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         PUTA QUE PARIU, Lizzie grita por mim. Os lábios de Carter Grayson ainda se moviam em uma explicação assustadora de como as pessoas faziam bebês. Enquanto ele falava e andava de um lado para o outro, meu estômago se revirava com as imagens que Lizzie, a parte inteligente do meu cérebro afetado, reproduzia imagens de Carter se encaixando no cenário que estava descrevendo. PUTA QUE PARIU, Lizzie repete por mim mais uma vez.
Ás vezes me sinto idiota por ter dado um nome ao meu subconsciente, mas nesses momentos, quando não posso sair por ai gritando PUTA QUE PARIU, PUTA QUE PARIU VOCÊ VAI SER PAI, dou graças a Deus por ter uma mini versão de mim se arrastando desesperada de um lado para o outro na minha imaginação. Pisco ao ouvir meu nome. Os olhos castanhos de Carter estão apreensivos quando finalmente volto à realidade.
— Você vai ser pai — indago com um sorriso falso. — Meus parabéns.
— Meus parabéns?! — Carter repete com o cenho enrugado. — É só isso que tem a me dizer? Congratulações por ter me tornado o único cara de dezoito anos na nossa turma que é pai?
Congratulações é uma palavra muito sofisticada para você, Carter — sorrio de lado, e encaro minhas unhas pintadas de rosa. Levo o indicador até os lábios e mordisco o esmalte. PUTA QUE PARIU, Lizzie repete boquiaberta. O QUE EU DEVO DIZER? “VOCÊ NÃO PODE SER PAI, ACABAMOS DE DORMIR JUNTOS”? ISSO NÃO É NADA COMPREENSIVO, Lizzie abana seu leque rosada com a palavra “VITORIOSA” escrita em neon. Ergo os olhos e quase me jogo para trás ao me deparar com o rosto de Carter a centímetros do meu. — Ah...
— Eu vou ser pai — o garoto repete com tenacidade. Assinto mais uma vez. — Qual o seu problema, Emily? — Carter questiona entre os dentes. Enrugo o cenho. — Eu dormi com outra garota, depois de ter dormido com você... E está me dando os parabéns por isso.
— Estou te dando os parabéns por...
— Não quero as suas “congratulações”, Emily — Carter me interrompe, e força os sinais de aspas com os dedos curvados no ar. Trago o lábio entre os dentes. O QUE ELE QUER QUE EU DIGA? Lizzie se joga no chão por mim. Esfrego os joelhos um no outro. — Você não se sente irritada por isso? — ele me pergunta cruzando os braços. — Por eu ter dormido com Alison um dia depois de ter dormido com você? — seus olhos castanhos me fitam. Arregalo os olhos. Solto o lábios, e com ele a respiração que estava prendendo. Os olhos castanhos de Carter se fixam em mim quando me levanto da cama e aponto para a porta. É ISSO, VÁ EMBORA.
— Vá embora — repito o que o meu subconsciente quer gritar desde o instante em que ele abriu sua maldita boca. Carter franze o nariz. — Por favor, Carter... Vá embora.
— Por quê?
— Por quê? — bufo. — Por que... — trago a saliva. EU NÃO SEI. EU NÃO SOU SUA NAMORADA, EU SOU SÓ UMA GAROTA QUE SONHA COM VOCÊ TODOS OS DIAS DESDE O DIA EM QUE JOAN DISSE QUE EU DEVERIA FICAR LONGE, Lizzie tagarela em minha cabeça e isso faz com que eu me sinta confusa. — Porque você dormiu com ela.
— E? — Carter me encara sério. Junto às sobrancelhas. — Porque você não estava brava até cinco minutos atrás e agora está me mandando ir embora?
