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      Faltavam pouco menos de 60 dias para o baile da St. Augustus. As cinco candidatas a rainha estavam se esforçando para terem votos suficientes para serem coroadas. Algumas estavam jogando limpo, e estavam confiantes em suas propostas cheias de pompas e melhoria na educação. Acho que falar sobre a melhoria de educação é uma tática muito boa, só não sei se elas pararam para pensar que o St. Augustus é medalha de ouro no quesito educação. E quando digo medalha de ouro, quero dizer uma do tamanho da Estátua da Liberdade.
As outras, como Alison e uma garota do quarto ano chamada Cami, estavam jogando como podia jogar: sujo. As duas estavam disputando para ver quem conseguia dar mais presentes caros aos seus eleitorados, e enquanto a semana passava mais pessoas confirmavam o primeiro evento dado em nome da suas candidaturas ridículas e armadas.
A minha mãe havia descoberto sobre como as garotas levam a sério essa coisa de ser rainha do baile, e havia achado um absurdo o tanto de dinheiro que elas gastam para tentar comprar os votos dos outros alunos. Nisso tenho que concordar com a minha mãe. As garotas do colégio são lunáticas dispostas a fazerem tudo para ganhar a coroa. Quando digo tudo, é tudo mesmo.
Ainda não sei de que time sou: das loucas ou das iludidas. Acredito que estou em um meio termo já que vivo prometendo coisas para o próximo ano, e ao mesmo tempo me sinto louca por estar tramando uma festa pelas costas de Alison porque o meu NÃO namorado acredita que posso vencer a disputa. Bem, espero que ele esteja certo porque não vou sobreviver ao troco.
Como a minha família não podia suspeitar sobre as festas, e como os meus pais estavam passando por mal bocados, Carter ficou encarregado de arcar com as despesas da festa. Despesas estas que seriam reembolsadas no instante em que eu fizesse dezoito anos e tivesse direito a mexer na minha parte da herança. Então eu apenas assinei a lista de coisas que deveriam ser compradas e esperei que sua mãe gritasse com ele por causa da fatura do cartão.
Mas Charlotte não gritou, para ser sincera, a mulher ficou eufórica ao saber que o filho estava dando uma festa. Pelo o que entendi Carter, apesar de ser um dos garotos mais populares o St. Augustus e de Chicago, não gostava muito de dar festas. Então, quando ele chegou em casa dizendo que daria seis festas, sua mãe pegou o telefone e o ajudou a organizar tudo.
Em menos de três dias mais de sete mil convites haviam sido entregues, cada remessa endereçada a um local e data diferente, e cada detalhe enfocava a grandeza do evento.
Alison não havia ficado nada feliz quando as confirmações para as suas festas foram sendo retiradas uma a uma, enquanto as minhas foram aumentando a cada dia. E quanto mais as datas se aproximavam mais ela ficava irritada com a minha existência.
Foi triste vê-la surtando no meio do pátio quando um tweet compartilhado de Barbara Grayson chegou aos celulares de metade do colégio, informando que ela e suas amigas supermodelos compareceriam a festa de seu irmão. Se as pessoas estavam com um pé atrás sobre ignorar Alison Prescott e ir para a festa de Carter, para a minha festa, daquele momento em diante elas automaticamente esqueceram-se como se pronunciava o nome da morena.
As coisas, pela primeira vez em algum tempo, estavam dando certo. As pessoas estavam confirmando presença em um evento dado para mim, Alison não podia fazer nada a respeito, Carter não estava tendo tanto tempo para ficar com Alice e Joan estava se roendo de inveja.
