1 5

882 76 101
                                    

Quando Carter desligou o seu celular e beijou os meus lábios tive certeza de que algo estava errado. Então ele me disse que sua irmãzinha estava mal, e eu ignorei os gritos da minha mãe para acompanha-lo ao hospital. Frey foi diagnosticada com sarampo. Ela estava brincando no parquinho da escolinha quando passou mal e desmaiou, a professora comunicou aos seus pais e a levou ao hospital naquela manhã de terça-feira maluca. Nós ficamos com os seus pais enquanto esperávamos o médico, e quando ele veio a Sra. Grayson chorou nos braços do marido.
Algumas pessoas acham que sarampo não é nada demais, acham que algumas xícaras de chá e alguns banhos quentes podem resolver o problema, mas não é bem assim. Sarampo é tão perigoso quanto qualquer outra doença, e foi por isso que a Sra. Grayson chorou. Porque sua garotinha estava doente, e de acordo com o médico, poderia ter morrido naquela manhã.
A semana seguinte se resumiu em Carter faltando às aulas para passar algum tempo com sua irmã - professores foram avisados que ele ficaria afastado, e como sua família era uma das maiores benfeitoras da instituição da St. Augustus, eles simplesmente sorriram para as faltas. Muita coisa aconteceu na mesma semana. Joan contou para Alison que ele havia passado a noite comigo, Jay não me olhou sequer uma vez, Jéssica tentou me convencer que tudo ficaria bem e Patric terminou com Joan quando ela tentou me derrubar do cavalo na aula de ginastica. Foi o maior escândalo de todos. Eles terminaram na frente do colégio, em frente à quase 4mil alunos. Ela ficou mais calma naquela semana, chorou em todas as noites e foi até o meu quarto para implorar que falasse com Patric.
Falei com ele, mas não adiantou, o garoto estava certo sobre sua decisão e nada mudaria isso.
Uma coisa estranha havia acontecido; Clarice parou de andar com Alison e Joan, e passou a se sentar com um novo grupo de pessoas legais. E também tinha Alice da Silva e Silvia.
Ela também resolveu abandonar as suas amigas, e até se sentava conosco em algumas tarde e ria das piadas de Jéssica como se fosse sua amiga de longa data. Acabei me acostumando a ela.
Patric iniciou uma guerra de comida numa sexta-feira de chuva. O primeiro pedaço de bolo de carne havia acertado a cabeça da supervisora, os outros voaram para todos os cantos e só pararam quando o diretor Lewis ordenou que os vândalos que iniciaram aquela palhaçada fossem para sua sala. Uns alunos do primeiro ano acabaram levando a culpa.
No sábado fui jantar na mansão dos Grayson, conheci Barbara. No começo não me senti muito bem perto dela, sua presença era sufocante e glamorosa demais, e isso me causava falta de ar, mas aos poucos as coisas foram se arrumando. Ela comentou sobre os tempos de colégio, e isso me fez lembrar das fofocas que aconteceram quando a garota largou o colégio no meio do ano. Eu não estava na época, foi apenas alguns meses antes da minha chegada, mas mesmo depois de meses as pessoas ainda estavam falando sobre isso. Talvez seja por ela ser ela. Quero dizer, a garota parecia uma Deusa Grega com 1'90 de altura, cabelos dourados, olhos azuis, sardas perfeitas em suas bochechas e lábios carnudos. Ela se parecia uma Deusa, e também se parecia com Carter. Para ser sincera, todos eles se pareciam. Todos eles.
A menina de dez anos também era tão bonita quanto seus irmãos. Ela tinha cabelos castanhos e olhos castanhos, sardas nas bochechas e uma pinta bem desenhada no canto esquerdo de seu lábio. Eles realmente pareciam irmãos biológicos, e se não fosse pela sinceridade de Charlotte, a mãe de Carter, eles poderiam acreditar que possuíam o mesmo DNA sem nenhuma sombra de dúvidas. Nada no mundo faria alguém pensar que eles não haviam sido gerados por Charlotte.
No domingo fomos a um evento do colégio para as candidatas a rainha, a família de Carter estava lá e meu pai também estava. O diretor Lewis falou sobre bullying, sobre violência e sobre recomeços enquanto citava a sua motivação para as causas favoráveis ao baile.