— Eu não estou brava — minto. Minto para ele e para mim, pois não faço ideia do que estou sentindo nesse exato momento. NADA. EU NÃO ESTOU SENTIDO NADA. É COMO NO DIA DA CARTA... NADA ESTÁ FAZENDO SENTINDO, Lizzie sussurra vestindo sua camiseta de: grupo das estranhas precisa de psicólogo urgente. Abano meus pensamentos para longe. — Também não estou surpresa que você tenha dormido com ela — gaguejo. — Jay estava certo, você conseguiu o que queria e seguiu em frente. — suspiro. — Não tenho o direito de te julgar ou brigar com você — POR MAIS QUE EU QUEIRA GRITAR E ARRANCAR OS SEUS OLHOS, Lizzie alfineta me fazendo cogitar a ideia de arrancar aqueles belos olhos castanhos. Suspiro. — Só estou cansada Carter. Estou cansada disso — reclamo apontando para as minhas roupas molhadas. Bufo. — Estou cansada de fingir estar no controle quando na verdade estou desmoronando por dentro. Também estou cansada de acreditar que algumas pessoas são realmente boas, ou que conseguem mudar porque você... — abano as mãos de um lado para o outro. Meus olhos ardem. — Eu só estou cansada de ser burra.
— Porque você é burra?
— Porque eu acredito em tudo o que vejo! — grito. Carter ergue as sobrancelhas. — Eu acreditei que poderia mudar o modo como as pessoas me enxergam — digo entre os dentes, pois posso sentir as lágrimas se formando nos meus olhos. — Acreditei que você poderia ser meu amigo, que poderia ser sincero comigo e que talvez pudesse... — trinco os dentes. Ele abana a cabeça para que eu continue. Grasno, e caminho até a porta. — Por favor, me deixe em paz.
— Eu não vou embora, Emily Parker.
— Carter... — choramingo. Prendo minha respiração por um minuto, pois não sei exatamente o que fazer e muito menos sei o que pensar sobre Carter Grayson e Alison Prescott. Eles eram namorados. Ela é popular, linda, rica... Eu sou só Emily. Eu não sou perfeita. VOCÊ TEM OLHOS AZUIS E CABELO LOIRO, Lizzie relembra. Eu sou Emily Parker, a aka estranha que conseguiu um garoto piedoso para lhe pagar algumas mudanças. Não é como se as lentes de contato me tirassem a miopia. E o cabelo loiro não é nada comparado à quantidade de produtos que preciso usar para deixá-los “perfeitos”. Aperto os dedos sobre a maçaneta.
— Pare de pensar e me diga de uma vez por todas o que está bolando nessa sua maldita cabecinha de nerd! — Carter Grayson reclama abanando as mãos. Aperto os dedos com mais força sobre a madeira. Ele dá um passo para frente. — Diga para mim, Emily.
— Eu odeio tudo isso! — indago entre os dentes, e as primeiras lágrimas escorrem pelo meu rosto. — Meu Deus, como eu odeio ter que ir todos os dias para a aula como uma maldita versão da minha irmã enquanto só queria estar vestindo a minha jardineira velha. — berro soltando a porta. As pontas dos meus dedos doem. — Eu odeio lentes de contato, odeio esse maldito cabelo, odeio esse maldito esmalte, odeio usar salto alto e... — puxo a respiração com força. Carter sorri para mim. — E eu odeio você. Odeio que você tenha entrado na minha vida, odeio o fato de ter dormido com você e definitivamente odeio o fato de não saber o que devo sentir nesse exato momento porque vai ser pai! — grito entre os dentes. Meu coração dói a cada batida, pois sei exatamente o que me leva a não saber o que sentir ou fazer. Sei que não estou sentindo nada porque não consigo mais pensar, sei que não consigo pensar por medo de me afundar na ideia de que estou apaixonada pela única pessoa que não poderia retribuir o meu amor. Pisco os olhos afastando as lágrimas. Carter Grayson está parado em minha frente, os lábios franzidos, as sobrancelhas carrancudas e a testa enrugada em uma careta de dor. Eu odeio estar me apaixonando por você. Quero lhe dizer, mas não posso. Aperto os olhos. — Vá.
— Eu não vou sair daqui — Carter sussurra sem nenhum humor na voz.
— Ok — abano a cabeça e tento sorrir entre o gosto salgado do meu choro. — Então eu vou.
— Você vai? — Carter arregala os olhos para mim. Assinto e puxo meus tênis. — E para onde pensa que vai a essa hora? — ele questiona confuso. Dou de ombros. — Emily...
— Eu vou correr. — minto. — Não sei — dou de ombros. — Só preciso sair de perto de você.
— Você não vai — Carter reclama puxando o pé esquerdo do meu tênis. Enrugo o cenho para ele. — Não me olhe assim, eu não vou deixar você sair antes de conversarmos.
— Nós já conversamos — sussurro. — Você dormiu comigo e depois com ela — dou de ombros. — Eu já entendi. Não precisa me dar satisfações. Não sou sua namorada.
