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The Prom, the end.

       Enquanto seres humanos, nos somos programados para aspiramos coisas. Algumas delas se mostram importantes, lógicas e complementares para nossas vidas. Como ter uma carreia, é um momento importante, complementar. Outras são fúteis, sem complemento e até mesmo vazias. Como se candidatar a rainha do baile de 2015 apenas porque alguém lhe disse coisas horríveis, como se ganhar uma coroa fosse provar o seu valor. Como se isso fosse te colocar para cima.
Agora, depois de todas as verdades que me foram dadas, sei que ganhar uma coroa é um momento que aspirei apenas por estar encurralada, confusa e com medo de encarar a vida como ela era em toda sua concepção frágil e disfuncional. Agora sei que não esse dia não complementa nada em mim, que é apenas mais um momento fútil que irá me fazer rir quando estiver mais velha e os meus filhos me perguntarem se fui rainha por ser popular demais.
Não que seja assim para todos. Algumas pessoas realmente nasceram para momentos como esses, e para eles, não é algo fútil ou sem complemento em suas vidas, é o começo e algo.
Para mim, ser rainha do baile de 2015 da St. Augustus é o final de uma fase triste. Era o final da vida de uma garota que havia sido empurrada até o precipício, a que se matou e sobreviveu.
Para mim, após algum tempo olhando toda a minha vida mergulhada em caos, hoje era apenas um dia como qualquer outro. A única diferença era que estava usando ceda ao invés de jeans.
Esfrego as mãos sobre o pano macio, e sorrio. O reflexo no longo espelho me lembra de quem eu havia sido um dia, e de quem seria a partir das 00h dessa noite tão esperada.
Se alguém me dissesse que eu seria rainha do baile no começo das aulas, teria rido. Teria agarrado o braço de Jay e rido como se nunca fosse mais fosse parar. Mas aqui estou eu em frente a um espelho, e o meu reflexo se parece exatamente igual ao da Emily Parker de jardineira velha que riria da loucura de ser rainha de algo. Porém, não se parece nada com ela.
Eu não tenho mais os medo que tinha, não me sinto mais invisível ou desnecessária. Agora as coisas estavam em seus devidos lugares, e tudo era graças a mim. Eu havia me trazido até aquele momento, e havia mudado ao longo do caminho. Havia me tornado alguém melhor.
Agora a garota do reflexo tem certeza sobre o amor que o mundo pode lhe dar, ela também tem razão ao se apegar aos momentos bons ao invés de reviver os ruins. E ela tem orgulho de si mesmo por ter perdoado quem pensou nunca poder perdoar, por ter conseguido seguir em frente. Ela era uma versão melhor das duas garotas que havia sido anteriormente..
— Aqui está. — a voz suave da minha mãe soa me fazendo voltar ao presente. Sorrio, vendo-a ser refletida no espelho, ao lado da minha imagem bonita em um vestido macio. O colar de pérolas em suas mãos balança lentamente de um lado para o outro, e a luz frágil dos abajures espalhados pelo meu pequeno quarto ilumina as pedras fazendo-as brilhar.  — É o colar de pérolas que a sua vó deu para mim no meu primeiro baile. — mamãe conta com lágrimas nos olhos. — Sempre achei que o passaria para Joan. — ela ri. — Ela sempre foi a mais atrevida pra se meter com toda essa coisa de rainha do baile — mamãe me diz, dando de ombros. O colar flutua sobre minha cabeça até ser pousado em meu pescoço. Passo os dedos sobre as pequenas bolas branco gelo. Elas são tão geladas quando sua cor. —, mas então ela foi rainha e não quis o colar. Algo coisa sobre não se achar merecedora. Você sabe como sua irmã é. — a mulher de olhos marejados e voz alegre ri, fechando o colar. — Mas eu a entendo. Na época ela era uma pestinha, esteve assim durante muito tempo, e eu gostaria que ela o usasse está noite. Porém, como muitas coisas surpreendentes, ela pediu que eu desse o colar para você.
Sorrio, esfregando os dedos sobre as pérolas, e encarando elas sobre o contraste rosa pálido do vestido sobre o meu corpo. Por mais fútil que possa parecer o momento para mim, gosto do vejo no espelho. Gosto de como tudo parece fazer parte do quadro perfeito de uma vida perfeita.
Apesar de estar feliz, em paz com os meus momentos, não creio que esquecer o peso de Joan neste dia seja correto. Ela também estava perfeita em sua moldura de vida perfeita.
