isso, você não queria me ver, a sua mãe me colocou para fora daqui a ponta pés — ele diz puxando meu corpo para cima, fazendo com que eu sente debilmente entre suas pernas molhadas. Mamãe havia o colocado para fora? Ele havia me visitado? Quando? Porque ninguém me disse nada? — Acho que esse franzir de sobrancelhas indica que não sabia sobre a minha visita de mais cedo. — Carter sorri para mim. Os nossos reflexos no espelho, aquele que eu nunca uso para me olhar, mostram dois adolescentes completamente diferentes: ele com sua atitude séria e eu com meus olhos esbugalhados. Seus lábios se franzem. — Se eu te soltar, promete não sair por ai gritando? Promete que vai me dar uma chance de falar o que tenho para falar? — ele questiona, e eu assinto. Assinto mesmo que não vá fazer o que ele pede. — Está bem então — Carter traga a saliva, seu braço direito folga o aperto em minha cintura e sua mão se afasta muito lentamente dos meus lábios. Eu corro. No minuto em que ele me larga, levanto da cama e vou em direção a minha uma porta, mas... VOCÊ A TRANCOU ANTES DE IR PARA CAMA SUA BURRA. Agarro a chave e tento encaixá-la na fechadura, mas os dedos de Carter Grayson me atingem e sou obrigada a me afastar da porta. Gemo apertando a ardência do sua tapa na minha mão. — Mentirosa!
— Falso! — estalo. Abano o dedo indicador para ele. — Acha que pode invadir o meu quarto, me fazer de refém, sem mencionar a lamaceira e barulheira que fez, sem que os meus pais notem? — pergunto com um tom sério, mesmo que eu esteja me borrando de medo.
— Os seus pais saíram — Carter resmunga cruzando os braços. COMO ASSIM OS PAIS SAIRAM? IDOSOS NÃO SAEM... NUNCA! — E Joan está na festa da Ali.
— Oh, ela está na festa da sua namoradinha — sorrio banhada em medo. — É uma festa de despedida para mim? — questiono sem fazer contato visual. — Deve está ótima.
— Ela não é minha na... Não importa — Carter suspira, e caminha em direção a minha cama suja de lama. Ele fica em silêncio, os olhos percorrem cada canto do meu quarto até pararem sobre a pilha de livros dentro de uma caixa de papelão. A caixa que logo estaria sendo enviada para o Alasca junto com todas as minhas outras coisas. Seus olhos castanhos molhados pela chuva me encaram. — Você está indo para o Alasca. — ele soa convicto.
— Estou — assinto, ainda apertando minha mão. Carter esfrega os polegares sobre as têmporas e sorri de lado. — Agora que tem sua confirmação pode enviar outro e-mail.
— Porque você continua acreditando nisso? — sua voz me pergunta sem muita força de vontade. — Porque todos vocês continuam acreditando que eu fiz isso?
— Porque você fez — rosno debruçando o corpo um pouco para frente, abrindo os braços como mamãe costumava fazer quando estava brigando com o nosso pai e ele se sentava em sua cadeira para olhá-la de cima a baixo. — Você enviou aquele maldito e-mail...
— Eu não fiz — Carter grita de volta. Seus olhos se fixam nos meus, e mesmo que minha visão me engane posso vê-lo piscar incontáveis vezes para impedir algo. — Eu não sou melhor do que você Emily, posso garantir que meu histórico é bem pior do que uma tentativa estúpida de suicídio e por isso eu jamais faria algo assim com você. Ou com qualquer outra pessoa.
— Eu não acredito — resmungo, encarando meus pés descalços.
— Você precisa acreditar.
— Por quê? — pergunto entre os dentes. Carter fica em silêncio, e isso me dá a deixa para erguer o rosto e encarar sua expressão culpada. — Porque eu deveria acreditar em você?
— Porque você é minha amiga.
— Eu não sou sua amiga — grito, fechando os punhos ao lado do corpo. — Eu nunca fui sua amiga, e nunca seria amiga de alguém tão baixo quanto você. — digo com firmeza.
