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A música baixa nos fones de ouvidos me permite ouvir a voz alta do professor Marvor.
O homem explica sobre flexões verbais enquanto me permito vagar entre minhas lembranças. Numa noite qualquer Carter Grayson havia invadido o meu quarto com o intuito de me fazer sorrir. Ele me fez sorrir. Me fez ver estrelas. Me fez flutuar e afundar em águas mornas.
Se fechar os olhos ainda posso sentir a textura dos seus lábios sobre os seus, ainda posso sentir seu cheiro e seu gosto doce na ponta da minha língua. Ainda posso vê-lo sobre mim.
O sinal bate me fazendo dar um pulo da cadeira. Jay, que estava sempre quieto ao meu lado, ri.
- Terra chamando Emily - ele zomba. - Você estava viajando na maionese.
- Eu estava. - admito com um sorrisinho, e arrumo os meus materiais.
- Sim, estava - Jay ri e enruga as sobrancelhas. - Fez o trabalho de física?
- Não é para julho? - questiono me levantando. - Ainda dá tempo.
- Não, não dá tempo já que estamos em julho - Jay me diz com humor. Paro de andar.
- Estamos em junho - murmuro, enrugando o cenho para ele. Meu melhor amigo abana a cabeça e monta um sorriso zombeteiro no rosto. ESTAMOS EM JULHO QUERIDA, OLHE AQUI, Lizzie me diz abanando um enorme e colorido calendário. Arregalo os olhos.
- Relaxa! - Jay diz esfregando o polegar sobre minha bochecha. - Eu fiz o trabalho umas três semanas antes do prazo e coloquei o seu nome. - ele me diz com seu sorriso galanteador e se vira sobre os calcanhares. Aperto os livros contra o peito e corro para alcança-lo. Empurro os ombros contra os seus quando ele tenta me abraçar, e mostro a língua quando ele monta uma careta feia. Eu e Jay não temos nos falado muito. Carter tem tomado a maior parte dos meus dias. POSSO PERCEBER QUE ELE TEM TOMADO O SEU TEMPO, ATÉ PORQUE VOCÊ ESTÁ UM MÊS ATRASADA, Lizzie me diz enquanto arreganha sua boca em um bocejo. PELO MENOS SE LEMBRE DE AGRADECER AO JAY, ela reclama para mim.
- Não sei o que seria de mim sem você - sorrio, e levo minha mão em direção a sua. Seus dedos se fecham sobre os meus. - Sinto muito por estar sem tempo para a gente.
- Está tudo bem Emily. - meu melhor amigo soa morno e tranquilo ao apertar meus dedos contra os seus. Sorrio sem graça, pois sei que não está nada bem.
O mês passado havia sido um breu para mim. Carter, Jéssica e Patric entraram em uma disputa para ver quem conseguiria alavancar a minha candidatura. Eles conseguiram incríveis 46%.
Sei que grande parte dessa conquista vem da festa da Eloisa Adams, mas boa parte tem vindo do trabalho árduos dos meus mais novos amigos.
As coisas estão um pouco diferentes desde a festa de Eloisa. Joan tem sido cada vez mais cruel. Alison tem estado ao seu lado em suas pegadinhas ridículas. Clarice finalmente deixou de andar com elas. Nós não voltamos a nos falar, mas voltamos a nos comunicar no básico do básico: bom dia, tudo bem com você, boa tarde, até amanhã, tenha um bom final de semana. Ela tem andado com as garotas da natação e tem sido membro chave no coral do colégio.
Jéssica passou a ser a minha melhor amiga. Ela tem sido companheira e tem ouvido minhas lamentações nos momentos de depressão existencial. A loira tem sempre um comentário estranho e engraçado sobre a vida em um todo.
