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        Quarta-feira. O sol forte banhava todo o meu corpo. O professor de Ed. Física havia resolvido que a nossa primeira aula seria no campo que o time usava para aquecimento, e isso significava ficar suando na arquibancada enquanto as garotas populares desfilavam com seus shorts minúsculos. Por sorte Jay tem a mesma hora de Ed. Física que eu, senão estaria suando sozinha na arquibancada. Meus fones de ouvidos são arrancados abruptamente.
— Você por acaso é louca? — a voz alta de Alison Prescott me assusta. — Ou você comeu cocô quando era criança? — a morena grita. — Primeiro aparece usando a mesma blusa que eu, e agora está fazendo uma maldita dupla com o meu namorado? — ela rosna entre os dentes.
— Eu-Eu pensei... Eu que-que vocês...
— Você não foi contratada para pensar, Emily — Joan, que supostamente deveria me defender, reclama. Contratada?!  E desde quando eu pedi para ser contratada? Quero perguntar, mas é claro que minha língua está pesando demais para se mover. Ou é só o meu cérebro sendo mais inteligente do que o meu odeio pela minha irmã. — Você não deveria ser notada!
— Mas que merda está acontecendo? — Jay pergunta com uma voz calma. Ele não tem medo dos populares. Ao contrário de mim, Jay espera que eles falem dele e que façam algum tipo de bullying para que assim tivesse motivos para revidar. Não faço ideia como um garoto tão desprovido de sabedoria marcial e popularidade poderia revidar algo, mas pelo menos ele tem coragem suficiente para enfrenta-los. Coisa que não terei nem nessa e nem na outra vida.
— Não se meta quatro olhos — Alison resmunga apontando o dedo do meio para Jay.
— Olhe, eu não tive como escapar — gemo. — O professor disse que deveríamos fazer a dupla com os nossos colegas de carteira e... E bem, ele era meu colega de carteira na hora e...
— Como é que é? — Alison estala. — Você ousou sentar na mesma mesa que o meu namorado? — a morena questiona entre os dentes. CORRE EMILY, SALVE SUA VIDA ENQUANTO AINDA A TEM. VÁ PARA AS MONTANHAS. Lizzie, que é com chamo a parte inteligente do meu cérebro, grita enlouquecida. Ela abanou o rosto com as mãos molengas e bate os pés como uma garotinha mimada. — Eu não posso estar ouvindo isso, não pode ser verdade — Alison choraminga brava. — O meu namorado sentado perto... Disso!
— Ah! Não seja tão exagerada Alison  — Jay zomba com um sorriso. — Ele já deve ter muitos germes já que namora você. Não é como se pudesse pegar algo diferente só porque ele estava sentado com a Emily na aula de inglês. Relaxe querida — meu melhor amigo alfineta. Quero sorrir, ou talvez chorar por não ter essa coragem, mas definitivamente quero abraça-lo.
— Quando a conversa chegar ao centro nerd eu aviso, enquanto isso... Cale a boca Jay babacão Jensen! — minha irmã rola os olhos para Jay, e ele abana a mão como se ela fosse os lábios carnudos de Joan. Sorrio de lado. Meu sorriso murcha quando as unhas longas de Alison se apertam em meu pulso. Gemo. — Alison...
— Cala a boca Joan — a morena estala e minha irmã bufa. Mordo as bochechas. — Você vai procurar o Carter, vai dizer que sente muito — Alison balança meu pulso. —, mas que não pode fazer o trabalho com ele. Que desistiu dessa idiota estúpida porque ele não é inteligente.
— Mas...
— Você vai fazer isso e ponto Emily — ela sorri de lado. — Ou eu vou ter que dar carta branca a Joan... E você não quer que o seu pai descubra sobre o cartão roubado, quer?
— Cartão roubado? — Jay pergunta curioso. — Ou vocês duas se afastam ou vou chamar o...
— O diretor? — Joan termina sua frase apontando para o homem abanando pompons azuis do outro lado da arquibancada. Gemo. — Acho que não vai adiantar muito, querido.
— Você não pode ficar me ameaçando — sussurro. — O papai sabe que eu nunca faria isso.
— Sabe?! — Joan sorri colocando as mãos na cintura. — Eu não teria tanta certeza disso Ems, até porque ele pode querer ver o vídeo da loja onde aquelas bugigangas foram compras.
— Então ele vai ver que não fui eu — choramingo baixinho.