— Não mandei aquele e-mail, Emily — Carter grita se levantando da minha cama. Seus pés se movem fazendo-o vir diretamente para mim, suas mãos agarram as minhas e seus dedos se apertam contra a ferida já cicatrizada embaixo dos curativos. — Eu nunca faria algo assim com alguém tão frágil quanto você. — ele admite, e meu queixo cai. — É Emily, frágil. Frágil, solitária, triste e até mesmo depressiva — Carter Grayson indaga esfregando seus dedos sobre os curativos velhos. — Eu sinto muito se alguém...
— Vá embora — interrompo-o afastando minhas mãos de seu toque. Carter me encara com seus grandes olhos castanhos. — Vá! — grito apontando para a janela, mas ele ignora. Ele ignora como tem ignorado tudo o que digo. Quando suas mãos tentam alcançar as minhas, eu corro para o outro lado. — Você invadiu a minha casa Carter — digo aflita. — Invadiu o meu quarto na calada da noite. Isso é assustador. — sussurro, envolvendo meus braços em meu corpo. Carter dá um passo em direção à porta, mas não sai. Suspiro. — Não pode ficar aqui, não depois do que fez, não depois de ter contado a todo o colégio que tentei me matar por estar apaixonada por você. — tagarelo sem fazer contato visual. SEJA FORTE EMILY, O FAÇA IR EMBORA, ELE CONTOU MENTIRAS SOBRE VOCÊ. — Por favor, pare de me perseguir, você já conseguiu o que queria — choramingo. — Todo o colégio pensa que sou uma perdedora, uma garota estúpida que tentou se matar por causa de um amor não correspondido. — replico andando de um lado para o outro. O silêncio que é cortado pelos meus passos de repente se torna uma atmosférica de circo, já que Carter começa a rir. Viro-me para encará-lo, e posso dizer que além de mentiroso, ele é louco. — Porque você está rindo?
— Porque é assustador o quanto você pode falar como as garotas “malvadas” do colégio.
— Eu não tenho nada em comum com aquelas garota, muito menos falo como elas — grito.
— Não? — Carter me questiona sério. ALERTA BIPOLAR, ALERTA... Calada Lizzie, eu já notei que ele não é nem um pouco normal. — Talvez não seja, as outras garotas teriam se ajoelhado aos meus pés e implorado para que eu espalhasse que elas haviam tentado se matar por causa de uma paixão não correspondida por mim.
— Então você admite?
— Admito que sou culpado — Carter dá de ombros. — Mas não por aquele e-mail.
— Vamos continuar fingindo que você não enviou aquele e-mail e que minha vida não foi para o ralo? — questiono sem paciência, e Carter solta um pequeno “você não tinha vida antes e nem depois”. E para ser sincera, ouvi-lo dizer isso abre as feridas que já estavam cicatrizando.
— Eu quero te fazer uma proposta, está bem? — Carter Grayson indaga se recostando contra a pequena cômoda de pentear. Enrugo os lábios e o nariz. — Irei te contar uma coisa, uma coisa muito importante sobre mim, então irá me dizer se acredita mesmo que eu seria capaz de te expor de uma maneira tão baixa. — ele diz com muita calma. Sugo o lábio inferior entre os dentes. — Vou tomar seu silêncio como um sim — os olhos castanhos de Carter se fixam nos meus, e se não fosse pela minha dificuldade visual talvez tivesse 100% certeza sobre o tipo de expressão que tem em seu rosto úmido. — Eu sinto muito.
Recolho a cabeça para trás. COMO UMA TARTARUGA, Lizzie informa. Exatamente como uma tartaruga Lizzie. Não sei se ando esquecendo de limpar os meus ouvidos, mas acabo de ouvir a pior das frase existentes no universo. Então é assim que ele pretende limpar seu nome, me pedindo desculpas? Separo os lábios para ordenar que ele saia da minha casa antes que eu chame a polícia, mas Carter ergue as mãos branquelas e me para antes que eu possa dizer algo.