O colégio tem estado aos trancos e barrancos. As campanhas para rei e rainha do baile tem sido motivo de página principal no jornal de Chicago. O diretor diz que nunca tivemos tanta publicidade envolvida como esse ano, e tudo isso graças à loucura de uma jovem garota de dezesseis anos que trocou os óculos redondos por uma coroa de vidro. ADMITA QUE ADOROU SAIR NA MATERIA DAQUELA REVISTA, Lizzie se abana com a revista Chicago High School, a qual precisei participar de uma publicação sobre bullying, adolescentes e falsa popularidade.
Joan quase teve um ataque do coração quando mamãe nos recebeu acompanhada da agente da revista. A mulher me disse com um sorriso largo que o St. Augustus estava sempre envolvido nos noticiários sobre educação, e que quando o diretor Lewis os informou sobre a garota nerd que estava se tornando candidata à rainha do baile, vulgo eu, eles viram uma das melhores oportunidades de derrubarem os tabus sobre garotas populares terem sempre o que querem.
Eu ri sobre a ironia, pois há alguns meses atrás a mesma revista que me aplaudia estava publicando as manchetes escandalosas sobre suicídios regados a amores não correspondidos. Nunca entendi muito bem o porquê alguém criaria uma revista para falar sobre adolescentes e as "najas" do colégio - aka amigas da minha irmã do mal -, mas resolvi encarar aquilo como uma boa oportunidade para dizer ao mundo que todos nós éramos iguais, e que não importava o seu status no colégio quando sua vida pode ser uma escalada para algo maior.
Carter publicou a matéria em todas as suas redes sociais, e isso fez com que a porcentagem de votos duplicasse em comparação ao começo da minha candidatura.
- Emily? - a voz risonha de Jéssica Reed me faz voltar à superfície dos meus pensamentos. Viro-me com um sorriso para ela. - Você está bem, querida? Estava viajando.
- De novo - Jay completa com seu tom zombeteiro. Rolo os olhos e desvencilho nossas mãos. Os dois, que supostamente não estavam tendo nada, riem enquanto caminho apressada para nossa mesa no refeitório. Essa foi uma das muitas coisas que haviam mudado, pois para alguém que almoçava sozinha no banheiro ter uma mesa no refeitório era como ter Robert Pattinson e Kristen Stewart como o casal vinte do momento mais uma vez. ACHEI QUE HAVIA SUPERADO ESSA PAIXÃO OBSCURA POR CREPÚSCULO, Lizzie me diz com um chute forte. Não Lizzie, crepúsculo é como cocaína, quando vicia... Vicia. Penso antes de puxar uma cadeira e me sentar. - Ela tem estado assim ultimamente. Suspeito que essa coisa de popular tenha afetado alguma parte importante do seu cérebro.
- Posso garantir que minha distração não tem nada a ver com o baile. - estalo sem perceber. Jéssica e Jay trocam olharem suspeitos. Bufo. - Só estou desesperadamente com saudades de Carter e Patric - minto dando de ombros. O time do colégio estava viajando para uma nova temporada e graças a isso os garotos precisaram se ausentar do colégio. Já faz quase três semanas desde a última vez em que estive com um deles, e sinto saudades. SINTO SAUDADES DE CARTER, Lizzie choraminga. Sinto saudades de ambos. Penso, e desejo poder fazê-la se tornar real apenas para que eu possa lhe beliscar o braço. - Vocês sabem quando eles voltam?
- Patric me mandou alguns SMS - Jéssica me diz e remove a tampa de seu iogurte diet sabor nada. - Eles deveriam voltar ainda essa semana, mas Carter quer ver um conhecido e o treinador deixou que eles ficassem por conta própria por serem maiores de idade.
- Isso é ridículo! - reclamo batendo as mãos na mesa. Algumas garotas se viram para prestar atenção no meu momento. Enrugo os lábios e a testa. - Falha minha - sussurro para a careta que se monta no rosto dos meus dois únicos amigos restantes naquele inferno. Jess assente antes de enfiar sua língua rosada na tampa do iogurte. SERÁ QUE ELA SABE QUE ESSE GESTO A FAZ PARECER UMA ATRIZ PORNÔ? Lizzie questiona, e meus lábios por pouco não fazem o mesmo. A loira agarra uma colher e sorri ao experimentar o conteúdo do potinho.