— Senhorita Parker — o tom rouco do motorista, seu nome é Alex, me trouxe de volta a superfície dos meus pensamentos. Estava tão concentrada em saborear a ideia de estar prestes a dar a minha primeira festa que não percebi que já estávamos parados em frente a um dos maiores clubes da cidade. No momento em que meus olhos encontraram a multidão cercando o quarteirão senti como se meu estômago houvesse sido pisoteado por elefantes. Existia um longo trajeto de grades de onde estávamos até a entrada do clube, e uma multidão de pessoas dançavam e abanavam suas mãos do lado de fora, ao som de alguma música irreconhecível para o meu cérebro congelado. Quero que chegue por volta das 00h, Emily. Não antes, não depois. Você vai ter uma surpresa quando chegar, uma enorme e louca surpresa. Agora, vendo todas aquelas pessoas e a porta do clube fechada, entendo o que ele quis dizer com uma “enorme e louca” surpresa. Carter Grayson havia os feito esperar por mim. — Nós chegamos.
A porta detrás se abriu deixando a euforia banhar os meus ouvidos, e todo o meu corpo estremece quando as pessoas se viraram em direção ao carro.
Um homem vestido de “policial sexy” surge próximo à porta, e os meus olhos automaticamente se arregalam. SEM CHANCES, EU NÃO VOU DESCER, Lizzie grita e se joga no chão por mim. CARTER É LOUCO? PORQUE ELE FEZ TODA ESSA GENTE ESPERAR? MEU DEUS, ESTÃO OLHANDO PRA MIM, ELES ESTÃO OLHANO PRA MIM!
— Emily? — a voz distante de uma Jéssica Reed perfeita em um vestido justo soa de fora para dentro me fazendo pular no banco detrás. — O que está fazendo? — a garota de cabelos loiros pergunta enrugando o cenho. — Você tem que sair desse carro, as pessoas estão esperando.
— E é por isso mesmo que não posso sair. — gemo, entre os dentes. — Ele fez todo mundo esperar por mim? — questiono, colocando as mãos no rosto. Jéssica ri. — Ele é louco.
— Vamos lá — Jess ri cheia de humor. — Não seja boba, não pode dar para trás agora. As pessoas estão esperando para verem a nova rainha do St. Augustus.
— Mas... — mordo os lábios, e dou uma olhada para fora. Os olhos azuis cheios de brilhos de Jess me encaram com paciência, mas a ruga entre suas sobrancelhas grita o quanto ela está com medo da minha insegurança. Aperto os lábios, respiro profundamente, aperto os dedos envolta do celular e me movo sobre o banco de couro preto. FIQUE CALMA, FIQUE CALMA. VOCÊ SEMPRE QUIS UMA FESTA E AGORA TEM UMA. TEM UMA FESTA LOTADA, O QUE SIGNIFICA DIZER QUE ALISON ESTÁ SOZINHA, Lizzie repete seu mantra enquanto os meus lábios montavam um sorriso duro e estranho. A mão quente de Jéssica parece queimar sobre os meus dedos trêmulos, e quando os meus pés se firmaram sobre o chão de pedrinhas sou coberta por uma luz branca que me cega por completo. — Mas que porra...
Uma chuva de confetes explode no ar e a música alta se torna duas vezes mais alta após o anuncio do meu nome. O meu coração ainda está batendo enlouquecido no meu peito enquanto Jéssica me acompanha pelo percurso até a entrada, e as minhas mãos tremem quando um homem vestido em uma fantasia de coelho me entregou um copo vermelho.
— Vamos subir, isso aqui vai ficar uma loucura. — Jéssica grita ao pé do meu ouvido, pois a música e as pessoas já estavam ocupando todo o silêncio do clube antes fechado. As luzes psicodélicas dançam sobre nossas cabeças, e as paredes parecem estremecer ao som do DJ.
Do andar de cima conseguíamos ver todas as pessoas, e elas pareciam formigas espremidas em uma longa corrente de corpos. ESTÁ ACONTECENDO, Lizzie sussurra assustada. A FESTA ESTÁ REALMENTE ACONTECENDO. TUDO SAIU EXATAMENTE COMO CARTER DISSE QUE SAIRIA, Lizzie balança seus quadris. Sorrio. Sim, parece que tudo saiu exatamente como ele planejou, Lizzie. Estou tendo uma festa e...
Antes que eu possa fantasiar mais sobre o meu anfitrião, um homem carregando uma câmera chama o meu nome e bate uma foto, o que me assusta e me faz sair com uma cara estranha. Jéssica sorri e pede que ele tire outra, assim, depois de processar o fato de que sairei na página do jornal na manhã seguinte, sorrio e pouso para a foto ao lado da minha amiga.
