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- O que é isso nas suas costas? - a voz rouca, e até mesmo engraçada, me pergunta fazendo com que eu largue o livro de economia. - Você tem algo grudado nas suas...
- Eu sei - suspiro, rolando os olhos. Agarro o livro grosso mais uma vez, e tento, inutilmente, não dar atenção para a expressão engraçada que Carter Grayson tem no rosto. - Um garoto fingiu que estava do meu lado nas eleições e colou isso em mim. - explico, largando o livro e batendo a testa contra ele. Carter ri baixinho, o que faz com que um gemido dolorido escape da minha garganta e ecoei pela pequena biblioteca do colégio. - Achei que seria fácil.
- Você vê muito filme da Disney, não é? - o garoto pergunta, e não sei se ele quer mesmo uma resposta ou se está apenas tirando sarro da minha cara. Quando tomei aquela decisão... QUERO DEIXAR CLARO QUE SOU A PARTE SÃ DESSE CÉREBRO E NÃO CONCORDEI COM ESSA LOUCURA, Lizzie me chuta por debaixo da cadeira. Como eu estava dizendo... Quando tomei aquela decisão estúpida de ser rainha do baile acreditei que seria fácil, que as pessoas iriam se sensibilizar com meu discurso, mas ao invés disso, eles dobraram as sessões de tortura. ATÉ PORQUE ELES IRIAM MUITO VOTAR EM ALGUÉM QUE USA JARDINEIRA VELHA E MEIAS AMARELAS, Lizzie zomba abanando seus dedos molengos. Quando os discursos das candidatas acabaram o diretor desceu do palco, caminhou com seus sapatos folgados até sua sala e me deixou no meio do pátio para ser alvo de zombaria. Tive sorte por ter a Sra. Grimes por perto, ou eles provavelmente teriam me jogado baldes de tinta ao invés de copos de raspadinha. - Não se trata de um discurso humanitário sobre defendermos os ideais e a diversidade, Emily - Carter me diz, fazendo com que meu cérebro corra de volta ao presente. Murcho os lábios, e ele sorri. - Você não pode por o nome em uma lista e esperar que todo o resto pouse no seu colo porque acredita que as coisas devem mudar.
- Bem - começo sem muita convicção do que tenho na ponta da língua. - Nos filmes...
- Isso não é um filme - Carter me interrompe. Mas você sequer me deixou concluir, seria um discurso muito... PARE DE PENSAR EMILY, ROMA NÃO FOI CONSTRUIDA POR DISCURSOS IDIOTAS, Lizzie reclama. Sugo os lábios entre os dentes. - Você não é uma atriz, e eles não são figurantes prontos para colocarem o seu nome na ficha de votos.
- Você fala tanto, mas não o vejo fazendo campanha - reclamo baixinho. - Era suposto de você ser o meu rei, se lembra? - bufo. - Não ajuda em nada... - o garoto joga uma pilha de papeis coloridos sobre a mesa, o que faz com que um barulho alto chame a atenção da bibliotecária. Movo o maxilar de um lado para o outro, daquele jeito que faz a minha mãe me chamar de bobo da corte. Ergo uma das sobrancelhas. - O que é isso?
- Fichas de votos - Carter Grayson sorri, e entrelaça os dedos. Arregalo os olhos.
- Eles estão votando em você? - questiono, e por mais que não me importe com essa coisa de popularidade, me sinto diminuída perto de Carter. COMO SE ELES FOSSEM MESMO DEIXAR DE VOTAR NELE, O PAI DELE É DONO DE METADE DA CIDADE EMILY, ACORDE PARA A VIDA. Lizzie faz questão de me lembrar. Gemo. - Eles te amam.
- Eu faço por onde - Carter me diz com um sorriso. - Sou popular, eles precisam me amar.
- Achei que eu era popular - movo as sobrancelhas. - A garota dos pulsos cortados.
- Super popular... - Carter resmunga, o que me faz abaixar a cabeça e encostar o queixo sobre a pilha de papeis. Ele se arruma na carteira e deita sobre a mesa. - As pessoas ainda estão apostando para verem seus pontos. - ele tenta brincar, mas sinto que o momento passou.