A segunda-feira chegou como um bom presente de natal quando encontrei Carter na sala.
- E o que ele te disse? - escuto a voz risonha da minha irmã quando abro a porta do quarto. Mamãe havia me mandado um SMS, pois agora ela era uma mãe do século XXI, avisando que o jantar já estava pronto e só por isso sai do quarto. Enfio as mãos nos bolsos da jaqueta.
- Que iria estar ao meu lado para tudo - a voz estridente de Alison Prescott faz com que eu pare de descer as escadas e as escute. PARE DE OUVIR A CONVERSA DOS OUTROS EMILY, ISSO É FEIO! Lizzie me repreende enquanto agarra seu copo de vidro para ouvir através da minha feia e nojenta massa cerebral. - Ele é mesmo um fofo.
- Sim, ele é um fofo! - minha irmã soa falsa. - Você já sabe o sexo do bebê?
- Ainda não sabemos - Alison responde, e eu rolo os olhos. Carter e eu havíamos conversado sobre a gravidez, ele me assegurou de que havia sido um erro e de que não gostava dela. Não que eu me importe, sei que ele nunca gostaria de mim como gostou dela, até porque todos sabem que Carter Grayson amou Alison Prescott, mas fiquei feliz com a ideia de que sua relação com ela seria extremamente voltada ao filho que teriam. Os pais deles surtaram quando souberam, a mãe de Alison quase obrigou Carter a casar, mas a Sra. Grayson alegou que a garota era nova demais e que um teste de DNA era necessário. Rezei e rezarei todos os dias para que ele não seja obrigado a casar com ela. - Carter quer que seja um menino, como se isso o impedisse de brincar de bonecas, mas eu quero uma garota.
- Mais uma deusa para embelezar o mundo. - Joan brinca.
- Ela provavelmente vai ser modelo, sabe? - Alison ressalta com seu tom orgulhoso. Bufo. COMO EU QUERIA PODER SOCAR A CARA DELA, Lizzie rosna. Ela está gravida Lizzie, isso seria errado. Penso, mordendo os lábios. OK, ENTÃO EU QUERO BELISCAR AQUELA CARA DELA ATÉ SAIR SANGUE, minha consciência alfineta sobre minha sanidade. Tento não rir. - De qualquer modo, irei esperar, não quero saber o sexo ainda.
- Você deveria se preocupar com comprovar que está grávida ao invés de estar preocupada com o sexo de um bebê que pode nem existir. - minha voz soa mais malvada do que eu realmente queria que soasse. As duas se viram para me encarar. Joan trinca os dentes.
- Bem que você queria que fosse verdade, não? - Alison sorri enfiando pipoca na boca. Aperto o maxilar. - Mas tenho que te decepcionar Emily, você vai ter que aturar esse bebê.
- Tanto faz. - reclamo rolando os olhos, e caminho até a cozinha. Escuto-as rindo e sussurrando sobre alguma coisa, e aperto os dedos em punho. Não posso bater em Alison, mas se pudesse, e se soubesse bater em alguém, definitivamente bateria nela. As duas passam correndo por mim, vão até a cozinha, voltam para a sala e se jogam no sofá, ligando a TV. Aperto os dentes. Procuro pela minha mãe, mas o bilhete na bancada diz que ela estará em casa em 15min, que foi ao mercado comprar soda. Então, na pior das hipóteses, estou sozinha com Alison e Joan. ÓTIMO, PODEMOS BATER NELA E POR A CULPA EM JOAN, MAMÃE JÁ ACHA QUE ELA TEM PROBLEMAS COM RAIVA, VAI SER MOLE. Lizzie implora, e quase a deixo comandar, mas me controlo. Me sento ao lado de Alison e coloco os pés na mesinha de centro. As duas param de falar e se viram para mim, as ignoro.
- Você pode se retirar, por favor? - Joan grasna entre os dentes.
- Estou na minha casa - rebato, afastando as costas do encosto do sofá para alcançar o controle remoto. - E não irei me retirar só porque vocês querem fofocar.
- Não estamos fofocando. - Joan replica.
