E P I L O G O

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Nove anos depois.

        A NEVE HAVIA DERRETIDO, as flores estavam nascendo outra vez como sinal de que a primavera estava cegando, e os pássaros voltaram a cantar seus canções animadas ao nascer do sol. Ficar descalço estava começando a ser agradável, e as roupas estavam voltando a serem leves e macias no corpo, deixando e lado os casacos grandes e chatos de frio.
Um dia pedi que alguém fosse me visitar quando a neve derretesse e as flores começassem a nascer, e ela me pediu o mesmo, algumas horas antes de deixar a minha casa. E agora, com a neve derretendo e as flores nascendo, percebo que tal promessa soa como algo dito a horas, e não a anos. Parece como uma promessa feita embaixo das cobertas por duas crianças.
O cheio de pinho cortado enche os meus pulmões, e cada célula do meu corpo acorda para aquela lembrança que me acalmava a alma. Aquele cheiro me lembrava de vidas passadas, de amores descobertos no andar de cima, de uma garota de jardineira desbotada e de seus sonhos juvenis. Me faz lembrar da coisa mais importante de todas, da minha casa. Do meu lar.
— Ela chegou! — a garotinha grita correndo em direção aos fundos da casa. O murmúrio de vozes caminha até os meus ouvidos me fazendo sorrir. Jéssica Reed é a primeira a surgir.
— Emily! — ela grita, abrindo os braços. Nossos corpos se chocam graças ao seu aperto, e o meu riso prende na garganta. Jéssica, a típica e nova-iorquina Jéssica. AH, COMO SENTI FALTA DELA, Lizzie sorri, apertando seus braços ao redor da mulher. Ela parece exatamente como me lembro, com seus dentes perfeitos e sua mania de apertar. — Seja bem vinda de volta ao lar, querida. É bom saber que cumpre as suas promessas.
— Eu te disse que voltaria. — sorrio, afastando nossos corpos. Jéssica tem aquele seu olhar morno que aquece os dias mais frios. — Só precisei esperar que a neve derretesse.
Ela realmente se parece exatamente como me lembro. Seus cabelos ainda tem aquele cheiro gostoso de rosas vermelhas que tinham no colegial, seus olhos continuam contaminando o mundo com alegria e seu sorriso é o mesmo sorriso que me acalentou diversas vezes. Era a mesma garota que havia me surpreendido no refeitório, a mesma que quis ser minha amiga.
Ela me puxa pelo corredor, guiando-me pelas pessoas como se eu fosse uma alegoria muito esperada pelo público, e apenas sorrio e rolo os olhos para algumas pessoas.
Estávamos quase na cozinha quando ouvido FOI BOM VÊ-LA TAMBÉM, JÉSSICA ecoando da entrada da casa. A loira abre seu melhor sorriso, e mostra seu dedo do meio. Rio.
Jéssica Reed havia encontrado o amor aos vinte e dois anos, nos braços de um homem chamado Anthony, com quem havia tido uma linda filha chamada Melanie. 
Ela estava me apresentando a algumas crianças quando senti a respiração próxima ao pescoço.
— E a minha estrelinha regressa ao seu conjunto de constelações. — o meu papai sussurra em meu ouvido. Viro-me com os olhos arregalados, pois não esperava vê-lo.
Não consigo formar uma frase, não consigo deixar as lágrimas presas nos meus olhos e agradeço pelo menino de cabelos castanhos ter se atirado entre a gente e ter levado meu pai ao chão, pois quero apertá-lo e choramingar em seu colo sobre o quanto foi duro estar longe dele e da mamãe, mas sei que sou grande demais para agir como uma completa criança chorona.
E além do choro, tenho que conter a vontade de me juntar a bagunça no chão, pois apesar de saber que não tenho mais idade, sinto falta de ser a garotinha do papai, a que se joga no piso sujo e se embola em cócegas. Alguém me agarra pelo cotovelo.
— Mamãe... — sussurro, envolvendo-a em um abraço frouxo, e quando ela me larga sou impelida a agarrar o garotinho em seus braços. — Veja se não é o garoto mais lindo de todo o mundo! — digo, espalhando beijos por todo seu rosto. — Como ele está grande.