Joan e os nossos pais haviam se acertado. Eles tiveram a mais longa e triste conversa na história dos temos delicados para se tratar em família. E eu sei disso porque os vi.
Eu estava voltando de uma corrida, havíamos feito as pazes a pouco e mamãe havia a aceitado de volta em casa. Eles estavam abraçados, choravam como se seus corpos pudessem produzir oceanos de lágrimas, e diziam coisas inaudíveis, mas que pareciam fazer bem a Joan.
E apensar dos nossos pais estarem se divorciando, pela primeira vez em muito tempo conseguimos ter uma boa e confortável tarde. Conseguimos soar como uma família.
— É lindo mamãe. — sussurro, encarando seu reflexo em lágrimas pelo espelho. Sorrio soltando as pérolas, e me viro segurando suas mãos. — Obrigada — sorrio, apertando suas mãos contra o meu peito. Minha mãe separa os lábios e abana a cabeça. — Por tudo. Por estar dando mais uma chance a Joan — aliso suas mãos. —, por estar disposta a superar seus atritos com papai para que nossa família possa ter alguns momentos de paz. — seus lábios se apertam em um sorriso frouxo, um daqueles que ressoam bondade. — Obrigada por ser uma mãe maravilhosa para mim. E para Joan, é claro. — nós rimos. — Obrigada por tudo.
A mulher de olhos azuis avermelhados, cabelos loiros e aparência de um Emily-Joana do futuro não tão distante sorri apertando minhas mãos antes de me beijar em ambas as bochechas.
— Se alguém tem que agradecer — ela sussurra se afastando. —, esse alguém sou eu e o seu pai, querida. — mamãe ri soltando minha mão. — Mas não vamos falar disso hoje. — ela sorri, e me faz rodar no lugar. Rio. — Deixe-me dar uma última olhada em você.
Ela me roda outra vez, e eu gargalho sentindo o pano rosa sobre o meu corpo se mover lentamente em vórtex de cetim. Quando paro, agarro seus braços para não cair. Mamãe ri abraçando os meus ombros, e sussurra o quanto me ama entre seus risos quentes e adoráveis.
— Emily? — a voz um tanto impaciente do meu pai ecoa do final da escada. Mamãe e eu nos separamos. Ela me encara com os olhos alegres. — Joana já está pronta, será que você consegue se aprontar até antes do seu aniversário de trinta e cinco anos? — ele pergunta aos berros. Rolo os olhos e bufo fazendo alguns fios soltos do meu cabelo dançarem. — Os meninos já-
— Já estou indo! — grito, agarrando minha mãe pela mão.
Os meus pés se movem, e atrás de mim um rasto de risos me empurra escada abaixo.
Há alguns meses fui acordado pela minha irmã, Joana Parker, com gritos sobre deixar de sonhar com algo impossível. Nós estávamos atrasadas para o primeiro dia de aula após dois meses de férias, e Joan estava tão apresada que não me permitiu saborear os últimos minutos de um sonho que estava dentro de mim há algum tempo.
Naquela manhã, após ter sonhado com os nossos pais se separando, eu tive um desejo ao qual desejei que se realizasse. Sonhei, e desejei fortemente, que Carter Grayson, aquele garoto-que-sentava-atrás-de-mim-nas-aulas, estava ao meu lado no meio de uma multidão de alunos que nos aplaudiam. Nós éramos rei e rainha do baile, ou melhor, nós éramos dois amantes. Namorados que estavam felizes por terem um ao outro. Naquela época, era apenas um sonho. Hoje, tudo parece um déjà vu terrivelmente engraçado e acolhedor. Parecia como uma profecia.
E alguns sonhos profetizados, como Carter Grayson, ultrapassava a linha da imaginação.
— Você está, como sempre, maravilhosa. — sua voz me atinge, me fazendo parar de respirar.
— Acho que são os seus olhos, querido. — sorrio, sentindo seus lábios se afastarem dos meus. Os olhos castanhos de Carter se apertam para mim, e suas mãos rolam sobre minhas costas nuas enquanto o meu pai pede que fiquemos juntos para uma foto. Sorrio para o flash.
Esse é o começo da minha nova vida. Na verdade, ela começou no instante em que abri os olhos, mas esse era o primeiro capitulo, onde o leitor conhece os novos personagens e tenta decifrar qual deles é o seu favorito. Na minha história, todos os personagens são queridos.
Levou tempo para que cada um tomasse o seu posto, mas todos conseguiram. Até mesmo Joan.