- Estamos falando sobre o meu filho com Carter - Alison completa com um sorrisinho vitorioso nos lábios. VOCÊ TEM CERTEZA QUE NÃO POSSO BATER EM GRÁVIDAS? EU NÃO ACHO QUE JESUS VAI SE IMPORTAR COM UM SOQUINHO BOBO, Lizzie rosna entre os dentes. - Um filho que ele irá amar muito. - ela sorri alisando a barriga seca.
- Que bom que sabe que ele irá amar o filho e não a você. - ressalto com um sorrisinho falso. Ela trinca os dentes e aponta o indicar para mim. Ergo as sobrancelhas e sorrio. - Mamãe!
- Ei meninas - mamãe sorri tirando seus fones. Ela sorri um pouco menos quando vê Alison sentada em nosso sofá. Mamãe acha que garotas de dezessete não devem ter bebês porque ainda são crianças. Ela quase fez com que Joan parasse de falar com Alison por causa disso. - O que estão fazendo? Argh, vendo Gêmeos e perversos sem mim?! - ela murcha os lábios.
- A senhora assisti a esse programa estúpido? - Alison franze os lábios.
- Não é um programa estúpido - mamãe responde de maneira rude. - Ele retrata as ações dos seres humanos, dos gêmeos em especial. É um ótimo programa.
- Se a senhora diz! - a morena rola os olhos. - Eu não gostaria de ter uma irmã gêmea no mundo. A única com o meu rosto sou eu mesma, não admitiria alguém igual a mim.
- No mundo existem sete pessoas muito parecidas ou idênticas a nós. - mamãe diz com um tom muito profissional e sabichão. - E além do mais, nem todos os gêmeos são idênticos, Alllison - mamãe, propositalmente, acrescentou alguns "l" ao maldito no nome de Alison, e a garota de cabelos escuros bufa de raiva. Rio, mas na verdade quero erguer um cartaz escrito MANDA VÊ MÃE, ACABA COM A VIDA DELA. - As meninas são a prova viva.
Joan, que até então estava olhando toda a situação de fora, engasga com seu suco e abana os ombros em uma tosse podre. Aperto o botão mudo da TV e encara o rosto vermelho da minha irmã. SAIA DESSA AGORA QUERIDA, Lizzie sorri como uma felina. Alison ri.
- Mas elas não são gêmeas.
- Arrrr... Sim, elas são. - minha mãe responde com o cenho franzido. Encaro o rosto petrificado de Joan. OH MEU DEUS MÃE, VOCÊ É DEMAIS. VAMOS LÁ JOAN, PROCURE UMA MENTIRA E A CONTE NA FRENTE DE NOSSA MÃE, QUERO VÊ-LA SER COLOCADA DE CASTIGO, Lizzie corre de um lado para o outro. Cruzo as pernas.
- Não querendo ser rude, mas... Acho que a senhora não é boa com piadas. - a morena sorri.
- Piada? - mamãe coloca as mãos na cintura. - Não é uma piada Srta. Prescott, é a pura e simples verdade. Emily e Joan nasceram no mesmo dia, ou seja - os olhos azuis de mamãe se voltam para o rosto assustado de Joan. Ela sabe. - Elas são gêmeas.
- Gêmeas? - Alison repete boquiaberta. A morena se vira para encarar o meu rosto e faz o mesmo processo com Joan. Movo as sobrancelhas. COMO SE SENTE AGORA QUE SABE QUE ANDOU PARA CIMA E PARA BAIXO COM A CÓPIA DA NERD QUE MAIS ODEIA? Lizzie abana seus cabelos volumosos. - Ewc, você e ela são... Ewc Joan.
- Alison! - Joan grita sua melhor amiga quando a mesma agarra sua bolsa e sai pela porta como um cavalo furioso. Rio. Minha mãe tem uma expressão confusa. - Viu o que fez?!
- O que eu fiz? - mamãe questiona vendo-a subir as escadas. - O que aconteceu?
- Nada, nada aconteceu mãe - rio, colocando a mão no estômago. Minha barriga dói de tanto rir, e até sinto vontade de fazer xixi só de lembrar a careta passada de Alison Prescott. Posso não poder bater em Alison, mas havia conseguido uma das melhores coisas do mundo, havia conseguido, sem mover um músculo, fazê-la ficar com raiva de Joan.