- Como você consegue tomar isso? - Jay pergunta por mim. - Não tem gosto de nada.
- Exatamente caro amigo - Jess diz fazendo com que as rugas da testa de Jay se dupliquem. Ele rola os olhos e se levanta dizendo que volta já. O vejo caminhar apressado em direção à fila do refeitório. Sorrio vendo-o debater com a moça da cantina. Aposto que ele está lhe dizendo os milhares de motivos para que ela o deixe pegar outro pudim. - Você está distraída mais uma vez Emily. - a voz sorrateira e um tanto peculiar me diz. - O que está havendo?
- Nada - coaxo me virando para frente. Jéssica mantem seus olhos azuis perfeitos sobre mim. Suspiro dando de ombros. - Só estou com saudades deles.
- Está com saudades de Carter, não de Patric - Jess me corrige com um sorrisinho malicioso nos lábios. Mordo as bochechas e balanço os ombros. - Vocês transaram.
- O que?! - minha voz estala sem que eu perceba. Encolho os ombros ao perceber os olhares surpresos com a minha pequena explosão. Jéssica Reed, que supostamente deveria ser minha amiga, ri de mim com bastante força. Gemo entre os dentes. - Não tem graça.
- Ah tem graça sim! - ela se debruçando para frente. - Você e Carter Grayson?! - sua voz questiona em um tom zombeteiro. Torço o nariz. - Nunca imaginei que...
- Que ele fosse dormir com uma garota como eu? - a interrompo, brava.
- Que você confiaria nele o suficiente para fazer algo desse nível, Emily - Jéssica reclama sobre a minha falta de autoconfiança. - Perder a virgindade não é qualquer coisa. Não é como nos filmes que a garota se apaixona e BUM, ela tem vontade de sair por aí dando.
- Fale mais alto Jéssica, acho que as garotas da quinta mesa ainda não podem ouvir sobre o que estamos falando - tento fazê-la se perder no assunto, mas Jéssica apenas abana as mãos em palmas estúpidas e me encara com aqueles seus olhos azuis cheios de perguntas. Bufo.
- Estou falando sério! - a garota reclama entre os dentes. - Não estamos falando sobre emprestar o caderno de matemática, estamos falando sobre você ter perdido a virgindade com um dos caras mais... Ah... Porra, estamos falando de ter a primeira vez com Carter Grayson!
- Faz parecer um sonho - sussurro esfregando os lábios sobre as costas das minhas mãos. Jéssica abana a cabeça, o que confirma a ideia de Carter + Emily + Sexo = sonho que nunca vai ser realizado. Mordo as bochechas. - Não foi nada muito grande, Jess.
- Não foi nada muito grande? - a loira ri debochada. - Sabe quantas vezes me joguei para cima dele durante todos esses anos? - ela me questiona com as sobrancelhas arqueadas. POR ACASO ELA ESTÁ TENTANDO ME ANIMAR OU ME PISAR? Lizzie questiona com medo. Acho que ela está tentando me pisar. Penso com o cenho enrugado. - Muitas vezes! E em todas elas ele me disse: eu não vou ser o seu primeiro, Jéssica. E isso não é por sermos amigos, mas por saber que um dia vai se arrepender de ter perdido a sua virgindade com o único cara que não tinha o mesmo carinho por você. Isso não é brinquedo para você emprestar a qualquer um, isso é algo que você deveria dar a alguém que te ame de verdade ou pelo menos te trate como realmente merece ser tratada. Com essas exatas palavras.
- Você memorizou o que ele te disse? - rio.
