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- Srta. Parker? - a voz séria do professor Johnson chama o meu nome me trazendo de volta ao presente. Pisco os olhos cansados por detrás das lentes de contato, meus dedos se fecham envolta da caneta e meu coração voltou a bater como deveria. - Eu estava falando, sobre o assunto da prova - ele explica para a minha provável careta. Assinto. - A senhorita ouviu a pergunta? - o professor questiona sem tirar os olhos de mim. Separo os lábios, enrugo as sobrancelhas e respiro pela boca. - Quais são as respostas para as questões? - ele pergunta e aponta para o quarto. Pisco cinco vezes antes de encontrar os números aleatórios de uma questão que eu havia perdido. Olho para meu caderno, e depois para o quadro. - Você sabe?
- Ar... - espremo os lábios entre os dentes. - Eu-Eu sinto muito, senhor - sussurro, e abaixo os olhos para os nós doloridos dos meus dedos. - Não estudei a matéria.
- Você não estudou a matéria? - o tom risonho do professor me faz encolher os ombros. Jay, que está sentado em silêncio ao meu lado, aperta meu joelho. - Está brincando, não está?
- Eu creio que não, senhor - sussurro mais uma vez.
- Vocês sabem que devem estudar as matérias que envio para casa! - o Sr. Johnson grita com toda a sala. - Esses assuntos vão cair no teste de aptidão, e vocês precisam começar a estudar se quiserem uma boa nota. - o homem reclama com seu tom sério. Seus olhos encontram os meus por um minuto. - Não me importo se estão com problemas na concorrência para a coroa, não irei passar a mão em suas cabeças nesse teste - ele diz, seus olhos fixos nos meus. Assinto, mesmo que ele não possa notar. -, então acho bom que comecem a pegar as apostilas, que comecem a prestar atenção nas coisas que digo ou vão se dar muito mal no final do semestre.
Os olhos castanhos do professor Johnson me fitam com firmeza, mas antes que ele possa continuar seu discurso do porque devemos esquecer as amenidades do baile ou de qualquer outro assunto irrelevante, o sinal bate fazendo com que ele aperte as mãos em punhos ao lado do corpo. Os alunos esperam para serem dispensados, ele o faz, mas pede que eu continue na sala. Carter e Jay me lança um olhar cumplice, mas dou de ombros e continuo em silêncio vendo todos os alunos seguirem o rumo de suas grades de horários.
O Sr. Johnson se aproxima.
- Eu juro que irei estudar - suspiro. - Só estou muito ocupada com...
- Com a nova vida de popular? - o homem me pergunta cruzando os braços. - Olhe, não tenho nada a ver com sua vida particular, mas quando ela começa a afetar seu desempenho no colégio preciso chamar a atenção dos seus pais. - ele me diz em sua voz morna. Gemo.
- Eu posso recuperar a nota - suplico.
- Você caiu de aluna nota A para aluna nota D em três semanas, Emily - ele me diz sério. Arregalo os olhos. D?! EU TIREI UM MALDITO D? Lizzie grita comigo. Arregalo os olhos. Há uma semana havíamos começado os primeiros testes do semestre. Sabia que não havia feito uma boa nota, mas ouvi-lo me dizer que eu havia caído para um D provava que estava certa.
Eu havia ido muito mal. MAIS DO QUE MAL. FUI O LIXO DO LIXO. OU MELHOR, FUI TÃO RUIM QUE JOAN POERIA TER SE SAIDO BEM NO TESTE SE O FIZESSE, Lizzie tagarela como a boa parte racional e inteligente que é. - E pelo o que estou vendo irá cair ainda mais. Sinto muito, mas terei que ter uma conversa séria com os seus pais.
- Não, por favor, não! - indago apressada. - Se o senhor chamar os meus pais o meu desempenho vai cair muito mais do que para um D - imploro. Ele me analisa com seus olhos bonitos e suspira sem vontade. Junto às mãos em oração. - Prometo que se me der outra chance recupero essa nota, mas não pode chamar os meus pais. A minha vida tem sido uma loucura durante essas três semanas, o baile é daqui a alguns meses, não tenho sequer 12% de votos e as pessoas continuam zombando de mim mesmo depois de ter mudado tanto.