— Eu sinto muito por você, e todo o resto da população achar que todo popular é igual, ou que todos nós somos nutridos de uma vida perfeita e super legal — Carter indaga em um tom ameaçador. Dou um passo para trás. — Realmente sinto muito que vocês tenham essa visão, mas nem todos nós somos iguais. Nem todos tem uma vidinha perfeita só porque dirigem um carro importado — Carter resmunga dando de ombros. — Eu sinto muito por não poder me encaixar no contexto que quer fazer para mim, até porque sou adotado.
— Foi adotado por uma família que te ama — ressalto com raiva. — Não me venha...
— Sim Emily, eles amam — Carter me interrompe, e seu corpo se enrijece contra a madeira de mogno da cômoda. — Mas a minha mãe, minha mãe biológica... — ele afasta os olhos dos meus, e morde os lábios avermelhados. — Ele não me amava. Sei que pode soar como um garotinho rico com manha por causa da mãe que não o amava e o deu para uma família rica...
— Soa exatamente assim — sussurro mais para mim do que para ele.
— Ela me vendeu, Emily — Carter estala contra minha alfinetada. Aperto o maxilar. O garoto se afasta da cômoda e caminha até mim. — Minha mãe, Charlotte, não pode ter filhos. Ela havia adotado Barbara muito jovem, e ela estava feliz com sua nova filha. Um dia, quando ela estava voltando de uma consulta com Barbara, Charlotte encontrou com uma garota, ela estava de sete meses e... — ele se para, as sobrancelhas grossas e meio bagunçadas se enrugam em uma careta quando suas mãos se atrevem a segurar meus pulsos. — Enfim, Charlotte resolveu ir até ela porque — o garoto se para mais uma vez, os olhos castanhos parecem vermelhos e menores agora. Mordo ainda mais os meus lábios, pois acho que estou prestes a ouvir algo muito ruim. RUIM COMO TER UM COLÉGIO TODO FOFOCANDO SOBRE VOCÊ TER TENTADO SE MATAR POR CAUSA DELE? Lizzie me pergunta baixinho. Talvez tão ruim quanto isso Lizzie. As mãos frias e ásperas de Carter fazem um caminho lento sobre as ataduras, seus dedos empurram as pontinhas delas. —, ela queria o bebê. Ela me queria.
— Isso não é ruim Carter — enrugo o cenho. — Charlotte parece ter te amado no instante em que viu a sua mãe biológica. — tento soar admirada, mas a única coisa que posso pensar é COMO OUSA DIZER QUE TEM UMA VIDA RUIM PERTO DE MIM? — Me parece uma ótima história perto do que você me fez passar com aquele maldito e-mail!
— Minha mãe biológica é uma prostituta, Emily — o garoto soa de maneira... Triste. Sua voz não tem aquele tom mandão, muito menos soa como o garoto que é capitão do time do colégio, ou o cara que namorava todas as garotas populares e não faz ideia de quem eu era. Carter soa como um ser humano triste por algo que só ele poderia compreender, como se o que estivesse dizendo em voz alta nunca houvesse sido dito para ninguém antes, nem mesmo em frente ao espelho a noite. Meu queixo cair. — Ela estava grávida há sete meses e todas as noites ia para as ruas fazer seu trabalho. Charlotte não conseguiu ver aquilo, ela disse que me queria, que não importava se a justiça não aceitasse adoções pagas, que ela faria tudo por debaixo da lei se fosse preciso, mas que me queria. — Carter indaga baixinho, os dedos ralando sobre os pontos prontos para serem removidos dos meus pulsos. Abaixo os olhos até seu toque. — Mas a pior parte não é ter nascido de uma prostituta ou ter sido vendido para uma desconhecida que poderia muito bem me colocar para fazer trabalho escravo. — o garoto meio que ri e tenta não chorar enquanto dá de ombros. — A pior parte é vê-la todos os dias. — meus olhos se arregalam.