- É claro que memorizei, foi um fora de Carter Grayson - a loira indaga abanando o indicador de um lado para o outro como uma daquelas comediantes. Rio. - O que estou tentando dizer é que ele jamais dormiria com você senão...
- Senão fosse à pessoa mais piedosa e legal do mundo?
- Se ele não gostasse de você, Emily - Jéssica reclama me dando um peteleco na testa. Aliso o local ardido no meio das minhas sobrancelhas. - Como consegue ser pessimista após ter dormido com um Deus grego como Carter-gostoso-delicia-sedução-Grayson?
- Você me dá câncer, Jéssica - acuso aos risos.
- Sim, e você me dá dor de cabeça - a loira reclama abanando as mãos. - Como foi?
- Doloroso - admito sem graça. Jéssica solta um riso agudo e tão alto que faz com que uma garota de cabelos lilás a repreenda. Ela reclama com a garota e grita VAI ANDANDO AI Ô CABEÇA DE FADA, e se vira para mim com seus olhos ávidos por detalhes. Mordo os lábios para impedir meu riso. - Você chamou a garota de cabeça de fada.
- Sim, sim, não troque de assunto - a loira estala para mim. - Me diga tudo.
- Tudo?
- Até mesmo os detalhes mais doloridos.
- Detalhes mais doloridos? - a voz tímida e abanada de Jay nos surpreende. Meu melhor amigo se senta ao meu lado, e no momento em que vejo os lábios de Jéssica se separando para soltar o meu maior segredo sinto que todo o meu sangue subiu para cabeça.
- Carter e Emily dormiram juntos - ela solta com um sorrisinho sacana. As mãos de Jay, que estavam trabalhando nervosamente em abrir o pote de pudim, param deixando o pequeno copo marrom cair sobre a mesa vermelha. Ele se vira para mim com os olhos castanhos arregalados.
- Jay...
- Você dormiu com Carter Grayson? - meu melhor, e até algum tempo atrás único, amigo grita para que todo o refeitório escute. Sinto meu coração parar de bater. Os olhos azuis de Jéssica se arregalam em surpresa, mas os meus se fecham, pois sabia que essa seria sua reação. Eu e Jay temos sido amigos a mais tempo do que posso me lembrar, e temos sido sinceros sobre toda essa coisa de virgindade. Não me vejo dormindo com qualquer um apenas por dormir. Era o que eu costumava lhe dizer. Acho que deveríamos dormir juntos, assim não seria constrangedor e sem sentimentos como geralmente é. Ele brincava. - Você dormiu com ele?
- Jay... - aperto os lábios. Ele abana as mãos para mim. - Bem... Sim, eu... Eu...
- Deus do céu - Jay estala com uma carranca. Encolho os ombros. - Como você pôde ser tão estúpida, Emily? - os olhos castanhos de Jay assumem pequenos círculos vermelhos. Ele tira os ósculos e aperta os dedos sobre as pálpebras. - O que você tinha na cabeça?
- Você não tem o direito de falar assim com ela - Jéssica sussurra entre os dentes.
- E quem é você para me dizer o que eu posso ou não falar pra ela? - Jay estala batendo as mãos na mesa. Me encolho. - Você não a conhece, você acabou de entrar em sua vida e já está a influenciando a fazer merdas como ir para cama como um idiota como Carter Grayson!
- Fale baixo! - Jéssica reclama o puxando pela gola. Respiro entre os lábios abertos. Os dois se olham de tal maneira que sinto a tensão voar para todos os lados. - Não precisa gritar, e não precisa jogar na minha cara que é amigo dela há mais tempo. E não pode, de maneira alguma, lhe dizer essas coisas só por estar com ciúme mordidos.
- Ciúme mordidos? - Jay repete débil, e empurra as mãos dela para longe. - Você não consegue se ver agora Emily - ele diz se virando para mim. - Esses seus novos amigos? Eles estão apenas se aproveitando dessa baboseira toda de "vamos mudar o mundo", e foi burra o suficiente para abrir as pernas para um deles.