— Wow! — Carter reclama com os lábios escancarados. — Você não é a minha namorada, eu dormi com você e depois com Alison... Blá, blá, blá, blá e mais blá! — ele zomba abanando os dedos como se fosse uma boca. Trago meus lábios e os mordo. O QUE ESTÁ ACONTECENDO? Lizzie choraminga. Eu não sei Lizzie. Ele apenas está agindo como um completo idiota. Respondo, mesmo que seja a última coisa relevante a se fazer naquele exato momento. Carter arremessa meu sapato embaixo da cama, se ajoelha na minha frente e puxa meu pé direito. — Você não vai sair desse maldito quarto até conversamos — ele me diz entre os dentes, e puxa meu sapato me fazendo escorregar da poltrona. Minha bunda bate no chão fazendo um barulho alto. VOCÊ NÃO PODE ME OBRIGAR A NADA, Lizzie grita por mim, e eu empurro Carter com os pés. Ele me encara surpreso. — Emily Rose Parker!
— Você sabe o meu nome todo?! — indago com os olhos arregalados. Carter espalma a sujeira das pernas de sua calça jeans escura e me puxa pelos tornozelos quando tento me levantar.
— Qual o seu problema? — ele questiona bravo.
— Qual o meu problema? — enrugo o cenho. — Qual o seu problema?! — retruco tentando me soltar de suas mãos. — Você entra na minha casa, me diz que dormiu com outra pessoa e que agora vai ser pai — ofego com a minha triste, e inútil, tentativa de escapar de suas mãos fortes. Seus dedos se fecham em trono dos meus pulsos. — E agora está me prendendo no chão do meu próprio quarto, então... — trinco os dentes quando seus joelhos travam as minhas pernas no chão. Carter junta os meus pulsos e os segura com apenas uma mão. EU DEVERIA GRITAR PELA MAMÃE, ELA VAI APARECER COM UM CABO DE VASSOURA E VAI DÁ NA CARA DELE, Lizzie reclama de um lado para o outro. Os joelhos pesados de Carter fazem pressão sobre os meus e isso me faz gemer de dor. — Qual a porra do seu problema?! Eu vou gritar... — digo, mas sou interrompida pelo riso afetado de Carter Grayson. — Você é louco.
— E você está sujando a minha roupa nova — ele me diz sem fôlego. Arqueio as costas ao sentir seu queixo tocar meu pescoço, o que me causa cócegas. Carter ri cansado.
— Eu juro que vou gritar pela minha mãe, Carter — trinco os dentes. — Você deve ter usado alguma coisa. Jay sempre me disse que você era usuário de drogas.
— Usuário?! — Carter enruga o cenho. Assinto. — Eu nunca usei nenhum tipo de droga.
— Ah claro — sorrio sem humor. — Do mesmo jeito que nunca dormiu com Alison.
— Você está com ciúme?! — ele me questiona com uma pitada de humor em seu sotaque arrastado. Arregalo os olhos. Separo os lábios para protestar. — Por isso não me disse nada, porque está com ciúme. — Carter sorri apertando meus pulsos. Trago a saliva. — Você não me odeia — o garoto indaga antes de forçar os meus pulsos para cima, o que faz com que eu precise me esticar. QUAL O PROBLEMA DELE? Lizzie ronrona. Porque você está ronronando? Você está gostando disso? Me questiono, perplexa. Oh meu deus, estou passando tanto tempo com Carter que estou ficando louca da cabeça. SEMPRE FOI LOUCA DA CABEÇA, POR ISSO APELIDOU O SEU CÉREBRO DE LIZZIE, a Lizzie sorri sarcástica. — Você me ama.
— Não, eu não amo! — grito.
— Sim, você me ama — Carter brinca empurrando meus pulsos para o lado. Sinto meu coração parar de bater. UMA HORA ESTAMOS FALANDO SOBRE BEBÊS, OUTRA SOBRE COMO ELE FEZ SEXO, OUTRA SOBRE O QUE ODEIO E AGORA SOBRE QUEM AMA QUEM... QUAL O NOSSO MALDITO PROBLEMA? Lizzie se abana com calor. Respiro ofegante ao sentir o peso do corpo dele cair sobre o meu. — Eu estava Nova York...