— Onde está Carter? — pergunto, tocando o braço de Jéssica. A loira traga a saliva e se encaminha até o bar. Enrugo o cenho. — Jess? — chamo. — Você não vai fazer isso de novo, vai? — questiono, colocando meu copo sobre o balcão. Seus olhos rolam nas orbitas, seus lábios murcham e ela me encara com vergonha. Meu coração dói. — Jéssic...
— Aí estão vocês! — a voz alta e risonha de Patric Hayes irrompeu no espaço com um longo eco. — Estava as procurando. — o garoto de sorriso embriagado grita ao se sentar ao meu lado. Patric estava bêbado. Não digo isso por causa do copo vermelho em sua mão ou pela expressão leve em seu rosto, digo isso pelo fato dele estar apertando a minha coxa por debaixo do balcão. Ergo as sobrancelhas. — Você já viu a quantidade de gente que veio para a sua festa, Em?
— Eu vi — sorrio, afastando sua mão. — Carter conseguiu mesmo fazer com que todos deixassem de ir à festa de Alison para estarem aqui. — lembro, fazendo-o rolar os olhos.
— Eles estão aqui por você, não por Carter. — Patric me diz antes de virar o líquido de seu copo. Viro-me para encarar Jess, e ela parece tão incomodada quanto eu em relação ao tom de Patric. Ele abana a mão e o garçom coloca outro copo em sua frente. O copo fica vazio mais uma vez, e o garçom lhe dá mais dois copos. — Beba comigo para comemorar.
— Eu estou bem. — murmuro, afastando o copo de mim.
— Ah não seja assim Emily Parker — Patric Hayes, o garoto certinho que havia namorado a minha irmã do mal, ronrona com um sorrisinho largo nos lábios. Tento não rir de sua careta.
— Você está bêbado, Patric? — Jess pergunta aos risos. — Está agindo como um daqueles caras chatos de boate — ela reclama tomando o copo de suas mãos. — Aqueles que não sabem dançar e que soltam piadas do tipo “seu pai é padeiro” para todas as meninas.
— Não, eu não estou agindo assim. — Patric ri debochado, e eu assinto concordando com o que Jéssica havia lhe dito. O garoto enruga o cenho. — Eu estou?! — assinto. Os olhos azuis de Patric assumem um apelo de cachorrinho perdido, e me sinto impelida a rir.
Ele nós diz que está bebendo desde ás 22h e que estava com a cabeça cheia de coisas por causa das eliminatórias do time. Sua carinha triste é o suficiente para me fazer acompanha-lo em alguns copos.
Não faço ideia de quando começamos a dançar, mas as minhas panturrilhas já estavam doloridas e as solas dos meus pés ardiam como se houvessem sido esfregadas em brasas. A música desce de tom, as luzes se apagam e de repente tudo acende estourando em barulho, fazendo as pessoas gritarem e dançarem. Engulo o líquido quente, e abano a cabeça como um roqueiro bêbado.
— Você vai acabar bêbada — Jéssica grita me puxando para ela. — Quer um pouco d’água?
— Na verdade não — grito, parando de mover o corpo. — Queria saber onde Carter está.
— Com Alice. — a voz de Patric responde me fazendo virar sobre os saltos altos. Travo o maxilar. Seus olhos injetados de álcool me encaram arregalados e seus ombros se movem sem saber o que me dizer. Essa é a segunda vez em menos de duas semanas que Patric deixa escapar que sua irmã está com o meu... ELE NÃO É MEU NAMORADO, Lizzie grita, e isso faz com que eu feche os dedos sobre o copo plástico. — Quer que eu te leve até eles?
— Não! — rosno. Trago a saliva, encaro o copo vermelho e viro o líquido sem muita cerimônia. A vodca cereja queima o meu estômago, mas a ideia de Carter + Alice é mais incomoda do que a queimação provocada pelo álcool. ELE TE DISSE QUE NÃO ERA SEU NAMORADO, FOI VOCÊ QUEM SE ILUDIU SOZINHA, Lizzie me diz. — Quero que me traga mais disso.