Também corri em direção ao meu posto, e gosto de onde me encontro. Gosto porque se parar para pensar em que era no começo do ano, posso ver o quanto estava desesperada por algo que já tinha. Eu podia não ter amigos, ser a mais popular, já ter transado com metade dos alunos da minha turma, mas tinha o melhor que o mundo poderia me dar. Tinha tudo, e nem sabia.
Agora sei. Agora sei que aquela Emily que acreditava que sua vida só fosse ser importante para o mundo no dia que o mundo realmente a visse, estava verde em comparação a de hoje em dia.
Eu havia sido notada. Patric Hayes no dia em que virei sua tutora de matemática, quando me bati com Clarice Campbell, que em dois meses se tornaria Clarice Grayson, no corredor. Quando Jay Jensen sorrio para mim ao me perguntar como haviam sido as minhas férias, por Alison Prescott ao perceber que estávamos usando a mesma blusa no primeiro dia de aula. Por Jéssica Reed quando ela resolveu furar a minha frente na fila do refeitório um ano antes.
E por Carter Grayson, quando ele nem mesmo estava olhando ou me percebendo, ele me viu.
Todos me viram, fui eu quem não me vi. Fui eu que subestimei a minha existência perante o mundo, e sobre a existência de todos aqueles que me viram perante a mim.
E então, após um longo percurso na vida que estava, eu me vi. Vi a Emily Parker que era, e sorri para ela, pois graças a tudo o que lhe aconteceu, eu ascendi em direção ao lugar que pertencia.
Graças a ela, lutei por mim, venci os meus obstáculos, voltei dos mortes mais vezes do que poderia contar e tomei as rédeas da minha vida. Compreendi que na vida nós sofremos, mas que nós reerguemos e continuamos lutando, porque somos fortes e feitos de aço. Somos suficientes. — Terra chamando Emily. — a voz morna de Carter Grayson soa próxima demais do meu ouvido, e quando me viro lentamente para a esquerda, sinto sua a proximidade fazer com que nossos lábios se rocem um no outro. Sorrio ao ver os seus olhos castanhos refletidos nos meus, e coloco as mãos nos lados de seu rosto, fazendo-o se inclinar um pouco mais.
Quando nossos lábios se afastando e os nossos olhos se abrem, sinto que o meu coração desistiu de bater por longos dois segundos. Isso tem acontecido com mais frequência agora. Sempre que estamos juntos meu peito aperta, meu coração murcha por um instante e então volta a bater novamente, com força e determinação. Aliso suas bochechas. — Nós chegamos.
— Podemos ficar aqui por mais alguns minutos? — pergunto, apertando os dentes sobre os lábios pintados de batom. — Queria saborear esses últimos minutos mais um pouco.
— Está com medo? — ele pergunta desafiador, e eu rolo os olhos.
— Não, medo não. — sorrio, passando as mãos sobre meus ombros largos. — Acho que estou um pouco... — mordo as bochechas. — Não sei que palavra usar para ANGUSTIADA DE UM JEITO FELIZ E NERVOSA PELO MEU PRIMEIRO BAILE SER EM POUCOS MINUTOS.
— É, acho que não tem uma palavra boa para descrever tudo isso. — Carter ri, tirando uma mecha de cabelo do meu rosto. Assinto. — Não se preocupe com nada, Emily, você vai ficar bem. — ele indaga, esfregando o lábio sobre o meu. — Já provou que pode com tudo.
— Até mesmo com os olhares ruins das ex seguidoras de Alison? — pergunto aos risos, e abraço suas bochechas com os dedos. Carter sorri contra minha pele, e assente. — Hm, até mesmo com o sarcasmo fingido e a hipocrisia do diretor Lewis?
— Hm... — ele ergue os olhos, como quem está pensando. Rio. — Acho que até mesmo ele, mas fique perto de mim, está bem? — Carter sorri. — Só por prevenção.
— Eu ficarei. — sussurro, tragando seus lábios. — Mas e se eu cair?
— Ah Deus, porque as mulheres são assim? — meu namorado que parece ter saído de um catálogo italiano zomba, colocando as mãos na cabeça. Aperto os olhos. — Você não vai cair, querida — ele me diz, com carinho. — E se cair, o que não vai, eu estarei lá para te segurar.
— Você promete?
— Sempre.
E então, com aqueles olhos castanhos nadando e bebendo do meu azul familiar, deixo que o último dia do primeiro dia da minha vida me alcançar, e o acolho ao máximo em mim.