- Jay... - o chamo baixinho. - Jay! - grito vendo-o se afastar da mesa. Jéssica tenta segurar a manga do meu vestido, mas eu a afasto e corro em direção ao meu melhor amigo. - Não faça isso, não fique bravo comigo por algo tão bobo.
- Bobo? - ele ri. - Você fala como Joan.
- Não me compare a ela - grito parando de andar. Ele também para. - Eu não sou nem um pouco parecida com ela e você sabe disso! - reclamo cruzando os braços.
- Sim, você é! - Jay indaga abanando os braços. - Você não se importa mais com o colégio, não me liga e muito menos se lembra de perguntar como estou - ele me diz entre os dentes. Aperto os braços ao meu redor. - Você briga com as pessoas, chega em casa bêbada, vem para a aula com ressaca e ainda sorri como se fosse a dona do universo enquanto não é. É apenas uma coitada sendo enganada pelo cara popular do colégio.
- Você não o conhece... - sussurro. - Ele não é assim.
- Ele é! Ele é e lá no fundo sabe disso - Jay grita vindo em minha direção. - Agora entendo perfeitamente o porquê ele não te ligou durante essa semana, você já deu o que ele queria.
Acontece rápido. Quando me dou conta estou abrindo a mão e a espalmando contra o rosto de Jay Jensen. Meu queixo cai. Os óculos de armação verde caem fazendo um barulho alto, e quando Jay se agacha para pegá-los posso ver Alison Prescott parada em frente ao seu armário. Meu coração martela em meu peito, meus ouvidos detectam a voz alta de Jéssica e quando meus olhos encontram os olhos de Jay sei que quebrei algo muito importante entre nós dois. Sei que acabei de quebrar a nossa amizade. Ele aperta o maxilar. - Espero que ganhe aquela coroa Emily, espero que possa contradizer todas as coisas que lhe foram ditas.
- Jay?! - grito vendo-o se afastar. Ele para ao lado de Alison, vira-se para me olhar e se vira para ela. Meus pés se movem para frente, mas meu corpo é puxado para trás quando Jéssica Reed me puxa para longe do corredor.
Jéssica me colocou no colo aquele final de tarde. Ela alisou os meus cabelos e me disse que tudo ficaria bem, que ele iria voltar atrás e iria me pedir desculpas, mas sei que é mentira. Sei que Jay não estava falando da boca para fora, sei que ele havia ficado verdadeiramente chateado comigo. Chateado por eu ter ido para cama com Carter, e chateado por eu não ter lhe contado no momento em que aconteceu. Fecho os olhos.
Se apertar bastante os olhos ainda consigo me lembrar da dor. Não é como as pessoas costumam dizer. Mamãe tinha a habilidade de tornar aquele momento uma dadiva. Ela nós contava, a mim e a Joan, sobre como seria quando encontrássemos a pessoa certa. Magico e calmo. Havia sido magico, mas não havia sido calma. Não que Carter tenha sido a pior pessoa do mundo, ele foi calmo. O jeito que o recebi é que não foi nada calmo. Houve estrelas, houve cometas e diversos planetas em minha cabeça ao decorrer daquela noite, mas também houve sangue e dor.
Se apurar bem o olfato ainda posso sentir o cheiro de suor e sangue. Ainda posso sentir os seus músculos tensos e a sua voz me implorando para não mentir, para gritar se assim desejar. E eu quase gritei. Quase chorei. Carter havia sido carinhoso, não posso reclamar disso, mas ele não havia me dito que doeria. Ninguém havia me dito que doeria.
- Eu vou ficar bem.
- Você tem certeza que não quer dormir lá em casa hoje? - Jéssica me pergunta mais uma vez. Abano a cabeça. - Tudo bem. Me ligue se algo acontecer, ok?
- Pode deixar - indago me afastando de seu carro.
