C A P I T U L O E X T R A: say goodbye

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// JAY JENSEN and CLARICE CAMPBELL //

Guarde seus sonhos por enquanto, não vou te ver por uns tempos, estou perdido em minha mente. Eu me perdi na minha mente!
Mamãe me disse uma vez: já estás em casa, onde você sente amor.
Estou pedido em minha mente... Eu me perdi na minha mente.

       AS PAREDES BRANCAS ME CAUSAM ENJÔO. As horas parecem não passar, o frio parece congelar os ponteiros do relógio, e minha mente vaga de um lado para o outro em busca de alguma memória boa o suficiente para me distrair de todo aquele branco irritante.
Uma das poucas lembranças que tenho tido, é de quando tinha sete anos e corria para a cama da minha mãe em dias frios como esse. Nós fazíamos maratona de filmes velhos. Era divertido.
Gostaria de voltar aos meus sete anos, porque talvez eu tivesse percebido os sinais que me levariam as estribeiras. Talvez, se tivesse os percebido, não teria chegado ao fim do poço.
As paredes que estou encarando são as da construção do Chicago Lakeshore Hospital, onde estou internado desde o momento em que admiti para mim mesmo que precisava de ajuda.
Não foi depois dos inúmeros discursos dos meus pais — apesar de que eles tivesse grande peso na minha decisão —, mas sim estar lúcido o suficiente para presenciar inimigos se tornando amigos, pessoas que juraram se odiar para sempre se perdoando e seguindo em frente.
Então eu, ao ver todos seguindo em frente, percebi que também queria seguir em frente. E foi o que fiz. Fui ao baile, e segui em frente após aquela noite tão quente e cheia de fogos.
Se fechar bem os olhos ainda consigo vê-las se abraçando no meio do salão de dança, ainda consigo ver o brilho nos olhos de Emily quando lhe perguntei sobre o seu final de conto de fadas, e ainda consigo vê-la me olhar como se estivesse me dando o seu perdão silencioso.
E eu me perdoei, e segui em frente. Segui em direção ao hospital psiquiátrico de Chicago.
Duas batidas, um espaço de silêncio, mais outra batida — essa é a batia "especial" da minha enfermeira, a única amiga que tenho dito nesse lugar desde que cheguei.
— Sim? — pergunto, esperando que ela empurre a porta como de costume e coloque primeiro o rosto perto do beiral, depois entre com aquele seu sorriso que me faz querer bufar. Mas isso não acontece. Ela não entra. — Sra. Duncan? — chamo, enrugando o cenho. — Pode entrar.
— Eu sinto muito — a voz jovem indaga assim que a porta se abre. — Não é a Duncan.
A garota de roupa branca não tem o mesmo sorriso que me faz bufar. Ela tem um sorriso morno.
— Como sabia a batida secreta da enfermeira Duncan? — enrugo o cenho.
— Ela me ensinou — sua resposta é óbvia. — Disse que você não faria um caso se eu batesse como ela. — seus olhos azuis me encaram. Ela separa os lábios e os fecha, depois os separa de novo, coloca a bandeja sobre a mesinha e se inclina para abrir as gavetas de roupas, também brancas e chatas como as paredes. — Eu pedi para substitui-la hoje.
— Porque?
— Porque... — sua voz se perde em um cochicho. Paro a alguns centímetros de onde ela está, pegando minhas roupas para lavar junto com a do restante dos pacientes. Seu corpo se vira fazendo seus cabelos negros caírem sobre seus ombros. — Achei que ficaria feliz em ver alguém conhecido. — ela explica, pega o copo branco o empurrando para mim. — Tome.
— Eles me deixam com sono. — resmungo, e volto pra cama. Encaro o teto por tempo suficiente para fazê-la sair, mas ela não sai. Apenas fica parada segurando o copo e seu sorriso.
Viro-me sobre a cama e encara seus grandes olhos azuis e seu nariz pequeno. Ela não parece como as outras pessoas que vestem aquelas roupas chatas e brancas. Seus olhos azuis não parecem cansados e chateados por estarem rodeados por pessoas doentes. Na verdade, seus olhos azuis parecem contentos por estarem encarando os olhos de um desequilibrado.
É isso o que sou, um desequilibrado. Eu havia me perdido dentro de mim mesmo, havia tido um colapso e quase levei a minha vida para o fundo do poço.
Depois que você admiti isso as pessoas passam a te tratar de maneira diferente, quase como se você fosse um parasita, mas ela não. Ela nunca me olhou ou me tratou dessa forma.
Essa foi uma das coisas que aconteceu naquela noite de fogos. Seus olhos azuis me olharam e sorriram para mim, ela me abraçou e me disse que as coisas ficariam bem. Esse foi outro motivo que me levou a procurar ajuda, porque queria que mais pessoas me olhassem como ela olhava.
Seu sorriso me faz rolar os olhos, e eu me sento estendendo a mão para o copinho cheio de remédios. Remédios que me faziam bem, que me deixavam na linha, mas que me davam sono.
— Jay? — sua voz doce me chama assim que termino de tomar os remédios.
— Clarice?! — ergo as sobrancelhas, e abano o copo para ela.
— Porque você se internou?
Enrugo o cenho.
— Porque sim, Clarice. — dou de ombros, mas ela continua me encarando como se estivesse esperando mais. Abano o copo outra vez, e ela o pega. A garota de vestido branco e cabelos negros se senta na ponta da minha cama velha. Sua mão cobre o meu joelho e meu coração acelera, mesmo que os remédios implorem para que ele fique calmo. Trago a saliva.
Clarice havia me dito que se candidataria ao posto de estagiaria no verão, me disse que estava eufórica para começar a trabalhar. Ela só não me disse que seu estágio era no hospital em que eu estava, muito menos que seria como enfermeira. Sua mão aperta meu joelho com mais força, e eu suspiro, dando de ombros. — Precisava me afastar do mundo. — respondo, sem muita vontade ou humor. — Ele me deixou louco, ou eu o deixei. — ela ri. Sorrio. — O fato é que não estava feliz lá fora, então precisei me trancar para ficar bem.
— Entendo. — a garota cuja vida estava interligada a minha desde antes de dividirmos algo sorri, e mais uma vez sinto meu coração acelerar. Ela se levanta, e eu a sigo com os olhos, sem deixar de querer pedir para que fique um pouco mais. Clarice para. — Jay... ?
— Sim? — ergo as sobrancelhas Ela me encara, e diferente das outras vezes, ela não está sorrindo, apensar de seus olhos estarem felizes. — Você não precisa dizer se não quiser.
— Eu quero. — ela sussurra, se inclinando para pegar a última peça de roupa do chão. Quando seus lábios se abrem, o meu coração se aperta, ele se aperta exatamente como um coração apaixonado quando sabe que irá ouvir a única coisa que pode fazê-lo feliz. — Obrigada pela noite de ontem — a garota de cabelos escuros sorri. — Foi o melhor jantar da minha vida.
Assinto, e sorrio para as palpitações contra minha caixa torácica.
— Foi o melhor jantar da minha vida também, Clarice.

Emily ParkerOnde histórias criam vida. Descubra agora