— É claro que foi você — Joan monta sua melhor feição de decepção. — Vou ficar triste quando reconhecerem seu suéter favorito no vídeo, o seu cabelo ensebado... Os óculos roxos que você jurou ter perdido quando estávamos acampando — meu queixo cai. Alison aperta seus dedos no meu pulso com mais força. — Eu não acredito que você roubou o nosso pai!
— Você o que? — Jay me encara confuso. — Mas que porra está acontecendo?
— A minha querida irmã roubou o cartão do nosso pai nas férias e comprou coisas no ebay.
— Eu não fiz nada disso — choramingo.
— Mas o nosso pai vai pensar que sim — Joan dá de ombros.
— Acabaram com o papo irmãs? — Alison sorri irônica, e Joan rola os olhos. Ela solta o meu pulso, coloca as mãos na cintura e suspira dramaticamente. Aliso o machucado que suas unhas fizeram em minha pele. A morena joga os cabelos de um lado para o outro. — O que descobriu?
— Nada.
— Nada? — ela suspira exasperada. — Hoje é quarta-feira, você tem sentado ao lado dele desde segunda e não descobriu sequer uma coisinha? — Alison vocifera. — Mas que tipo de espiã é você Emily Parker? — a menina tenta agarrar meu pulso, mas Jay bate em suas mãos a afastando de mim. Arregalo os olhos. — Quem você pensa que...
— Jay Jensen — meu melhor amigo responde a pergunta retorica sem nenhuma vergonha. Alison estreita os olhos. — E quem você pensa que é para estar tratando-a assim?
— Quem eu penso que sou? — Alison rosna entre os dentes. — Eu sou Ali...
— Está tudo bem aqui? — a voz suave, e ao mesmo tempo irritada, de Patric faz com que as duas estalem sobre seus joelhos. Os olhos azuis de Joan se arregalam. — Eu fiz uma pergunta.
— É claro que está tudo bem, querido — Joan tenta sorrir.
— Eu não estava perguntando a você Joan — Patric indaga apertando a bola de basquete em seus dedos longos. Joan coaxa irritada, dá uns passos na direção do namorado e sussurra algo em seu ouvido. — Eu não ligo! — Patric diz com as sobrancelhas franzidas. Ela bufa, bate o pé e murmura algo inaudível. Ele sorri de lado e ela finalmente relaxa. Minha irmã abraça o namorado pela cintura, ele aperta seu quadril, coloca a bola de basquete no arco de seu braço e me olha com aqueles seus pequenos olhos azuis. — Está tudo bem com você Emily?
— Babe! — Joana rosna se afastando dele. Ela me olha com uma expressão passada, dá de ombros e abana as mãos para que eu responda ao seu namorado. Aliso meu pulso.
— Está tudo bem — minto.
— Você tem certeza? — o garoto questiona. Assinto. — Ok então — Patric suspira se dando por vencido. — Você vem comigo Joan? — seu tom é áspero e mandão. Ela assente, sussurra algo em seu ouvido e ele se afasta sem olhar para trás. Aperto meus lábios quando seus olhos azuis me questionam a respeito do que havia acabado de acontecer. Eu não faço ideia. Não faço ideia de nada. Tento responder, mas a vontade de chorar faz com que eu mantenha a boca fechada. Jay se aproxima um pouco mais de mim.
— Acho que você não esta muito dedicada nessa missão Emily — Alison reforça.
— Eu fiz tudo o que me pediu — choramingo. — Tentei ver suas mensagens, mas ele estava sempre escondendo o celular enquanto digitava e até me pegou olhando — explica sentindo meus olhos arderem. Jay me lança um olhar que grita EU SABIA QUE ALGO ESTAVA ERRADO QUANDO SENTOU COM ELE, e eu rezo mentalmente para que ele não diga nada. Posso conviver com as loucuras de Joan e Alison no colégio, mas sei que se Jay continuar se metendo não conseguiria conviver dentro da minha própria casa, pois minha irmã tornará minha vida em uma miséria. Um inferno ainda pior daquele que eu já vivo. A morena abana as mãos.
— Fale com ela Joan — Alison manda. — Quem sabe assim ela comece a mover essa bunda ridícula e descubra coisas realmente importantes sobre o MEU namorado.
Meu corpo sofre uma pequena convulsão com a menção forçada do “MEU namorado”. Não é como se eu o quisesse, ou como se eu tivesse alguma chance porque eu era a garota-que-sentava-na-cadeira-ao-lado-nas-aulas e nada mais, mas ouvi-la dar ênfase naquela frase era como receber uma tapa por ter sido pega fazendo coisa errada. Joan dá de ombros e caminha com seus sapatos altos em minha direção. Ela tem aquele olhar que diz EU PODERIA SER UMA DAS GAROTAS DA PLAYBOY, BASTA ATROPELAR UMA DELAS E TOMAR SEU LUGAR. Para ser sincera não faço ideia do porque comparo seu olhar com essa metáfora, mas acredito que qualquer metáfora de merda seja boa o suficiente para combinar com a personalidade de 50 palavras da minha irmã. Ela coloca as mãos na cintura.
