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- Não acredito que o seu pai cometeu o mesmo erro - Carter indaga alisando minha bochecha. - Sua mãe deve estar muito mal nesse momento. Não consigo imaginar pelo o que vocês estão passando, Emily. - ele sussurra contra a linha do meu pescoço. - Sinto muito.
- Não sinta - suspiro, esfregando as pontas dos dedos sobre as pintas de seu ombro. Mamãe havia me deixado passar um tempo com Carter e sua família, e estar com ele deitado sobre metade do meu corpo era a única solução para as lágrimas presas no meu peito. Meu pai estava traindo a minha mãe mais uma vez. Ele havia olhado em seus olhos quando ela o deixou voltar para casa, e havia prometido que nunca mais faria aquilo, mas fez. E dessa vez nada do que Joan dissesse seria suficiente para fazer com que nossa mãe o perdoasse. Não existia uma terceira chance para eles. - Acho que nós já estávamos esperando, então não sinta.
- De qualquer modo, esperando ou não, sinto por sua mãe. Ela implica comigo, mas não merecia isso outra vez. Não depois de tê-lo aceitado de volta. - ele diz erguendo o rosto para me fitar. Assinto, apertando os lábios. No momento em que bati na porta de Carter, depois de jogar um porta-retratos no meu pai e correr até a garagem para pegar minha bicicleta, não pensei que contaria a ele o que estava acontecendo, ou o que havia acontecido, mas então ele sorriu e eu me derramei em lágrimas. Carter Grayson me aninhou em seus braços e me disse que tudo ficaria bem, que dessa vez ele estava ao meu lado para fazer a dor passar. E ela passou. Ela passou com seus sorrisos, com sua atenção, com seu silêncio, com sua paciência e com seu apoio. De algum modo, enquanto Carter ria de suas piadas bobas, eu deixei a magoa se dissolver e virar compreensão. E foi graças aquela compreensão que voltei para casa, que me sentei e ouvi a minha mãe nós dizer que entraria com o pedido de divórcio, e que nós iriamos ficar com ele. Naquele momento a dor não veio, na verdade nada veio. Nem mesmo Lizzie e seus comentários de locutor de rádio amador atrapalharam o momento, dei graças a Deus por isso.
Liguei para o meu pai após tê-lo ignorado por 48h. Éramos os melhores amigos do mundo, e ele chorou do outro lado da linha enquanto me pedia perdão. Eles se falaram aquela noite, e naquela mesma noite minha mãe tirou suas coisas de casa e foi morar em um hotel. O pai de vocês deve ficar com a casa, ele precisa mais do que eu. Irei ficar bem. Ela nós disse com um sorriso falso, e Lizzie zombou de sua péssima atuação. Fui até a casa dos Lancaster, bati na porta... E sai correndo. Sai correndo a tempo de ser vista pelo professor de Ed. Física, mas ele não me disse nada na manhã seguinte. Ele apenas abaixou a cabeça e escondeu seus olhos vergonhosos pelo o que a esposa havia feito com o meu pai. - Vai ficar tudo bem, Emily.
- E se não ficar? - a pergunta escapa antes que possa realmente pensar nela. Carter se move no pequeno banco me fazendo escapar de seu aperto, e seus lábios se fecham contra os meus enquanto seus olhos me analisam. Afasto nossos rostos. - Esse é o fim para eles, certo? Eles realmente terminaram toda a sua história de amor. Já era, acabou para eles.
- Bem, eu não sei te dizer. - o garoto me diz com um sorrisinho cauteloso nos lábios. Assinto, mas gostaria de ouvir sua resposta, pois sei que Carter tem bons argumentos sobre relacionamentos. Ele tem sua cota para conseguir me dar uma boa ideia do que vai realmente acontecer. Mordo as bochechas. - Dê tempo ao tempo, Ems. - ele suspira. - Eles precisam pensar em suas vidas, precisam colocar as coisas nos lugares - Carter indaga alisando meus lábios contra o polegar. - Talvez o tempo seja a solução para os problemas.
- Mas e se o tempo não resolver? - choramingo. - Eu não entendo - soluço. - Ele a ama.
- Ás vezes amor não é suficiente para algumas pessoas. - Carter Grayson sussurra apertando o meu corpo contra o seu. - Não sei sobre o relacionamento dos seus pais, Sem, mas sei que não é apenas o amor que junta uma família, é uma soma de sentimentos, sacrifícios e coisas que equivalem ao que faz um casal ser um casal. Eles precisam encontrar a soma dessas coisas, e então talvez possam ficar juntos de novo. - ele me diz com um tom morno, quase como se estivesse cuidando de suas palavras para não errá-las. Escondo o rosto em seu pescoço.
- Sinto como se a culpa fosse minha - sussurro contra sua pele quente. - Fui eu que escolhi vir morar em Chicago. Eu deixei Joan convencer a nossa mãe a voltar para ele.
- Não, a culpa não é sua. - suas mãos se esfregam nas minhas costas espalhando um calor confortável sobre minha pele. Fecho os olhos. - Não é você quem dita o que acontece na vida dos outros, e nem mesmo a escolha do local pode influenciar em suas escolhas. O único que tem culpa é o seu pai, foi ele quem pisou na bola, de novo.
Quero lhe dizer o que havia escutado seu pai falar na noite passada, sobre maridos infiéis sempre repetirem o ato custe o que custar, mas a ideia de que nossas ações não influenciam as escolhas de outras pessoas martela em minha mente por tempo suficiente para que o outro pensamento se dissipe. Não sei se concordo com ele, ás vezes acho que as nossas escolhas empurram as pessoas a fazerem as delas, e talvez à escolha de vir morar em Chicago possa sim ter influenciado para a traição do meu pai.
NA VERDADE NÃO SEI O QUE PENSAR, MINHA CABEÇA ESTÁ CHEIA E SÓ QUERO TER ALGUÉM PARA CULPAR. QUALQUER PENSAMENTO É MAIS INTERESSANTE DO QUE ME LEMBRAR DA EXPRESSÃO TRISTE NO ROSTO DA MINHA MÃE, Lizzie me empurra para a beira do precipício de verdades escondidas.
O sinal para o terceiro tempo toca fazendo com que minha mente corra de volta a realidade.
Carter me ajuda a sair do banco, e me leva até a minha aula de francês antes de ir para seu treino de futebol. Assim que adentro a sala vejo os cartazes de campanha: Alison Prescott para rainha.
Enrugo o cenho, e arremesso minha bolsa sobre a carteira. Eu havia esquecido completamente do baile e da minha campanha. Desde que as confusões começaram, de descobrir que Jay não era meu amigo até a traição do meu pai, não venho tendo tempo para me organizar na disputa de rainha. As semanas estavam passando, as candidatas estavam começando a extrapolar em suas promessas para ganhar votos e eu estava sendo pisoteada pelos números. Em outras palavras, eu estava perdendo graças a minha distração, e Alison Prescott estava ganhando sem esforço.
A aula de francês passou por meus olhos como um borrão, e Carter se viu obrigado a cobrir as minhas costas quando acabei dormir nas duas aulas seguintes. Não sei por quantas horas eu havia dormido, e se não fosse pelo meu celular não teria acordado. A mochila de Carter estava jogada ao lado da minha, mas sua carteira estava vazia como se ele nunca houvesse estado ali.
A sensação de vibração no meu bolso faz toda a minha perna formigar. Enfio a mão para pegar o aparelho, e esfrego os olhos antes de tentar ler as letras pequenas no chat de mensagens.

Emily ParkerWhere stories live. Discover now