Quando Carter e eu atravessamos o salão cheio de jovens me vejo mergulhada em um nostálgico déjà vu, na lembrança de um sonho distante que me fazia perder as horas na cama.
Era o sonho de uma garota de quase dezesseis anos, que só queria ser alguém notável na vida.
E sou notável. Assim como a vida notável para cada um daqueles jovens no salão de dança.
A vida é frágil. Me faço esse pequeno lembrete sempre que me olho no espelho, porque gosto de me recordar de uma das maiores verdades do mundo. Que tudo é frágil. Muito frágil.
Tudo pode dar errado conforme as suas escolhas, conforme as escolhas que fazem por você, e se não tomar cuidado, se não conseguir domar tudo o que lhe cerca, você se torna um alvo fácil.
Cada um naquele salão havia sido um alvo fácil em algum momento de sua vida. Eles haviam sentido a fragilidade do mundo, a sua vulnerabilidade e imensidão de se estar vivo. E algumas vulnerabilidades nós impulsionam em direção ao destrutivo, as ações que geral consequências ruins nas nossas vidas e nas vidas das pessoas que nós cercam.
Esses momentos destrutivos, para muitos, eram os momentos em que seus demônios corriam soltos. Joan tinha seus demônios soltos. Alison e Jay também. Assim como eu tive os meus.
É assim que somos. Cheios de demônios e consequências ruins, caindo em vulnerabilidade em um mundo frágil e, em alguns casos, nós forçando a levantar e lutar contra tudo. A vencer qualquer demônio que tente nós afagar. Somos impulsionados a persistir, e encarar o mundo.
Joana Parker! — a voz do diretor Lewis soa nos autos falantes, o que me fazendo acordar para aquele momento. Os dedos de Carter escapam dos meus quando nossas mãos se espalmam umas nas outras em palmas contidas enquanto nossos olhos sorriem para a garota de cabelos loiros sendo ocupados por uma coroa brilhante de plástico. Coloco os dedos na boca, assobiando para sua presença glamorosa sobre o palco principal no meio do ginásio.
Esse era outro capitulo da minha história. Eu havia renunciado minha candidatura a rainha do baile, e como Alison Prescott não era mais aluna do St. Augustus, Joan ganhou a coroa.
No começo o diretor não concordou com a decisão, ele queria uma rainha do baile “nerd” na capa do jornal do dia seguinte, mas com a ajuda do professor Will, conseguimos contorna-lo.
Joan também demorou para aceitar a ideia, mas ela entender que era o único modo de fazer as coisas seguirem seu curso natural. Se não fosse por sua carta, eu nunca teria me interessado no posto de rainha, nunca teria me empenhado tanto por algo que nunca almejei, então ela teria sido rainha se eu não houvesse sido colocada no caminho. Ela ou Alison teriam sido rainhas.
Então eu resolvi sair do caminho, até porque não era por ele que queria seguir, e ela ascendeu até onde deveria, para o topo de sua vida tão desejada. Para esse momento perfeito em sua vida.
— Sei que não é normal que a rainha faça um discurso — Joan indaga fazendo com que as palmas diminuam. —, mas gostaria de dizer algumas palavras. — minha irmã sorri apertando o buquê de rosas contra seu peito. As mãos quentes de Carter Grayson se espalham sobre minha barriga quando ele me abraça, e seu coração violento bate contra as minhas costas em uma música rápida e compassada. Aliso suas mãos. — Não sei quanto a vocês, mas para mim 2015 foi o ano em que fiz as coisas que menos admiro. Como qualquer outra garota de dezesseis anos me vi afogada em ideias que no final das contas não passavam de histórias inventadas por um momento frágil e confuso. — sua voz ecoa pelos cantos, e ninguém diz sequer uma palavra. Ninguém move sequer um músculo enquanto seus olhos atravessam cada canto do ginásio lotado. — Essas ideais me fizerem fazer coisas das quais não me agrado, das quais queria esquecer, mas que não posso. Não tem como esquecer porque depois que você erra; você vive com as consequências para sempre. — ela sorri dando de ombros. — A maioria de vocês me conhece como a garota que costumava andar com Alison Prescott, a que fazia peças e ria dos outros porque achava que eles eram menos especiais. Bem — seus olhos brilham contra a luz branca dos holofotes. —, essa garota pede desculpas por todas as coisas que fez. Ela tem tantas inseguranças e medos quanto qualquer um de