— Olhe Emily — Joana indaga meu nome com nojo. EU TAMBÉM TENHO NOJO DE TODAS AS SÍLABAS E CONSOANTES QUE CONSTROEM O SEU NOME E SEU SER, Meu cérebro teimoso alfinetou, mas meus lábios duros e tensos se apegaram aquele fio de sanidade que ainda existia no meu corpo. Minha irmã balança seu corpo de um lado para o outro. —, quando pedia sua ajuda — ela suspira em falsa exaustão. Em primeiro lugar você não pediu a minha ajuda, você literalmente me obrigou a fazer isso. Quero lembra-la. — pensei que seria grata por finalmente participar de algo legal, algo que poderia até te dar um crédito com algumas pessoas — Joana explica abanando suas unhas rosa de um lado para o outro. Enrugo o cenho, e sei que Jay faz o mesmo. Ela é mais idiota do que imaginei. — Mas pelo visto você não entende o fator “invisível” nessa equação. — o modo como Joan fala “equação” sugere que ela não sabe o significado da palavra.
Eu devo ser a única pessoa na face da terra que compreende, afinal estive na sua sombra por dezesseis anos — sussurro de cabeça baixa. Ela parece não ouvir e continua.
— Alison precisa descobrir se Carter está a traindo.
— Então Alison que vá perguntar a ele! — Jay estala ao meu lado. — Largue de ser uma vadia Joana, largue de encher o saco da sua única irmã — ele me defende. Sorrio de lado.
— Calado verme! — Alison rosna dando uma tapa na nuca de Jay. Seus dedos parecem tão pesados que o estralo na carne dele faz com que meu corpo doa. Não toque nele. — Se disser mais uma palavra, sequer uma palavra, conto a todos o que fez no acampamento.
— Eu não... — Jay tenta.
— Juro que conto! — Alison vocifera abanando o dedo para ele. Enrugo o cenho. O que ele fez?
— Prosseguindo — Joana abana seus cabelos loiros sedosos. — O problema aqui é o seguinte, nos precisamos de você porque, obviamente, Alison não é idiota de perguntar isso a Carter. É óbvio que ele vai mentir na cara dura — ela soa inútil, fútil e ridícula. Se elas pelo menos parassem para pensar teriam notado que Carter Grayson sabia de todo o circo antes mesmo dele ser montado. Ele provavelmente estava sentado com Patric nesse exato momento bolando alguma contra resposta para toda essa baboseira. Odeio ser adolescente. Odeio estar no colegial e ter de passar por todas essas coisas. Porque a gente não pode pular a puberdade e ir direto para a faculdade? Adoraria estar assistindo a uma aula de três horas ao invés de estar sendo ameaçada por duas garotas que precisam de internet para saber como preparar um ovo de galinha. — E você precisa se focar nessa merda, você precisa descobrir porque o baile está chegando e...
— Jesus Cristo, como você é lenta! — Alison bufa parando minha irmã. — Você vai descobrir o que rola entre o meu namorado e a vaca da Amanda, ou Joan vai contar aos seus pais que você roubou aquele maldito cartão — a morena explica de uma só vez. Eu já tinha entendido isso, cérebro. Quero soltar, mas a única coisa que faço é rolar os olhos.
— E você também vai se afastar dele — Joan completa como se estivesse completando uma palavra no show do milhão. Suspiro, exasperada. — Entendeu?
— Sim — sussurro. Jay aperta meu pulso delicadamente. — Eu entendi.
— Maravilha! — minha irmã ri divertida, agarra minhas bochechas e sela nossos lábios com um selinho cheio de gloss. Seus olhos azuis são envenenados. — Faça direito ou acabo com a sua vidinha de merda, Emily — ela sussurra contra meus lábios. — Isso eu juro.