— Eu não quero saber como você fez amor com a sua ex-namorada — o interrompo.
— Eu não fiz amor com ela! — Carter estala, indignado. Rolo os olhos. — Jamais repita amor e Alison na mesma frase, está bem? — ele reclama, e eu não respondo. Carter suspira aparentemente cansado. — Fui para Nova York um dia antes do time porque Barbara precisava de mim — seu hálito quente se esfrega contra minha bochecha. Miro o pé da minha cama. Se mamãe entrasse em meu quarto agora iria me encontrar esmagada embaixo de um garoto que ela supostamente deveria odiar. De um garoto que eu supostamente amo. — Acontece que Alison também estava em Nova York, para a semana de moda ou alguma coisa estúpida do mundo das mulheres sem cérebros. Não que mulheres que gostão de moda sejam sem cérebros, é só que... — Carter suspira. — Você entendeu. — finjo não ouvi-lo. A mão livre de Carter se esfrega contra o meu queixo e puxa o meu rosto para ele, para que eu possa olhar em seus olhos castanhos cansados. Ele deve ter voado direto de Nova York para minha casa. Posso sentir o cheiro de... PARE DE SE DEIXAR SEDUZIR POR ELE, VOCÊ ESTÁ COM RAIVA, COM MUITA RAIVA, Lizzie me lembra e eu endureço o cenho. — Alison e Barbara são amigas, elas estavam juntas quando cheguei ao apartamento. Ela havia me comprado um presente, uma garrafa de vinho para recompensar as nossas brigas. Eu tomei algumas taças e fui para cama.
— Você não precisa me dar explicações, Carter — suspiro fechando os olhos.
— Mas eu quero dar — Carter sussurra, e posso sentir sua respiração cada vez mais perto de mim. Ele encosta a testa contra o meu pescoço sem eu ao menos perceber. — Fui para cama me sentindo mal, e... E no meio da noite ela estava no meu quarto. Nós dormimos juntos.
— Carter... — chamo seu nome ainda de olhos fechados. Puxo os pulsos no seu aperto, e aos poucos seus dedos se afrouxam. Quando minhas mãos estão totalmente soltar trato de afastá-lo de mim. Carter Grayson se senta sobre os joelhos e encara o chão. — Por quê?
— O que? 
— Porque depois de tudo, de ter me dado tudo isso e de ter dormido comigo, você está me contanto essa merda toda? — questiono encarando o teto. — Porque me humilhar mais?
— Não estou aqui para te humilhar, Emily — Carter sussurra com os olhos ainda fixos no meu carpete. Mordo os lábios. — Estou aqui para me humilhar. — ele indaga me fazendo erguer o rosto e encontrar seus olhos castanhos. — Estou aqui porque preciso pedir desculpas.
— Pedir desculpas? — questiono confusa. — Pelo?
— Por não ter ficado com você — Carter suspira dando de ombros. — Por ter ignorado as suas ligações, por ter dormido com Alison... — seus olhos castanhos perfeitos de filhote me encaram com vergonha. Meu estômago dói, pois sei que no fundo Carter Grayson está sendo sincero. Porque sei que Jay Jensen não tem razão sobre ele. Ele não é aquela pessoa má que Lizzie quer enxergar, ou que Jay insiste em tentar me fazer acreditar. Ele é só mais um dos milhares de adolescentes que estão tentando definir quem realmente querem ser no futuro. É apenas outro garoto de dezoito anos dando um passo de cada vez no caminho que escolheu para si mesmo.  Como eu, Carter só é humano demais. — Por ter ficado com medo de você.
O silêncio se espalha pelo quarto. Carter não faz contato visual, e também não se move enquanto o TIC-TAC do relógio de mesa nós faz constatar o silêncio mortal de nossas vozes.
— Porque estava com medo de mim? — finalmente me faço ouvir. Carter suspira agradecido.
— Sinceramente? — ele questiona com um sorriso sem graça. Seus olhos de filhote se fixam nos meus por um instante para logo descerem para os meus lábios machucados. Carter abana a cabeça e sorri para mim. — Só fiquei com medo de que não tenha sido como imaginava.
— Não foi como eu imaginava, não tinha dor na minha imaginação, mas não quer dizer que tenha sido ruim — as palavras escapam rápido demais. Ele ri sem graça. Espremo os lábios.