- Entendo que algumas pessoas tenham sido cruéis com você - Will usa seu tom morno de professor de história e palestraste conta as drogas. - Sei que o colégio pode ser difícil às vezes, mas você não pode mudar quem é para agradar aos outros, Emily. Não pode esperar que suas roupas novas ou o fato de estar usando lente de contato te faça sobressair, tem que fazer com que seus méritos se sobressaiam. - ele indaga tenaz. Mordo os lábios. ATÉ PORQUE OS MEUS MÉRITOS VÃO ME DAR UMA COROA, Lizzie reclama por mim. Mas ele está certo, o que me concentrar em fazer campanha me trouxe? Roupas novas manchadas de tinta azul e garotos fingindo que estavam interessados em mim a mando de Joan e Alison? Nada bom veio em três semanas Lizzie. Nada bom viria, pois aquela carta está certa: sou desnecessária. Descasco a ponta solta do meu esmalte vermelho. - Está bem. - Will suspira. Ergo os olhos até encontrar os dele. Sorrio. - Não vou chamar os seus pais, mas terá que se esforçar para recuperar a nota. Você vai ter que fazer todos os trabalhos extras, vai ter que se esforçar no teste de aptidão e vai ter que participar de tudo o que eu disse sem reclamar ou dar desculpas.
- Prometo que não irá se arrepender - sorrio agarrando meus materiais.
- Assim espero. - Will suspira e se levanta. - Lembre-se que é apenas o inicio do ano, mas você ainda pode acabar sendo reprovada se continuar por esse caminho, Emily.
- Recado dado e recebido com sucesso, senhor - tento sorrir o mais sincera que posso, pois sei que o Sr. Johnson é o mais próximo de um amigo entre os professores que tenho. Ele tem sido legal comigo desde o incidente com meus joelhos. Além de ter me ajudado naquele dia, ele tem facilitado minha vida e passado, mesmo sem perceber, a mão na minha cabeça. - Não vou desapontá-lo. Prometo que irei me esforçar para tirar as melhores notas do colégio todo.
- Ótimo - o homem sorri enfiando as mãos nos bolsos. - Agora vá. E diga a Carter Grayson e Jay Jensen que ficarem atrás da porta ouvindo a conversa dos outros é falta de educação.
Olho para ele sem entender, mas quando me viro para porta percebo os dois garotos correndo para se esconderem. Mordo os lábios sem graça e corro em direção à saída.
No instante em que a porta se fecha encontro os rostos fingidos dos meus dois melhores amigos. Carter é o primeiro a me perguntar se serei suspensa, mas ignoro sua pergunta e respondo com o que o professor Will havia me mandado dizer. Os dois reclamam o caminho todo sobre não estarem ouvindo atrás da porta, e eu finjo acreditar.
Enfio o livro de história na mochila, e os sigo até o refeitório.
- Eu recebi uma contagem regressiva para o baile - Jéssica diz assim que nos sentamos á mesa. - Parece que Alison está decidida a fazer com que todos saibam da aposta que ela e Carter fizerem com sua alma, Emily. - a loira sorri sarcástica. Trago a saliva.
- Não apostei a alma dela - Carter se defende. - Apostei a mão de obra. Tem diferença.
- Defina essa diferença, por favor - Jéssica pede. - Porque eu simplesmente não consigo vê-la. Na verdade se tivesse vendido à alma dela para o diabo teria sido melhor do que tê-la dado de mão beijada para alguém como Alison Prescott.
- Quer saber a diferença? - Carter Grayson pergunta sem muita convicção. Jay e eu nos viramos para olhá-lo. O garoto remexe e remexe os lábios. - Ok, não tem diferença.
- Obrigada por finalmente admitir - Jess sorri debochada. Suspiro. Três semanas atrás eu era Emily Parker aka Emily a estranha. Era a garota que todos ignoravam, que as garotas zoavam, que os garotos chamavam de feia e que estava sempre com um papel escrito ME CHUTE nas costas. As pessoas costumavam debochar de mim, mas sequer sabiam o meu nome. Elas espalhavam boatos sobre a irmã esquisita da grande Joan Parker, mas quando passavam por mim me perguntavam se eu havia escutado sobre a garota do segundo ano que havia pegado HVI de uma garrafa plástica. Elas me jogavam coisas porque Alison Prescott mandava.
O único momento em que fui Emily, a Emily Parker aka estranha, a Emily Parker que não era apenas a irmã da Joan Parker, foi quando todos descobriram sobre minha tentativa de suicídio.
Eles estavam sempre aos montes me perguntando se eu havia visto o Diabo quando fiz a passagem. Ou se os médicos haviam usado alguma droga para me trazer de volta a vida.
Esse foi o único momento em que não fui desnecessária, pois as pessoas precisavam de mim para criar suas apostar e tentarem ganhar dinheiro. Mas como tudo começa, termina.
A atenção que recebi por causa da minha tentativa de suicídio desapareceu no instante em que Joan começou a espalhar que tudo não passava de uma pegadinha de Carter Grayson.
E até mesmo o pessoal que estava me dando apoio nas redes sociais havia desaparecido.
- Terra chamando Emily - Jay me chama com sua falsa imitação da NASA. - Emily, está na escuta? Está na escuta Emily? - meu melhor e mais fiel amigo indaga tenaz. Sorrio de lado.