Meu corpo estava cansado, assim como minha mente, e precisava da minha cama.
- Olhe só quem chegou - escuto a voz risonha da minha mãe assim que fecho a porta atrás de mim. Gemo pronta para lhe dizer que estou com dor de cabeça, mas seus olhos apontam para o lado, para o sofá. Sinto as últimas lágrimas que tranquei dentro de mim lutarem para sair. O QUE ELE FAZ AQUI? Lizzie pergunta com sua voz rouca. - Porque está molhada?
- Peguei chuva - minto. Alison Prescott havia mandado um de seus lacaios jogarem água em mim. Mamãe enruga o cenho e olha para fora. Viro-me para Carter. - O que faz aqui?
- Acabei de chegar de Nova York - Carter me diz com um sorriso pequeno nos lábios. Enrugo o cenho. Os meus olhos doem. Sempre que pisco sinto como se estivesse levando um soco no olho e isso está começando a me tirar do sério. - Você quer uma cenoura?
- Não. - reclamo, cruzando os braços. - Vou subir e tirar essa roupa.
Antes mesmo que eu possa mover o corpo, escuto a tranca abrir e a porta ranger. Meu pai adentra em casa com seus fones de ouvido e sua cara suada. Ele estava na academia. Papai tem estado na academia em boa parte do seu tempo livro. Quando não está no escritório, está correndo em uma esteira. E dessa vez ele realmente está indo a academia e não a algum motel qualquer. Seu sorriso se fecha quando seus olhos encontram Carter em seu sofá.
- O que esse marginal faz aqui? - papai bufa.
- Ele veio conversar com Emily - mamãe reclama o puxando para longe.
- Mas eu já disse que não o quero na minha maldita casa... - posso ouvir meu pai reclamar da cozinha. Carter morde um pedaço de cenoura e sorri para mim. Viro-me em direção a escada. Não sei se havia mencionado, mas não vejo Carter há duas semanas: desde o dia em que dormimos juntos. No dia seguinte acordei com Carter me encarando. Ele beijou o meu ombro e me disse que tinha que ir. Não o vi mais depois daquela manhã.
A porta se bate, e eu jogo minha bolsa sobre eu cama. Removo todas as pulseiras dos meus braços e esfrego as cicatrizes nos meus pulsos, pois elas coçam. O médico disse que é normal, que algumas pessoas sentem coceira nos primeiros meses, mas que uma hora a sensação irá passar. Pego um dos elásticos de cabelo que minha mãe me comprou, ultimamente ela tem sido prestativa para mim, e amarro os fios molhados em um rabo de cavalo. Carter mantem o silêncio. Quando meus pés finalmente tocam a madeira fria posso sentir o quanto estou tremendo. Sento-me na cama e tiro minha meia, mas não ouso erguer o rosto e olhar para ele. VOCÊ ESTÁ COM RAIVA PORQUE ELE VEIO TE VER? Lizzie se pergunta sem graça. Abano a cabeça. Não, estou com raiva por que faltam 93 dias para o baile e ele resolveu ficar em Nova York sem mais nem menos. Minto para mim mesma, pois sei que estou com medo e não com raiva. Me levanto para ir ao banheiro.
- Você não vai falar comigo? - a voz morna de Carter me para.
- Oi.
- Oi? - ele ri e se levanta da poltrona. Dou um passo para trás. - O que foi?
- Alison me jogou água - digo, e abano as mãos para o meu vestido. - Ela sabe sobre você e eu. Sobre eu e você. - sussurro entre os dentes. Carter enruga o cenho para mim. - Jess meio que usou seus poderes videntes em mim, o que a levou a saber que dormimos juntos e a fez abrir a boca para Jay no refeitório hoje - explico apressada. - Então Alison acabou...