Algum tempo depois eu já estava vendo dobrado. A música parecia fazer sentido e o meu corpo não se movia como se estivesse em convulsão. Em algum momento ouvi Jéssica gritar algo sobre Carter para Patric, mas estava tão absorta no álcool que fingi não ter escutado.
Eu estava feliz. Pela primeira vez em muito tempo eu estava feliz por inteira. Não sei se isso tem a ver com o álcool ou com a música, ou com o fato de que as pessoas estavam se divertindo, mas cada centímetro de mim estava vibrando. Nada poderia estragar a minha noite.
— Você precisa de um pouco d’água. — Jess me diz com um tom autoritário. Assinto, e a sigo com os pés leves em direção a alguma parte afastada da festa. A música parece um pouco mais baixa naquela parte e a sensação de abafamento se dissipa na brisa que entra pelas janelas.
Jess havia me obrigado a sentar um pouco enquanto ela pegava um copo de água.
Estava com a cabeça recostada na parede e de olhos fechados quando o som de um objeto se quebrando me fez gemer de dor. A minha cabeça estava doendo como se houvessem mil elefantes correndo de um lado para o outro. Eu nunca havia bebido muito, o meu limite de álcool era uma taca de vinho, e agora estou sentindo como se toda a minha pele doesse por causa do enjôo desconfortante dentro do meu estômago alcoolizado.
Deixo o meu corpo escorregar pela parede, e quando chego ao chão coloco a cabeça entre as pernas. Outra coisa se quebra, mas é o som de um riso que me faz erguer a cabeça e abrir os olhos. A vertigem me cega por um instante, e então o rosto inconfundível de Alice da Silva e Silva me faz querer vomitar. A garota olha para os lados duas vezes antes de subir as escadas para o andar de cima, onde Patric estava bebendo. Onde eu estive quase a noite toda.
Mas não é Alice que me faz vomitar, não é a mancha de batom em seus lábios ou os seus cabelos bagunçados, é o rasto vermelho sobre os lábios de Carter Grayson e sua camisa aberta.
Prendo a respiração quando ele caminha em direção à escada. Ele estava tão concentrado em remover o batom de seus lábios que não me notou sentada a alguns passos da escada, e se não fosse por Jéssica ele teria se juntado a Alice no andar de cima como se tudo estivesse bem.
Seus olhos percorrem o pequeno corredor até pararem em mim, sentada no chão frio, esperando pela minha garrafa d’água, fingindo que não havia vomitado dentro do vaso de planta.
— Ela bebeu demais. — Jéssica é a primeira a se pronunciar. A garota em um vestido preto justo caminha até mim com seus grandes olhos azuis arregalados. Olhos esses que gritam VOCÊ VIU QUE ELE ESTÁ COM A BOCA VERMELHA? — Aqui — ela sussurra me entregando a garrafa. — Beba um pouco, depois vamos voltar lá para cima.
— Obrigada. — sorrio sentindo minha cabeça pesar. Tomo um gole de água e tusso quando meu estômago dói pela temperatura. Jéssica dá duas tapinhas na minha mão e sorri com carinho.
— Você pode subir, Jess — a voz rouca de Carter Grayson indaga me fazendo erguer as sobrancelhas. — Eu posso ficar com ela agora. — ele diz enfiando as mãos nos bolsos.
— Eu já estou bem. — minto, mas o meu corpo me faz voltar para o chão quando tento me levantar. Jéssica me encara com aqueles seus olhos azuis perfeitos e eu assinto, fazendo-a me deixar a sós com Carter. Tomo mais um gole de água e encaro as pontas dos meus dedos para fora no sapato. O silêncio de nossas vozes é compensando pela música tentando se infiltrar pelas paredes isoladas. DIGA ALGUMA COISA, Lizzie me empurra. — Transou com ela?