- É uma pena que os meus pontos já tenham ido para o lixo - murmuro, e sinto meu estômago revirar. Carter havia ido ao hospital comigo. Ele e mamãe passaram o caminho todo discutindo sobre o porquê ele continuava tentando ser meu amigo, e eu apenas abanava a cabeça sempre que um pedia a minha opinião sobre seus motivos. Você não concorda que eu tenho me esforçado bastante para merecer seu perdão? Carter indagou se virando para mim, e eu assenti em silêncio. Pelo amor de Deus, você não vai perdoá-lo, vai? Não se lembra do quanto chorou naquelas noites? Mamãe me lembrou, me olhando pelo retrovisor, e eu assenti. Você sabe que eu não tive nada a ver com aquilo. Diga a sua mãe que concorda comigo e que a melhor maneira de esquecer o passado é dar um passo no futuro. Ou seja, um passo na nossa amizade. Não é mesmo Emily? Carter reclamou, e eu assenti. Assenti tantas vezes que acabei perdendo o controle sobre o meu pescoço, e passei metade de uma viagem abanando a cabeça como um daqueles bonecos de jogadores de beisebol em miniatura. Fiquei com dor no pescoço por três dias. Carter belisca meu braço sobre a jaqueta. - Au! Porque fez isso?
- Achei que estava tendo algum tipo de derrame - ele explica com a voz preocupada.
- Porque eu estaria tendo um derrame? - pergunto, irritada. - Sou jovem demais.
- Idade não te faz ser saudável - Carter reclama, e recolhe as folhas. - Foi confirmado que 25% das crianças e adolescentes podem ter derrame, ainda mais se for do tipo hemorrágico.
- Co-Como você... - enrugo o cenho. - Como você pode saber disso?
- Eu presto atenção nas coisas que você diz. - ele responde dando ombros. Meu queixo cai. ELE ESCUTA O QUE EU DIGO? COMO ASSIM?! - Como eu estava dizendo antes de você viajar na maionese - Carter sorri para mim, e se levanta puxando sua mochila. - Você não pode sentar e esperar que eles liguem para o papo "votem na nerd".
- E o que quer que eu faça? - gemo, pois sei que não existe nada no mundo que seja capaz de me fazer correr atrás de votos. Achei que eles haviam comprado o meu discurso, que estavam cientes das coisas terríveis que os populares andavam fazendo e que estavam prontos para uma mudança, mas estava errada. A Sra. Grimes me deu duas tapinhas nas coisas, sorrio como a gammy sorri quando as coisas estão ruins, e me disse: você arrasou. Novidade Sra. Grimes, eu não arrasei. - Não é como se eu pudesse virar popular da noite para o dia, Carter Grayson.
- Por Deus, Emily, você nunca viu os filmes da Disney? - ele me pergunta sério, sendo que a menos de vinte minutos atrás havia ironizado sobre eu estar assistindo muitos filmes da Disney. Enrugo o cenho. - Qual a primeira coisa que a garota nerd procura para ser popular?
- Amigas - balbucio vendo-o se afastar. Carter move suas sobrancelhas bagunçadas, ergue os polegares em uma dancinha ridícula e move os quadris. - Carter? - o chamo alto demais, e a bibliotecária assobia seu costumeiro shhhhhhhhhhhhhhhhhhi. Agarro minha mochila e tento correr sem tropeçar nos meus próprios pés. - Carter! - chamo um pouco mais baixo, mas o garoto finge que não me ouve e continua a andar pelo longo corredor do segundo andar. Algumas garotas sorriem para eles, uns meninos com a camisa do time do colégio batem em sua mão como naquele Hi five de filme. ELE É TÃO DISNEY. Enrugo o cenho. Uma menina pisca afetada quando Carter lhe dá bom dia e passa em sua frente. ELE DEFINITIVAMENTE É A DISNEY EM PESSOA, Lizzie ronrona, arrastando sua cabeça enorme pelos pedaços de cérebro que compõem seu piso. Quando empurro a porta os trinta e sete pares de olhos se voltam para mim. O Sr. Marvo, responsável pela reprovação de Carter, me lança um olhar feio.