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         Minha noite não poderia ter sido pior. Tenho olheiras, um gosto estranho na boca e uma dor de cabeça de matar. Joan fez a coisa mais improvavelmente de todas. Quando pensei que ela não poderia passar do nível de irmã ruim ela se matriculou no nível IRMÃ RUIM QUE FEZ PACTO PARA ROUBAR O TRONO DO DIABO. Não estou dizendo isso por causa da chantagem, já me conformei com esse lado obscuro dela, estou me referindo à coisa de gêmeas. E graças a isso tive uma noite duas vezes pior: regada de pesadelos e ameaçadas juradas. Quando éramos crianças inventamos uma língua só nossa. Era a única coisa que nos mantinha unidas naquela época. As coisas estavam sempre indo de mal a pior na nossa família, e por isso usávamos palavras invertidas, sinais e até mesmo desenhos para nos comunicar. Quando a nossa vó paterna morreu e o nosso pai ficou em estado múmia, porque era como ele se parecia na época, inventamos uma nova fase do nosso jogo onde decidimos que faríamos com que as coisas voltassem a ser como era antes. Isso eu juro foi à frase que escolhemos para demonstrar a profundeza do nosso empenho para que tudo saísse de acordo com o nosso desejo. O papai está tão mal, deveríamos fazer de tudo para que ele fique bem. Eu lhe dizia. Vamos fazê-lo sorrir de novo. Isso eu juro. Ela me respondia, e não parávamos de tentar até que ele estivesse realmente bem de novo. Isso eu juro. Isso eu juro. Isso eu juro. Parece tão idiota agora.
— Ai está você! — uma voz alta indaga me fazendo ergue o rosto.
— Eu não posso falar com você — solto mais baixo do que gostaria.
— Ok — Carter Grayson enruga o cenho. Ele se senta ao meu lado na mesa do refeitório, coloca um saco com o nome BOWN’S sobre meu caderno e sorri. — Eu trouxe um cookie ice cream para você. — o garoto de olhos castanhos soa calmo e até mesmo amigável.
— Ice cream cookie? — minha língua se atrapalha fazendo-o rir. — O que?
— É biscoito que... Esqueça — Carter resmunga rolando os olhos. — É um biscoito.
— Porque está me dando um biscoito com sorvete? — questiono, esfregando as pontas dos dedos sobre meu pulso dolorido. Mamãe havia me questionado sobre os machucados no meu pulso, mas Joan me fez sorrir e dizer que eu havia me machucado na Ed. Física.
— Patric disse que Joan e Alison estavam te chateando ontem — ele diz dando de ombros. Miro seus olhos castanhos. Não tem lógica. — Minha mãe diz que biscoito ajuda a aliviar as coisas quando elas estão ruins — ele explica. Enrugo o cenho. — Esquece.
— Esqueci — tento não sorrir. Ele mantem o silêncio, e eu mantenho meus olhos baixos até o momento em que a coragem me vence. — Não quero fazer o trabalho com você.
— E porque não? — Carter cruza os braços. — Eu já tenho tudo planejado.
— Você pode ficar com a ideia, pode arrumar outra parceira no trabalho — sussurro ainda de olhos baixos. Ele espera que eu continue. — É que não me dou bem em duplas.
— Estou vendo.
— Eu sinto muito — digo mordiscando a boca.
— Claro que sente — Carter resmunga com um tom frio. Seu joelho toca o meu por debaixo da mesa e minha primeira reação é agarrar o pacote de biscoitos. Não faço ideia do porque fiz isso, mas parece que ter algo em mãos passa a sensação de segurança. — O que é isso? — sua voz se eleva um oitavo. — Alison fez isso?! — Carter questiona agarrando meu punho antes que eu possa me afastar. Recolho o braço e escorrego a manga azul do meu casaco até as pontas dos meus dedos. Nego em silêncio. — Então foi Joan?!
— O que? — estalo sem notar. Tenho feito muito isso ultimamente, gritado ou estalado como se fosse uma idiota. Como se fosse uma cópia de Joan.  — Não! — reclamo. — Ela é louca, mas não me machucaria fisicamente — explico com o meu melhor tom de sinceridade. Carter serra os olhos para mim. — Não foi ela, foi na...
— Então foi Alison — ele me interrompe e se levanta.
— Onde você está indo? — minha voz sai exasperada. — Carter?!
— Acabar com essa palhaçada de uma vez por todas  — Carter Grayson indaga me puxando pelo pulso, me fazendo ficar em pé. Ele trinca os dentes. — Ela vai pedir desculpas de joelhos!
Meus olhos se arregalam. Merda!

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Aloha “parkers”, como estão?! Estou meio acabada, mas tive que atualizar porque nove dias sem atualização é fogo. O que vocês estão achando?! Gostaria de dizer que a dedicatória é para uma escritora, e queria pedir pra vocês darem uma olhada nos livros dela! Boa leitura e love you all!!

Emily ParkerOnde histórias criam vida. Descubra agora