Quando papai soube do acontecido, através da linguaruda da minha mãe, ele me perguntou se as pessoas não sabiam sobre mim e Joan, mas eu desconversei, pois ter minha querida irmã brigada com sua melhor amiga era o suficiente para alegrar minha vida. Se os nossos pais soubessem que Joan havia me feito passar por sua irmã mais nova por quase dois anos eles teriam gritado com ela, pois termos nascido foi um milagre, mamãe não suportaria saber a verdade.
Acontece que minha mãe não podia engravidar. Ela havia perdido dois bebês antes deles terem nascido e os médicos queriam que eles desistissem, mas eles não desistiram. Papai a levou para passar férias na Inglaterra, e lá fomos concebidas. Ainda sorrio quando eles me contam como ficaram assustados na sala de parto, pois haviam insistido para o médico responsável pela gravidez não lhes contar o sexo da criança. O homem velho apenas lhes dizia se estava tudo bem, mas nada que pudesse fazê-los descobrir o sexo do bebê. Acontece que as coisas estavam tão bem ao ponto de um sonho ter se multiplicado. Eles saíram do hospital não com um bebê, mas com dois. Eles saíram com a família que sempre quiseram ter.
- Então você não é a irmã casula - Patric abana as mãos. - E sim a irmã gêmea dela?
- Exato. - rio de sua careta azeda. Ele enruga os lábios e puxa a cabeça para trás me fazendo rir um pouco mais alto. - Para ser sincera, sou 7min mais velha do que Joan.
- Sempre achei vocês parecidas. - ele me diz alisando o queixo.
- Não somos parecidas - rebato sem pensar, e ele ergue as mãos. Bufo. - Somos gêmeas bivitelinas, Patric. - explico dando de ombros. - O que significa dizer que não somos idênticas porque fomos fecundadas por dois espermatozoides diferentes.
- Deus do céu - Jéssica finalmente se faz ouvir. - Vocês têm dois pais?!
O suco espirra pelos lábios de Alice e eu rio. Não rio da cena, rio da pergunta. Patric enruga o cenho e tenta não rir, mas é quase impossível quando se tem Jéssica Reed nós olhando como se fossemos alienígenas. Esfrego as mãos sobre o rosto quando os risos finalmente param. A garota reclama sobre estarmos sempre rindo de suas perguntas, e quase lhe indico um trabalho como palhaço de circo, pois é nisso que ela acabará trabalhando se continuar a ser como é.
- Não Jess, não temos dois pais - tento não rir. - Quando os nossos pais estavam tendo relações sexuais, essa é uma cena estranha para ser comentada, a minha mãe liberou dois óvulos que foram fecundados por dois espermatozoides, mas os dois eram do MEU pai.
- Então... - a loira balança as mãos e enruga o cenho.
- Elas têm o mesmo pai, Jéssica! - Alice, a sorridente e silenciosa Alice, explica pousando a mão no ombro da Jess. Aperto o maxilar. Apoio à ponta do meu tênis no banco vazio ao lado de Jess e puxo minha salada para mais perto. As duas iniciam uma conversa ávida e Patric logo se junta ao assunto quando a meia-irmã comenta sobre o jogo de futebol da noite passada. Bagunço a salada em meu prato. Alice tem sentado mais vezes conosco. Patric diz que ela não tem mais amigos graças a Alison e Joan, mas sinto que estou perdendo os meus quando a garota de belos cabelos castanhos começa a falar. Ela sabe um pouco de tudo. Arte, TV, cinema, música, esportes e até mesmo tem medalhas de escoteiro. Carter a acha incrível.
Rolo os olhos ouvindo-os rir e arrasto a bandeja para fora da mesa. Enfio a coisa vermelha na lixeira e a coloco sobre a pilha suja. Viro-me sem olhar para os lados e não demoro a sentir o chão esticar a pele do meu joelho nu. Uma mão quente me ajuda a levantar.
- Eu não te vi - ele diz me fazendo erguer a cabeça. O rosto perfeito e sem brilho de Jay Jensen faz com que eu separe os lábios. - Você está bem?