vocês nesse auditório. Sei que um pedido de desculpas não muda nada, mas já é um começo. — minha ex irmã do mal suspira esfregando os dedos sobre o papel bonito do buquê. — Alguém muito importante me fez perceber o quanto eu estava sendo comandada por um modo automático destrutivo. Ela também me fez perceber que não é porque você se veste melhor ou se acha melhor que realmente seja melhor. Eu tenho medo, ou eu tive medo, ainda não compreendo muito bem em que estágio estou — ela ri, e todos riem. —, mas aprendi que ele não justifica as nossas escolhas, que ele não nos permite fazer da vida um lugar mais difícil do que ela realmente já é. Estive soterrada em minhas ações por muito tempo, e após um longo caminho pude respirar ar fresco ao encarar as consequências dos meus atos impensáveis. — Joan sorri, sua voz se torna um mar rouco. — A pessoa que me ensinou tudo isso foi a mais afetada pelos meus atos, e acho que é sobre isso que se trata o meu discurso. Sobre as pessoas que nos importam e que são atingidas por nossas escolhas. — ela sorri ao entregar o buquê para Kevin, o rei do baile, e tirar a coroa brilhante da cabeça. A coisa brilha em suas mãos. — Aprendi com a minha irmã, Emily Parker, que na vida temos muitas chances, e que devemos agarrar cada uma delas para tentar recompensar a que foi perdida, a que ficou no passado — as lágrimas finas que rolam em suas bochechas parecem translúcidas contra a luz branca do holofote, e as minhas parecem grossas contra o tom escuro do centro do auditório. Fungo, e viro-me para deitar o rosto contra o som do coração de Carter.
É disso que se trata o meu final feliz. Se trata das pessoas ao meu redor que estão se encontrando, que estão abrindo seus peitos e deixando seus corações voarem em direção as suas novas chances. É sobre Carter, Clarice, Patric, Jess, Alice, sobre os meus pais... Sobre Alison Prescott. Jay Jensen. Joana Parker. Sobre as pessoas que amei e odiei, sobre as que perdi e perdoei. Sobre todos. — E é por isso que digo... — ela grita, fazendo todos se animarem e darem um “uhul” como resposta. — Façam todas as chances valerem a pena, pessoal!
O silêncio que se estende enquanto ela desce do palco e caminha em nossa direção é reconfortante, quase como o silêncio que caiu sobre nossas cabeças quando finalmente reatamos nossos laços, como um silêncio acolhedor e cheio de palavras bonitas. Ela me abraça.
A música dançante se embala aos aplausos, e não demora muito até que todos estejam dançando, mas dessa vez, mas entusiasmo e interação coletiva.
Eu não fazia ideia que Joan faria um discurso, também não fazia ideia que as pessoas fossem aplaudi-la sem a intenção de ganhar algo em troca, ou que algumas garotas “más” fossem sair de seus pedestais para dançarem no meio do “povão”, já que eram boas demais para isso. Ou se acham boas demais até alguém, cuja a vida social no St. Augustus estava diretamente ligada a ele, teve coragem de admitir que não. Elas não eram melhores do que as pessoas menos populares ou afortunadas. Ninguém era melhor do que ninguém. Éramos igualmente dramáticos, adolescentes, “populares” na nossa mera existência e errados. Éramos iguais.
Seus braços fortes me tiram do chão, e meu corpo roda, o que me causa risos.
— Você conseguiu Emily. — é tudo o que sai de entre seus lábios quando ele me solta.
Seus dedos se entrelaçam nos meus, me fazendo rodopiar uma vez e voltar de encontro ao seu corpo, em um balanço lento ao som de People Help the People da Birdy.
Os gritos cheios de alegria emanam pelos cantos me fazendo olhar sobre seu ombro, para os meus melhores amigos dançando no meio da pista. Para o que eu deixaria para trás.
— Não consegui sozinha. — sorrio, virando-me de volta para ele. — Nunca teria conseguido sem a ajuda deles — indago, fazendo-o olhar para o grupo risonho a alguns passos. Pouso as mãos sobre seus ombros e seus olhos castanhos me encaram. — Ou sem você.
— Era assim que terminava o seu sonho? — ele questiona. — Está como esperava?!
— Não, não era assim que terminava o meu sonho — sorrio, e dou mais uma olhada para os piores e melhores acontecimentos da minha vida. Joana, Patric, Jéssica, Clarice, Alice, Patric... Eles não estavam inclusos nos meus sonhos, mas agradecia por estarem na vida real.
