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Quinta-feira, 34 dias para o baile...

            — CARTER? — a voz rouca se embrenha em meus sonhos me fazendo abrir os olhos. A claridade é a primeira a me alcançar, depois seu rosto. — Dormiu aqui? — ela pergunta, as sobrancelhas franzidas em seu rosto turvo pelos meus olhos confusos. — Carter?!
— Dormi. — respondo, me levantando da cama com o máximo de cuidado possível. Os olhos azuis com enormes anéis escuros não olham diretamente para mim. — Ela está bem agora.
— Queria ter vindo ontem — Joana sussurra enfiando as mãos nos bolsos. —, mas papai achou melhor não. Disse que deveria esperar, que eu só atrapalharia estando aqui.
— Ele tinha razão, só iria atrapalhar. — resmungo, estralando o pescoço. Seus olhos me encaram como se eu houvesse dito a pior coisa do mundo. — Qualquer um que não fosse do hospital teria atrapalhado, Joana. Eu atrapalhei só de estar parado perto da porta.

— Você não precisa ser gentil comigo, Carter — a garota de cabelos loiros balbucia encarando os pés. — Não é como se não soubéssemos que sou culpada por ela estar onde está agora.
Ergo as sobrancelhas. Está era a primeira vez, desde que Emily havia dado entrado no hospital e ido parar na sala de cirurgia, que Joan dirigia a culpa de tudo para si mesma.
— Sim, eu admito que a culpa é minha. Você não precisa me olhar com tanta surpresa assim, Carter. — Joana Parker me diz, e eu volto a piscar. A garota de cara limpa caminha em direção a cama, ela coloca um porta retrato antigo sobre a cômoda ao lado e se senta. Preciso dar um passo para trás para conseguir enxergar seu rosto coberto por um manto loiro de cabelos. Ela estava inexpressiva. — Mamãe me disse que foi até a casa dos Jensen, que ajudou Phoebe e trazer Jay de volta para casa depois de ele ter surtando — sua voz rouca ronrona baixinho. Assinto, mesmo que ela não possa ver. — Porque foi até lá? Achei que o odiava.
— Eu odeio — dou de ombros. Joan me encara. —, mas ela não. Ela não conseguiria odiá-lo.
— A única pessoa que ela odeia está nesse quarto nesse exato momento, não é? — ela sorri sem humor. Abano os ombros. — Você tem ideia do porquê? Do porquê ela consegue me odiar, mas não a ele? — sua voz soa brava, e seu rosto se enruga. — Qual a diferença?
— Você é irmã dela — respondo, me aproximando da cama. — Essa é a diferença. Ela não poderia esperar algo tão ruim vindo de você. Estavam uma ao lado da outra antes mesmo de terem vindo ao mundo, Joan, e tudo o que fez foi romper esse laço com as piores ações de todas.
Os olhos azuis de Joan me encaram com atenção, e suas sobrancelhas se franzem delicadamente quando seu rosto se torna uma máscara tensionada, quase como se estivesse se decidindo entre qual expressão vestir naquele momento. Suspiro. Emily estava certa, ela é um caso impossível.
— Era suposto que você a amasse, que a protegesse e ficasse ao lado dela, Joan. É por isso que dói tanto, por isso ela consegue te odiar — indago, dano de ombros. —, porque destruiu tudo o que deveria existir entre vocês. Você a obrigou a isso quando resolveu odiá-la primeiro.
— Eu não a odeio. — a menina suspira abanando a cabeça. — Pode parecer que sim, mas-
A porta se abre fazendo com que o barulho aglomerado de vozes adentre ao quarto branco. Viro-me, e o rosto da enfermeira deixa imóvel. A mulher de olhos castanhos, cabelo preto e pele bronzeada caminha em direção a cama. Seus olhos atravessam nossos rostos e param nos números digitais na máquina de monitoramento, seus dedos apertam o cano da caneta com força quando ela começa a escrever na ficha que costuma ficar na porta do quarto.
— Vocês precisam sair — ela diz com um sorriso pequeno no rosto. Ofego. Joan e a mulher me encaram com as sobrancelhas enrugadas. — O Dr. Salazar está vindo para fazer uma checagem, apenas os pais podem ficar. Pedido da Sra. Parker. — a enfermeira informa.