- Sente-se Srta. Parker - o homem me diz com seu tom anasalado. - Já não basta o Sr. Carter para atrapalhar a minha aula, agora vai fazer o favor de chegar atrasada?
- Me desculpe Sr. Marvo - digo, e me encaminho para a carteira ao lado de Jay. Meu melhor amigo me lança um sorrisinho acolhedor quando me viro para lhe dar bom dia. O sinal bate, o que significa que não estou atrasada como o Sr. Marvo quis apontar, e o homem velho inicia sua aula. O SR. DISNEY ESTÁ COCHICHANDO COM A SISSY, Lizzie me puxa do assunto de prova. Tento, inutilmente, não virar o rosto sobre o ombro e checar o que ela quer dizer com cochichando. Carter parece não se importar com os olhares alheios, muito menos com a presença do professor, enquanto bate papo com uma garota que todos chamam de Sissy.
- Está sujo - Jay chama minha atenção. - Bem aqui - ele ironiza, e aponta para os meus lábios. Aperto os olhos, o que faz com que ele ria baixinho. - Você é apaixonada por ele.
- Não, eu não sou - estalo entre os dentes.
- Sim, você é - Jay alfineta, mas o olhar fulminante do Sr. Marvo faz com que ele se cale pelos próximos 36min. Quando o sinal do segundo tempo bate, Jay agarra meu braço formando um arco com o dele. - Soube que vamos ter outra aula vaga - meu melhor amigo me diz enquanto caminhamos pelo corredor de braços dados. - Você quer estudar para redação?
- Sim, acho que é uma boa ideia - sorrio.
- É melhor do que a sua ideia de sentar e fingir que não está olhando para Carter Grayson enquanto ele conversa com os amigos - Jay brinca, mas ele não soa nada engraçado.
Rolo os olhos, solto seu braço e aperto o passo enquanto algumas meninas jogam bolas de papeis em mim. - Não seja tão ranzinza - ele grita correndo atrás de mim. Arremesso meu corpo no acendo vermelho da mesa de estudos. Jay se senta ao meu lado, ofegante. - Eu não falei por mal! - ele tenta, mas finjo que não o escuto. Tiro o caderno de capa preta, VOCÊ É TÃO GÓTICA EMILY, da mochila e folheio suas páginas cobertas pelas minhas letras redondas. Você tem letras muito bonitas. Aposto que terá um belo autografo em seu primeiro livro. Era o que mamãe me dizia. Era legal, uma vez na vida, ter um pouco de incentivo dela, era uma pena que eu nunca iria assinar um livro, até porque pretendo ser professora de filosofia, não escritora. Suspiro. - Em...
- Emily Parker? - um sotaque americano perfeito chama o meu nome antes que Jay possa me dar outra de suas desculpas. Mantenho a cabeça baixa, pois sei que, como na semana passada, irei levar alguma espécie de liquido gelado no rosto. A cadeira do outro lado da mesa corre no piso de mármore e nada gelado me atinge. Ergo a cabeça. O sorriso branco, perfeito, o cabelo loiro, PERFEITO, a pele bronzeada, SUPER PERFEITA, os olhos azuis... Juro que se pensar na palavra "perfeita" de novo irei abrir o meu crânio, tirar o meu cérebro e dá-lo para os mendigos comerem. Penso, trincando os dentes. SE VOCÊ ABRIR O SEU CRÂNIO... MORRE, a parte inteligente, a que eu costumo chamar de Lizzie, me diz com um tom sarcástico. Grasno. - Wow - a garota de cabelos loiros assopra. - Já emitiram todos os tipos de sons existentes por causa de mim, mas ninguém nunca havia grasnado.
- Me desculpe. - sussurro. A garota abana sua cabeça loira e sorri. - Olhe, se for jogar algo em mim - gemo entre os dentes. - jogue logo. Eu não tenho tempo para bater papo.
- Jogar algo em você? - ela ri erguendo as sobrancelhas. Assinto. - E porque eu faria isso?