- Desculpe - dou de ombros. - O que você disse?
- A loira quer saber o que vai fazer a respeito dos votos - ele me diz com um sorriso. Meu sorriso se dissolve, pois sei que minha porcentagem da semana será ainda mais baixa do que a porcentagem inicial. Algumas pessoas haviam votado em mim, mas elas não estavam sendo o suficiente. A maioria preferia apoiar a minha candidatura pelas entocas, pois assim não precisariam sofrer nas mãos de Alison e Joan.
O problema é que se o colégio não presenciar o apoio dessas pessoas que votaram em mim não teria a menor chance de sair dos meus 12%. Eles não vão computar votos anônimos para sempre, e todos naquela mesa sabiam que não existia nada que eu pudesse fazer.
- Eu não sei - admito. - Esperava que vocês, meus queridos amigos, tivessem alguma solução milagrosa. - gemo entre os dentes. Eles se olham com uma cara de paisagem, e abanam suas cabeças para a simples resposta: eles não têm nada. - Se vocês que são do comitê não sabem, imagine eu. Estou ferrada em história, metade das minhas roupas foram arruinadas e a outra metade precisa ser escondida porque Joan quer rasgá-las. - rolo os olhos e deito o rosto na mesa fria. Quando Carter foi me buscar, no dia seguinte a minha mudança geral, senti que meus joelhos iriam me fazer cair, mas quando todos me olharam como se estivessem vendo a princesa Elizabeth tive quase certeza de que poderia ganhar.
Me mantive na "divulgação" da minha candidatura com força e tenacidade por todo aquele dia. Até mesmo perdi as aulas importantes por causa daquela maldita candidatura, mas no dia seguinte percebi que não seria tão fácil assim. Alison Prescott havia espalhados cartazes e mais cartazes pelo colégio. Haviam sido legal com as garotas que ela e sua gangue zoavam por quase todo o ano e havia conseguido encontros para os garotos que nunca conseguiriam sair com uma mulher real em suas vidas. Em outras palavras; ela estava ganhando com 35% dos votos.
- Você ainda tem chances, Emily - Carter diz pousando a mão no meu joelho. - Os dias ainda estão contanto e muitos alunos ainda não votaram. - ele me lembra com um sorriso.
- Diz isso por já ter praticamente ganhado - reclamo. - Você está concorrendo contra Patric, que por si só é seu melhor amigo. Estou concorrendo contra a maior vadia, depois de Joan, do colégio e da face da Terra! - relembro, o que faz com que ele aperte meu joelho sobre o tecido fino do meu vestido. Movo meu rosto sobre a mesa para encarar o outro lado do refeitório.
- Você está sendo pessimista - Jess e Jay dizem ao mesmo tempo, e os dois riem. Rolo os olhos. PORQUE VOCÊ FICA RINDO PARA ELA? NÃO RIA PARA ELA, Lizzie reclama me fazendo encará-lo com as sobrancelhas enrugadas. Há alguns dias que venho notando o quanto Jéssica Reed tem tido desculpas para passar à tarde com Jay. Eles estavam sempre falando sobre filmes, sobre seriados e estavam sempre dando a entender que haviam passado tempo juntos sem estarmos por perto para atrapalhar. Jay diz que é coisa da minha cabeça, que Jéssica e ele estavam apenas convivendo por minha causa e que estavam sempre falando sobre como me fazer vencer o baile. O problema é que não acredito em sequer uma palavra dele. Sei que eles estão se vendo. Sei disso porque dois dias atrás encontrei o par de brincos dela no carpete de seu quarto. Bufo com raiva. PORQUE ESTÁ COM RIAVA? NÃO TENHA RAIVA, ELE É SEU AMIGO, Lizzie reclama comigo e com ela mesma. Não estou com raiva por ele estar saindo com ela! Ela é minha amiga. A única amiga que me restou depois de Clarice.
- Sim, como Jay disse - Jéssica chama minha atenção para ela. -, você está sendo pessimista, Srta. Parker. Ainda tem muitos dias pela frente.
- Dias que vão ser gastos atoa - reclamo.
- Você só precisa conhecer pessoas mais influentes - Jay diz dando de ombros. - Não é disso que se trata ser popular e vencer as coisas nessa ridícula tirania?
- Bem - começo sem muita vontade. -, a única pessoa influente que conheço se chama Carter Grayson e já estou devendo a ele tipo - olho para as minhas roupas. - uns dois milhões de dólares ou mais do que isso. Não sei de que tipo de pano os vestidos são feitos.
- Você é tão idiota - Carter ri debochado. Rolo os olhos. - Você conhece o Patric - ele me lembra. - E conhece Jéssica Reed, filha do maior sorveteiro da cidade.