Talvez a minha vida tivesse sido diferente se eles estivessem inclusos em meus sonhos, e talvez isso significasse nunca ter encontrado o meu ponto de felicidade. Talvez eu nunca tivesse tido a oportunidade de renascer se eles não estivessem predestinados a mim. Ou talvez eu tivesse conseguido tudo sem precisar passar por tanto drama. —, mas assim está bem melhor.
A voz alta do diretor Lewis ecoa pelo salão avisando que a queima de fogos irá começar, e todos os adolescentes no espaço gigantesco, que parece pequeno por abrigar tanta gente, uiva em comemoração. Eles estão felizes, porque finalmente perceberam, ou deixaram essa verdade transparecer, que todos nós estamos tentando recuperar os nossos pedaços perdidos. E o uivo em uníssono, é o uivo de adolescentes loucos agarrando suas novas oportunidades de vida.
Os aplausos ecoam em junção aos fogos de artificio, e as pessoas ao meu redor se abraçam como se aquele momento fosse ficar marcado em suas peles para sempre. E ele vai.
— Todos saúdem a Rainha! — o sopro quente contra a minha orelha e os braços em torno da minha cintura me faz sorrir e fecha os olhos. Esse momento ficaria marcado em minha pele também, assim como todos os outros que divídimos. — Eu a vi conversando com Jay Jensen.
Conversei com o meu pai dois dias antes de realmente tomar uma decisão que poderia ser séria. Nós decidimos que eu iria depor perante ao juiz sobre não ter mais medo de Jay Jensen. Ele não foi solto como Phoebe esperava, mas havia conseguido uma punição flexível. E havia conseguido liberdade provisória para ir ao baile, contanto que voltasse ás 00h. Como Cinderela.
— Ele quis saber se o final foi como eu esperava — sussurro, abrindo os olhos. Meus pés se movem me fazendo virar de frente para o melhor sonho que já tive. — E tive que admitir.
— Admitir?! — Carter Grayson, o garoto de olhos castanhos e sorriso arrebatador, o garoto-que-nunca-me-notaria, aquele que segurou a minha mão e me disse que tudo ficaria bem, enruga o cenho e ergue as mãos até o meu rosto, onde ele faz seu costumeiro carinho com os polegares macios. Mordo as bochechas, e isso o faz apertar os olhos. — O que você teve que admitir?
— Que estava completamente apaixonada por você. — sorrio. — Sempre estive, Carter.
O seu sorriso parece exatamente igual ao sorriso que se abriu para mim quando ele adentrou a sala do professor Marvor no começo do ano. É claro que naquela época ele não estava sorrindo diretamente para mim, estava sorrindo para todas as garotas na turma, mas consegui capturar aquele momento e guardar em minha mente como algo que seria sempre meu.
Nesse momento, ele tem o mesmo sorriso que tinha no primeiro dia de nossas vidas. E ao contrário do que era antes, dessa vez, aquele sorriso era meu. Apenas meu.
Esse é o final que eu estava esperando, o que eu sempre sonhei enquanto tive tempo. O momento que a última, mas não menos importante, lição surge... Seja você, mesmo que tudo pareça errado, mesmo que o mundo tente te moldar. Seja você, e seja feliz.
— Eu te amo, Emily Parker. — Carter Grayson sussurra, se inclinando até mim.
O meu final feliz não é um conto de fadas, ele é cheio de rachaduras e cicatrizes. É cheio de dores, pessoas conectadas a momentos ruins, pessoas perdoadas por esses momentos. Ele é o começo de uma longa e estranha vida. Ele era melhor do que qualquer sonho.

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Alo-OMG OMG OMG OMG. Sentiram as nossas vidas se esvaindo com essa piranha não aceitando a coroa? GAROTA, A GENTE ESPEROU ISSO UMA VIDA E TU SIMPLESMENTE... Af, cê é fofa demais. Eu entendo o seu lado, mas bem que uma coroa ia fazer bem pra “nois” né kakak. Af, eu dou de louca. Mas sério, eu entendo essa decisão.
Na vida temos que “pesar” o que realmente nós importa, o que completa as nossas vidas, e para Emily o que completou sua vida foi perdoar, deixar ir... Seguir em frente.
Ela é uma rainha, querendo ou não. Espero que estejam prontos para o final... Só mais um e T H E E N D. All the love, boa leitura meus amores.

Emily ParkerWhere stories live. Discover now