- É o que as pessoas fazem - suspiro. - Elas jogam coisas em mim. É sempre igual, alguém puxa papo ou se finge de legal e de repente BAM, eles jogam algo em mim. Já tenho tantas roupas do achado e perdidos que nem preciso mais ir ao shopping.
- Então é seu dia de sorte, não irei jogar na em você. Até porque, como minha mãe me diz, não sou como as outras pessoas. - a garota indaga com um sorriso nos lábios pintados de gloss. Sua mão se desprende do copo transparente cheio de líquido vermelho, e se estende para mim como em um cumprimento. Pisco confusa. Lanço um olhar preocupado para Jay, e ele não me dá nenhuma resposta. - Sou Jéssica - seu sotaque perfeito soa alto demais, e ela agarra a minha mão, que está sobre o caderno preto em um aperto forte. - Jéssica Reed.
- Jéssica Reed? - é Jay quem soa surpreso por mim. - Como Jéssica Reed que andava com a turma de Alison Prescott? A mesma que...
- Essa mesma - a loira o interrompe entre os dentes. Seus olhos azuis parecem irritados com os lembretes do meu melhor amigo, e ela tenta sorrir para suaviza-los, mas é inútil. A garota solta minha mão e suspira profundamente antes de soltar: - Estou aqui para ser sua amiga.
Meus olhos se arregalem. CARTER GRAYSON, NÃO POSSO ACREDITAR QUE VOCÊ FEZ ISSO, Lizzie berra por mim, pois aquela só pode ser uma brincadeira de mau gosto.
Jay, que estava tentando manter seu silêncio após o olhar fulminante de Jéssica, tosse seu o próprio ar enquanto meus lábios se abrem lentamente. Seus olhos se arregalam para mim.
Carter Grayson havia me arrumado uma amiga?! Era isso ou eu estava alucinando?
- Está aqui para ser minha amiga? - questiono ainda confusão. - O que isso significa?
- Significa exatamente isso - a voz rouca e distante responde. Viro-me sobre o banco liso da cadeira, meus olhos, que ainda estão arregalados, encontram o sorriso frenético de Carter. Patric Hayes está logo ao seu lado. Pisco aturdida. - Jess vai ser sua nova amiga.
- Ainda não entendo - admito. Carter e Patric se encaram com uma expressão desesperada, como se eu estivesse lhes perguntando quanto era 2+2. - Você a pagou para ser minha amiga?
- Que tipo de pessoa você acha que eu sou?! - Carter pergunta irritado. - Eu não a paguei.
- Então você disse que iria dormir com ela? - Jay faz a minha próxima pergunta. Graças a Deus que ele a fez, pois eu não teria coragem. Carter trinca os dentes. Eles se odeiam. Sugo os lábios entre os dentes, pois sempre que estou entre Jay Jensen e Carter Grayson sinto que terei que me enfiar no meio dos dois, como nos filmes da Disney, e separá-los de uma briga mortal. NÃO SEJA DRAMÁTICA, ELES NUNCA ENTRARIAM EM UMA BRIGA, Lizzie me relembra. - Isso soa sujo... E ridículo. Até mesmo para você Grayson.
- Porque vocês continuam pensando o pior sobre mim? - Carter Grayson resmunga, e se senta ao meu lado na mesa. Seus olhos castanhos pousam nos meus. - Eu não a paguei, muito menos disse que iria dormir com ela - ele diz olhando fixamente para Jay. Seus olhos voltam para o meu rosto. - Apenas escute o que ela tem a lhe dizer, e então você pode decidir se quer ou não ser amida dela. - ele pede. Mordo os lábios. - Por favor?
- Tudo bem - concordo, mas apenas por ser um pedido dele. - Você pode falar.
- Joan Parker é uma vadia - é a primeira coisa que escapa dos lábios de Jéssica. GOSTEI DELA, Lizzie me diz. Também gostei dela, Lizzie. - E acredito, assim como Carter e Patric acreditam, que se você se esforçar pode tirar a coroa dela e de Alison. - Jéssica sorri.