— Está bem. — Joan responde por nós dois, e se levanta vindo até mim. Seus olhos percorrem o meu rosto e depois se viram para o rosto da mulher. — Você está bem?
— O que? — estalo. — Sim — trago a saliva. — Estou bem. Só... — suspiro exasperado, e desejo que Emily acorde e me diga que não estou ficando louco. A porta se abre mais uma vez, e o Sr. e Sra. Parker entram ao lado do médico, que pede, mais uma vez, que deixemos o quarto.
É Joan quem me faz andar, ela agarra o meu pulso e me puxa em direção ao lado de fora, em direção contraria a mulher de olhos e cabelos castanhos. Esfrego o rosto.
— O que foi aquilo lá dentro? — Joan Parker questiona com as sobrancelhas erguidas e os olhos curiosos. — Vocês se conhecem, é isso? Ela é uma de suas conquistas?
Afasto as mãos do rosto e a encaro.
— Ela é minha tia, Joan — resmungo. — Biológica. Ela é minha tia biológica.
— Sua... — seu rosto curioso perde o brilho por um instante, e então se ascende. — Sua família biológica é de Chicago? — a garota pergunta surpresa. — Ela sabe?
— Não. — suspiro, passando as mãos no cabelo. — Eu acho que não — grasno, colocando as mãos nos bolsos. Joan continua com os olhos fixos em mim. — E eu supostamente não deveria saber sobre ela, mas... A vi com a minha mãe algumas vezes. A minha mãe bioló-
— Ai estão vocês! — Patric Hayes, meu melhor amigo desde os sete anos, grita do final do corredor. Joan, de algum modo inexplicável, sorri para mim e assente como se estivesse dizendo: pode deixar, não irei contar a ninguém sobre o que acabou de me dizer. E eu agradeço por isso. Descolo o corpo da parede. — O procurei por todos os corredores, Carter.
— O que faz aqui? — pergunto, olhando sobre seus ombros. — Pam colocou seu nome na lista de autorizados? — questiono, encarnado seu rosto avermelhado. — Ou...
— Eu enganei a mulher lá de baixo e dei um jeito de subir. — Patric bufa rolando os olhos.
— Não deveria ter feito isso, Patric. — Joan sussurra cruzando os braços. — A minha mãe...
— Por favor, não abra sua maldita boca para se dirigir a mim. — meu melhor amigo estala, as sobrancelhas retas e o maxilar tensionado. A garota de olhos manchados em roxo encara o piso branco e assente, em silêncio. — Maravilha. — Patric rosna. — Como ela está?
— Ela está bem. — respondo, coçando a nuca. — Estão fazendo exames.
— O que significa "estar bem" para alguém em coma? — sua voz soa preocupada demais, e isso faz com que meus pelos se erricem. Seus olhos azuis me encaram com impaciência. — Carter?
A algum tempo atrás, não tanto tempo quanto eu gostaria, Patric Hayes, meu melhor amiga desde sempre, admitiu ter sentimentos por Emily Parker. Ele me disse, com todas as palavras, que sentia as mãos suarem, o coração bater mais forte, o ar desaparecer toda vez que a via.
Em outras palavras, ele estava apaixonado por ela. E foi a primeira vez em anos que desejei nunca tê-lo conhecido, ou pelo menos ter tido a oportunidade de ter socado sua cara. Mas apesar disso, dele ter sentimentos por Emily, Patric me empurrou para fora da caixa, ele me disse que a amava, mas que ela não o amava de volta. Que ela amava a mim, e que eu a amava.
Foi como percebi a pontada de ciúme latejando em algum canto isolado dentro de mim, foi quando passei mais tempo sem falar com ele, porque ele a amava e eu a amava, mesmo que não soubesse disso na época. Então é minha vez de admitir... Odeio o fato dele amá-la e deixar isso tão nítido para todos. Odeio que ele esteja apavorado pela ideia de perde-la para sempre.
— Carter? — Patric rosna me dando um soco no ombro. Travo os dentes. — O que significa?
— Eu não sei, Patric. Não sou médico, está bem? — suspiro, apertando os olhos. — Eles estão fazendo tudo o que podem para que ela fique bem, mas por enquanto é só isso!

Emily ParkerWhere stories live. Discover now