— Emily! — Carter chama o meu nome com aquele tom que sempre me faz querer enfiar a cabeça em um buraco, o tom que deixa explícito o fato de não sermos o suficiente para termos o direito de exigir certas coisas. Mordo os lábios. — É complicado.
— Então descomplique, por favor. — sorrio sem humor. A expressão preocupada no rosto de Carter se dissolve quando ele percebe que não irei desistir de obter minha resposta.
— Eu gosto de você — Carter me diz com firmeza. Assinto. —, mas... — ele dá de ombros e enfia as mãos nos bolsos. — Também gosto dela. É complicado.
Aperto os dentes envolta da unha do meu dedão. Não preciso me olhar em um espelho para saber que estou fazendo uma das piores caretas do mundo. ELE GOSTA DELA, Lizzie grita reforçando o que meu cérebro havia acabado de registrar. Encaro o esmalte brilhante na ponta da minha unha do pé e tento fazer com que os meus olhos não me traiam.
Eu estava errada, algo podia estragar a minha noite. Algo havia estragado a minha noite.
— Eu preciso voltar lá pra cima — sorrio, esfregando as pontas dos dedos sobre minha testa molhada. — Patric quer me apresentar a um fotografo — dou de ombros. — Ou um blogueiro, eu não ouvi muito bem, a música estava muito alta quando ele comentou.
— Você não precisa fugir estar bem com isso. — Carter indaga, seus dedos se fecham sobre o meu braço quando me desequilibro. — Nós podemos conversar se quiser, Ems.
— Não tenho nada para conversar. — resmungo, mordendo as bochechas. — Você gosta dela, ela gosta de você. Faz sentido que estejam juntos — rio sem humor. — Não me importo.
— Sempre te disse que algo assim poderia acontecer, Emily. — sua voz soa fazendo cada parte do meu corpo tremer. — Sempre soube que o que tínhamos era baseado na nossa amizade e que eu poderia conhecer alguém no futuro — Carter me diz com paciência. Mordo os lábios. E É POR ISSO QUE É TÃO RUIM, PORQUE EU SABIA QUE VOCÊ ME AMAVA COMO AMIGA E SABIA QUE IRIA ENCONTRAR ALGUÉM, Lizzie choraminga, mas eu apenas me mantenho calada e fecho os dedos com mais força sobre a garrafa. — Eu adoro você, faria qualquer coisa para vê-la feliz e sabe disso, mas...
— É complicado. — rio, brava. — É tudo complicado agora, não? — reclamo, erguendo as sobrancelhas. — Mas não me lembro de ter sido complicado quando dormiu comigo e depois foi embora, Carter. — relembro. — Não foi complicado quando voltou implorando desculpas, dizendo que havia cometido um erro, mas que nunca quis brincar comigo. E não pareceu nada complicado quando acordei ao seu lado por uma semana seguida porque me queria por perto.
— Nada disso implica em Alice. — o garoto de cabelos desgrenhados me diz sem nenhum traço de dúvida no rosto. Enrugo o cenho. Não o entendo. Uma hora Carter tem todos os motivos para me pedir em namoro, para estar comigo, para me amar mais do que no quesito amizade e na hora seguinte ele age como se estivesse fazendo tudo o que pudesse para não gostar de mim.
— Ótimo. — assinto, rolando os olhos. Arremesso a garrafa numa lata de lixo e afasto suas mãos ao tentar atravessar o pequeno espaço entre nós dois e a escada. Carter bloqueia a minha passagem com o corpo. — Você pode, por favor, me dar licença? — questiono, apontando para a escadaria. O dono dos olhos-que-me-fazem-voar-nas-nuvens me encara como se o meu pedido houvesse sido uma das maiores loucuras do mundo. Seus lábios se separaram para mais um de seus sermões, risos agudos me fazem estalar sobre os joelhos e eu simplesmente me jogo para frente, em seus braços, para ele. Seus lábios se fecham nos meus sem jeito, e seus olhos custam a se fechar enquanto o beijo sem mais nem menos. SEM MAIS NEM MENOS? MENTIROSA, Lizzie sussurra para que ninguém escute, e mesmo que ninguém possa escutá-la, a empurro para longe. Fecho os braços ao redor do pescoço de Carter e aperto o meu corpo com mais força no dele. Suas mãos se fecham sobre o meu quadril, suas pernas se movem me fazendo andar para trás e seu corpo aperta o meu contra a parede. A voz confusa de Patric pergunta algo e isso me faz abrir s olhos. Empurro seus ombros fazendo-o se afastar. — Obrigada. — sorrio.