— Carter...
— Todos os dias, desde que, acidentalmente, descobri quem ela realmente era, corro até aquele parque que nos encontramos uma vez, sento-me em um dos bancos e espero até que o relógio marque 17h30. É quando ela aparece no bairro, não sei onde ela mora, não tive coragem de segui-la depois do trabalho, mas todos os dias ela aparece naquele bairro e entra em um carro preto. Eles param próximo ao Stragg’s e ela fica lá, parada... Esperando. — minha respiração acelera, meu coração aperta e meus olhos parecem mais ardidos do que o normal, pois sei exatamente de quem Carter estava falando. Ele estava falando da mulher de cabelos loiros que os garotos do colégio costumam encontrar depois de uma desilusão amorosa. A mesmo mulher que vi conversando com o meu pai quando saia do Stragg’s com a minha mãe e Joan. A mulher que mamãe chamou de vadia nojenta. — Ela é minha mãe biológica Emily... E eu não suportaria se alguém descobrisse. Não por ela ter o trabalho que tem, mas por que... Eu não sei o porquê, só não sobreviveria se alguém descobrisse isso. — Carter sorri de lado, mas nenhum fio de humor atravessa o seu rosto. ELE NÃO PODERIA TER ENVIADO AQUELA CARTA, Lizzie chora jogada em seu pequeno sofá. Eu sei Lizzie, eu sei. — Você, além da minha família, é a única que sabe sobre isso. — o garoto indaga fitando meus olhos. Seus dedos ainda estão sobre os pontos, que ainda incomodam, dos meus pulsos. — Então é você quem escolhe, pode acreditar que não enviei aquele e-mail por saber que eu, assim como você, não suportaria a ideia de ter algo tão íntimo exposto. Ou pode me fazer ir embora e se mudar para o Alasca.
Antes que eu possa raciocinar a porta do meu quarto se abre me fazendo arregalar os olhos.
VAI DAR MERDA, VAI DAR MERDA, Lizzie grita enquanto procura um lugar para se esconder. Mamãe arregala seus olhos azuis para mim e para o garoto agarrado aos meus pulsos, seus lábios se afastam e sua voz grita JAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAARED.
Não consigo mover nenhum músculo, só posso esfregar os olhos e tentar compreender se é o meu pai ou Carter que está recebendo socos. CARTER, CARTER, CARTER, Lizzie me indica aflita. Meu pai, que tem mais ou menos 1’90 de altura, dá um soco no rosto de Carter e grita QUEM PENSA QUE É PARA ESTÁ NA MINHA CASA, COM A MINHA FILHA, DEPOIS DO QUE FEZ? EU VOU TE DAR UMA LIÇÃO SEU PEDAÇO DE MERDA. Meus dedos se agarram a blusa azul marinho do meu pai, sinto as mãos tremulas da minha mãe me puxando para trás e preciso gritar para que todos parem de se bater e se agarrar. Eles param.
— Emily... — mamãe me chama assustada.
— Ele não fez isso — berro sem perceber. Meu peito sobe e desce graças a minha respiração aflita. Trago a saliva e vou em direção ao meu pai para tirá-lo de cima de Carter. Papai me agarra pelos ombros com sua expressão confusa e vermelha. — Carter não enviou o e-mail.
— Como você pode pensar assim, querida? — papai aperta minhas bochechas em suas mãos grandes, e isso me ficar com cara de retardada, já que minhas bochechas sobem e meus lábios ficam parecendo um “bico de peixe”. Afasto suas mãos. — O nome dele está no e-mail...
— O e-mail estar no meu nome não prova nada — Carter Grayson replica se sentando, a mão direita dele se esfrega contra o lábio machucado. O garoto suspira. — Jay pode provar.
— Jay? — mamãe grita sarcástica. — Porque Jay Jensen provaria algo?
