CAPÍTULO 03

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~ Antônio Zeebur ~

Antônio se jogou na cama, estava cansado. Viajar de Ohio até Washington não pareceu ter sido uma ideia ruim, mas durante a viajem de avião Gabriella não parava de falar o quão animada estava por começar uma vida nova. Ele também estava animado, mas não saiu gritando aos quatro ventos a respeito. Ambos estavam sentindo o desespero subir a espinha ao lembrar que tragicamente ainda tinham que desfazer todas as malas e caixas na casa nova. A nova chefe de Francisco foi generosa em deixa-los morando na casa aos fundos e isso ajudou bastante a não ter gastos.


— Meus amores, filhinhos do papai que eu amo, caso ainda não tenham notado, as coisas não vão para seus lugares sozinhas.

— Ah, pai. Vamos esperar só mais um pouco, vai que acontece.

— Engraçadinha você, não é?

— Embora concorde com você, papai está certo. Quanto mais cedo acabarmos mais cedo poderemos ir dormir. — Disse Antônio levantando e a puxando da cama.

— Por quê você tem que ser tão chato? Eu sou a mais velha.

— Porquê eu sou o mais responsável, e o que tem mais juízo. Além de amanhã termos aula no colégio novo, sei que não vai querer acordar com duas bolsas de olheira abaixo dos seus olhos. — Respondeu ele suspirando. Ele queria mais que tudo dormir.

— Eba, escola nova! Uhul! — Comentou ela desanimada. Talvez o cansaço estivesse falando mais alto naquele instante.

— Você deveria dar mais valor, aliás com as suas notas horríveis nem sei como conseguiu a bolsa para estudar em Saint Mary.

— Só por quê não sou nerd como você? — Rebateu a mais velha estufando o peito.

— Bom, eu acho bem melhor ser um nerd do que um babaca igual aos que você gosta de chamar de amigos que se acham os populares da porra toda.

— Podem parar? Não é sobre mandar em nada, é sobre se unirem e serem irmãos ao menos uma vez. — Disse Francisco farto daquela discussão.

Mais uma vez, ao lado da filha preferida, seria melhor se fossem apenas os dois, pensou Antônio com o ego ferido. Era apenas ciúmes, ele não achava aquilo de verdade.

— Você diz isso porquê nunca foi popular, e se continuar assim nunca vai ser! — Cuspiu ela ignorando o pai e passando por cima dele. Vendo que não iria parar, Antônio sentou na cama e tirou os óculos.

— Você tampouco. Apenas andava com idiotas de jaqueta de couro sintético e patricinhas ricas, coisa que você não é, usam roupas como se houvesse uma escassez de tecido na escola.

— Eu vou ser! Cala boca!

— Boa sorte, irmãzinha. — Respondeu ele com ironia batendo palmas.

— PODEM PARAR DE AGIR COMO DESCONHECIDOS!? — Gritou Francisco assustando os dois. Ele se aproximou e pegou nos ombros de ambos. — Passamos as férias todas sem nenhuma briga, mas é só uma mudança simples que vocês começam a se atacar?

— Desculpe, pai. — Antônio disse de cabeça baixa.

— Agora as vossas majestades podem me ajudar?

— Okay, pai. Foi mal. — Disse Gabriella abrindo uma caixa.

Eles passaram um bom tempo arrumando tudo, e mesmo assim, ainda não tinham terminado tudo. Eram por volta de 00hrs16min quando o celular de Gabriella noticiou um aviso que estava na hora de ir dormir. Todos foram se organizar para dormir. Não era fácil fazer uma mudanças dessas, além de trocar de estado, trocaram de escola, e de vida. Desde de criança eles viviam assim, onde Francisco arrumava um emprego eles iam, há muito tempo seu filho tinha desistido de tenta gerar amizades. Em seu Facebook tinham apenas 40 pessoas que ele nem conhecia ou conheceu e não se lembrava.

Desde que a mãe deles foi embora, ficou complicado para um homem solteiro criar dois filhos em crescimento sozinho. Gabriella todos os dias desejava que ela voltasse e que seu pai a perdoasse por ter ido. Mas Antônio não, ele nunca iria perdoar a mulher que abandonou eles. Ele era muito grato a ela por ter o gerado antes de ir embora e depois dado a luz em um hospital. Era muito grato na verdade, porém nunca iria perdoa-la por ter ido embora. Ser pai também não era nada fácil, ainda mais tentando educar duas crianças quase da mesma faixa etária sozinho. Era divertido brincar com eles quando eram criança, mas com o tempo foram crescendo, e vendo as dificuldades que passavam, e a preocupação que antes era apenas de Francisco ser tornou de ambos.

Francisco era um bom pai, todos sempre o elogiava pela coragem e por conseguir o feito de unir os dois que viviam em pé de guerra, quando cresceram houve uma trégua nas brigas, mas tudo era um estopim para que por tudo eles brigassem. Não que Antônio odiasse sua irmã, ele a amava e se preocupava com ela e vice-versa mas eram adolescentes a flor da pele, nada era bom o suficiente e isso causava discussões entre eles. Quando ele não gostava de um namorado dela, ela não gostava de alguma namorada dele, e assim não entravam em concenso. Com a força do amor – e um leve castigo – Francisco unia ambos por algum tempo.

Era difícil, mas em momentos difíceis, um poderia sempre contar com outro. Eles eram uma família, se apoiavam independente de qualquer coisa.

...

A manhã em si tinha sido um pouco agitada, dormiram tarde mesmo sabendo que tinham que acordar cedo. Ambos tomaram banho com água fria assim que acordaram para tentarem se acordar. Mesmo sabendo de seu compromisso de ir para escola, Gabriella acabou deitando na cama sem terminar de se arrumar e dormiu. Antônio estava preocupado por sua irmã, talvez ela não se arrumasse direito e iria esquecer de passar maquiagem nas olheiras, mas não era tão mal, então mesmo que ele já estivesse arrumado, acordou ela novamente para não se atrasar.

— Levanta, você precisa terminar de se arrumar. Se não a gente vai se atrasar.

— Ainda está cedo.

— Você disse a mesma coisa há 15 minutos. Levanta! Se não vou jogar um balde de água fria em você.

Uma batida suave na porta e logo em seguida seu pai apareceu atrás da porta, seu corpo fora e somente seu rosto dentro do quarto parcialmente arrumado.

— Estão prontos?

— Quase, pai. — Respondeu Gabriella saindo da cama.

Depois de Antônio ter ameaçado jogar um balde de água em seu corpo, Gabriella levantou e tentou terminar de se arrumar de onde parou. O uniforme da escola não era tão feio, em sua opinião, era melhor do que o que seu irmão usou no Declato Estudantil de 2017, cujo ganhou de lavada dos outros colégios. Para a surpresa de ambos, após tomarem um café reforçado, saíram para o colégio sem nenhuma demora. Estava na mente dos irmãos que não queriam se atrasar no primeiro dia de aula, isso os daria uma reputação de desleixados em questão de horário.

Saint Mary, era um colégio conceituado, eles tinham a melhor oficina de canto e dança de todo o país, o colégio era o sonho de consumo de qualquer estudante, com boas notas sua faculdade estaria garantida sem nenhum gasto. No fundo, o desejo de Antônio de estudar lá, estava focado em “New Directions”, e todos sabiam que se você tivesse talento o suficiente, uma audição com boas pontuações era tudo que você precisava para conseguir entrar. Embora duvidasse de seu próprio talento, talvez ele tentaria entrar.

Até a Próxima!

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