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      Três meses. Esse é o tempo exato que alguém fica de castigo quando sua irmã do mal inventa um monte de mentiras a seu respeito para seus pais. Carter Grayson havia berrado para que Alison se desculpasse por causa do meu pulso, e ainda fez a linha ignorante sobre o porquê dele teria feito aquilo. Ela se desculpou, mas fez Joan me dedurar. Papai quase me enviou para um colégio interno. Senão fosse por Joan, que deu uma de irmã acolhedora, eu estaria trancada em um quarto rezando a Ave Maria de trás para frente. Os pais normais colocam os filhos de castigo. Vocês não deveriam a trancar em um lugar úmido e frio, ela vai desmontar como uma cômoda. Foram suas exatas palavras. Ela não estava preocupada com os meus ossos naquele lugar úmido, estava preocupada em ter de ficar sem sua espiã e brinquedo de tortura, mas agradeço do fundo do meu coração por sua intervenção. Com a minha salvação vieram às regras: eu não podia falar com Carter, não podia sentar com ele, não podia olhar para ele e não podia respirar o mesmo ar que ele. Ou seja, eu não posso viver mesmo que queira. Infelizmente essas regras vieram na pior hora possível, pois Jay estava fazendo trabalhos com Amélia-sei-lá-de-que e eu estava sozinha por todas as manhãs durante algum tempo. Grudo a cabeça no vidro gelado da janela ao meu lado e tento não pensar em como meu ano estava sendo ruim. Gammy — que é nada mais nada menos do que a minha vó — costumava dizer que a vida sempre melhorava depois de muitos tombos. Você se levanta, olha para trás e percebe que já não sofre mais. Antigamente acreditava que ela estava falando sobre se tornar adulto, hoje acho que ela estava falando sobre a morte. A morte sempre melhora as coisas, de um modo mórbido, mas melhora. Com a morte você não precisa mais se importar com irmãs megeras e notas ruins. Com a morte nenhuma traição te causa pesadelos e seus cabelos cor de vômito não são nada importantes. Com a morte você pode encontrar a paz, a liberdade que sempre buscou em vida.
— Srta. Parker? — o professor praticamente grita o meu nome. Desgrudo a cabeça do vidro, os olhos arregalados em confusão. — Não ouviu a minha pergunta?
— Er... Ahn... Sinto muito senhor — gaguejo. — Eu estava distraída.
— Distraída? — a voz do Sr. Johnson é preocupada. — Ok — o homem atravessa os olhos por toda a sala. — Alguém sabe responder? — ele questiona sem muito entusiasmo, mas a resposta vem como uma tapa. Carter Grayson abana sua caneta no ar e recita o trecho pedido de um poema de William Shakespeare. Junto às sobrancelhas. Desde quando ele conhecia poemas? Não que eu sabia muito sobre ele, mas Carter repetiu o ano... Jesus, estou julgando alguém por ter reprovado de ano?! SE OLHE NO ESPELHO EMILY, VOCÊ NÃO É MELHOR DO QUE ELE, SABIA? Lizzie, meu subconsciente inteligente, me chuta a bunda.
— Eu sei — sussurro de volta para ela. O garoto da mesa ao lado me fita com seus grandes olhos castanhos. — Estou falando sozinha. — sussurro minha ridícula e desnecessária, explicação. Ele assente em falsa compreensão e cutuca a garota ao lado. O sinal toca antes que a garota ao seu lado possa se juntar á gozação. Agarro minha mochila e disparo para fora da sala. Não quero ter uma conversa com o professor sobre a minha “distração”. Não é legal compartilhar coisas como A MINHA IRMÃ É UMA VADIA E SE PASSOU POR MIM PARA ROUBAR O NOSSO PAI com professor. Estou tão concentrada em chegar até a secretaria, pois pretendo mudar todas as minhas aulas, que não percebo a garota entrando em meu caminho. Seus livros se estendem sobre o piso escuro do corredor, as pessoas riem por causa disso e ela se agacha para catá-los. Me junto à tarefa, até porque a culpa é minha.
— Eu sinto muito — repito mais uma vez. — Estou terrivelmente distraída, não estava prestando atenção no caminho. — explico enquanto recolho algumas folhas do chão, e ela não diz nada. — Não foi de propósito. Juro que não foi de propósito.
— Está tudo bem — ela meio que ri enquanto fala. Ergo os olhos.
— Você é a garota do acidente — deixo escapar. Seu sorriso sem graça me faz tragar a saliva e apertar os lábios. Eu e minha mania de falar sem pensar. Mordo os lábios. — Desculpe.
— Tudo bem — a menina de cabelos escuros e olhos azuis, sorri para mim. — Não é como se ninguém soubesse, certo? Fui à página principal por uma semana.
— Sim — sorrio sem graça. Nós ficamos de pé. — Sinto muito pelos seus livros.
— Está tudo bem — a menina diz dando de ombros. Sua mão se estende tão rápido quanto o nosso esbarro. Ergo as sobrancelhas. — Sou Clarice Campbell.
— Emily Parker — indago em um tom desconhecido, quase orgulhoso por alguém estar se apresentando a mim por pura e espontânea vontade. — Seja bem vinda ao St. Augustus.
— Então Emily — Clarice indaga enfiando os livros na mochila surrada. Espero que ela siga com sua frase, e ela o faz me deixando enjoada: — Você é uma das garotas populares ou...?
Torço o nariz. Talvez ela tenha problema de visão, ou esteja tentando ser legal. Penso com um sorrisinho sem graça nos lábios. Meus olhos azuis percorrem cada centímetro do corpo de Clarice Campbell. Cabelos pretos com grandes cachos nas pontas, nariz pequeno, olhos azuis, lábios em formato de coração e bochechas acentuadas. Ela é perfeita. Meu estômago se soca quando eu passo os olhos pelos meus sapatos surrados e calça caqui. Ela definitivamente está tentando ser legal. Ajeito os óculos no rosto, e dou de ombros.