— Porque ele me ajudou a rastrear o celular que enviou o e-mail — Carter resmunga para ela. Os dois se encaram de uma maneira feia. ACHO QUE ELA VAI MATÁ-LO, LIGUE PARA A POLÍCIA ENQUANTO TEMOS TEMPO, Lizzie cochicha com seu bico de papo. Enrugo o cenho, pois pelo jeito que minha mãe olha para Carter Grayson tenho quase certeza de que eles acabariam se mordendo. Papai resmunga um “rmm” e Carter sopra um fio de cabelo molhado para cima. — Veio do meu celular...
— Eu disse — minha mãe grita com vontade. Ela agarra seu celular. — Eu vou ligar para o advogado, nós acabamos de ouvir uma confissão desse marginalzinho de merda.
— Agora sei de onde você tirou a conclusão precipitada, Emily — Carter ri debochado, e minha mãe pisa com força numa das madeiras do piso, o que faz com que ele pare de rir. Travo o maxilar, pois sei que se disser alguma coisa terei a orelha puxada. Ele inclina a cabeça para que eu tome o celular dela, mas se eu o fizer levarei uma advertência. Ou pior, serei jogada na cadeia com ele. Carter rola os olhos. — A senhora pode parar de tentar ligar para a polícia e me ouvir, por favor? — ele pergunta, mas minha mãe ergue o dedo como quem diz ESPERE UM MINUTO, ESTA CHAMANDO E LOGO VOCÊ ESTARÁ PRESO. — Sim, o e-mail veio do meu celular, mas eu o perdi, ok? — Carter grita encarando o rosto irritado da minha mãe, e depois seus olhos imploram para que eu diga algo. — Uns dois dias antes de o e-mail ser enviado, eu perdi o meu celular em uma festa, na casa da minha ex-namorada.
— Então como pôde ter me enviado um SMS no dia em que conversamos? — digo cruzando os braços. — Como você explica isso?
— Como eu expli... — Carter esbraveja e abana as mãos. — Eu sou rico! Compraria uma loja de celular por dia se quiser — o garoto indaga sem nenhuma humildade. Papai rosna, pois ele tem uma grande politica sobre pessoas metidas a bestas por causa de seu dinheiro. Mesmo que ele seja o único herdeiro de sua família, o que o torna um rico metido a besta e traidor. Meu peito aperta com a lembrança. — O fato é que me esqueci de cancelar o número, porque eu peguei um novo, não precisava me preocupar mais com aquele.
— Você quer mesmo que acreditemos nisso? Que perdeu o celular em uma festa? — meu pai questiona com seu tom autoritário. — Então se não foi você, quem foi?
— Alison Prescott — sussurro encarando os pontos dos meus pulsos. Mamãe geme sarcástica, pois Alison é melhor amiga de Joan, e mamãe acredita que todas as amigas de Joan são boas garotas. Bem, eu tenho algo para lhe contar mamãe ALISON É UMA VACA. Quando ergo a cabeça, e isso leva muito tempo, encontro os olhos castanhos de Carter implorando para que eu acredite nele. Eu acredito. Papai separa seus lábios, e não preciso ouvir sua voz para saber que ele me dirá “não acredite nele, é só um truque”, mas eu sei que não é. Agora eu sei que não é um truque, pois agora eu tinha algo tão ruim sobre ele quanto ele tinha sobre mim. Agora estávamos na mão um do outro. Como uma dupla. — Não quero ir para o Alasca. Quero ficar em Chicago... — solto antes que seja tarde. Minha mãe bate as palmas das mãos sobre a testa suada por causa de toda confusão. Mordo os lábios. — Quero voltar para o St. Augustus.

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Incrível que a Lizzie chamo o Carter de bipolar, mas quem muda de ideia como quem muda de roupa é a Emily kakak. Que mulher loka, mas PELO MENOS ELA NÃO VAI PARA O ALASCA. Me digam o que estão achando, vamos movimentar esses comentários. All the love.

Emily ParkerWhere stories live. Discover now