— Mas... — Carter ofega enrugando o cenho. — O que foi isso?
— Nada. — dou de ombros e passo entre o espaço que me impede de chegar até a escadaria. Agarro o ferro frio da escadaria e mordo os lábios impedindo um sorriso. Eu não queria tê-lo beijado naquele momento, mas beijei e foi bom. Foi realmente bom, como se eu estivesse lhe dizendo que eu não desistiria tão fácil assim. O meu estômago ainda dói com a ideia dele estar gostando de Alice, mas no momento em que reconheci os risos vindo das escadas precisei fazer algo. Eu sabia que era ela, descendo para checar seu prêmio, e assim como eu, Alice merecia entender que a disputa seria apertada. Ela merecia sentir o peito doer o mesmo jeito que o meu.
— Não tão rápido — Carter sussurra me puxando com força. Suas mãos me seguram pelas bochechas e seus lábios tomam os meus com força, com voracidade. Com paixão.
É nesses momentos, quando Carter Grayson me beija como se fossemos os últimos seres humanos no planeta Terra, que desconfio sobre sua paixão por mim. Que acredito cegamente nos seus sentimentos, que me deixo dissolver em seus braços e me fundo ao seu calor como se nada mais pudesse alimentar o meu coração. É nesses momentos que me esqueço das cartas, dos pulsos, dos tweets, das apostas, da coroa. De Alice. Posso me esquecer de tudo, até mesmo de como respirar se ele continuar me beijando daquela forma. Seus lábios se afastam me deixando respirar e os nossos peitos se cocham contra nossas respirações aceleradas. — Me beijou porque viu Alice descendo, não foi? — a voz rouca e um tanto sensual de Carter soa contra meus lábios, o que me faz apertar os dentes contra as bochechas. Ergo os olhos até os seus. Eles me devoram sem paciência. Abano a cabeça e faço uma cara feia.
— É claro que não — minto, e tento me mover do aperto de seu corpo. — Beijei porque quis.
— Você não duraria muito tempo em uma partida de pôquer. — Carter sussurra agarrando o meu queixo, seu hálito banha o meu lábio inferior e seus dentes me mordem. Pisco incontáveis vezes, pois me sinto inebriada pelo clima sufocante que seus olhos causam. — É uma mentirosa péssima. — ele indaga, e mais uma vez seu hálito me toca, antes de seus dentes se fecharem sobre a carne quente e úmida do meu lábio. Aperto os olhos e gemo ao sentir sua língua.
— Se sabe o porquê o beijei — murmuro, os lábios colados aos dele. Agarro sua nuca com força. — É pior do que imaginei. — sorrio. — Achei que não gostava de “brincar” com os outros, Carter Grayson. — sorrio, empurrando seu rosto para longe.
— Sou eu quem está brincando? — ele ri debochado. Mordo os lábios. — Você me beijou porque viu a garota que está “competindo” com você. — o garoto indaga fazendo aspas dramáticas no ar. Bufo, puxando a barra da blusa para baixo. Os olhos castanhos de Carter me encaram com uma inclinação peculiar e todos os meus pelos se arrepiam quando Lizzie tenta imaginar o que está se passando em sua cabeça quando ele encara o decote da minha blusa de banda. Eu mesma havia me vestido para aquela noite. Jéssica odiou a escolha de roupa, jeans preto, blusa preta de banda, jaqueta de couro e salto alto, mas após usar tantos vestidos me senti confortável em poder vestir uma peça que realmente estaria em meu guarda-roupa por livre e espontânea vontade da minha parte. Volto aos lábios dele. — Está gostando da festa?