Minha mãe me encara com seus olhos azuis velhos, os mesmo olhos me que encararam por horas quando foram me visitar na minha nova casa, olhos esses que choraram por não poderem me levar de volta para casa. Olhos cheios de saudades e mais saudades.
— Joana o alimenta com cimento. — mamãe ri, alisando os meus cabelos.
Joana também havia encontrado o amor, e assim havia finalmente formado uma família. Ela finalmente havia encontrado a vida que merecia. — Vocês chegaram tarde. Por quê?
— Bem, você sabe como é o seu genro — rolo os olhos. Mamãe grita para que meu pai pegue Marv, o meu sobrinho gigante de dois anos, pois precisa me levar para ver o resto do pessoal.
Escuto a risada alta de Jéssica e depois a voz inesquecível de Clarice Grayson. Eu as abraço com força, e em seguida Patric aparece com seu sorriso sorrateiro de garoto solitário.
Ele ainda está solteiro. O Patric Hayes da atualidade acha que a vida se resume aos seus alunos, e acho que ele está feliz assim. Acho que ele está completo por enquanto.
— E Alice? — pergunto, trocando o copo de refrigerante por uma taça de vinho.
— Alice está no México a trabalho, agora ela é consultora de moda. — Jéssica diz com um tom de deboche. — Uma daquelas que quase nunca está disponível para os amigos de tão boa que é.
— Alice está no México? — junto às sobrancelhas. — Achei que ela havia no Japão com o-
A voz alta me faz erguer perder a linha do raciocínio, e eu me viro a tempo de ser o primeiro rosto em sua frente. Aqueles belos e grandes olhos castanhos me encaram como se nunca houvessem me visto antes, e meus pelos se arrepiam por isso. Mordo as bochechas.
Não sei o que acontece, sempre que nós vemos agimos como dois adolescentes, mas vou até ele, e seus braços me tiram do chão em um rodopio divertido. Era assim que nós encontrávamos, foi assim quando acabamos indo parar no mesmo hotel enquanto estávamos de férias na Franca, ele me tirou do chão e me fez lembrar de como havíamos sido felizes antes de tudo dar errado.
Antes dele se tornar uma tempestade, e eu uma casa abeira mar. Meus pés tocam o chão.
— É bom vê-la novamente Ems. Eu senti a sua falta.
— Todos nós sentimos. — a voz suave de Joana faz com que meu estômago vibre.
— É bom vê-lo Jay. — digo, encostando minha testa na sua. Joan, que está parada ao seu lado, rola os olhos. Sorrio. — Ignore-a, ela está com inveja da sua nova mente controlada.
Nós rimos. Quando éramos mais novos, Jay foi diagnosticado com transtorno bipolar. Ele caiu em um abismo onde nossa amizade foi soterrada por muitos e muitos anos. Agora ele está bem. Ele ainda vai ao médico e ainda toma seus remédios, mas estava bem. Também havia encontrado o amor, e ainda brincamos sobre Clarice, sua futura esposa, não ser normal por ter se deixado apaixonar por uma mente tão estranha, mas por sorte, por muita sorte, agora suas loucuras foram substituídos por tardes trabalhando no quarto de seu futuro filho.
Braços finos atravessam minhas pernas me fazendo olhar para baixo.
— Ah meu Deus! — Joan sussurra, encarando a garotinha. — Astor?
Sorrio, e pego a garotinha nos braços quando seus olhos castanhos choramingam para mim.
— Pessoal... — sussurro, fazendo cócegas nela. — Essa é Astor, minha filha.
— Como ela cresceu. — Clarice sorri pegando sua mão pequenina e suja. — Oi Astor, eu sou sua tia Clarice. — a mulher indaga, alisando as bochechas sujas da minha filha. — Você se lembra de mim? Eu fui visita-la no hospital, você era muito pequena.
— Você foi me visitar? — Astor franze as sobrancelhas. — Quando eu era bebê?
— Fui. Todos nós fomos. — Clarice diz apontando para o pequeno grupo.
— Então vocês me viram pequena como um ratinho — ela diz, colocando a cabeça em meu ombro, e nós rimos. — E isso é engraçado. Não é, mamãe? Eles me viram nanica.
— É muito engraçado, Astor. — a voz rouca chama nossas atenções. — É engraçado que eles tenham te visto tão pequenina como um ratinho — ele ri. —, que tenham visto vocês dois.