- Ok - enrugo o cenho. - Mas isso não explica você querer ser minha amiga. Porque simplesmente não pode votar em mim? - questiono abanando os ombros. - É confuso, você nem me conhece e está sentada na minha frente, sem ser paga ou subornada com... - mordo os lábios. Carter aperta meu joelho, e isso não melhor a situação, apenas a deixa mais sufocante. Aqueles pares de olhos azuis continuam me encarando e eu suspiro. - Apenas vote em mim.
- Bem que você disse que ela era confusa, Carter - Jéssica Reed ri abanando os cabelos loiros. Enrugo o cenho. ELE DISSE QUE SOU CONFUSA? - Olhe, votar em você não ajudaria em nada, seria um voto para você entre muitos para elas, e por isso acho que faria algo mais produtivo se virássemos amigas - a loira explica com seu sotaque perfeito.
A temperatura da minha pele esquenta aos poucos por dois motivos. (1) Jéssica me olha diretamente nos olhos, e isso me deixa sem graça. E (2) a mão de Carter ainda está pressionando meu joelho por debaixo da mesa. Aperto os lábios, miro a mesa e tento me dizer que o que Jéssica diz tem lógica. Votar em mim não me ajudaria, seria apenas ela entre quase 3mil alunos.
- Sei por que quer ser amiga dela - a voz arrogante de Jay resmunga ao meu lado. Viro-me para encará-lo. - Você era a melhor amiga de Alison antes de Joan. - franzo os lábios. ELA ERA? Lizzie pergunta por mim. Eu já havia escutado Joan falar sobre como Alison tinha péssimas escolhas para amizade antes dela, mas nunca a ouvi mencionar nenhum nome. E olhando para toda aquela perfeição que se encaixava no rosto e no sorriso de Jéssica Reed, não conseguia imaginá-la como uma péssima escolha de amizade. - Você era a cadelinha dela.
Arregalo os olhos, e levo a mão até o ombro de Jay para pará-lo, mas os olhos azuis da garota loira já estão tão arregalados quanto os meus, e suas bochechas estão avermelhadas.
- Eu nunca fui á cadelinha dela - Jéssica Reed rosna entre os dentes apertados. Trago a saliva, pois posso imaginar qual sentimento revira seu estômago, pois é o mesmo que sinto quando me dizem que sou o capacho de Joan. Aperto os lábios. - Eu era sua amiga, mas...
- Mas ela te chutou - Jay alfineta mais uma vez. - Por causa de Joan.
- Sim - Jéssica admite, seus olhos descem para a mesa e eu quero lhe dizer que está tudo bem, que eu sabia exatamente como ela se sentia e que não deveria dar ouvidos a Jay, pois ele não estava sendo ele mesmo naquele momento. Carter se move no banco.
- Porque está sendo tão rude com ela? - ele bufa para meu melhor amigo. - Qual o seu maldito problema? Uh?! - o garoto de olhos castanhos bonitos se move mais uma vez, e agora sou eu quem aperta seu joelho por debaixo da mesa. Estou, como esperei estar, no meio de dois garotos prestes a saírem na "mão". De um lado o meu melhor amigo, que tem agido como um completo idiota o dia todo, e do outro lado o garoto que tem se esforçado para me ajudar.
- Não estou sendo rude, Carter - Jay responde rolando os olhos. - Estou relembrando os fatos. Ela era melhor amiga de Alison e foi chutada, e só por isso quer ser amiga de Emily.
- Não é bem assim - Jéssica se faz ouvir. - Não é porque ela me chu...
- Porque Alison te trocou pela minha irmã? - sem perceber, e talvez com o impulso de Lizzie, a interrompo abruptamente. Seus olhos se afastam do rosto quadrado de Jay e se locomovem até os meus. Patric, que estava sentado ao seu lado, também me encara surpreso. Murcho os ombros e esfrego minhas mãos na capa do caderno. - Se não quiser responder, irei entender perfeitamente. Não sei por que fiz essa pergunta para ser sincera. Só saiu.