— Sou normal — murmuro sem tirar os olhos de sua blusa preta rasgada. Clarice ri de um jeito que parece iluminar todo o correr, e isso me faz sorrir para ela. A garota continuou a falar coisas do tipo “acho que você é popular” “você deveria ser líder de torcida com essas pernas longas”. Na maior parte do tempo ela me deixa constrangida com seus comentários estranhos, mas acabo fingindo não me importar. Quando o sinal para o intervalo toca Clarice surge na porta da minha classe de biologia me convidando para almoçar com ela. Ninguém nunca havia me convidado para almoçar. Além de Jay, é claro. Estou no Augustus há um ano, mas nunca almocei no refeitório. Quando entramos, ambas com suas bandejas cheias de comida, todos param o que estão fazendo para nos olhar. Arregalo os olhos. Eu não deveria ter aceitado o convite, não deveria. Gemo mentalmente. Antes mesmo que possamos sentar em uma mesa sou parada pela presença alta e magra de Alison Prescott... E Joan. Estou ferrada. Mordo as bochechas.
— Eu posso saber o que é isso? — Joan perguntou colocando as mãos nos quadris finos. Ela volta seus olhos carregados de maquiagem para mim. — Porque você está aqui?
— Er... Ela é nova — indago baixinho.
— O que ela quis dizer — Clarice sorri para minha irmã e sua trupe. — É que viemos almoçar como todos os outros alunos — a garota continua montada em seu sorriso. Abano a cabeça para que ela pare, mas ela não para. GAROTA LOUCA, Lizzie grita. — Não é meio óbvio?
— Eu falei com ela. E não com você sua... Ewc! — Joan indaga enjoada, e arrebita os lábios. Clarice soltou uma risada tão alta que até eu preciso dar um passo para trás. Alison arregala seus olhos para minha irmã como quem diz FAÇA ALGO ANTES QUE ELA TE DESBANQUE, e Joan faz. Ela cutuca o ombro de Clarice com força. — Qual a graça sua ewc?
— Você — Clarice responde em um único suspiro. Os olhos azuis da minha irmã se estreitam para ela. Alison sussurra “ah eu não aceitaria isso se fosse comigo”, e minha irmã volta ao modo vadia controlada que só ela consegue dominar bem. Aperto os dedos na bandeja.
— Você me acha engraçada? — minha irmã enrijeceu a coluna. — E por quê? — Joan desafia com seu tom rude e frio. — Porque me acha tão engraçada assim, senhorita ewc?
— É que você me lembra uma pessoa — Clarice explica aos risos.
— Quem? — Joan trinca os dentes.
— Uma vadia do meu antigo colégio — a morena solta fazendo com que todos caem na risada. ROUND 1: CLARICE CAMBPELL, A-NOVATA-QUE-BATEU-O-CARRO-NO-LABORATÓRIO-NO-PRIMEIRO-DIA-DE-AULA, 01 – JOAN PARKER, A-VADIA-QUE-TEM-O-MESMO-DNA-QUE-O-MEU, 00. Lizzie, minha maravilhosa e manipulada consciência, corre abanando uma plaquinha de MMA. Quero rir, mas me limito a sorri sem mover os lábios. — Mas sabe como é — a morena dá de ombros — No final das contas todas as vadias são exatamente iguais — a garota solta e todos caem em uma onda de “uuuh”. ROUND 2: CLARICE CAMPBELL 01 vs JOAN PARKER 00. — Não leve isso como um elogio.
— Eu não levei — Joan sorri mais amigável do que o normal. Alice, que até então estava quieta demais, atravessa o pequeno espaço entre duas garotas e coloca um copo de suco nas mãos bronzeadas da minha irmã. Ela leva o copo em direção ao topo da cabeça de Clarice... E derrama todo o suco nela. ROUND 3... JOAN NÃO SABE BRINCAR. — Ops...
Filha da... — Clarice tenta, mas o supervisor aparece fazendo com que todos voltem para seus lugares. Envolvo os dedos ao redor de seu pulso e a puxo em direção à saída do refeitório. Ela rosna nomes horrendos enquanto caminhamos até o banheiro. — E aquele homem não é pago para reportar esse tipo de coisa? — Clarice bufa. — Ela jogou suco em mim! — a garota continua a reclamar. — Ele deveria tê-la levado para o diretor.
— Aquela garota é Joan — indago com vergonhas. As bochechas avermelhadas de Clarice apontam o nível de raiva que ela estava sentindo, e posso garantir que esse é só o começo da dose de ódio. Suspiro. — Não deveria ter mexido com ela, Clarice — explico para sua expressão passada, como se ninguém nunca houvesse lhe contado sobre as regras sobre: populares vs pessoas normais. Ela se olha no espelho. Sua maquiagem estava toda borrada graças ao suco escorrendo por seu rosto. — Você acabou de cometer suicídio social, Clarice Campbell — indago fitando os meus pés sujos de suco. — Bem vinda ao barco.

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Aloha team Carter, aloha team Jay, como vocês estão? Quero pedir desculpas pela demora, eu tive uma maldita intoxicação alimentar e por isso atrasei dez dias de postagem, mas aqui estaaaaá! Espero que gostem. Ah, eu resolvi não voltar com as tags, os leitores que estavam habituados podem continuar usando elas, os que não ignorem kakak. Tenham uma boa leitura!

Emily ParkerOnde histórias criam vida. Descubra agora