Jéssica bufa para a piada infame de Carter, pois todos sabem que ela odeia ser lembrada de como o pai ficou rico. Não que fosse ruim ser dona da maior fábrica de sorvete, ela só não gostava de como as pessoas viviam perguntando se ela recebia sorvete grátis ou cheirava a leite.
- Primeiro - abano o dedo para o moreno ao lado da loira. - Patric namora um protótipo de ser humano chamado Joan - relembro. - Ele não vai largá-la e ela não vai deixá-lo me apoiar.
- Você tem razão - Jéssica indaga batendo na mesa. -, mas ainda existimos. Ela não pode fazer nada ao meu respeito, ou a respeito de Carter - a loira indaga e tamborila com mais força sobre a mesa vermelha mandando uma onda para o meu rosto. - Mas meio que concordo com o que Jay está dizendo. Ter pessoas mais influentes no seu circulo de amigos pode empurrar as outras pessoas a votarem. Até porque olhe para eles - ela aponta para os demais no refeitório naquela tarde quente. -, são cascas sem cérebros pontos para seguirem aquele que tiver mais amigos no Instagram ou Facebook. - a loira abana as mãos para todos os lados. Rio.
- O que significa que você ainda tem chances - Carter reforça. Assinto sem vontade.
- Talvez se você conseguisse ser convidada para uma festa grande - Jay diz mais para si do que para os demais na mesa, mas consigo ouvi-lo, pois estou sempre prestando atenção no que sai de sua boca. - Eles iriam perceber que pessoas importantes apoiam sua causa.
- Seria uma ótima ideia - ronrono para ele. - Seria ainda mais incrível se eu realmente tivesse quem me dar uma festa boa o suficiente para chamar atenção deles.
- Então só precisamos de alguém muito influente para te dar uma festa? - Carter questiona com um sorrisinho sarcástico no rosto. - Não seja por isso... - o garoto de belos olhos castanhos morde o canto o lábio e me encara com seus olhos risonhos. - Eu lhe dou uma festa.
- O que? - estalo. - Não Carter - grito com os olhos arregalados. - Você não precisa fazer mais isso por mim. Pelo amor de Deus, você já fez muito e mais um pouco.
- Emily - Carter indaga meu nome, vira-se para mim e agarra minhas mãos. -, você tem sido uma amiga maravilhosa, tem me feito rir e tem guardado os meus segredos como ninguém jamais poderia guardar - sua voz soa mansa e gostosa de se ouvir. QUALQUER COISA QUE VENHA DELE SOA GOSTASA DE SE OUVIR, Lizzie se abana. Seus olhos castanhos com pontinhos verdes se apertam conforme seu sorriso. - Te dar uma festa seria o começo da gratidão que tenho por ter me deixado participar da sua vida.
- Arrrrrgh - gemo entre os dentes. Jéssica ergue os polegares para mim. - Não sei não.
- Ele é rico - Jay me diz sem nenhuma pretensão. Rolo os olhos.
- E sou influente - Carter completa com um sorrisinho bobo. Rolo os olhos mais uma vez.
- Eu não acho a melhor das...
- Está decidido - Carter solta minhas mãos e se levanta. - Daremos uma festa.
- Carter... - chamo-o baixinho.
- Ou melhor - Carter ergue o dedo indicador como se houvesse tido uma das mais brilhantes ideias. - Faremos com que Eloisa Adams dê uma festa em seu nome.
- Eloisa Adams? - meus olhos se arregalam. Jay sussurra "quem é essa", e quero deixar que Lizzie saia da minha cabeça para estapeá-lo por não saber quem é o ser humano em questão.
Eloisa Adams é nada mais nada menos do que a garota mais rica e influente de toda Nova York. Nem mesmo os Grayson conseguiram fazer fortuna tão rápido quanto ela. A garota havia sido descoberta aos oito anos de idade por uma agencia de modelo e desde então ela vem ganhando o mundo. Lembro-me de tê-la visto no meio de um supermercado minutos antes do lugar ficar cercado por fãs e jornalista. Não é que Eloisa seja apenas uma modelo qualquer, ela é simplesmente a modela. A modelo que virou cantora, a cantora que virou atriz. Ela é um ícone.
- Esteja pronta ás 20h. - Carter sorri para mim antes de dar as costas e caminhar para fora do refeitório. Eloisa não é somente a modelo barra cantora barra atriz. Ela é a única garota que não deu bola para Joan quando nós mudamos para o mesmo prédio que ela, anos antes da garota ser famosa. Ela era simplesmente a única a qual a minha irmã venerava mais do que aos seus sapatos caros e a Alison Prescott. E agora Carter Grayson tentaria fazê-la me dar uma festa.
Em palavras mais dramáticas JOAN IRIA ARRANCAR OS MEUS OLHOS COM OS DEDOS.

Emily ParkerWhere stories live. Discover now