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No momento em que minha mãe parou em frente ao colégio eu abri a porta, desci do carro e corri em direção à garagem como se minha vida dependesse daquela pressa desgovernada.
O carro estacionado na vaga de sempre me fez correr de volta até o corredor sul, onde tinha a minha primeira aula do dia. Alguém me repreendeu quando passei correndo por entre as pessoas, mas estava tão concentrada em acha-lo que não me importei. Se fosse qualquer outra ocasião, eu teria esperado todos entrarem no colégio, teria colocado os fones sem música alguma e teria fingido que não me importava com a existência da humanidade, mas hoje não é um dia qualquer. Hoje era o dia depois do dia em que Carter Grayson assinou minha sentença de morte existencial, social... E tudo que termine com AL!
- Qual o seu problema? - pergunto já sem fôlego. - Porque fez aquilo?
- Oh - Carter bate a porta de seu armário e se vira para mim. - Bom dia, Emily.
- Bom dia Emily?! - grasno sem perceber, e ele sorri. - Isso é algum tipo de sacanagem ou o que? Já sei, estamos em um programa ao vivo e agora o apresentador vai aparecer gritando TE PEGUEI IDIOTA, AGORA SORRIA PORQUE ESTÁ SENDO FILMADA!
- Algum tipo de-Quê?! - Carter Grayson enruga os lábios. - Do que está falando, Emily?
- Ontem à noite - esbravejo, e ele se finge de desentendido. - Você + fórum do colégio + conversa humanitária sobre votarem em mim + Alisson Prescott = a minha alma sendo vendida para o Diabo em forma de adolescente americana com sorriso branco de farmácia!
- Não vendi a sua alma para Alison Prescott - o garoto ri, e enfia o livro na mochila azul surrada. - Nós podemos conversar sobre isso depois? Eu tenho treino agora.
- Depois? - gemo. - Você está falando sério? - pergunto já sentindo o choro subir pela garganta. Carter rola seus olhos castanhos e caminha até mim. As mãos áspera-macias, pois elas são um meio termo perfeito que quero sobre a minha pele o tempo todo, pousam cada uma em um lado dos meus ombros. Minha cabeça roda quando ele finalmente para de me balançar.
- Não precisa se preocupar com nada, Emily - é o que ele me diz. - Você não vai perder para Alison. - Carter sorri de orelha a orelha. Faço uma careta. - Confia em mim!
- Como eu posso fazer isso quando você disse a Alison que eu seria sua "cadela de estimação" por 365 dias? - gemo, apertando os olhos. - Jéssica disse que Alison foi rainha do baile por dois anos seguidos depois que sua irmã desistiu do colégio - estou quase gritando. Algumas pessoas curiosas param suas coisas para terem um minuto do espetáculo. Abraço meu corpo com força. - Ela sempre ganha com 100 pontos a mais do que as outras candidatas, e nem se esforçar para isso. O que acha que vai acontecer agora que o meu está na reta?
- Que o seu está na reta? - Carter ri erguendo as sobrancelhas. Bufo.
- Carter! - choramingo batendo os pés. - Se concentre no que estou tentando te dizer, por favor. Eu não quero fazer papel de trouxa. Muito menos quero ser escrava dela.
- E você não vai - Carter resmunga rolando seus olhos castanhos de cachorrinho. - Não vou deixar você perder isso Emily. - ele suspira enfiando as mãos nos bolsos da jaqueta do time do colégio. Seus lábios se juntam em uma linha tênue, pois talvez ele esteja vendo minha careta de descrença sobre suas palavras. Acredito em Carter. Sei que ele faria tudo para me ver no topo, sei que ele tenta recompensar o estrago do e-mail, mas não posso ser tão iludida ao ponto de acreditar que ele vai mudar minha vida da noite para o dia. Como ele vivia me dizendo: isso não é um filme e nós não somos atores. Essa é a vida real, e se eu perder, e sei que vou perder, Alison a tornará duas vezes pior do que já é. Não vou conseguir viver com uma carta, um quase suicídio e Alison Prescott. Não vou. - Eu tenho um plano, está bem, Emily? - ele tenta soar encorajador, mas a ideia de Carter + plano perfeito não me parece nada encorajadora. Eu já o vi tentando fazer estratégias para os conflitos na aula de política. Ele era péssimo. - Você só precisa confiar em mim e me deixar fazer seu desejo se tornar realidade.
- Você vai?- estremeço. Por quê? Porque você quer ser rainha do baile? Foi o que Carter Grayson me perguntou quando soltei minha ideia louca no corredor. Foi fácil pensar em uma resposta. Porque o mundo deveria ser um lugar mais justo. Porque pessoas como eu... São pessoas como vocês. Somos todos feitos da mesma coisa, mas somos tratados diferentes por causa dos estereótipos idiotas que pessoas mais afortunadas nós dão. Porque todo mundo merece brilhar uma vez na vida, seja através de uma coroa de colégio ou não. Essas foram as minhas palavras, e no instante que se seguiu o garoto de belos olhos castanhos e sardas nas bochechas me puxou até o muro onde haviam grampeado a lista de rainhas e reis.
- Pessoas como você... - ele sorri tirando uma mecha de seu cabelo castanho já cumprido pelo tempo dos olhos. - Elas vão brilhar, Em. Elas vão brilhar através de você quando subir naquele palco e provar que somos todos iguais. Que somos todos especiais. - Carter Grayson me diz, e sorri antes de virar em seus calcanhares e correr em direção a Patric Hayes no fim do corredor. Eu continuo ali, parada, congelada no momento em que seus olhos brilharam ao repetir a sua maneira as palavras que um dia eu havia dito.
Sorrio ao sentir as borboletas rondarem meu estômago mais uma vez, mas me dou conta de que não estou parada apenas por estar surpresa por ele ter se lembrado das minhas palavras. Não estou sorrindo por tê-lo feito se lembrar de algo, estou sorrindo porque, pela primeira vez, me pego concordando com o que Jay vem me dizendo há tempos. Sorrio porque estou caindo na imaginação de como seria gostar de Carter Grayson.

Emily ParkerOnde histórias criam vida. Descubra agora