- Yeah... - sussurro, tragando a saliva. Meus olhos correm pelas roupas que Jay está vestindo e param sobre seus olhos sem óculos. O cabelo castanho e antes bagunçado estava arrumado atrás das orelhas, os olhos castanhos escuros estavam rodeados por algo que eu poderia jurar serem lentes de contato e as blusas de nerd haviam sido subsistidas por blusa branca e jaqueta de couro. Aliso minha nuca. - Eu estou bem. Não estava prestando atenção.
- Emily! - a voz morna de Carter chama o meu nome. VAI DAR MERDA, Lizzie sussurra alisando seu joelho manchado de sangue. - Você se machucou?
- Não - digo séria. - Eu estou bem, só tomei um tombo.
- Não foi o que Alice viu. - Carter replica encarando Jay. - Você a empurrou?
- Como. É. Que. É?! - Jay pergunta risonho.
- Não seja bobo, Carter - sussurro, segurando-o pelo pulso. - Cai sozinha.
- Alice o viu empurrá-la, Emily - ele me diz com raiva. - Ele fez de propósito.
- Ao contrário de você Grayson, eu não faço nada que possa machucá-la - meu ex melhor amigo soa frio ao dizer aquelas palavras. Sua expressão convicta era tão forte que parecia com a expressão de alguém que sabia mais do que deveria. Enrugo o cenho. Meus dedos escapam do pulso de Carter e ele dá um passo em direção a Jay. - Ao contrário de você eu não a fodi e depois corri para foder outra. - as palavras de Jay fazem meu estômago doer. Arregalo os olhos. - Quero dizer, eu teria esperado uns dias para foder outra, mas...
O punho de Carter Grayson atinge o rosto de Jay Jensen fazendo-o cair para trás. Foram precisos dois alunos do último ano para separá-los. Meu coração ainda palpitava quando o diretor nós deixou sair de sua sala com apenas uma observação.
Nunca havia visto Carter bater em alguém, muito menos havia visto aquela expressão revoltada em seu rosto. Ele parecia... Não parecia nada com o Carter que pensava conhecer.
Sua mão se fecha sobre meu pulso me fazendo parar e virar para ele. Seus lábios machucados fazem com que eu volte à lembrança de seu rosto banhado em raiva e fúria. Cruzo os braços.
- Porque você bateu nele? - questiono. - Alice disse que ele me empurrou?! Bem, Alice era amiga de Joan e Alison até algumas semanas atrás, não é como se ela fosse confiável.
- Ela é confiável. - Carter resmunga.
- E como tem tanta certeza disso? - enrugo as sobrancelhas.
- Primeiro, ela é meia-irmã do meu melhor amigo - ele me diz dando de ombros. - E depois, ela está cansada, assim como Clarice, de seguir as ordens daquelas duas loucas.
- Isso não a faz ser confiável, Carter! - grito abanando as mãos. - Aquela garota me perseguiu assim como Alison e Joan, e você bateu no meu melhor amigo por algo que ela...
- Ele não é seu amigo, Emily. - ele me para. - E porque está sempre tão irritada a respeito de Alice? Não me lembro de tê-la visto assim quando Jéssica ou Patric se juntaram ao grupo.
- Patric não era "amigo" de Alison, ele convivia com ela por causa de Joan. - rebato fazendo-o rolar os olhos. - E Jéssica? Todos sabiam o que Alison havia feito, estava na cara que ela se arrependia de ter sido amiga delas - rosno. Ele me encara, chateado. -, mas não tem nada a ver com a minha pergunta. Porque você bateu nele, Carter?
- Ouviu o que ele disse? - o garoto questiona com raiva.
- Não é como se fosse um segredo depois de Jéssica ter dito em voz alta no refeitório para ele ouvir, assim como ele fez segundos depois, ou seja, todos sabem. - reclamo.
- E como ele sabia sobre Alison? - pergunta com o cenho franzido. Ele havia feito com que Alison ficasse quieta sobre sua "gravidez", então era impossível que alguém, além de mim e de Joan, soubesse sobre eles terem ficado juntos. Abano os ombros. - Não é estranho que ele saiba que "fodi" outra depois de ter te "fodido"? - a pergunta faz com que minha cabeça doa. Bufo ao passar pelos ombros largos de Carter, e marcho em direção à saída. Um trovão dança com sua música alta sobre os céus e a chuva molha meu corpo quando empurro as portas e desço as escadas. A porta se bate alguns minutos depois. O carro vermelho apita quando as portas são destravadas. Arremesso minha bolsa no banco detrás e me acomodo sobre ela.