— Estaria gostando mais se você não estivesse transando com Alice. — aperto os dentes, e isso faz com que minha voz saia mais defensiva do que o desejado. Carter ri com raiva.
— Gostaria mais se eu estivesse transando com você? — ele rebate. Meu estômago se contorce, um fio gelado de arrepios sobe pela minha coluna e minha boca saliva. Trago os lábios. Seu corpo se move para frente e o meu para trás. Carter sorri debochado e me empurra. O QUE ESTÁ MESMO ACONTECENDO? Lizzie se pergunta, e eu enrugo o cenho. Estou um pouco bêbada, Carter está gostando de Alice, Patric estava apertando a minha coxa há algumas horas atrás, Jéssica me olhava como se tivesse pena, o garoto por quem estou apaixonada está se insinuando para mim e a minha festa estava bombando. ENTÃO PORQUE ESTÁ CORRENDO DELE? Lizzie reclama, mas sei que ela está tão embriagada quanto eu, pois se estivesse sóbria estaria me dando tapinhas nas costas por estar rejeitando ele depois de tê-lo ouvido admitir que estava transando com outra.
Quando as minhas costas tocam a parede posso sentir a vibração da música e das pessoas a alguns metros de onde estamos, e a sensação de formigamento que se espalha em minhas costas faz com que eu feche os olhos por um instante. A música se espreme entre as frestas até encontrar os meus ouvidos. Existem duas opções entre toda essa situação. (1) posso deixar Alice da Silva e Silva conquistar o cara por quem estou me derretendo pelos cantos. Ou (2), posso fazê-lo perceber que já está ao lado de quem quer estar. Posso fazê-lo ficar comigo.
Abro os olhos e trago o lábio entre os dentes antes de estender a mão para Carter Grayson.
Ele agarra o meu quadril e me pressiona, o que faz com que a sensação de formigamento se espalhe pela minha pele. Embreio os dedos em seus cabelos e deixo minha língua encontrar a sua com desespero. Seu quadril pressiona o meu, suas mãos apertam o meu corpo me fazendo senti-lo. Gemo entre seus lábios. Boy the way you're movin' Got me in a trance. Uma de suas mãos se fecha sobre a minha bunda e a outra me agarra pela nuca, me trazendo para mais perto. A minha jaqueta já está no chão, e sua blusa está sem os dois primeiros botões quando a música fica mais alta e os gritos no clube nós fazem rir de excitação. Não que fosse excitante estar se pegando com um garoto no meio de um corredor onde qualquer um poderia entrar... Está bem, era excitando. Não pelo fato de estar em um corredor, mas pelo fato de estar em um corredor com Carter Grayson. Eu sei que ele está intransigível sobre seus reais sentimentos por mim, posso ver isso em seus olhos, e também sei que ele está se negando a admitir que Alice é apenas uma distração, mas não consigo afogar a assustadora necessidade de estar com ele. Não consigo afastar a vontade de senti-lo, mesmo tendo a breve imagem de uma garota de cabelos castanhos e lábios manchados de vermelho saindo da dispensa do clube que ele havia alugado para mim. And you 'gon lose dem pants, then I'ma throw this money, while you do it with no hands...
Meus quadris se movem contra a música, se esfregando contra sua pélvis, fazendo com que ele gema entre os meus lábios entreaberto sobre os seus.
— Eu quero você — sussurro, agarrando seu rosto e fazendo-o me encarar. Nossas respirações apressadas se confundem e seus lábios tentam agarrar os meus. Trago a saliva e esfrego os polegares sobre suas bochechas. — Não importa o que faça ou o que aconteça, vou continuar te querendo. — aperto os lábios. — Então pare de fingir que não sente o mesmo e me queira de volta, por que... — indago encarando aquele mar castanho que ele chama de olhos. Os lábios vermelhos de Carter Grayson se separam lentamente, seus dentes raspam sobre o lábio inferior, e seus olhos afundam em algum sentimento confuso demais para ser decifrado. VAMOS LÁ, DIGA DE UMA VEZ POR TODAS. Aperto os olhos. — Eu amo você, Carter.

Emily ParkerWhere stories live. Discover now