- Eu já sei Emily - Carter ri e me puxa para seu peito. Arregalo os olhos ao senti-lo beijar o topo da minha cabeça. Mordo as bochechas. ELE PASSA DUAS SEMANAS FORA E AINDA VEM ME BEIJAR, Lizzie reclama com as bochechas vermelhas. - Ela me ligou.
- Jéssica?
- Alison - Carter diz se afastando. Suas mãos correm até o meu rosto e seus lábios tocam nos meus antes mesmo que eu possa raciocinar. Preciso ficar nas pontas dos pés para alcança-lo. Sua língua tem um gosto peculiar de cenoura e quando seus dentes roçam no meu lábio inferior quase me esqueço da raiva que estava nutrindo por ele. Por sorte ele interrompe o beijo e faz com que me lembre de como é estar furiosa. - Agora me diga, porque está tão brava? Está chateada porque Alison sabe sobre a gente ou só está com saudades e não quer admitir?
- Sobre a gente? - questiono confusa. - Não existe a gente. Você desapareceu.
- Por pouco mais de duas semanas - Carter ri me apertando. Meu queixo cai. - O que?!
- Eu não sei - enrugo o cenho. - Você dorme comigo, some por quase três semanas e quando aparece me beijar e me trata como se existisse "a gente".
- E não existe? - Carter me pergunta em seu bom e velho tom brincalhão. Tento fugir de seu aperto, mas seus braços me tiram do chão e me sustentam até que ele possa me empurrar na cama e me prender contra ela. - Te deixo por três semanas e encontro uma versão irritante.
- Não estou irritante - reclamo.
- Irritante e cheirando a cloro - Carter ri esfregando o nariz em mim. Belisco seu braço fazendo-o me encarar feio. Enrugo o cenho. - Porque está assim? Pare com isso.
- Estou chateada - o empurrando para longe. Carter suspira e se afasta de mim. Sento-me o mais longe possível. Ele cruza os braços e balança a cabeça para que eu diga algo. - Você não me avisou que iria com o time. - sussurro. - Achei que repetentes não podiam ir.
- O treinador resolveu me levar como substituto - Carter me diz sem paciência.
- Deveria ter me avisando antes de pegar um avião para Nova York.
- Acabou de dizer que não existe essa coisa de "a gente" - ele faz aspas. - E reclama por eu não ter avisado? - debocha bravo. - Eu não te entendo Emily Parker.
- Não precisa entender Carter - reclamo me levantando. - A única coisa que precisa saber é que as coisas estão um caos. Faltam noventa e três dias para o baile, preciso de 100% de aprovação se não quiser virar escrava de Alison, meu melhor amigo não quer falar comigo porque eu dormi com você e o colégio tem sido uma prova de fogo já que ando distraída demais para... - o encaro. - Qual a graça? Porque você está rindo?!
- Porque você vai estar gritando comigo a qualquer momento e quero aproveitar esse momento para vê-la surtando como a boa nerd que é. - ele diz com um sorriso escancarado no rosto. Minha respiração acelera. Ando de um lado para o outro o vendo me encarar. - É, você vai mesmo me matar quando começar a te contar a novidade.
- Você matou alguém? - questiono cruzando os braços. Carter abana a cabeça. - Roubou?
- Eu sou rico, Emily. Não preciso roubar.
- Então você usou drogas e o treinador descobriu - alfineto. Ele nega. - Você não vai ser mais o meu par para o baile porque já recebeu o que querida? - zombo fazendo-o rolar os olhos. Bufo me sentando. - O que você pode ter feito...
- Eu vou ser pai.

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Aloha, aloha!! Como voc... OI? CARTER? PAI? QUE? ONDE? QUANDO ISSO ACONTECEU MINHA GENTE? Gente do céu, não sei vocês, mas to magoada com esse filho da puta. E vocês tem que me perdoar com as "metáforas" usadas pra descrever o sexo kakak, tava inspirada em Carrie kkak brincadeira. Espero que estejam gostando, amo todos vocês!

Emily ParkerWhere stories live. Discover now