- Tudo bem - Jéssica sorri sem graça. Quando seus olhos se afastam dos meus e correm até a mesa a alguns passos da nossa, vejo exatamente o que Jéssica quer esconder. Ela odeia Alison Prescott. Posso isso no modo como seus olhos se apertam, em como seu maxilar forma uma linha dura em seu queixo e em como ela volta a olhar para o meu rosto. Seus olhos parecem segurar o mesmo tipo de raiva que sinto quando olho para minha irmã e me lembro das coisas que ela já havia me feito passar. - Ela não me trocou - Jéssica indaga apertando os dedos em punho. - Na verdade, Alison nunca gostou de mim. Ela nunca foi minha amiga, ela só queria estar perto do meu irmão. - a garota balbucia baixinho, como se não quisesse que ninguém escutasse a magoa em sua voz. - Eu era sua amiga, e fazia tudo para que ela gostasse de mim, mas no fim das contas descobri que era tão burra quanto ela dizia. Então ela se cansou de me aturar, e armou para que eu fosse pega roubando a loja da minha mãe.
- Eu sinto muito - sussurro, colocando a mão sobre a sua. Seus músculos relaxam, seus olhos azuis suavizam e seu sorriso pequeno se puxa nos cantos dos lábios.
- Não sinta - Jéssica Reed suspira abanando seus cabelos longos. - Então, garoto de óculos feio, eu não era a cadelinha dela - a loira rebate tenaz. Rio, e recolho minha mão. - Eu era apenas uma garota boba achando que tinha uma melhor amiga. Amiga essa que me fez prestar serviços comunitários para que a minha mãe não me denunciasse por furto. Amiga essa que me manipulou, me usou, me humilhou e depois me largou sozinha com um macacão laranja para catar lixo na rua como consequência de seus atos.
- E é por isso que você quer ser minha amiga - sussurro, encarando meu caderno.
- Quero ser sua amiga porque acredito que como eu, você sabe exatamente qual é o sentimento que reside dentro da gente quando somos humilhadas por alguém que supostamente deveria devolver o amor que você deposita nela - a garota indaga com cautela, e sinto minhas lembranças se revirando atrás de alguma boa imagem de Joan que seja relacionada a algum momento que ela me fez bem, pois não posso concordar com Jéssica. Não quero ter de concordar com ela, pois ainda quero acreditar que minha irmã tem salvação. Ainda quero acreditar que não a odeio tanto quanto penso odiar. - Sei que pode parecer que estou fazendo isso por ódio, mas não estou. Eu não a odeio por ter me feito tudo o que fez, mas não a admiro mais e acredito que as pessoas deveriam descobrir o mesmo. Acredito que com esforço as pessoas vão ver quem ela é de verdade - Jéssica me chama para o presente, e mesmo que não a entenda, mesmo que queira fugir do sentimento que dividimos, abano a cabeça para que ela saiba que concordo. - Tudo o que vai volta, Emily. A vida me mostrou isso, e agora é hora dela mostrar a Alison Prescott - a loira indaga apertando minha mão. Eu estava tão presa nos meus pensamentos que não senti quando sua mão tocou a minha, e muito menos percebi o modo como os olhos estavam nos olhando em silêncio. - Eu adoraria ser sua amiga, e adoraria te mostrar um jeito de devolver a Alison Prescott tudo o que ela te causou através de Joan e sua turminha de vadias. Adoraria te ajudar a tomar a única coisa que ela realmente se importa.
- A coroa... - pisco aturdida, e ergo os olhos em direção as garotas sentadas em volta de Alison Prescott na mesa do refeitório. O aperto de Jéssica Reed sobre minha mão me faz olhá-la, e seu sorriso faz com que o meu se estenda em meu rosto.
E então, com um sorriso e um aperto sobre a mão, me dou por vencida e aceito o inevitável: Carter Grayson havia me encontrado a melhor amiga de todas. Ele havia me encontrado uma amiga que sabia exatamente como lidar com o meu monstro embaixo da cama.
Jéssica, a garota de sotaque nova-iorquino e cabelos loiros como o sol, nos mostra com suas letras perfeitas os cinco passos principais para ser uma popular melhor do que qualquer uma no St. Augustus. Ela me mostra a linha que irá me levar ao patamar de Alison Prescott sem fazer com que eu me perca no caminho. Sem fazer com que eu vire uma das garotas malvadas.

Emily ParkerWhere stories live. Discover now