Sua mão quente é a primeira a me encontrar, e seu toque causa a mesma sensação que vem me causando por anos, me causa arrepios na espinha. Sorrio, sentindo seu toque em mim.
Nós nos esbarramos quando fui a Londres. Eu estava visitando um museu, a chuva havia começado a cair com força e de repente ele entrou por aquela grande porta pesada, o corpo tão encharcado pela chuva que me fazia pensar em alguma cena escondida na minha lembrança.
A princípio seus olhos não me notaram, e eu o vi se atrapalhar nos pés até estar completamente de frente a mim, até estar me vendo pela primeira vez. Até finalmente se apaixonar por mim.
Quando seus olhos castanhos encontraram os meus soube que o mundo estava o dado para mim. Soube que as nossas vidas estavam conspirando para que ficássemos juntos, de novo.
— Você e o seu irmão. Eles foram visitar vocês dois, ratinha. — ele ri, sacudindo Preston em braços. Rolo os olhos, e o empurro, pois odeio quando ele a chama de ratinha.
Eu estava certa. Os caminhos que escolhemos nos levam por diversas portas, e algumas delas nos lançam no mesmo espaço que já havíamos pertencido antes, e ás vezes algumas pessoas são lançadas até você em algum momento da vida. Ele havia sido lançado para o meu espaço em um museu, em um dia alegre de chuva e eu estava feliz. Estava feliz porque nossas vidas soavam sobre a mesma canção, e porque havíamos enraizado o nosso amor em nossos peitos.
— Vamos fazer um brinde — Joana sorri erguendo sua taça. Astor se aninha no meu pescoço enquanto Preston alisa sua franja caída sobre minhas costas. — Aos amigos e a família, que fiquemos juntos para todo o sempre. — minha irmã me encara. Ela parece feliz. Todos nós parecemos. — E a Emily e Carter Grayson, pela linda história de amor que nós inspirou.
— Saúde! — gritamos, erguendo as taças.
Encosto a cabeça em seu ombro, e cada um naquele pequeno grupo cai na risada.
Nós rimos por estarmos rodeados pelo passado, pelo presente, pelo futuro. Rimos por estarmos felizes com as vidas que encontramos ao longo dos anos, das pessoas que nos tocaram ao longo de nossas vidas. Rimos por estarmos juntos, da mesma maneira em que estávamos antes.
A vida havia sido boa conosco, e havia nós permitido seguir em frente agarrando as nossas oportunidades. A minha se deu no momento em que ele entrou na classe do Sr. Marvor, e gostaria e voltar aquele momento todos os dias, pois foi quando nós apaixonamos.
Carter ergue Preston sobre a cabeça e o chacoalha no ar, e o garoto ri como se o mundo estivesse rodando em cores. Preston é o meu garotinhos beijado por anjos, ele tem constelações sobre as bochechas. Constelações que me fazem pensar em um adolescente brilhante da minha juventude, um que fez meu coração parar e me deu algo para sobreviver por mais tempo, por tempo suficiente para perceber que conseguia viver naquele mundo tão frágil. E Astor se parece exatamente com a garota que amou incondicionalmente o garoto beijado por anjos. Eles se parecem com aquele algo que estive procurando a tantos e tantos anos atrás. Se parecem exatamente iguais aos sonhos que não havia tido quando jovem. Eram meu próximo capitulo.
Sorrio, agarrando a garota com força, e rodando-a em meus braços, fazendo-a rir como se o mundo lhe pertencesse, como se ela soubesse que nada poderia machuca-la enquanto sorrisse.
Carter nós segura quando paramos de rodar, e Preston se agarra as nossas pernas, também aos risos. Seus olhos castanhos emanam o mesmo sentimento que qualquer outro garoto de quatro anos teria ao estar no meio das pessoas que fazia feliz, eles emanavam amor.
Então, com seus sorrisos e olhos amáveis, sei que estava certa ao perdoar a vida e todos que havia encontrado nela. Eu havia feito o certo ao escolher seguir em frente, pois nada na Terra poderia ser mais necessário do que eu, porque havia colocado duas vidas brilhantes no mundo.
Astor e Preston eram o nosso E VIVERAM FELIZES PARA SEMPRE... 

F I M.

Emily ParkerWhere stories live. Discover now