- Ligue o maldito aquecedor - resmungo quando Carter bate à porta do motorista. Ele se vira para me encarar. - Não ouviu?! Ligue o aquecedor de uma vez.
- Ele sabe de alguma coisa, Emily. - Carter reclama. Estico as mangas do meu casaco, ergo o corpo sobre os joelhos doloridos e estico a mão até alcançar o botão do aquecedor. Esfrego as mãos úmidas sobre minhas roupas encharcadas. - Vista isso - ele diz tirando um casaco seco da mochila. - É de Patric, ele deixou na minha mão sem querer.
- Eu não quero - resmungo batendo os dentes. - Pergunte a Alice se ela não quer.
- É você quem está tremendo, não ela. - Carter me diz com cautela. Continuo a alisar meus braços e pernas. Ele joga o casaco sobre mim. - Sabe que odeio quando age assim.
- Ajo assim como, Carter Grayson?
- Como uma louca ciumenta, Emily Parker. - ele rebate com o mesmo tom rude. Tremo. Nunca havíamos dito o que realmente éramos. Estávamos sempre dizendo aos outros que não éramos namorados, mas que também não éramos apenas amigos. Carter nunca tocou no quesito "namorado", e eu nunca quis implicar sobre meu desejo secreto sobre esse termo em questão. ATÉ PORQUE GÓTICAS DAS TREVAS NÃO CONTAM SEUS PLANOS DE FAZER O CARA GOSTOSO SE APAIXONAR, Lizzie ronrona como uma felina. Abona a cabeça.
Nunca contei a ele sobre meus desejos porque sempre seria a garota-que-deu-sorte-de-ser-ameaçada-pela-irmã-e-pela-ex-namorada-vadia. Não éramos namorados, mas já havíamos dormido juntos duas vezes. Ele havia sido o meu primeiro, e de algum modo eu havia sido sua primeira, mas não estávamos juntos de verdade. Nunca estaríamos juntos de verdade.
- Eu não gosto dela - sussurro, mordendo minha unha. - Não gosto de Alice.
- Não precisa gostar, Ems - Carter me diz sem calma. - Ela não está lá para agradar a ninguém, e você não é obrigada a gostar dela, mas precisa aceitar o fato de que ela não está mais te perseguindo. Precisa aceitar o fato de que ela irá continuar almoçando com a gente.
- Preciso aceitar que você está apaixonado por ela também? - minha voz sai antes do meu cérebro processar aquilo de verdade. O QUE EU DISSE?! Lizzie grita histérica. Os olhos castanhos de Carter embolam quando ele tenta se virar para frente. Ele aperta o volante.
- Ela viu quando ele a empurrou, Emily - Carter Grayson indaga ignorando o que havia acabado de ouvir. Miro meu joelho ralado. O sangue já havia sido lavado pela chuva, mas o machucado ainda ardia. - E ele sabe que dormi com alguém depois de ter ficado com você.
- Jay diz muitas coisas estranhas, Carter. - sussurro, encarando meu machucado. - Não seria a primeira vez que ele diz algo que faz sentido mesmo quando não... - o som do trovão do lado de fora do carro faz com que minha voz desapareça. O sangue volta a brotar do machucado feio, e outro trovão soa. Espero que ganhe aquela coroa Emily, para o seu próprio bem, para o seu próprio bem. A lembrança distante de um Jay magoado e sem nexo faz com que eu erga os olhos. - Ele agiu como se soubesse o porquê estava tentando ganhar a coroa.
- Ele-O que? - Carter me encara confuso. - Do que está...
- Outro dia desses Jay disse algo que apenas Jéssica poderia me dizer - o interrompo com um berro. Carter cola as costas contra a porta do carro. - Ele sabia da carta. E sabe sobre Alison.
- Carta? - a voz de Carter me faz abrir os lábios. - Que carta Emily?

Emily ParkerWhere stories live. Discover now