— Acho que eu estava certo em fugir por um tempo — Carter brinca se levantando. — Você acabou de comprovar a minha tese do: porque não devo dormir com garotas virgens.
— Porque você não deve dormir com garotas virgens? — questiono.
— Por que... — Carter enruga as sobrancelhas para mim. Ergo a cabeça para encará-lo. Carter é muito alto. Jéssica costumava chama-lo de pescoço girafa sem cor. Nunca entendi o porquê “sem cor”, mas acredito que o cérebro de Jéssica tenha falhas demais para fazê-la perceber o furo que existia em seu apelido esquisito. — Os meus amigos estão sempre se vangloriando sobre as garotas que tiveram sua primeira vez com eles e... E é sempre o mesmo padrão desde que me lembre. Eles estão sempre mirando em alvos fáceis, garotas que, nas palavras deles, morreriam por uma noite de prazer. — o garoto me diz rolando os olhos. Espremo os lábios. OH DEUS, EU SOU UMA DESSAS, Lizzie se bate. — Foi sempre um jogo onde a regra era pegar qualquer uma e depois fingir que não a conhecia. Você não pode imaginar como...
— Fez o mesmo comigo — completo por ele. — Fez, não fez? — Carter nega.
— Não fui para Nova York porque estava fazendo o mesmo com você — ele me diz sério, quase triste. — Fui para Nova York porque estava com medo de você pensar que estava sendo usada por mim. Coisa que não estava acontecendo.
— E porque eu pensaria isso, Carter? — estalo me sentando sobre os joelhos. — Porque achou que seria assim quando fui eu quem deixou aquela merda acontecer?
— Porque você continua falando daquela noite como “merda” — ele grita para mim. Torço os lábios e o nariz. — Porque eu conseguia ver nos seus olhos a sua mente te dizendo o quanto estava errada em ter dormido comigo! — Carter indaga dando de ombros. Meu rosto arde, pois eu havia pensado aquilo. Eu olhei em seus olhos naquela noite e imaginei o quanto seu cérebro gritava sobre o quanto estava sendo burro por estar fazendo aquilo com alguém como eu. Abraço a minha barriga. — Não estava fugindo de você, estava fugindo do fato de ter, pela primeira vez em quase dezoito anos, sido o primeiro cara de alguém.
— Então você foi para Nova York por que... — arregalo os olhos. Meu coração para. Lizzie se cala. E minha respiração falha. Pisco, e posso ver o rosto assustado de Carter através dos meus longos cílios claros. — Foi para Nova York porque nunca havia dormido com uma virgem?
— Sim.
— Puta que pariu — finalmente solto. Carter estala os lábios fazendo os pelos da minha nuca se arrepiar. Solto minha respiração descontrolada entre os lábios abertos. — Você é mais idiota do que eu poderia pensar, sabe disso, não sabe? — enrugo o cenho, e ele assente com vergonha. Bufo. — Oh Deus, é informação demais para a minha cabeça. — admito sem fôlego. — Você some, volta, me diz que vai ser pai, depois me prende no meu próprio quarto, depois diz que eu fui a primeira virgem da sua vida, e antes disso me diz que estava com medo de mim, e depois fala... Oh Deus, oh Deus, oh Deus! — enterro meus dedos nos meus cabelos. — Será que em nome de Jesus Cristo, eu posso ficar louca agora? Porque eu me sinto louca com tudo isso.
— Não Emily, você não pode ficar louca agora — Carter ri sem humor.
— Isso é demais para mim — admito encarando meu carpete. — Não posso...
— Emily...
— Não posso ficar sentada te ouvindo falar essas bobagens — estalo. — Você não pode me pedir isso. Não pode simplesmente esperar que eu acredite no que está me dizendo.
— Então voltamos a esse ponto? — ele me questiona entredentes.
— Talvez nunca tenhamos saído desse ponto, Carter — indago com convicção. Ele arregala seus olhos castanhos para mim. — Talvez eu nunca tenha confiado em você de verdade.
— Não venha com essa para cima de mim — Carter Grayson reclama vindo até mim. Suas mãos quentes se fecham nos meus ombros e me fazem ficar de pé. — Eu sinto muito por ter desaparecido, por ter voltado com essa loucura toda... E sinto muito por ter te machucado da única forma que não pretendia machucar, mas as coisas acontecem. As pessoas erram mais de uma vez, mas isso não significa que você tenha que dizer a elas que nunca saímos daquele maldito ponto que te machucou! — ele indaga entre os dentes.
— Não fale de você no sentido metafórico — METAFÓRICO? Lizzie questiona após muitos minutos de silêncio. — Digo, não fale como se não estivéssemos falando de nós.
— Então não aja como se ainda estivéssemos enfiados naquele maldito começo — Carter reclama me apertando pelos ombros. Mordo o lábio. — Sim, eu fugi. Sim, eu dormi com Alison e sim, provavelmente vou ser pai, mas... Mas nada pode mudar o fato de que não estamos mais parados no início, nada que diga vai mudar o fato de que você acredita em mim.
— Eu não acredito — rosno. — Eu não acredito porque você não merece. Você me deixou aqui pensando que eu havia feito algo errado, ou que o seu jogo era me fazer de idiota e me ter!
— Você acha isso? Realmente acredita no que está falando?! — assinto. Os pés de Carter se movem me fazendo andar com eles. Sinto a parede gelada contra minhas costas e seu tórax quente contra o meu peito. Encaro seus olhos irritados. — Eu sinto muito, Emily.
— Não.
— Eu sinto muito, muito, muito... — Carter me diz contra sua respiração pesada.
— Eu não acredito em você — minto. — Você me deixou sozinha, disse que era meu amigo e me deixou sozinha após ter pedido que eu confiasse em você... E ainda por cima dormiu com ela sendo que estava “fugindo” do que havíamos feito.
— Aconteceu — sua voz mansa se transforma em um mar de rouquidão. — Porra, realmente aconteceu isso. Eu realmente fui burro e acabei dormindo com outra pessoa, eu fiz isso e admito o meu erro, mas... Eu não usei você. Nunca, em hipótese alguma, usaria você.
— Eu não acredito — repito entre os dentes.
— Porra — Carter grita agarrando o meu rosto. Fico nas pontas dos pés. — Eu te odeio.
— É reciproco — minto. Meus olhos me traem quando as primeiras lágrimas começam a lubrificar minha visão. — Agora você tem que ir embora — indago com a voz rouca. A respiração pesada de Carter abana meu rosto me fazendo fechar os olhos. A temperatura quente dos seus lábios se espreme contra a primeira de muitas lágrimas escondidas nos meus olhos. Apoio uma das mãos sobre seu peito e tento o afastar de mim, mas parece inútil. Os lábios macios e úmidos de Carter descem sobre minha bochecha. — Vá embora.
— Eu sinto muito — ele indaga contra minha pele. — Nunca quis te machucar.
— Não me importo — minto entre um soluço e outro. — Você não é nada meu.
— Emily... Por favor, tem que me desculpar — Carter pede pressionando os dedos sobre minha pele. Suas mãos quentes viram o meu rosto para cima, sua língua lambe seu lábio inferior e seus olhos devoram os meus. — Diga que me perdoa. Diga que vai me dar outra chance.
— Não posso Carter — choramingo. — Eu não posso fazer isso mais uma vez. Não dá.
— Eu preciso beijar você — ele indaga cravando os dentes sobre o lábio. Separo os meus. Nossas respirações se atrapalham quando seu lábio inferior toca o meu. AH NÃO, VOCÊ VAI FAZER DE NOVO, VOCÊ VAI ACREDITAR NELE DE NOVO, Lizzie soa longe. — Por favor, diga que me perdoa por ter sido um babaca... — sua voz soa rouca e apelativa. SE LEMBRE DE QUE TUDO É PRODUZIDO PELO CÉREBRO, NÃO DÊ OUVIDOS AO NOSSO MALDITO CORAÇÃO ACELERADO, ELE NÃO SABE O QUE ESTÁ FAZENDO, Lizzie mente para si mesma. Ele respira praticamente dentro da minha boca. Gemo, e meus olhos se fecham com a espera do beijo. — Eu quero te beijar agora.
— Então é melhor me beijar antes que eu caia em mim e mude de ideia...  — mal escuto minha voz sair quando sinto seus lábios tomarem os meus, e sua língua se embrenhar na minha boca. As mãos quentes de Carter Grayson me empurram contra a parede. Ergo os braços permitindo que ele finalmente remova a minha blusa.

Emily ParkerWhere stories live. Discover now